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CONVERSA ENTRE CONSCIÊNCIAS

INTRODUÇÃO

Nós sabemos que temos consciência. A nossa consciência é aquilo que nos faz apercebemo-nos de coisas e a forma como nos apercebemos delas. A nossa consciência é um registro de dados que não podemos impedir que se registrem – podemos apenas negar, abafar, ignorar e não reconhecer aquilo que ficou registrado e nada mais que isso. Eu creio mesmo que, os livros que serão abertos e onde estão escritas as obras dos homens, são as suas consciências e seus próprios registros de dados. Vamos ver se estou errado quando chegar o grande dia. “E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; e abriram-se uns livros; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”, Apoc. 20:12.

A consciência também se afia e se treina. Mas, a consciência também reage do jeito que aprendeu a reagir, ora escondendo (até do próprio), ora revelando e manifestando. Os hábitos fazem a sua maneira de agir, interagir e de reagir. Ela não tem como evitar tornar-se consciente do que se passa. Terá, isso sim, forma e meios de reagir e de controlar como age ou reage, mas, nunca terá como evitar tomar consciência de qualquer coisa que se passe dentro ou fora da pessoa.

Existem pessoas que, quer lhes façamos bem ou mal, ficam sempre se defendendo daquilo que são, como se estivessem sob ameaça contínua. Tenho um familiar que diz que, se não roubar, não chega a lado nenhum. Quando vai trabalhar, seja com uma pessoa honesta ou não, já vai armado para não ser roubado. Isso condiciona e lesa todo o seu trabalho, pois está concentrado noutra coisa: em não ser roubado e em roubar de volta até aquilo que ninguém lhe roubou. Eu sempre afirmei que desconfiado é ladrão – mesmo quando não roube. Sabemos que, quem rouba, desconfia de ladrão, pois tem consciência única e a consciência única é lesada e usada para estar consciente de que se rouba no seu mundo. Automaticamente, ao pensar em roubo, reage defendendo-se e justificando-se também. Quem tem capacidade para roubar, entra logo numa onda de se justificar porque se acusa e teme ser acusado também. E, assim, prepara-se para se proteger porque tem consciência do roubo e de que rouba. É muito fácil ver quais são os pecados das pessoas se olharmos com atenção para as coisas das quais se defendem (e do que acusam os outros ou do que dizem do que os outros seriam capazes) e do que se tentam justificar.

Para além da conversa que a consciência tem ou consegue ter, sendo a consciência a capacidade de estarmos conscientes do que se passa e daquilo que vivemos, experimentamos, desejamos e fazemos (entre outras coisas), ela aprende a agir e a reagir mediante o que acha e pensa. Mas, essas reações são hábitos que foram formados, são padrões de comportamento e muitas vezes são teimosias. Quero dizer que ninguém tem como evitar registrar tudo que se passa dentro e fora de si. Mas, a consciência aprende somente a agir ou a reagir mediante os interesses que tem ou não têm, pode ter ou pode não ter. Se seus interesses forem egoístas e condicionados por hábitos, reagirá duma forma; se ela for egoísta, mas, não está condicionada, reagirá de outras formas. O mesmo se poderá dizer em caso de ela não ser egoísta e ser condicionada e também em caso de nem ser egoísta nem condicionada.

Existem hábitos muito maus para uma consciência, como existem hábitos bons e outros apenas menos bons. Iremos falar ou exemplificar aqui os hábitos que certo tipo de consciência criou e que se instalou dentro do mundo religioso e evangélico. Vamos ter em mente que, estarmos conscientes duma coisa, será sempre inevitável e que, estarmos conscientes duma tentação quando o diabo se infiltra em nosso domínio, nunca será o mesmo de que termos consciência que pecamos. Tenhamos em mente, também, que uma tomada de consciência de uma tentação pode levar-me a uma tomada de consciência ainda maior de que não pequei, tanto quanto me pode levar a pecar. Podemos fazer o oposto da tentação ou sujeitarmo-nos a ela. Nem sempre as tentações são coisas más que nos acontecem, pois será desse jeito que nos fortificará a fé, sendo nós provados pelo fogo delas. Pelas provas e através de cada tentação, a fé tornar-se-á simples e menos fingida.

Todo pecador tem consciência extrema de que é pecador e de que peca. As tentações e provações, mais tarde, só nos irão ajudar a provar que estamos de fato limpos diante de Deus – limpos de verdade e não de ficção ou por crença apenas. E, isso conseguimos alcançar através das tentações e das provações pelas quais passamos todos os dias. Mas, morrendo a consciência de pecado, morrerá todo pecado a ela agregado também. Foi o que se passou dentro de Jó. Mas, para os amigos, Jó estava-se justificando quando ele apenas estava reagindo a uma verdade e a um fato que lhe era evidente demais. E quem se justifica é pecador – pelo menos é um dos muitos hábitos característicos de pecador. A nossa consciência tanto nos pode acusar quanto defender. E Deus quer que ouçamos a nossa consciência. Jó "justificava-se" porque era realmente justo e foi nisso que os seus amigos se basearam, pois, é o pecador quem se defende e justifica. Mas, Jó era justo e sabia disso. "Mas eu o conheço; e se disser que não o conheço, serei mentiroso como vós; Mas, eu o conheço e guardo a Sua palavra", João 8:55. Por poderosa que fosse a doutrina do sistema de então, Jó não podia mentir para satisfazê-la. Jó não pertencia à doutrina, mas, à verdade e aos fatos. Um santo que ouve o diabo achará sempre que é pecador; um pecador achará sempre que é santo, pois ouve sempre o diabo também – e até se ouve a ele próprio.

Mas, existem alturas em que o diabo usa verdades para nos acusar. Só quando não as acha, usará as mentiras todas que puder usar no mais curto espaço de tempo possível. No entanto, uma coisa será um pombo passar por cima de mim e eu ter a consciência que ele se aliviou de algo que caiu em cima de minha cabeça enquanto passava. Nem eu teria como evitar tal coisa e nem de não tomar consciência do que se passou. Mas, isso nem será a mesma coisa que o pombo fazer todos os dias suas necessidades em minha cabeça porque o deixei fazer ninho ali. E se eu esfregar o que o pombo fez em mim (quer faça uma vez ou todos os dias), sentir-me-ei mais sujo do que já estou e ficarei culpando o pombo e não a quem deixou que ele fizesse o ninho onde o fez.

Iremos tentar falar, apenas, de como reage a consciência e não do que estamos conscientes. Existe uma reação da consciência que é o ‘encobrir’. Encobrir pode ser sinônimo de justificar, defender, atacar, desviar atenções e muitas mais coisas. Isso é o preciso oposto de andar na luz. Reconhecer nem é andar na luz ainda, pois podemos reconhecer que fazemos uma coisa para não aceitarmos abandonar essa coisa, querendo com isso apenas angariar atenção, justificação e o dó dos outros. Mas, Jó era justo e, colocando toda a sua justiça na luz, foi acusado pelos seus amigos. Foi com isso que conseguiram a abertura para poderem acusar Jó com o intuito de aliviarem a dor que sentiam por ele. As pessoas também se aliviam acusando.

Dentro da consciência existe sempre um diálogo escondido – aquilo que a consciência diria e não diz ou não sabe dizer. É esse diálogo que desejo expor aqui, não a teoria de como uma consciência age ou reage, mas, antes o que diria se ela se expressasse de forma honesta, objetiva, imparcial e tudo isso, também, de forma natural e espontânea. Iremos inventar uma conversa entre uma consciência limpa que reage à acusação ou à mentira e uma consciência suja que reage às circunstâncias da conversa porque se sente acusada – e não porque seja acusada.

Os pecadores sentem-se acusados e justificam-se até de coisas mínimas e inexistentes, contra imaginações simples até. O pecador defende-se e acusa outros por natureza, quase por instinto, também. As personagens destas conversas que se seguem são: Consciência Limpa (CL) e Consciência Suja (CS).




 

 

DIÁLOGO 1

SOBRE A CRIAÇÃO

C_LIMPA: A imagem de Deus é perfeita. Deus criou-nos como seres perfeitos. Sermos perfeitos é sermos normais. Bem, na verdade, sermos normais é sermos perfeitos.

C_SUJA: Mas, porque razão nascemos pecadores agora? E também, existe um homem lá na minha igreja que vive uma vida perfeita. Eu não consigo achá-lo normal. Deve ter pecados escondidos.

C_LIMPA: Pode não ter pecados escondidos…

C_SUJA: Mas, pode ter. Todo mundo peca. Ninguém pára de pecar!

C_LIMPA: Se ninguém pára de pecar, Jesus exigiu de nós a coisa errada quando disse “vai e não peques mais”! E porque dizes que ele peca depois de dizeres que vive uma vida perfeita? Não te estás contradizendo um pouquinho?

C_SUJA: É que eu não gosto dele. Faz-me sentir pecador.

C_LIMPA: E qual o problema sentires isso se achas que és pecador? Outra contradição? Uma vez, um amigo de Portugal disse-me que pecador quer sempre sentir-se santo e que santo quer sentir-se pecador. As pessoas só querem sentir aquilo que não são. Porque não te queres sentir pecador se acreditas que nasceste pecador? Eu gostaria muito de viver, experimentar e sentir só aquilo que é mesmo verdade.

C_SUJA: Estás insinuando que sou mentiroso?

C_LIMPA: Nem por um momento, mas, acho que teu discurso se contradiz. Mas, porque razão não gostas do homem da tua igreja?

C_SUJA: Mas, eu não disse que não gosto dele! Só que fico irritado perto dele. Ele parece que sorri com os olhos enquanto seu rosto é bem sério. Isso nem é normal. Parece-me fingido.

C_LIMPA: Deveria antes sorrir com o rosto é? E também, se os olhos de quem sorri forem sérios e amargurados, a pessoa não já é fingida?

C_SUJA: Ah! Quem sorri deve mostrar os dentes todos. Isso é simpatia.

C_LIMPA: Mas, quem sorri com os olhos mostra o coração. Jesus mesmo falou que os olhos são a lâmpada da alma e do corpo.

C_SUJA: Eu já reparei que até tu tens esse brilho estranho no teu olhar. E porque razão eu não tenho se aceitei Jesus e vou sempre à igreja cantar, ouvir e orar?

C_LIMPA: Mas, o olhar duro pode ser resultado de amargura e não de alívio. O sorriso pode existir só para esconder tudo aquilo que o olhar revela.

C_SUJA: De que alívio estás falando? Se alguém não se sentir pecador não pode entrar no céu.

C_LIMPA: A Bíblia diz que Deus não nega um coração verdadeiro, seja ele pecador ou santo. Se é santo, deverá sentir-se santo e, se não é, deverá sentir-se pecador. É a verdade no íntimo que Deus mais busca. Se eu tiver pecado, trato logo de não esconder. Quero ser aquilo que sou, viver só aquilo que sou.

C_SUJA: Mas, se um pecador vive aquilo que é, Deus vai começar a fazer planos para o destruir como fez com Sodoma e Gomorra! Nós não podemos viver aquilo que somos senão fabricaremos um mundo ainda mais corrupto.

C_LIMPA: Tu terias razão se Deus tivesse cometido erros quando nos criou.

C_SUJA: Deus criou-nos bem. Mas, depois Adão estragou tudo. Agora temos Adão dentro de nós.

C_LIMPA: E porque temos Adão dentro de nós? Aceitaste Adão como teu Salvador, foi? Ou Adão aprendeu a arte de Criador porque comeu da árvore da sabedoria? Adão consegue fazer de ti aquilo que Deus não faz ou não fez quando te criou, é?

C_SUJA: Ah! Eu não sei falar sobre isso. Mas, meu pastor sempre disse que nascemos pecadores e que Adão vive dentro de nós – um certo “Velho Homem”, ele falou.

C_LIMPA: E cadê Cristo? Se Cristo entrar em nós, o “Velho Homem” não morre com Ele na Cruz? Eu acho que o teu pastor está falando a coisa errada!

C_SUJA: Não podemos falar mal de nossos pastores.

C_LIMPA: Que é para ti não falar mal? É dizer mentiras sobre ele? É que eu acho que ele deveria contar as boas novas de Belém. Essas boas novas anunciam a morte desse Adão quando Cristo entra em nós.

C_SUJA: Mas, eu já aceitei Cristo e fico pecando.

C_LIMPA: Bem, isso tem várias explicações. Ou Cristo não entrou, ou Ele não pôde entrar, ou Ele voltou a sair.

C_SUJA: Como assim? Eu aceitei o Senhor Jesus! E meu pastor disse que quem o aceita não se perde mais.

C_LIMPA: E Ele deu sinal de vida dentro de ti? Ou foi tua imaginação que te enganou dizendo que Ele entrou?

C_SUJA: Mas, dizem que quando aceitamos Jesus, Ele entra. Meu pastor falou, também, que Ele entrou quando fui lá à frente entregar-me.

C_LIMPA: Teu pastor viu Cristo entrar? Pode ser verdade, como pode não ter acontecido isso que disseste. Mas, de uma coisa eu tenho a certeza: quando Ele entra, o pecado sai! Não podemos misturar perfume com mau cheiro, senão disfarçamos o mau cheiro ou estragamos o perfume. É bom colocarmos perfume em pessoas limpas e Jesus num coração limpo.

C_SUJA: Estou falando de aceitar Jesus e estás falando de perfume? As pessoas que têm esse brilho nos olhos, como tu, só dizem coisas que não entendo!

C_LIMPA: Isso pode ser mais uma razão para acreditares que Jesus não entrou em tua vida quando Lhe pediste para entrar. É que, se pedires para Ele entrar porque queres ser feliz pecando, Ele não entrará. Porque, se Ele entrar nessas circunstâncias, ficarás infeliz e Ele será motivo de infelicidade e de tropeço sério.

C_SUJA: Como assim? Estás a tirar-me minha fé. Vou sair daqui sem fé.

C_LIMPA: Podes sair daqui sem fé falsa, quem sabe! Fé é acreditar na verdade – não é acreditar naquilo que desejamos que seja verdade. Se acreditares que Jesus não entrou em ti e essa for a verdade, acreditas na verdade. E quando Jesus entra em nós, perdemos a consciência de pecado. Ele limpa a consciência.

C_SUJA: Para vocês que brilham desse jeito, tudo parece fácil! Por isso é que não gosto de estar perto de vocês!

C_LIMPA: Jesus limpa uma consciência. A nossa consciência é como um livro onde se encontra registrado tudo aquilo que fizemos ou pensamos. Então, esse registro de coisas condiciona a nossa maneira de ser e de pensar para pensarmos influenciados e condicionados, isto é, através das coisas que estão lá escritas. Se o livro estiver limpo, pensamos coisas limpas e se estiver com sujeira, pensaremos sujeira e seremos influenciados por ela, ou então lutaremos para não pensar aquilo que estamos pensando. E, uma das defesas, será acharmos que não pensamos aquilo que estamos pensando. Por essa razão é que o diabo se esconde quando nos tenta, para podermos achar que somos nós que estamos pensando pecado para aprendermos a encobrir e a escondermo-nos dos outros. Ele gosta de nos fazer sentir que estamos devendo algo a alguém, também, ou que a opinião dos outros é importante para nós vivermos. A finalidade dele é fazer que nos escondamos por trás das folhas, porque só quem anda na luz será puro porque a luz transforma.

C_SUJA: Eu só não entendo como podes dizer que não tens pecado sem estar a ofender Deus. Somos pecadores!

C_LIMPA: Porque razão nós vamos para o inferno? Se nascemos para pecar, Deus é muito injusto, não é?

C_SUJA: Vives falando mal de Deus também!

C_LIMPA: Se Deus nos criou pecadores e depois nos pede para viver uma vida santa, seria muito injusto. Não achas?

C_SUJA: E porque razão o meu pastor diz que somos pecadores e que, se não dissermos que somos pecadores, não teremos direito de entrar no céu?

C_LIMPA: É verdade que somos pecadores. Mas, por sermos pecadores, é que precisamos ser transformados.

C_SUJA: Mas, quando entrarmos no céu ficaremos puros. Só depois, porque aqui na terra nunca iremos consegui-lo.

C_LIMPA: Eu não acredito nisso por várias razões: uma, é que Jesus disse que nos salvaria de nossos pecados; a outra, é que o coração que temos agora irá conosco. São duas mentiras. O que somos agora, seremos depois também. Ninguém muda só por mudar de lugar. Pode-se adaptar, mas, mudar não.

C_SUJA: E como é que uma pessoa muda?

C_LIMPA: Tu vais à igreja e nunca ouviste falar que Cristo nos transforma?

C_SUJA: Mas, ainda vivemos cá na terra, não vivemos?

C_LIMPA: Sim, vivemos. Mas, Deus não disse que transformaria o lugar onde vivemos, mas, sim a nós. Se formos transformados, nem importará mais o lugar onde vivemos – e, se vivermos em Jesus, dentro d’Ele, o nosso lugar é bom para viver. Nosso lugar é Jesus.

C_SUJA: Mas, é pela fé que somos transformados. Acreditamos que somos transformados.

C_LIMPA: Ah tá! Acreditamos só e não somos transformados? Então a fé nem é acreditar na verdade, mas, sim em qualquer coisa! Mas, graças a Deus que a transformação que Deus faz é real.

C_SUJA: Eu acho que só deixaremos de pecar quando morrermos. Sempre foi o que me disseram.

C_LIMPA: A morte física nem é morte. E, por essa ordem de idéias, nunca iremos parar de pecar. Por essa teoria, iremos pecar no céu também porque o coração que temos, aquilo que somos, irá juntamente conosco para lá. E eu não acho que Deus vai deixar alguém com pecado viver lá.

C_SUJA: Tu deixaste de pecar?

C_LIMPA: Estás vendo algum pecado em mim? Gostaria muito de saber, pois irei limpá-lo de imediato.

C_SUJA: Ninguém é santo e ninguém será santo.

C_LIMPA: Se ninguém será santo, Deus mandou-nos fazer a coisa errada. Ele disse “sede santos porque eu sou Santo”. Tu dizes que eu falo mal de Deus, mas, só estou expressando aquilo que não dizes. E, falando assim, dizes que Deus é muito injusto. Deus criou-nos para sermos santos e é por essa razão que Ele pede aquilo que podemos e que devemos fazer. Senão, seria como exigir que um cachorro pare de latir ou que comece a falar como gente. E eu não acho que seja isso que Deus está fazendo conosco. Deus só nos está pedindo para sermos aquilo que somos desde que nos criou.

C_SUJA: E porque pecamos se nossa natureza é santa?

C_LIMPA: Eu não disse que somos santos. Mas, digo que tudo que somos dá para sermos santos. Podemos ser demônios também, se quisermos. Somos como um moinho: aquilo que for colocado lá dentro será moído.

C_SUJA: E porque não paramos de pecar?

C_LIMPA: Quem disse que nunca paramos de pecar? Jesus, além de nos ter dado tudo para sermos d’Ele como Ele é, ainda nos dá o caminho, o poder, a Bíblia e tudo mais.

C_SUJA: E que faremos com este mundo? O mundo tenta-nos sempre!

C_LIMPA: Este mundo é o lugar ideal para pararmos de pecar!

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: As pessoas só acham que não podem parar de pecar porque querem continuar pecando! Na verdade, elas querem que Deus aceite seu “pecar”. Então, se Deus entra nas suas vidas, elas conseguem entrar no mundo de Deus também. Se entrarem no mundo de Deus, se são tudo o que precisam para serem santos, se Jesus limpa e salva de pecados, se Deus ainda dá o Ajudador Santo, têm tudo para viver aqui, na terra, como se vive lá no Céu. Foi isso que Jesus nos ensinou a orar e Ele disse que, quem pede e busca, acha! Agora, só não vive do jeito de Deus quem não deseja ou quem não quer!

C_SUJA: Vou ter de ir embora. Depois eu volto para falarmos mais. Mas, ainda não estou convencido.

C_LIMPA: Até mais, Consciência Suja.




 

 

DIÁLOGO 2

A ORAÇÃO

C_SUJA: Estou muito mal. Sinto-me muito mal.

C_LIMPA: Que se passa?

C_SUJA: Tudo me irrita, tudo me cai mal, estou sem paciência. Não consinto nada, não concordo com ninguém, não gosto mais de conversar.

C_LIMPA: Isso é mal de alma. Deve haver um outro problema. Estás falando com Deus?

C_SUJA: Quando falo, fico falando sozinho. Desisti de falar com Deus há uns dias. Nem estou lendo a Bíblia.

C_LIMPA: Então está tudo explicado. Essa irritação nem é o problema afinal. Quando nos desviamos de Deus, ficamos assim e quando nunca nos encontramos com Ele, também ficamos assim facilmente. É como um pato que não acha água e fica irritado com outras coisas.

C_SUJA: Como posso resolver isso? É que já estou cansado de ser assim. Até eu me irrito a mim mesmo nesta fase. Já estou cansado de mim.

C_LIMPA: Primeiro precisas resolver outro problema: aquilo que te acontece quando falas com Deus. Não podes estar a falar sozinho, orando.

C_SUJA: Mas, eu não posso resolver isso! É Deus quem não me ouve! É Ele que não fala comigo! E se é Ele quem me deixa falando sozinho, como é que eu irei resolver isso?

C_LIMPA: A Bíblia fala que são nossos pecados que nos separam de Deus.

C_SUJA: Eu acho que Deus nem me quer mais. Então pequei demais! Com tanto silêncio, devo ter pecado muito! Mas, nem me acho assim tão pecador para Deus me abandonar!

C_LIMPA: Isso é porque ainda não te sentaste a pensar nos teus pecados. Estás obcecado pensando em teus problemas e não te sentas só a pensar nos teus pecados. Quando vemos só os nossos problemas, nem vemos nossos pecados porque nossos recursos e nossa atenção e desejo estão apontados para outra coisa.

C_SUJA: Mas, eu tenho muitos problemas que não sei resolver! E ainda por cima Deus nem me ouve!

C_LIMPA: Vês? Estás tão obcecado com teus problemas que até quando falas com Deus pensas só neles e só Lhe falas do que estás pensando: os teus problemas!

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Deus disse que se buscássemos a Ele, acharíamos a Ele. Nunca deves buscar Deus para achar outras coisas, pois não resulta. Estás buscando o quê? A resolução de teus problemas ou Deus? E se buscares a Deus esperas achar o quê? A Deus ou a resolução de teus problemas?

C_SUJA: E como posso achar Deus? Dará para vê-lo?

C_LIMPA: Jesus, uma vez, falou que os limpos de coração vêem Deus. Depois de o vermos, podemos pedir qualquer coisa que Ele nos atenderá. Não podemos pedir coisas a alguém sem que estejamos na presença dessa pessoa. A maioria dos pedidos feitos a Deus são feitos a uma Pessoa ausente. Depois de estarmos com Deus, podemos ouvir qual a resposta que nos dá. Podemos saber quando Ele se recusa atender certo pedido também.

C_SUJA: E “não” também é resposta?

C_LIMPA: Claro que é! Pode-nos dar um sim ou um não de seguida. Se disser “não” nem manteremos falsas esperanças e se disser “sim” manteremos esperanças que não enganam. Em ambos os casos, saberemos que estamos dentro da vontade d’Ele e nos regozijaremos com qualquer das respostas, sendo que, por trás de cada não de Deus, existe um outro sim que ainda podemos achar.

C_SUJA: E se Ele não nos disser nada?

C_LIMPA: Nunca devemos andar sem saber o que Deus tem a dizer sobre nossos passos, orações e sobre nossos caminhos. E, também, nunca devemos orar sem esperar que Deus nos responda. Isso é orar em vão porque Deus é real e assim serão Suas respostas também. Se ligarmos para alguém, esperamos que nos atenda. No entanto, é pena que as pessoas esperem menos de um Deus vivo do que esperam dos mortais. Até me falará se eu pedir a coisa errada. Ele me responderá dizendo que não, de uma forma ou de outra. Deus não recusou um pedido a Paulo quando lhe pedia para tirar o espinho que tinha na carne? Só preciso persistir em achá-Lo e achar resposta também. Qualquer oração sem resposta, nem é oração – é uma tolice. E qualquer pedido que receba um “não”, é melhor que qualquer oração sem resposta. E nem importa se essa oração é sobre algo importante ou não, pois quem é importante é Quem responde. E se acharmos Quem responde, tanto faz que o pedido seja insignificante ou importante.

C_SUJA: Isso é muito complicado para mim. E até meu pastor precisa de oração e nem consigo orar por ele.

C_LIMPA: Precisas ver o que te está separando de Deus, pois isso que me estás falando nem é normal acontecer. Deus prometeu responder a todas as nossas orações. Se Deus não nos ouve, algo de muito anormal estará acontecendo. Seria como ligar o interruptor e a luz não se acender.

C_SUJA: E que preciso fazer para Deus me ouvir? Que fizeste?

C_LIMPA: Precisas assentar-te sozinho, sem os teus problemas e preocupações, para pensares só em teus pecados todos – incluindo os motivos porque buscas Deus.

C_SUJA: Eu não gosto de ficar sozinho e, também, não gosto de ficar com gente porque me irritam. Nem me entendo mais!

C_LIMPA: Precisas de ficar sozinho, fechar a tua porta e deixar os problemas e preocupações fora de onde estás. Depois, pegas numa caneta e numa folha de papel e escreve todos os teus pecados: aqueles que cometeste sozinho; os que cometeste com pessoas; e aqueles que cometeste contra pessoas também.

C_SUJA: E depois o que faço?

C_LIMPA: Depois, precisas de pedir perdão a quem ofendeste e com quem ofendeste também. Se ofendeste Deus, (todos os pecados ofendem Deus), pedes perdão a Deus. Se ofendeste as pessoas, precisas achá-las todas, uma a uma e pedir perdão também. E quando fores pedir perdão às pessoas, explicas porque razão o estás fazendo e que te estás arranjando com Deus e colocando tudo na luz. Se reconheceres Deus em teus caminhos dessa maneira, Ele vai endireitar e guiar teus passos.

C_SUJA: Mas, Deus conhece quais sãos os meus pecados todos! E, também, se eu for pedir perdão ao meu vizinho porque dormi com a mulher dele, ele vai-me matar!

C_LIMPA: Mesmo que te matasse, estarias cumprindo a justiça e valeria a pena. Mas, em todo caso, tu pecaste com a esposa dele e não com ele. E quando dizes que “Deus sabe de teus pecados”, assumes que não queres falar com Ele como se faz com uma uma pessoa normal. Deus é uma Pessoa e devemos aproximar-nos d’Ele como tal.

C_SUJA: Seu não fizer isso Deus não me ouvirá?

C_LIMPA: Não te ouve, Deus não ouve não. Só os que confessam e deixam seus pecados conseguem alcançar misericórdia, isto é, Deus. E quando alcançam misericórdia, podem começar tudo de novo que vai dar certo a partir dali. As pessoas só começam tudo quando não vai dar certo ou quando Deus não vai abençoar. Quando alcançam misericórdia, ficam achando que tudo terminou ali e não que tudo vai começar do jeito certo de seguida.

C_SUJA: Isso é bem interessante. Preciso falar com meu pastor para pedir a opinião dele sobre isto.

C_LIMPA: Tu vais pedir a opinião de teu pastor sobre uma coisa que ele nunca te ensinou? Precisas pedir a opinião de Deus, pois este assunto é privado e de extrema importância. Paulo nem consultou o apóstolo Pedro quando precisava lidar com sua vida anterior, aquela que levou até ali. Ele disse que nem consultou carne e nem sangue sobre questões como estas.

C_SUJA: Mas, se eu pedir a opinião de Deus, Ele nunca me diz nada. Outro dia pedi a opinião d’Ele sobre meu emprego e fiquei a noite toda esperando por uma resposta porque era assunto muito sério. E nem assim Ele me respondeu.

C_LIMPA: É, concordo. Mas, se fores buscar Deus com a mesma seriedade sobre os teus pecados e sobre o teu perdão, Deus te responderá. Nunca devemos consultar Deus sobre as coisas erradas. Cada momento tem a sua prioridade e, quando temos pecados, nem existem outras prioridades sequer. Depois de tua vida estar limpa, pode até acontecer que a questão do teu emprego se torne prioritária, como pode não acontecer. Mas, só o saberás se tua vida estiver limpa.

C_SUJA: Se Deus te ouve, podes pedir por meu pastor? Ele está passando por muita dificuldade e pediu a toda a igreja para orarem por ele.

C_LIMPA: Mas, tu ficas querendo salvar os outros! Deus está querendo falar-te sobre os teus próprios pecados e não podes ficar pensando nos problemas do teu pastor agora. Jesus disse que, quem ouve quando Ele fala, deve levar a semente para semear no seu próprio campo. Porque ficas querendo semear no campo dos outros? É mais uma razão para Ele nunca te ouvir, pois queres incomodá-Lo com os problemas dos outros para evitar limpar-te dos teus próprios pecados.

C_SUJA: Mas, eu gosto muito de meu pastor e ele pediu oração.

C_LIMPA: Porque razão ele pediu oração? Deus não o ouve, é? Ou será que ele estava pedindo outra coisa quando estava pedindo para orarem por ele?

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Se ele pede oração em vez de pedir a Deus o que precisa, deve ter algum problema com Deus e, no fundo, acha que Deus não o ouve – ou então Deus não o ouve mesmo! Mas, também pode estar pedindo indiretamente o que lhe falta. Ele pode estar pedindo para orarem por ele porque com a intenção de que, quem vai orar, fique sabendo do que ele necessita. É uma maneira sutil de pedir às pessoas. E Deus manda-nos pedir a Ele claramente. Deus não ouve o teu pastor pessoalmente? Porque razão ele pede à igreja para orarem por ele? 

C_SUJA: Mas, ele ora por pessoas que estão doentes!

C_LIMPA: E porque razão ele pede oração para ele então? Porque não pede logo a Deus? Quem pede aos crentes, não pede a Deus. E Deus só responde àquele que pede a Ele.

C_SUJA: Mas, nós vamos pedir a Deus!

C_LIMPA: Que adianta teu pastor pedir para tu orares se ainda agora disseste que Deus não te ouve? Os que não são ouvidos pedem a quem não é ouvido?

C_SUJA: Estou a ficar confuso e sem fé de novo!




 

 

DIÁLOGO 3

SOBRE A PALAVRA DE DEUS

C_SUJA: Estás lendo a tua Bíblia?

C_LIMPA: Sim, é a palavra de Deus. Ela é como um telefone: quando toca, nós atendemos. E, quando queremos ligar, pegamos nela.

C_SUJA: Mas, eu não entendo muito da Bíblia. E quando leio fico pensando noutras coisas e não vejo nada de especial nela. Só temo por causa do nome que ela tem. É o livro mais vendido de sempre, não é?

C_LIMPA: Mesmo que não fosse o livro mais vendido, seria sempre a palavra de Deus.

C_SUJA: O melhor é ler a Bíblia dentro da igreja. Lá o ambiente é mais favorável e ganhamos respeito pela Bíblia.

C_LIMPA: Eu não gosto do jeito que lêem a Bíblia dentro da igreja. E, também, nós atendemos um telefone quando ele toca e não quando vamos à igreja. E a Bíblia é como um telefone: quando toca, atendemos. E quando queremos ligar, também pegamos nele para falarmos.

C_SUJA: Pois é, para mim, ler dentro da igreja ou fora da igreja dá no mesmo: não entendo nada e nem entendo porque razão devemos ter a nossa hora religiosa com uma coisa que nem entendemos.

C_LIMPA: Esse é o problema. O problema não está na Bíblia, mas, em quem lê.

C_SUJA: Em mim?

C_LIMPA: Se não entendes a Bíblia sempre que a estás lendo, o problema esta em ti, sim. Nem tem outra explicação. Inglês faz sentido para os ingleses, não é?  Eles entendem a linguagem. Mas, para quem não é inglês, não faz sentido que fique ouvindo quem se expressa nessa linguagem. Lermos a Bíblia distantes de Deus, será como ouvirmos um estrangeiro explicar-nos uma coisa interessante – nem teria nada de interessante para nós. O mesmo se poderá dizer de todas as linguagens, incluindo a linguagem da Bíblia. Quem é ovelha ouve, tal como quem é Inglês ouve quando lhe falam na sua linguagem. O problema está no inglês ou quem não entende? Está na linguagem da Bíblia ou em quem lê?

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: O Senhor Jesus disse que, quem é ovelha ouve o pastor. Se nos tornarmos ovelhas, se acharmos o jeito e o caminho de nos tornarmos ovelhas, começaremos a entender a linguagem da Bíblia também. Bode não entende a linguagem de ovelha e vice-versa. Nós não devemos tentar aprender como é essa voz que só ovelha ouve para a entendermos e decifrarmos – devemos antes tornar-nos ovelhas. Porque, se tentarmos decifrar a voz enquanto não somos ovelhas, logo o pastor de bodes irá imitar aquilo que achamos que será a voz de Deus. Pelo jeito, seremos enganados porque ainda não somos ovelhas e só ouvimos o engano. E como ainda somos bodes e ainda nem nos transformamos, ouviremos a linguagem de bode. E só ovelha consegue ter amor para aprender a linguagem da Bíblia, enquanto bode acha que será uma perda de tempo. Ovelha entende e o problema nunca está na Bíblia.

C_SUJA: Estás-me ofendendo de novo? Eu aceitei o Senhor Jesus!

C_LIMPA: E porque não entendes a Bíblia ainda?

C_SUJA: Não sei.

C_LIMPA: E porque te ofendes? Já viste uma ovelha reclamar estando a ser morta? Enquanto a verdade for uma ofensa para ti, não és ovelha ou, então, ainda ages como bode. Porque, do mesmo jeito que um bode pode tentar imitar uma ovelha através da aparência, a ovelha pode achar que ainda é bode também e fazer coisas estranhas. Jesus disse que os que são d’Ele ouvem-no e Ele só fala a verdade. Se a verdade te ofende, se não tens capacidade de te alegrar quando Jesus te fala ou quando a verdade te quer corrigir, precisas de mudar de coração e não apenas de atitudes. Mudar de atitudes será como bode tentar ganhar os hábitos de ovelha sem ter de se tornar ovelha por dentro, como alguém querendo ser ovelha apenas por fora.

C_SUJA: Se vou à igreja e canto de todo coração, com todas as minhas forças, não sou ovelha ainda?

C_LIMPA: Quem canta para Deus de verdade, nem se apercebe que está cantando, pois nem usa força para estar onde gosta de estar. As pessoas que gostam de assistir novelas nem se esforçam para seguirem as histórias e ainda se irritam quando alguém interrompe a sua atenção por causa da intensidade do desejo de seguirem a história toda e de acompanharem e entenderem todo o jeito da história também. Do mesmo jeito, se amo Deus, preciso de me esforçar muito para assistir a essas coisas do mundo. Isso significa que, quem usa de força para cantar, para ler e entender a Bíblia, é bode tentando vestir-se de ovelha e como a roupa que quer usar nem lhe serve, usa a sua força para poder vesti-la. E quanto mais força ele usa, mais achará que merece que merece vestir aquela roupa que só fica bem em ovelha. Ninguém usa de força para vestir uma coisa que lhe serve. A religião é a força que as pessoas usam para vestirem roupas do céu sem se transformarem – ou para evitar serem transformados.

C_SUJA: E isso significa que nunca fazemos esforço para ler a Bíblia, para acordarmos de manhã?

C_LIMPA: Não, de maneira nenhuma. Só significa que, o esforço físico, não se sobrepõe ao desejo do coração. O espírito não é mais escravo do corpo, mas sim o corpo do espírito. Para o espírito vivente seria esforço ficar na cama.

C_SUJA: Como é que me torno ovelha, então?

C_LIMPA: Isso é fácil de acontecer, mas, difícil de aceitar que aconteça. Basta aceitares ser transformado. Quem transforma, tem muita facilidade em consegui-lo. Mas, quando fores transformado, precisas perder o jeito do bode que ia à igreja. Por isso é que não gosto do jeito que lêem a Bíblia dentro da igreja, como se fosse a ‘abençoada’ obrigação religiosa. Ninguém come por obrigação quando come as suas comidas prediletas. As pessoas aprenderam a impor a leitura da Bíblia porque os bodes só lêem por imposição e por obrigação. Depois, sempre que se tornam ovelhas, levam esses hábitos com eles. É mais difícil mudar o crente que o assassino, porque, os crentes, lêem suas Bíblias do jeito errado e o assassino, que nunca leu e, por isso, não tem ainda o jeito errado de ler a Bíblia. Pelo menos, nesse aspecto, não necessita de mudar depois de se tornar ovelha.

C_SUJA: Mas, eu já freqüento a igreja há muitos anos.

C_LIMPA: Vais precisar mudar muitas coisas então. É que, os que estão bem com Deus lêem a Bíblia e os bodes na igreja também lêem. Só precisas mudar o jeito, o teu interior e teus olhos espirituais. Existem muitos hábitos e muitas coisas erradas que precisam ser mudadas quando um bode se torna ovelha.

C_SUJA: Dá-me só um exemplo.

C_LIMPA: Por exemplo: as pessoas acham que precisam pregar para os outros quando se apercebem da verdade. Esse é jeito de bode querendo vestir-se de ovelha.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Jesus disse que, quem ouve a Sua palavra, é como alguém que acha uma boa semente e vai semeá-la em seu próprio campo. As pessoas acham que precisam levar as sementes para os campos dos outros e até formam missões no exterior. E Paulo também disse que “O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos”, 2Tim.2:6.

C_SUJA: Continuo sem entender. Por favor, explica melhor.

C_LIMPA: Vou exemplificar através duma história de espelhos. Havia uma família que nunca tinha visto um espelho. O marido achou um e escondeu-o de toda a gente. De vez em quando dava uma escapadinha e ia-se encontrar com o seu espelho e ficava rindo para ele. A esposa notou que seu marido se escapava muitas vezes em segredo. Pensou que ele tinha um caso com outra mulher e, um dia, resolveu segui-lo. O marido olhava para o espelho e sorria muito. Ela ficou com mais ciúmes ainda. Quando o esposo abandonou o local, ela pegou no espelho para ver quem seria a mulher. Quando olhou, viu o rosto que nem reconheceu porque nunca se havia visto. Ela viu uma mulher feia e ficou muito triste porque nem conseguia aceitar que o seu esposo a havia trocado por uma mulher tão feia como aquela.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: A mulher saiu chorando e foi contar à sua mãe o que se estava passando. Contou-lhe que o marido a trocara por uma mulher muito feia. A mãe queria saber quem seria aquela mulher e perguntou-lhe se a conhecia. Ela respondeu que nunca a tinha visto antes. Foi então que a esposa deu o espelho à sua mãe para ver se ela conhecia a mulher que lhe trouxe tanta tristeza. A mãe pegou no espelho e gritou horrorizada, pois pensava que a mulher era jovem! Ela nem conseguia acreditar no que via. Achava que o genro teria, no mínimo, achado uma amante mais nova e menos feia que aquela.

C_SUJA: E o que isso tem a haver com a leitura da Bíblia?

C_LIMPA: A Bíblia é como um espelho que nós nunca vimos e, quando olhamos para ela, achamos que estamos a ver outras pessoas e não a nós próprios. Todas as vezes que falo para alguém se arranjar com Deus, essa pessoa diz sempre que seus familiares precisam ouvir aquilo que estão ouvindo e às vezes até me pedem para ir falar com eles. Quase nunca entendem que estão olhando para um espelho e vendo as suas próprias obrigações. Uma das maneiras de lermos a Bíblia da maneira errada é acharmos que precisamos pregar para outros, aquilo que estamos entendendo. Muitos nem a entendem, mas, assim que a entendem, querem ir explicar aos outros tudo aquilo que entenderam. Por essa razão é que falam tanto nos pecados dos outros quando ouvem o evangelho – porque se vêm a eles próprios.




 

 

DIÁLOGO 4

SOBRE A MORTE

C_SUJA: Eu tenho medo da morte! Nem sei o que se passa lá do outro lado. Sei que existe “o outro lado”, mesmo que nem goste de o reconhecer.

C_LIMPA: A pior morte nem é essa morte que temes.

C_SUJA: Eu só conheço essa morte. Existe outra?

C_LIMPA: Existem outras! Porque não entras em contato com Deus para ele te ensinar estas coisas? Ele ensina este tipo de coisas até a quem se perde. Basta apenas perguntares e aproximares-te d’Ele e, se depois não quiseres seguir o Caminho que te foi revelado, o Caminho te seguirá a ti e à tua consciência. O mal dos descrentes é ficarem sempre na dúvida, ora porque não acreditam, preferindo acreditar em coisas boas, (conforme dizem, porque ilusões nem são coisas boas; na verdade, não querem acreditar em coisas boas de verdade para poderem continuar a mentir para eles próprios); ora porque nem acham que Deus pode ensinar pecadores tanto quanto pode ensinar santos. Deus ensina a cada um aquilo que ele precisa saber naquele momento. Por isso, se buscas agora o que precisas saber agora, acharás. Se buscas o que os outros têm só porque o têm, nunca acharás – a menos que seja o que precisas agora. Mas, como estás a um passo da morte, podes perguntar a Deus que Ele te responderá de um jeito ou de outro. E, também, tens a Bíblia para elucidar-te sobre qualquer assunto. No entanto, é pena que as pessoas busquem Deus sempre que têm problemas e, tendo como prioridade a resolução desses mesmos problemas ou doenças, nunca resolvem aquilo que é prioritário.

C_SUJA: O que é prioritário?

C_LIMPA: A salvação da tua alma, a limpeza da tua vida e a reconciliação do teu espírito com o Espírito de Deus.

C_SUJA: Que reconciliação? Como assim?

C_LIMPA: O teu espírito choca de frente com o Espírito de Deus. Ele contraria o Espírito de Deus. Então, estando num estado de inimizade contra Deus, precisas de reconciliar-te com Deus para que consigas fluir juntamente com Ele e não ir contra ele. Como vais contra Deus sempre que estás em algum pecado, precisas tornar-te o oposto. Por essa razão é que a Bíblia diz que “a carne é inimizade contra o Espírito e o Espírito contra a carne”, Rom 8:7.

C_SUJA: Ainda não entendi.

C_LIMPA: A Bíblia diz que, quem peca, coloca-se num estado de inimizade contra Deus. Precisas de alcançar um coração que entre num estado de amizade com Jesus e que se concilia com o de Deus. Essa inimizade é um tipo de morte para com Deus. É uma das mortes que existem.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Precisas de ganhar um espírito que se manifeste a favor de Deus, a favor de Ele ser teu rei e Senhor, porque Ele é rei. Neste momento, o “rei” da tua vida, és tu. E os reis competem sempre por um trono e entram em guerras e em inimizades por causa dele. Se Jesus é Rei por natureza e se tu também queres ser rei de tua vida não sabendo governar nada, é óbvio que existirá um estado de inimizade e de oposição profunda entre ti e Deus. E, com isso, desejas que Jesus te sirva os teus desejos. Podes afirmar que Jesus é rei, mas sabes que é só a tua boca falando e que, quem manda em tua vida na realidade, és tu. Nunca ouviste as pessoas cantarem “Jesus reina em mim” e depois são eles próprios quem decidem sobre os detalhes da sua vida e são eles que tentam resolver os seus problemas sem consultar Deus? Por isso é que eu disse que, estando sujo, estás a um passo da morte.

C_SUJA: Como é que estou a um passo da morte? Estou aqui cheio de medo de morrer e ainda me dizes que só me falta morrer? Que tipo de amor é esse que fala assim comigo? E que outro tipo de morte existe para além da morte do meu corpo?

C_LIMPA: Como te disse, podes perguntar isso a Deus que serás esclarecido. Mas, vou-te explicar o que sei. Existem três tipos de morte. Mas, uma é que leva às outras. E as pessoas só se preocupam com as mortes que são meras conseqüências.

C_SUJA: Como é que uma morte leva às outras? Estás-me a confundir!

C_LIMPA: Jesus disse que quem permanece n’Ele nunca morrerá. Então, existe uma morte que é não permanecermos em Jesus. É essa morte que te leva às outras mortes.

C_SUJA: E será que estou morto com a morte que me leva a morrer?

C_LIMPA: Quem duvida do seu estado espiritual, pode estar a duvidar apenas ou, então, está mesmo longe de Deus. Ninguém duvida à toa como ninguém que seja honesto, crê à toa.

C_SUJA: Mas, eu aceitei o Senhor Jesus e sinto que me estás acusando de novo.

C_LIMPA: Já nem te responderei sobre esses sintomas e essas acusações que me fazes. Mas, vou tentar responder-te sobre as mortes que enfrentamos, as quais precisamos vencer. Porque, se não vencermos a morte de espírito, nunca venceremos a morte física. Se uma morte leva à outra, só uma vitória levará à outra e só um tipo de vida levará à outra também. Se não vencermos o pecado agora, nunca venceremos o salário, a recompensa, desse mesmo pecado. É preciso vencer já. É urgente, pois, uma morte leva à outra e uma vida levará à outra. E nem sabemos quando é que a outra chegará.

C_SUJA: Eu gostaria muito de vencer porque me dá medo morrer.

C_LIMPA: Mas, quem desejar vencer a morte física, terá de gostar e de desejar vencer a outra morte também. Não adianta não quereres morrer se não desejares abandonar qualquer tipo de pecado. Porque senão, seremos como aquele alcoólatra que diz que quer ir para o Céu porque Jesus falou que lá os fiéis beberão do fruto da vide. Ele não quer deixar de beber, só quer deixar de ter medo de morrer e ir para outro mundo beber. Pura ilusão será a dele. E, neste mundo, vemos as pessoas comentando sobre a sua bebida e sobre o que bebem. No mundo de Deus aqui na terra, ouvimos comentários sobre a sua sede e bebem outra coisa. Os alcoólatras gloriam-se do que bebem quando bebem e os filhos de Deus gloriam-se de sua sede quando bebem, porque a sua sede é muito boa e é do gênero que pode vir a salvar de seus pecados. Sua sede é do tipo que se louva. Haja sede.

C_SUJA: E que tem a ver a sede com a morte ou com a vida?

C_LIMPA: A sede de Deus (Deus de forma real) está para a vida como uma nascente está para um rio. A falta de sede está para a morte como uma chama está para um incêndio. Mas, no caso daqueles que viverão para sempre (e enquanto estiverem aqui na terra), será uma questão de muitos rios de água viva e não apenas de um riozinho. E quem bebe dessa água, fala da sua sede. E quem bebe da água falsa, fala daquilo que acha ser água; terá sempre sede sem se aperceber que tem sede. É dessa morte que falo, daquela que nem sente a sede que tem ou que deveria ter e obter de Deus. Essa sede morta é um dos piores tipos de morte que existe. Com essa morte vem a vergonha de sermos filhos de Deus diante do mundo como se a opinião deles fosse capaz de resolver alguma coisa em nós.

C_SUJA: E o que impede essa sede de Deus, o que a mata?

C_LIMPA: No mundo, a sede deles é saciada com o que embriaga a alma e com aquilo que mata essa sede de Deus. É mais um tipo de morte. Eles são ludibriados e anestesiados através do que bebem. No mundo do pecado, a sede de Deus é morta. Eles matam a sede de Deus através de seus pecados. Mas, no mundo de Deus, a sede intensifica-se e não é morta. Viveremos como se nunca tivéssemos falta de bebida tendo sede. Essa sede só revela que ainda estamos para chegar ao céu e que a nossa jornada necessita de ser concluída com sucesso e do jeito certo, através do Caminho que Cristo é.

C_SUJA: Mas, fala-me da morte então. Porque é tão misteriosa e porque razão as pessoas mistificam o que é ou será real?

C_LIMPA: O medo leva a pessoa a inventar um caminho da ocupação (ou muitos caminhos de distração) para não terem de encarar as realidades que Deus quer que encaremos diariamente e que as olhemos de frente. A Bíblia até diz que é bom irmos a um funeral e que é melhor ir ver a morte de perto que ir a uma festa. E o mistério da morte, aquilo que as pessoas usam para torná-la misteriosa para eles, é o medo fazendo piadinhas, enganando quem deveria fazer de tudo para cair na real porque não temos funerais todos os dias e, se tivéssemos, os nossos corações nos enganariam (e eles são enganados porque a sua especialidade é o que desejam e é o engano); os corações habituar-se-iam a olhar para a morte sem se sentirem avisados da maneira que deveriam sê-lo. Um funeral nem deveria ser lugar de lágrimas, mas, antes um alerta sério.

C_SUJA: Mas, a morte amedronta qualquer um! E porque devemos estar sempre a pensar na morte? Desse jeito nem faremos mais nada só de pensar que vamos morrer.

C_LIMPA: Depende se essa morte é um “bicho papão”, ou se ela significa a tua entrada no paraíso.

C_SUJA: Mas, como posso saber se vou para o céu mesmo? É que, assim, poderia perder os medos de morrer. Como disseste que existem várias mortes, acho que também tenho vários medos!

C_LIMPA: É por essa razão que temos mesmo de ter a certeza e nunca nos iludirmos acerca de coisas tão sérias como estas. A Bíblia fala que a fé é a certeza das coisas que não se vêm e, quem nunca se certifica, gosta de ser enganado e prefere o engano acima da realidade das coisas. Muitos dizem que fé é apenas a aceitação das coisas que não se vêm. No entanto, se estivermos mortos para Jesus, estaremos mortos para essas certezas e, conseqüentemente, estaremos imaginando que não existe vida depois da morte quando afirmamos que existe; ou então que estamos indo para lá quando nossos passos trilham caminhos de cá e manifestam claramente que estamos andando em sentido contrário.

C_SUJA: Como assim, andando em sentido contrário? Não entendi nada! Só estou ficando com medo e mais medo, sem te entender. Estou andando em sentido contrário?

C_LIMPA: Seria como alguém estando a dar passos para trás olhando para frente, achando ainda que está andando para onde olha quando, na realidade, se está afastando. Só que tem noção de que o céu está cada vez mais longe de si e acredita no oposto. Porque quem se habitua a mentir para ele próprio, não tem outros recursos senão acreditar que vai para o céu, pois, o medo que tem da morte, faz com que minta para si mesmo. Por essa razão, o inferno irá surpreender muita gente de repente!

C_SUJA: Inferno?

C_LIMPA: Sim, o inferno. Essa é a terceira morte. Na Bíblia, lemos que a morte será lançada no lago de fogo, isto é, que os mortos que estão mortos para Jesus ainda serão condenados a estarem a morrer para sempre porque estão mortos para Jesus enquanto vivem.

C_SUJA: Como assim, estarem a morrer para sempre? Sem nunca morrerem, é?

C_LIMPA: Esta terceira morte será uma forma de morte eterna. Na verdade, as pessoas estarão sempre morrendo sem morrer, como lá no céu estarão sempre vivendo. O inferno será olho por olho e dente por dente daquilo que não quiseram aceitar, daquilo que rejeitaram, pois o que rejeitaram será a exata medida do que recebem e vice-versa. E se é verdade que existe vida que nunca tem fim, haverá morte onde se estará sempre a morrer e onde a miséria e o sofrimento serão em medida exata da felicidade e da alegria que sempre rejeitaram enquanto viviam, isto é, enquanto estavam mortos para Deus e se recusavam viver de verdade – e nem importa se acreditavam que viviam ou que Deus existia. O fato de haverem crido que Deus existe, será mais uma coisa contra eles, porque nem assim se arranjaram e nem assim se prepararam para viver.

C_SUJA: Eu não gosto de conversar contigo por causa disso, pois deverias encorajar-me e não amedrontar-me mais do que já estou. Ninguém pode vir falar contigo sem perder a pouca fé que ainda tem. Eu venho à procura de consolo e de amizade e tu deixas-me a pensar na miséria mais do que aquilo que quero pensar.

C_LIMPA: Mas, se a tua fé é falsa e a perderes, ganhas com isso e nem perdes nada. Porque, se perderes a fé falsa, podes vir a ter a fé que dá certezas sem que seja necessário o próprio convencer o próprio. Nessa fé verdadeira, estaremos vivos para Deus, para o céu e a morte física nem nos amedrontará mais, porque será um escape desejado e nunca um terror. Mas, do mesmo modo que existem morte e vida (porque uma pessoa não pode estar morta para tudo ao mesmo tempo, pois se está morta para Deus estará viva para pecar), desse mesmo modo estaremos mortos para o pecado se vivermos para Deus. Todo tipo de morte tem o reverso da medalha em forma de vida oposta ou conseqüente, isto é, existe um tipo de vida associada à sua forma de morte. Se estivermos mortos para Deus, estaremos vivos para o pecado e se vivos para Deus, estaremos mortos para todo o tipo de pecado. Uma coisa leva à outra. Só que, esta morte e esta vida precisam ser reais e não meras crenças religiosas. Ninguém terá como impedir que isso seja assim, que um tipo de vida esteja associada a um tipo de morte conseqüente. Do mesmo modo, se estivermos mortos para o céu, estaremos vivos para o inferno mesmo que estando por lá sempre a morrer. Cada forma de morte tem sua companheira de “vida” e vice-versa. Se morrermos para o pecado através de Cristo, viveremos com Cristo e, se morrermos para Cristo, viveremos para o pecado. Ninguém terá como impedir nem uma coisa nem outra.

C_SUJA: Acho que desta vez entendi. Nem sempre te entendo e nem sempre gosto de te entender. Talvez seja por isso que não te entendo, porque nunca falas conforme aquilo que gostaria de ouvir de ti. E também não entendo como podes afirmar que vives limpinho diante de Deus se somos todos pecadores.




 

 

DIÁLOGO 5

ANDANDO NA LUZ E VENCENDO

C_SUJA: Mas, existe uma coisa que me faz imensa confusão.

C_LIMPA: Qual é?

C_SUJA: Como é que consegues viver sem pecado, se é que vives?

C_LIMPA: Estás perguntando se eu vou ter saudades de pecar, é? Como é que vou conseguir viver sem pecar porque terei saudades? Não tenho saudades dessa vida antiga não. Ela magoou-me muito, deixou muitas marcas e cicatrizes que só o céu irá curar. Não bastava ter nascido longe de Deus como ainda fui viver longe d’Ele durante muito tempo também.

C_SUJA: Não é isso não. O que eu gostaria de saber é, como é que isso é possível? Como consegues viver sem pecar?

C_LIMPA: Entendi agora. Pensava que estavas insinuando que o pecado era uma coisa linda e da qual se pode ter saudades. Mas, quem não gosta de pecado, não peca. É como quem não gosta de coca-cola – se não gosta, não bebe. Quem gosta de coca-cola bebe-a se tiver a oportunidade para isso. Quem está morto para coca-cola não a bebe e bebe água porque precisa beber, seu organismo pede que beba. Do mesmo jeito, o meu espírito rejeita o pecado e bebe de outra fonte que aprendeu a amar e a apreciar porque necessita dela e, na verdade, não vive sem ela.

C_SUJA: Quer dizer que, quem peca, por muito que se queixe, ama pecar e por isso é que peca?

C_LIMPA: Sim, é isso que quero dizer. Essa é a verdade. Se o coração mudar, deixa de pecar.

C_SUJA: Mas, eu não gosto de reconhecer que gosto de pecar. Sinto-me mal diante das pessoas quando reconheço que gosto de pecar. Parece que preciso mentir para viver como gosto. É como se vivesse escondido, mostrando uma coisa e vivendo a outra.

C_LIMPA: Isso é o oposto de andar na luz – de certa forma é. As pessoas quando querem pecar e querem continuar pecando, ou dizem que não podem parar com essa conduta para terem justificação para o que fazem ou como o fazem; ou, então, para poderem continuar com as suas vidas pedindo a aceitação das pessoas que elas querem agradar porque causa dos seus próprios ataques de consciência (porque acham que, se alguém os aceita e entende, eles também se aceitam e se entendem a si próprios); ou fazem o pecado parecer coisa bonita para nunca parecer mal, dando-lhe outro rosto e outra figura, sentimentalismo, sensacionalismo, romantismo e muitas outras coisas mais (e para isso precisam falar mal do que é bom por conseqüência , rejeitando e alterando tudo aquilo que Deus possa dizer ou então dizem que não é Deus falando e duvidam); ou, então, fingem que não pecam e aparentam as regras que têm duma boa conduta (porque as suas regras nem sempre são boas, mas, eles cumprem as que têm). Fazem tudo para agradar pessoas por acharem que a opinião das pessoas é o barômetro principal duma vida ou duma vivência. Todos se deixam admoestar pela opinião pública, mas, se for Deus a falar nunca se corrigem.

C_SUJA: E, se vivemos para Deus, a opinião das pessoas deixa de contar? Eu não gosto de magoar os outros…

C_LIMPA: Isso de não magoar os outros é pura fantasia. Acabas sempre magoando porque todas as mentiras têm pernas curtas. E a verdade, magoando ou não, acaba sempre por ser bem entendida. Nunca deves temer falar a verdade com o espírito certo, pois trará sempre os frutos certos em retorno.

C_SUJA: E existe alguma receita especial para mudar o nosso coração e para não estar só a mudar nossa conduta pelo desporto? É que sempre achei que, se o coração mudasse, a conduta seguiria atrás. Mas, existe qualquer coisa que me impede de chegar a esse conhecimento, a esse ponto, ou então estou fazendo as coisas de maneira muito errada. A única coisa que faço é tentar mudar a minha conduta e nem resulta muito bem – só quando sou fingido é que resulta.

C_LIMPA: Primeiro deverias ver se não tens nada, nenhum pecado que te possa estar separando de Deus porque é Ele quem nos capacita, mesmo quando não nos damos conta de que o está fazendo. Se não nos damos conta disso, não será por isso que isso deixa de ser verdade e tão pouco deverá ser por essa razão que não nos limpamos. Devemos limpar toda a nossa vida mesmo não crendo que seja por Deus que vivemos ou que viveremos. Vais-te sentar sozinho com Deus, colocas cada pecado antigo e recente diante de Deus, um por um – aqueles que nunca colocaste ou aqueles que repetiste depois de os haveres colocado diante d’Ele. Tenho a certeza que, depois, as portas para uma boa conduta e uma vida celestial se abrirão para ti. Precisas, de seguida, pedir perdão às pessoas também, mesmo que o pecado em questão seja muito antigo e mesmo que a pessoa já se tenha esquecido dele. Deus não esqueceu. Na Bíblia Deus diz assim: “Não dizem ao seu coração que Eu ainda me lembro dos seus pecados”, Os. 7:2. Se a pessoa esqueceu ou se tu te esqueceste, Deus ainda se lembra porque Ele não é esquecido. Só depois disso é que poderemos falar da morte do pecado.

C_SUJA: E como morre o pecado depois disso?

C_LIMPA: Todo pecado morre como os vampiros morriam naquelas lendas de vampiro: expondo-os à luz.

C_SUJA: Explica melhor, por favor.

C_LIMPA: As pessoas tentam vencer aquilo que os vence lutando, reclamando, escondendo e ignorando o pecado dentro do território dele. Ora, se lutamos contra um inimigo poderoso no seu território, mesmo vencendo-o em certos aspectos , assimilaremos o seu ambiente porque nos envolvemos com o pecado lutando e pegando nele, ora acusando ora defendendo-nos. Se nos defendemos, seguramos a vida de quem gosta de pecar na nossa mão e a nossa mão torna-se impura; se nos acusamos, mantemos o pecado com vida. Se o ignoramos para não acusar ele também se mantém. Então, o segredo está em expor esse pecado e não em combatê-lo da maneira convencional.

C_SUJA: Expor como?

C_LIMPA: Expor revelando, não é. O território dos pecados são as trevas. Sendo assim, o que os matará é colocá-los na luz e nunca debatermo-nos com eles ou contra eles dentro do seu território. O pecado só morre se ele lutar conosco em nosso território, desde que o nosso território seja o da luz (lá onde tudo se expõe e se vê).

C_SUJA: Eu lembro como os vampiros morriam. Eram colocados no sol, não eram? E nem resistiam mais e todos os que haviam sido mordidos pelo vampiro eram restabelecidos depois dele haver morrido.

C_LIMPA: Mesmo que essa história seja uma fantasia lendária, serve como uma boa ilustração. Todas aquelas áreas de tua vida que foram mordidas pelo vampiro que existe em ti e que não consegues achar porque se esconde muito bem de toda a gente, serão restabelecidas após a morte desse vampiro. Se conseguires que ele seja crucificado com Cristo sem dó (através da exposição na luz reveladora de Deus com a qual te concilias), tudo que ele mordeu será restabelecido e refeito. Tudo voltará ao normal, ao seu estado original e voltará a ser como aquela imagem com a qual Deus nos criou no início da criação.

C_SUJA: Eu acho que isso é bom demais para ser verdade. As coisas boas nunca me acontecem.

C_LIMPA: E tu achas que ficar sem pecar é bom?

C_SUJA: É estranho, não é? Mas, eu reconheço que são os meus pecados que me fazem sentir impotente e que me tiram as forças todas. Sinto que o esgotamento é uma conseqüência e nunca uma causa. E também gosto de ter a atenção dos outros e se viver longe do pecado ninguém gostará de mim. É um preço alto demais para um pecador pagar.

C_LIMPA: Mas, será um preço baixo para um santo. Bastará virares santo para a tua idéia mudar contigo.

C_SUJA: Mudar de idéia como? Eu só irei desejar aquilo que devo desejar se morrer para o pecado?

C_LIMPA: Sim, claro. Ressuscitarás numa nova vida logo de seguida, a qual precisas aprender a amar e a vivê-la do jeito dela. Ressuscitando nessa vida, acordarás com aqueles desejos que ela têm e não mais com os teus.

C_SUJA: E os desejos que tenho agora, os meus sonhos e tudo mais?

C_LIMPA: Eles morrem todos, um por um, tal qual nasceram.

C_SUJA: Morrem mesmo? Assim… como direi… deixarão mesmo de existir?

C_LIMPA: Sim, nem te lembrarás que foste sonhador.

C_SUJA: Tenho dó dos meus sonhos e desejos morrerem assim. Ainda se fosse uma morte fingida ou aparente… Mas, não é. Tenho pena deles e sinto um aperto só de pensar que nem sentirei saudades deles.

C_LIMPA: A opção é tua. Quem sente dó da morte, odeia a vida e vice-versa. E Deus nos julgará mais por aquilo que gostamos do que por aquilo que fizemos, mesmo sabendo que seremos julgados por ambas as coisas. Quem morre para o que mata, viverá para aquilo que dá vida, tal como Jesus morreu para o mundo e ressuscitou para uma vida nova, para uma vida diferente, onde até o jeito de conseguirmos alcançar as coisas muda. “Aqui na terra do jeito que se faz no céu”, disse Jesus. 

C_SUJA: E se eu não conseguir?

C_LIMPA: Esse tipo de dúvida só existe em quem não quer achar que pode morrer mesmo. Mas, se não morres, nem viverás também. Enquanto não morreres, duvidarás. Precisas dar aquele passo de expor tudo que Deus nunca aprovará e só então te aperceberás que conseguirás – até mesmo quando achares que será difícil consegui-lo! Jesus disse que se uma semente não morresse, ela nunca se tornaria árvore.

C_SUJA: Bem, tudo o que me falaste é muito bonito de se ouvir, mas, que acontecerá se eu não quiser fazer ou se rejeitar tudo que acabei de ouvir?

C_LIMPA: Se não colocares tudo em prática imediatamente e ainda aquilo que Deus te irá mostrar porque colocaste em prática algumas coisas, irás piorar o teu estado de saúde. Ninguém fica igual depois de ouvir a verdade – ou piora, ou melhora. A cada dia que passa, as opções diminuem até existirem apenas duas opções: viver, ou morrer. Mas, na verdade, é viver ou continuar morto – mais morto e mais distante de Deus e da vida.




 

 

DIÁLOGO 6

A LUTA CONTRA O PECADO

C_SUJA: Isto muda todas as minhas ideias. Eu pensava que teríamos de lutar contra os nossos pecados – mesmo que eu nunca lute contra eles porque acho que é em vão. Mas, é a idéia que tenho do que deveria fazer e que me desmotiva só de pensar em fazer. Antes mesmo de começar a lutar já me sinto sem motivação para fazê-lo. Será que era que é assim porque cultivo o pecado?

C_LIMPA: Isso acontece com todos os que andam longe de Deus, porque uma consciência que não se limpa com o sangue de Cristo e que se tenta manter limpo de outra maneira (encobrindo, disfarçando ou menosprezando), fica nesse estado. Tudo aquilo que for querer cumprir, desejar da maneira certa, fica sempre por terminar ou por começar. Essa é a principal consequência de vivermos longe de Deus, longe de Quem opera dentro de nós tanto o querer como o fazer. Mas, ainda há uma outra coisa para além dessa que é muito mais grave.

C_SUJA: Qual é?

C_LIMPA: É que, quando vivemos longe de Deus, ficamos com um tipo de programa em nós. Nós somos como um disco dum computador que só opera mediante o que está gravado e instalado nele. No mundo da desmotivação, da inatividade em relação às coisas certas, aprendemos a pensar duma certa maneira e acabamos considerando que as coisas importantes são impossíveis de serem conseguidas. É assim que esse “disco” pensa e reage. E torna-se difícil para nós começar uma coisa ou, então, terminar essa coisa quando começamos a fazê-la – mesmo não sendo difícil começá-la. Quando nos voltamos para Deus, tudo se torna diferente e conseguimos começar e terminar as coisas se nunca pensarmos do jeito antigo. Mas, entramos no Reino de Deus com os programas antigos – aqueles que acham que não precisamos terminar ou começar aquilo que está certo, ou que não conseguiremos caso achemos que é nosso dever.

C_SUJA: Entendo. E que devemos fazer para não sermos assim desse jeito?

C_LIMPA: Nada mais que mudar de idéias depois de limparmos tudo que nos sujou ou suja ainda. Paulo disse “renovai-vos em vossas mentes para saberem qual a vontade de Deus e para saberem como ela é agradável”, Rom. 12:1,2. Não sabermos que ela é fácil de cumprir e agradável, é uma das conseqüências de vivermos longe de Deus durante muito tempo.

C_SUJA: E não é preciso lutar para vencermos depois de nos limparmos com o sangue de Cristo?

C_LIMPA: Bem… uma coisa é lutarmos contra os nossos pecados no território do pecado ou através das suas armas e de seus jeitos, isto é, usando seus programas e maneiras de pensar e de agir. Outra coisa é lutarmos contra o pecado no território da luz ou com as armas novas. “Pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus, para demolição de fortalezas”, 2Cor. 10:4. A melhor maneira de perdermos uma batalha ou uma guerra será usarmos aquilo que favorece os inimigos ao tentarmos vencê-los, porque usamos aquilo que aprendemos a usar da maneira errada.

C_SUJA: Entendo agora. Mas, lutamos ou não lutamos?

C_LIMPA: Lutamos sim, mas, mais confiantes e mais calmos com aquele sorriso de quem sabe que vai vencer ou que, agora, pode vencer. O mais difícil nem será vencermos, mas, sim abandonarmos as armas das trevas e não enfrentar os nossos pecados através delas, porque só a elas nos habituamos. Essa será a parte mais difícil da nossa vivência, pois estamos habituados ao que aprendemos a ser e a fazer. O mais difícil nem será vencermos ou sermos mais que vencedores. O mais difícil será entregarmos nossas armas quando somos atacados.

C_SUJA: E como devemos começar, por onde devemos iniciar essa luta santa? Porque me parece tratar-se uma luta santa, não é?

C_LIMPA: Em primeiro lugar, devemos saber que não vamos vencer o amor que temos pela música que Deus odeia dentro do ambiente dela, nas discotecas e nas festas onde ela reina. Temos de sair do território do inimigo e entrar – penetrar fundo mesmo – no território de Deus. Em segundo lugar, devemos aprender a milícia da luz. E o principal trunfo da luz é expor tudo e ser claro, ora reconhecendo, ora falando olhando de frente para tudo, nunca encobrindo – tudo dependendo da necessidade de cada momento.

C_SUJA: Para cada ocasião existe uma arma então.

C_LIMPA: É isso mesmo, sim. Tirastes-me as palavras da boca. Neste mundo de Deus, mesmo tendo hábitos, não somos mecanizados. No outro mundo, quando fazíamos mal, a nossa defesa era esconder ou ignorar que fizemos algo de errado – ou então acharmos que não fizemos nada de mal, pois essa é só mais uma forma de encobrir. Mas, neste mundo de Deus, aqui dentro do reino d’Ele, é expormos para que todo pecado morra porque é exposto à luz. Muitos tentam fazer com que as trevas não existam e esquecem que, para isso acontecer, basta colocar na luz.  Mesmo que nos venham acusar porque nos expomos, quem será contra nós se Deus é por nós? Nem precisamos temer nada daquilo que o homem possa pensar ou achar. Na maioria dos casos, o mundo de fora vai acusar apenas porque se recusa fazer o mesmo e sente-se na necessidade de defender-se acusando. Eles não estão contra nós, mas antes a defenderem-se como podem usando as armas das trevas. Uma das armas que não precisamos usar dentro da luz, é a defesa. Na luz é Deus que nos defende.

C_SUJA: Mas, é difícil sabermos quais são as armas que não devemos usar, não é? Parece-me muito complicado discernir tudo assim desse jeito simples, como criança o faria sem comentar e apenas assumindo. Odeio não conseguir ser melhor que tu, pois parece-me que estás muito à vontade e com uma paz que odeio porque ainda não a consegui obter.

C_LIMPA: Outra das armas das trevas é usarem o ódio como força ou como motivação. Os mundanos assimilam esse jeito muito facilmente e fazem mais e melhor quando odeiam do que quando amam. Mas, no mundo de Deus, somos resistentes porque somos calmos, mantemos o nosso passo quando todos achariam que iríamos desistir; e como nem dependemos da opinião pública para termos diretrizes e setas apontando os nossos caminhos, todos se admiram com o nosso comportamento. Mesmo que seja um comportamento normal e muito simples, ficam admirados com ele quando dá frutos. Paulo fala muito “na simplicidade que há em Cristo” dentro de nós, mas, as pessoas só acham que viver certo é complicado. Mas, na verdade, só é diferente. Por essa razão, entram em trabalhos e em situações que geram problemas complicados por acharem ser mais fácil viver desse jeito indomável e selvagem – sem raciocínio. Imaginemos um preguiçoso que se mete em trabalhos porque nem quer trabalhar! É isso que acontece com os pecadores: eles metem-se em problemas condenatórios porque não querem ter problemas. A vida de um pecador é uma vida muito complicada e eles acham-na fácil porque não conhecem outro caminho e até rejeitam conhecê-Lo.

C_SUJA: Fico cada vez mais surpreendido com as coisas que estou ouvindo de ti.

C_LIMPA: A surpresa e a admiração pelos outros também é uma arma das trevas, pois admiram-se com os outros para não terem de se arranjar eles próprios. Quando não conseguem odiar, admiram. As trevas têm armas de defesa e de ataque. Não devemos fazer uso de nenhuma delas. Quem se admira é capaz de ser crítico também, como quem lisonjeia pode facilmente falar mal de alguém. O coração que lisonjeia é o coração que critica. Não podemos confiar em quem nos lisonjeia e nem acreditar em quem nos critica apenas porque queremos que nos agradem e que nos lisonjeiem. Os que lisonjeiam acham que amam e que são agradáveis; e Deus disse para não fazermos nenhuma semelhança de nada daquilo que existe no céu porque lá se ama de verdade e lisonjear parece amor. Todas as semelhanças são mentiras e são os portões que nos vedam o acesso à realidade das coisas que tentamos imitar.

C_SUJA: Será que vou conseguir aprender isto tudo, se mudar?

C_LIMPA: Essa é mais uma arma das trevas: achar que aquilo que Deus diz que conseguiremos nos está vedado e que nos será impossível de alcançar aquilo que Deus prometeu dar-nos e ensinar-nos facilmente e em seu devido tempo.

C_SUJA: Ensinar-nos como?

C_LIMPA: Como se ensina uma criança. Quando ensinamos uma criança, formamos a criança – não lhe damos aulas como se dão lições numa escola. A nossa escola é uma escola de vida, andando continuamente com Deus para melhor assimilarmos a Vida que Ele é. Mas, se Deus não for real, estudamos teologia, fingiremos e assimilaremos tudo aquilo que a nossa própria imaginação corrompida nos permite entender do nosso jeito e nos coloca à disposição. Deus não nos ensina dogmas, teoria e mandamentos – Ele antes nos dá o jeito, a vida de vivermos tudo aquilo que Ele tem em vista para alcançarmos em cada dia que passa. Os filhos aprendem o que sabem porque convivem com os pais e aprendem o mal ou o bem na companhia de quem andam em fase de crescimento.

C_SUJA: Mas, eu acho que já sei fazer muitas coisas da maneira certa.

C_LIMPA: Se isso for verdade, é muito bom. Porque, outra das armas das trevas é acharmos que sabemos para não termos que aprender e, por conseqüência, acharmos que não sabemos ou que nunca aprenderemos aquelas coisas que já aprendemos – para pensarmos que não conhecemos o nosso dever. Outra das armas do lugar ou da vida onde nada se esclarece ou de onde nada pode e deve ficar claro (clarificado), é a confusão, a mistificação, a filosofia enganosa – tudo para não acharmos que sabemos o que sabemos e para acharmos que sabemos tudo aquilo que ainda precisamos aprender ou reaprender a reformular. As pessoas orgulham-se de tudo o que aprendem porque acham que a sabedoria é coisa inatingível. Mas, no mundo de Deus, a ignorância é que nos causa admiração e nunca a sabedoria. Ali, perto de Deus, a falta de sabedoria causa-nos angustia.

C_SUJA: Fiquei sem palavras porque, de tudo que digo, recebo resposta violenta da tua parte. Parece que tens sempre uma seta apontada para responder a tudo o que digo.

C_LIMPA: Essa é outra arma das trevas: acharmos que estamos a ser acusados. É por essa razão que o diabo coloca pessoas no nosso caminho que nos apóiam e nos defendem sempre que nos sentimos acusados pela verdade. Seria muito bom termos muitas pessoas que nos ajudassem a corrigir os nossos erros e a nossa forma de pensar. Quando irás parar de te sentir acusado sempre que falo a verdade? Existe muita gente que se alegra ouvindo estas coisas. Só porque no mundo das consciências sujas as pessoas acusam quando falam a verdade e lisonjeiam quando mentem (ou acusam através de mentiras porque sabem que todos nesse mundo se ressentem através da acusação), isso não significa que a verdade te está acusando. Tu mesmo te acusas e a verdade que ouves ajuda nisso. Mas, quem te fala a verdade, tem verdadeiro amor por ti e nunca acusação. Mas, nem deixará de falar a verdade se ela te ajudar, nem mesmo que seja contra tua vontade.

C_SUJA: A conclusão que cheguei é: não devemos lutar do jeito antigo contra os pecados que me sujam agora e que aqueles que me sujaram devem ser limpos e não esquecidos.

C_LIMPA: Certíssimo.




 

 

DIÁLOGO 7

O JEJUM

C_SUJA: Eu oro muito e Deus nem me responde. Tens alguma explicação para isso?

C_LIMPA: E que fizeste já?

C_SUJA: Orei, jejuei, pedi oração aos outros irmãos e até chorei na Igreja enquanto estava pedindo oração a eles. Todos se comoveram, menos Deus. Mas, havia lá uns mentirosos que diziam: “Deus vai te abençoar, meu irmão!” Até agora Deus não abençoou, não aconteceu nada! Não sei onde é que eles ouviram que Deus ia abençoar-me. Estou muito magoado com tudo isto.

C_LIMPA: É muito estranho isso. Por vezes, quando vou orar, ainda nem comecei a falar e Deus já me respondeu. Parece que Ele lê em mim aquilo que vou falar. Antes mesmo de pedir, quando vou orar, recebo a resposta. (Is. 65:24).

C_SUJA: A mim só me falta gritar! Mas, nem grito, pois sei que nem serei ouvido e também sei que Deus não deve ser surdo para eu ter de gritar. Ele deve estar decidindo quando ouvir e quando não ouvir, pois surdo não deve ser. Só gritamos para os surdos, não é? Pelo menos, é o que penso! E se gritar dentro da igreja já ninguém se vai comover comigo – vão achar que enlouqueci. Ah irmão, estou em desespero! Que mais posso fazer?

C_LIMPA: Que tal te limpares com Deus, fazeres uma faxina completa dentro da tua vida, da tua alma? Fazes tudo menos o principal! É assim que tua fé termina, pois a Bíblia diz que, se não estivermos limpos, a nossa fé naufraga. Lá diz assim, escuta bem: “... mantendo uma boa consciência, a qual, alguns havendo rejeitado, naufragaram na fé”, 1Tim. 1:19”. E, por isso, nós gritamos com quem está longe de nós ou com quem não nos ouve. E existem aqueles que gritam com quem os irrita também. Se achas que deves gritar por Deus podes ter um destes problemas – ou então achas que os tens e a tua vivência e comportamento adaptam-se àquilo que achas ser verdade.

C_SUJA: Mas, eu nem estou irritado com Deus. Deus me livre! Tenho respeito a Deus! Procuro sempre comportar-me bem e ser educado. Mas, nem assim Deus me ouve. Diz-me irmão, isto é normal?

C_LIMPA: Porque me chamas irmão? Aprendeste com aqueles que te mentem?

C_SUJA: Porque cremos em Deus e somos filhos do mesmo Pai…

C_LIMPA: Entendo. Mas, nem sei se somos irmãos. Não é que eu não queira ser teu irmão, mas, não existe irmandade entre sujo e limpo e eu gosto muito de ser verdadeiro e saber que chamo irmão a quem é meu irmão de verdade. E, também, não acho que seja normal Deus não nos ouvir. Normal não é mesmo! E também por essa razão penso que não somos irmãos.

C_SUJA: É, pode ser que tudo o que me dizes seja verdade. Eu acho-me diferente de ti, sim. Muito diferente! E os irmãos costumam ser iguais ou no mínimo parecidos uns com os outros.

C_LIMPA: “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” Amos3:3. Mas, também não sei se somos muito diferentes. Só sei que Deus me ouve assim que falo e sei que é porque estou limpo e tranqüilo em meu coração. E, também, nem te poderia chamar irmão sem mentir para mim mesmo. Acho muito feio mentirmos.

C_SUJA: Mas, porque razão somos diferentes se falamos do mesmo Deus e das mesmas coisas?

C_LIMPA: Bem... eu acho que é porque estamos em lados diferentes em relação à verdade: tu estás olhando para ela do lado de lá para cá e eu daqui para aí.

C_SUJA: E é estranho que nem me senti agredido quando me disseste que não te sentes como sendo meu irmão. Vi que estavas mesmo desejando que fossemos irmãos e que te estavas expressando através da verdade. Sinto que és verdadeiro. Agora entendo porque meus amigos se ofendem quando falas, ou quando olhas para eles. Nem estão sendo justos para contigo, afinal. Eles não entendem uma honestidade dessas, que é verdadeira sempre. Agora entendo as razões porque nunca te entendem: é porque nem falam a mesma linguagem.

C_LIMPA: Nem sei o que te dizer sobre isso, mas, a verdade só magoa quem a entende mal; ou a quem quer que ela diga aquilo que desejaria ouvir; ou ainda, a quem quer viver mentindo para ele mesmo para agradar às pessoas. E amar a verdade é uma das condições para ouvirmos Deus falando e respondendo a todas as nossas orações. E verdade forçada ainda não é verdade no intimo, também.

C_SUJA: E porque razão a verdade forçada ainda não é verdade? Eu não entendo qual a razão. A verdade forçada é mentira ou é meia verdade?

C_LIMPA: Bem, nem existem meias verdades, só quando se usa a verdade para mentir duma forma ainda melhor. E a verdade forçada leva-nos a criar um hábito de querermos adivinhar.

C_SUJA: Como assim? Leva-nos a criar hábitos de adivinhar? Não entendi.

C_LIMPA: Quando forçamos a nossa verdade para ela levar a melhor e ficar vincada, é porque, em circunstâncias normais, mentiríamos para nós mesmos – ou por nós mesmos, por causa de nós, tendo os nossos motivos para defender e proteger. Quando forçamos a nossa vontade, seremos tentados a adivinhar a resposta que Deus daria porque Ele não a dá. Mas, Ele só não dá a resposta porque não existe verdade em nós, ou então porque nem consideramos “não” como resposta. Isso também pode acontecer. Temos de saber que a resposta chegará assim que a verdade no intimo estiver presente também, quando formos nós mesmos. E, quando aquelas coisas que imitam terminarem, criam-se as circunstâncias para Deus ser real para nós também – ou em nós, se quisermos que assim seja. Deus nem quer concorrência e imitações que concorrem com Ele pelo nosso coração – só quer ocorrência.

C_SUJA: Até que nem é difícil de entender.

C_LIMPA: Não, não é difícil de entender.

C_SUJA: Porque, às vezes penso assim: os demônios pediram a Jesus para entrarem nos porcos e Ele atendeu ao seu pedido, não foi? Eles entraram nos porcos. Podemos afirmar que Ele atendeu à sua oração e eram demônios! É por isso que, às vezes, sinto-me pior que demônio! Porque é que Deus me faz sentir pior que demônio? Não posso continuar mentindo para mim mesmo, dizendo que Deus responde às orações que fazemos! Preciso desabafar e encarar os fatos! Consegues entender-me? Ou estou a ser crítico demais?

C_LIMPA: Consigo sim. Mas, só não posso aceitar que fiques achando que é culpa de Deus e que Ele nem te queira escutar orando. Estou certo que tudo isso acontece apenas porque te recusas limpar em pormenor e detalhadamente. Quando lavamos roupa, lavamos peça por peça. Devemos lavar pecado por pecado também. E Jesus falou daqueles que lavam as suas vestes no Seu sangue.

C_SUJA: E porque razão o jejum não funciona comigo? Tu jejuas? Deves jejuar muito, para Deus te ouvir assim que oras! Mas, se Deus te ouve assim que oras porque razão jejuarias, não é? Não entendo mais nada! É tudo muito confuso para mim.

C_LIMPA: A confusão é uma daquelas coisas que causam vazamentos da fé. Mas, tudo é conseqüência da sujeira que está em nós. Porque, assim que nos limparmos, Jesus começa a esclarecer para nós aquilo que a confusão tentou confundir e atormentar, ou tornar turbulento e incompreensível. Por essa razão é que Jesus se esforça para curar e esclarecer tudo aquilo que o prejuízo tirou de nós – ou que colocou em nós.

C_SUJA: Às vezes pondero se que devo abandonar tudo que fala de Deus. Mas, aquilo que quero abandonar não me abandona a mim! Persegue-me!

C_LIMPA: Nem deves ficar enfurecido se a misericórdia de Deus te perseguir, pois quem sabe ainda decides limpar-te e achar justa e precisa a Sua ajuda, aquela ajuda para seres transformado porque te limpas. É a misericórdia que nos tira a paz e, por essa razão, Deus determinou que “o ímpio não terá paz”. Do mesmo jeito que Ele disse “Haja luz”, Ele disse “O ímpio nunca terá paz”, Isaías 57:21. E, também em ralação ao ímpio não ter paz, Ele “viu que era bom” que assim fosse. É um decreto eterno.

C_SUJA: E quanto ao jejum: tu jejuas muito?

C_LIMPA: Só quando o Espírito de Deus me guia para fazê-lo.

C_SUJA: Como assim? Deus guia para orarmos e jejuarmos?

C_LIMPA: Sim, claro! Senão, de que modo oraríamos pelas coisas que são a vontade de Deus? Só seremos ouvidos se orarmos conforme a vontade de Deus.

C_SUJA: Isto está cada vez mais confuso para eu entender!

C_LIMPA: Jesus foi levado pelo Espírito para jejuar quarenta dias e quarenta noites no deserto, não foi? E Deus também pergunta àqueles que jejuavam: “Quando vindes para comparecerdes perante mim, quem requereu de vós isto, que viésseis pisar os Meus átrios?”, Is. 1:12. Se Deus requer, nós jejuamos, se Deus nos guia também. E também lemos que o “Espírito geme dentro de nós” como se fossemos nós, intercedendo por nós, isto é, através de nós. Ele, dentro de nós, ajuda na intercessão que devemos fazer e do jeito que devemos ser ouvidos e até parece que somos nós orando. E, na verdade, somos nós orando.

C_SUJA: Então é Deus quem nos guia para jejuarmos?

C_LIMPA: Se não for uma coisa vinda de Deus, nem saberemos qual é o jejum que Deus aceita – nem qual a oração que irá ouvir. É que, se oramos conforme a nossa vontade, Deus pode-nos perguntar assim, também: “Seria esse o jejum que Eu escolhi? Chamarias tu a isso jejum e dia aceitável ao Senhor?” Is. 58:5. O melhor seria fazer jejum de pecado, não nos alimentarmos do pecado. Por isso Ele diz: “Acaso não é este o jejum que escolhi? Que soltes as ligaduras do pecado e que desfaças as ataduras do teu jugo?” Is.58:6. Esse é que seria um bom jejum!

C_SUJA: Então não podemos jejuar quando queremos?

C_LIMPA: Podemos, mas, só se o Espírito nos guiar para isso e querermos quando Ele quer. Podemos desejar sempre que Ele deseje. Ele também opera em nós o querer e o fazer.

C_SUJA: Como é que Ele faz isso? E como é que Ele nos guia?

C_LIMPA: Temos de saber que Ele é um ajudador, que nos ajuda a podermos fazer aquilo que temos de fazer da maneira certa e, também, na hora mais certa. Nós fazemos, nós jejuamos, nós oramos ajudados por Ele em nós. Os apressados dificilmente serão guiados pelo Espírito de Deus. E, os que se atrasam, também correm o risco de serem excluídos. A única maneira de nunca nos atrasarmos e de nunca nos adiantarmos à vontade de Deus, será sermos guiados por Ele. “ Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”, Rom.8:14. Se não somos guiados por Ele, pelo que lemos aqui, nem somos filhos de Deus – nem mesmo quando nos consideramos como tal!

C_SUJA: Entendi. Bem me parecia que era só sacrifício mesmo, sempre que jejuava parecia que estava a fazer a coisa errada ou que não iria dar certo (nem com jejum) e tudo aquilo não me levaria a lugar nenhum.

C_LIMPA: É verdade. Jejum nem pode servir de moeda de troca quando nos aproximamos de Deus. Pode servir como um tempo durante o qual Deus nos vai transformando enquanto buscamos uma coisa d’Ele, preparando-nos para recebermos aquilo que pedimos e muito mais do que pedimos ainda. O jejum é um meio de nos transformar porque entramos na esfera e no domínio de Deus. O jejum não obriga Deus a ouvir-nos, mas, antes muda-nos para O podermos ouvir. Mas, para além da obediência e de aprendermos a obediência, o jejum não serve para mais nada. 

C_SUJA: Eu pensava que, quem jejuava, era muito santo e sacrificado.

C_LIMPA: Quem jejua pode tornar-se santo, sim. Mas, pode estar jejuando para evitar ser santo também, para continuar sendo pecador, tentando usar o sacrifício para não fazer a coisa certa. Quem jejua tem de entrar pela porta da oração e nunca saltar o muro, precisa ser inspirado e guiado por Deus. Mas, precisa orar como se não fosse assim. Se saltar pelo muro Jesus pode chegar e dizer: “Amigo, como entraste aqui, sem teres roupa nupcial?” E em vez de nos atender, manda alguém lançar-nos fora também. (Mat. 22:12).




 

 

DIÁLOGO 8

SOBRE A ELEIÇÃO

C_LIMPA: Estive quase tropeçando. Mas, Deus ajudou-me e livrou-me. Bem que diz a Palavra “Aquele que cuida em estar em pé, que não caia”.

C_SUJA: Mas, se tu caíres nem acontecerá nada de grave contigo, não é? És um eleito.

C_LIMPA: Que é isso que estás dizendo? Que afirmação mais tola poderá haver que essa?

C_SUJA: E não é verdade? Deus escolhe alguns e os outros, Ele joga fora. Sendo crente, Deus não te lança fora.

C_LIMPA: Sendo crente pode-me acontecer pior do que aqueles que nunca foram crentes. Não digo que me aconteça pior que aqueles que foram crentes e se desviaram. Mas, seguramente que será pior para mim que para quem nunca foi crente. “O julgamento começa pela casa de Deus”, 1Ped. 4:17. E sempre é melhor ser frio que morno. “Porque melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se…”, 2Ped. 2:21. Se a Bíblia diz que teria sido melhor, então é porque é mesmo.

C_SUJA: Mas, como pode isso ser assim se és eleito e escolhido de Deus?

C_LIMPA: É verdade que Deus escolhe uma época para coisas importantes, escolhe umas pessoas para irem salvar os outros, como escolheu a era dos discípulos para Cristo vir morrer por nós. Mas, Ele chama todos os pecadores ao arrependimento no local aonde o evangelho chega. Quando o evangelho chega a um lugar, podemos afirmar que aquele lugar foi escolhido para lá chegar o evangelho. Mas, mesmo assim, muitos agem como se nem tivessem sido escolhidos. E muitos dos que ouvem ali, sendo pessoas privilegiadas, serão lançados no inferno porque nem sendo escolhidos para ouvirem, se arrependeram. E o arrependimento leva à conversão e sem essa conversão ninguém vai para o céu. Deus não vai querer lá ladrão que continua com coração de ladrão, não é mesmo?

C_SUJA: Nem me fales no inferno que me dá calafrios! Nem gosto de pensar que irei queimar só porque Deus não me escolheu. Porque eu tenho a idéia que a pessoa escolhida pode pecar e os outros não.

C_LIMPA: Rute também não pertencia a nenhum povo escolhido e está no céu. Como podes dizer que vais para o inferno se Deus não te escolheu? Mesmo que fosse verdade, Rute dá-nos um exemplo claro de que, quem quiser e vier a Jesus, salvar-se-á dos seus pecados. Ela ainda foi avó dum Rei escolhido de Deus e na Bíblia vem um livro inteiro em homenagem a ela. Ela nem era escolhida e pertencia a um povo condenado à destruição. Mas, escolheu o Deus de Israel acima de tudo e seguiu a sogra para o colo do único Deus que há. A cunhada dela teve a mesma oportunidade para fazê-lo também, mas, resolveu seguir o seu caminho e voltou para os deuses de prata que nem andam sozinhos. Por essa ordem de idéias que tens, Rute nem entraria no céu. Mas, ela está lá.

C_SUJA: E eu posso entrar no céu?

C_LIMPA: Só depois de seres limpo e modificado, tal como eu só entrarei limpo e modificado. O caminho é igual para todos, pelo menos nesse aspecto.

C_SUJA: Eu não sei se sou escolhido e nem sei se quero entrar.

C_LIMPA: Vai-te desculpando e vai usando palavras evasivas! Olha que o tempo vai passando e, depois, mesmo que queiras entrar, não entrarás mais. Nem buscando com lágrimas serás aceite! “Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado; porque não achou lugar de arrependimento, ainda que o buscou diligentemente com lágrimas”, Heb 12:17 .

C_SUJA: Mas, o meu pastor disse-me que, se eu não for escolhido, nunca entrarei no céu.

C_LIMPA: Bem, se eu não tivesse sido escolhido desse jeito que me falas, eu iria bater na porta do céu a eternidade toda até ela se abrir!

C_SUJA: E se a porta não abrir?

C_LIMPA: Jesus disse que se batermos, ela abrirá. Como é que Deus iria viver, sendo Rei da santidade, se não cumprisse essa promessa? A questão nem será se a porta não abrir, mas, antes se eu irei bater até ela abrir!

C_SUJA: O que é isso de sermos escolhidos então? Não vale de nada?

C_LIMPA: Eu não sei muito bem. Mas, sei que, se ouvir o evangelho de Cristo, estou sendo chamado e devo mexer as minhas pernas e meu coração o mais rápido que posso. É como se Jesus estivesse dizendo de novo (como aconteceu quando Ele andava cá na terra): “Eis o Reino de Deus, entrem! Olhem o reino dos céus, Ele chegou!” Muitos nem ouviram naquele tempo e até disseram que os discípulos estavam alcoolizados por estarem só conscientes de Deus porque a Sua presença era real. Mas, não era real para aqueles que falavam mal do que nem experimentavam – só viam do lado de fora deles sem conseguirem achar explicação. Por isso blasfemaram. Se Deus não estiver dentro e fora, se estiver apenas fora e O vermos, poderemos facilmente cair na tentação de blasfemar.

C_SUJA: Entendo. Mas, às vezes acho que, se Deus fosse normal, escolheria no fim, separando os bons dos maus só no final. Eu, quando compro batatas, escolho o lugar onde ir comprar, mas, depois separo as boas daquelas que não prestam. Para mim, isso seria escolher com justiça.

C_LIMPA: Bem, eu concordo contigo. Deus mesmo diz que no fim do mundo Ele e os anjos virão escolher os bons e deixarão os maus, separando-os uns dos outros, separando o trigo do joio. Mas, também é verdade que Deus escolhe o lugar onde o evangelho precisa chegar primeiro, as pessoas, como nós escolheríamos um lugar para colocar um fósforo que iria começar a incendiar uma mata. Se escolhermos um cantinho para começar um fogo, nem podemos dizer que o resto da mata não foi escolhida para queimar.

C_SUJA: É verdade. E porque razão as pessoas falam tanto de serem eleitos ou não?

C_LIMPA: Bem, eu acho que alguns usam isso para se sentirem superiores, tal qual os fariseus faziam. Até era verdade que Deus escolheu Israel para salvar o mundo e escolheu os Fariseus para instruírem aquele Israel que salvaria o mundo, se obedecessem só a Deus. Mas, se alguns se sentem superiores por se acharem escolhidos e especiais, há outros que usam essa teoria e doutrina para construírem castelos de areia.

C_SUJA: Que castelos de areia?

C_LIMPA: Eles usam a doutrina como desculpa para nunca se arrependerem e para não deixarem todo tipo de pecado de lado para sempre. Perdem temor a Deus porque, dizem eles, não foram escolhidos e não precisam salvar as suas vidas.

C_SUJA: Por favor, explica melhor. Estou achando isso muito interessante.

C_LIMPA: Todos aqueles que lutam e só falam das doutrinas de eleição, constroem outras maneiras práticas de viverem por causa das idéias que acham serem certas devido àquilo que nem entendem muito bem e tentam ensinar aos outros. Por essa razão é que a Bíblia fala dos “mestres que ensinam aquilo que não entendem”. Muitos pecadores acham que, como nem foram escolhidos, tornam-se ilibados e livres da responsabilidade de se salvarem custe o que custar. Outros acham que podem continuar pecando porque, em todo caso, são escolhidos. Ora, isso não são castelos de areia?

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Eles como que se isentam da responsabilidade que têm para salvarem as suas próprias vidas. No fim de tudo, desejam culpar Deus da sua condenação. Mas, entretanto foram gozando os prazeres da carne enquanto puderam, arranjando mais uma desculpa para se desresponsabilizarem, perdendo tempo discutindo e argumentando. Se quiseres salvar a tua vida, foge dos que argumentam para não levarem a semente para o próprio campo, conforme Jesus falou. Muitos ensinam para não terem de aprender. Um dia até vi um pastor que só fala em eleição dizer que Pilatos fez muito mal lavar as mãos, em vez de salvar Cristo da morte. Como rei, disse ele, Pilatos podia ter feito melhor. Mas, logo de seguida, a sua pregação e vida faz com que os pecadores lavem as suas mãos diante da igreja também e se desresponsabilizem e ele continua achando que estão salvos. Só não sabemos de que estão salvos! Cristo salva-nos dos nossos pecados e isso entrega a nossa vida nas nossas mãos para nos livrarmos da ira vindoura, como aconteceu com Ló. “Escapa-te, salva tua vida! Não olhes para trás de ti, nem te detenhas em toda esta planície; escapa-te lá para o monte, para que não pereças!” Gen. 19:17.

C_SUJA: Pois é! E não é mesmo? Tens razão, eu creio mesmo que tens!

C_LIMPA: Mas, aqueles que se acham escolhidos e saem a pregar para os outros, acabam por se achar na necessidade de inventar outras doutrinas para se justificarem quando pecam. Através dessa doutrina, as pessoas acham que podem pecar que nem serão condenadas. Dizem que a salvação é salvação do inferno para quem peca. Mas, criticam os pecados dos outros, sempre!

C_SUJA: Eu já tinha ouvido falar disso. Mas, explica-me: para quem é que é o salário do pecado, isto é, a morte? Só para os que não foram escolhidos?

C_LIMPA: Adão era uma pessoa mais que escolhida! Aliás, ele, além de ser escolhido, foi feito com amor e carinho pelas próprias mãos de Deus. Foi o único homem feito pela própria mão de Deus. Às outras coisas, Deus disse, “Haja isto, haja aquilo”. Mas, Adão não, Ele o fez com as mãos d’Ele. Ele era escolhido e feito pelas mãos de Deus! Nenhum outro homem teve o mesmo privilégio que ele teve. Mas, ele pecou e morreu.

C_SUJA: É verdade! Como sabes todas estas coisas? Pareces um livro aberto!

C_LIMPA: Deixa-te de fitas, CS. Em vez de me elogiares deverias antes usar o teu tempo para te limpares. Vai-te lavar nas águas de Deus. Parece que tens medo de sujar a água de Deus! Mas, ela não se suja, não! Deixa de desculpas! A sujidade fica dura com o tempo. Quanto mais demoras, mais difícil se torna tua salvação. Meu avô também era assim: tinha medo de tomar banho! Um dia quase morreu quando o banharam porque necessitava ir para o hospital fazer uma consulta. Pareces ser igualzinho a ele. Sempre que vejo uma consciência que adia ou recusa a sua própria limpeza, lembro-me do meu avô que não gostava de tomar banho.

C_SUJA: Já há muito tempo que não me sentia ofendido perto de ti. Parece que esse tempo acabou. E logo agora que estava quase entendendo algumas coisas que me confundiam.

C_LIMPA: Se não me elogiares para te isentares das tuas obrigações e deveres para com a tua vida diante de Deus e dos homens, podemos continuar. Isto é, se não te ofenderes também!

C_SUJA: Está bem, irei tentar não sentir-me magoado. Mas, estou magoado! É assim que me sinto, também, quando acho que nem sou escolhido por Deus! Ou que não irei ser escolhido! Que coisa, agora estou confundido com tanto de escolher! Deus escolhe-nos antes de tudo ou depois de tudo afinal?

C_LIMPA: Bem, eu acredito que escolhe antes e também escolhe depois, quando tudo acabar para nós. Nós escolhemos o terreno onde vamos semear as nossas batatas, mas, depois da colheita, também escolhemos as batatas e separamos as boas daquelas que apodreceram ou que são cresceram.

C_SUJA: Entendo. Mas, porque razão Deus escolhe antes do tempo então? Porque razão ele escolhe alguns para se perderem?

C_LIMPA: Mas, Deus não escolhe ninguém para se perder! Todos estão perdidos mesmo! Ele vai escolher um perdido para se perder? Deus escolhe para ele se salvar! E, também, escolhe para começar a salvar os restantes, como escolheu Paulo para salvar os que não foram escolhidos do jeito que ele foi.

C_SUJA: Entendo.




 

 

DIÁLOGO 9

SOBRE A SALVAÇÃO

C_SUJA: Eu posso continuar pecando se estiver salvo?

C_LIMPA: Estás salvo de quê se pecas?

C_SUJA: Não irei para o inferno, irei viver com Deus e ouvir os anjos cantarem. Deve ser muito bonito estar salvo!

C_LIMPA: Tu crês mesmo nisso? Que a salvação é essa, que leva para o céu somente e que apenas salva do inferno?

C_SUJA: Bem, queres que seja sincero?

C_LIMPA: Nem desejaria outra coisa. Responde-me.

C_SUJA: De vez em quando bate uma dúvida forte dentro de mim. E, o pior de tudo, é que nem sei como responder a ela. Eu acho que nunca irei viver e cantar junto com aqueles anjos todos.

C_LIMPA: Se os que andam bem com Deus entram em dúvida sobre muitos assuntos, imagina quem tem razões de sobra para duvidar, não é? Mas, se não entrares no céu, será apenas porque não foste salvo daquilo que te impede de entrar. E o inferno nunca impediu ninguém de entrar – antes pelo contrário, motivou muitas pessoas a darem mais atenção aos detalhes de tudo quanto Deus tem para dizer. Deus não nos salva de ir para o inferno, mas, livra-nos de ir para esse lugar que foi Ele mesmo que criou, salvando-nos de outras coisas. É um lugar horrível, vazio!

C_SUJA: E eu tenho razões para duvidar?

C_LIMPA: Quem duvida quando deve duvidar, é crente. Quem acredita sempre que deve estar na dúvida, é mentiroso e descrente.

C_SUJA: Como é que um crente duvida? Ou crê, ou duvida, não é?

C_LIMPA: Mas, quem crê na verdade vai sempre duvidar da mentira e vice versa.

C_SUJA: Vice-versa como? De que maneira?

C_LIMPA: Quem não crê na verdade, vai duvidar da verdade e crer na mentira facilmente. Quem duvida da mentira porque crê na verdade e na realidade apenas, tem capacidades de pessoa verdadeira e essas capacidades acham-se em estado funcional dentro dela própria. Por essa razão Jesus disse: “Bem-aventurado aquele que, quando seu Senhor vier, o achar fazendo”, isto é, estar funcionando do jeito que deve e pode. Mas, eu concordo que duvidar nem é o mesmo que aborrecer e desprezar em certeza. A Bíblia mesmo diz que a fé é a “certeza” das coisas. É pena que muitos “creiam” sem ter a certeza. Ainda se cressem na verdade sem ter a certeza, seria um mal menor. Quem duvida não tomou uma posição ainda, mas, pode tomá-la a favor da verdade e contra a mentira. Mas, mesmo não havendo tomado posição firme contra a mentira, sempre é melhor que acreditar na mentira, não achas?

C_SUJA: Mas, eu tenho medo de me enganar e, por essa razão, prefiro continuar como estou.

C_LIMPA: Entendo. Mas, mesmo entendendo, continua sendo um absurdo. Seria o mesmo que dizer assim: “Porque me estou afogando, prefiro deixar-me como estou! Prefiro não segurar na tábua que veio com a onda do mar, a qual me bateu na cabeça e me feriu. Agora não quero confiar nem nas ondas e nem na tábua! Irei continuar como estou.” Não acho isso normal.

C_SUJA: Tu fazes-me rir também. Como é que alguém que se está afogando não segura numa tábua porque lhe bate na cabeça?

C_LIMPA: Mas, é isso que te estou perguntando. E é uma pergunta muito válida. A Bíblia diz: “Não voltaram para a mão que os feria”. É tão válida essa pergunta como seria perguntar porque razão uma consciência suja nunca se limpa se tem o sangue de Jesus mesmo ali pertinho de si, bem mais próximo que qualquer outra coisa neste mundo.

C_SUJA: Tinha de sobrar para mim. Parece que as minhas próprias palavras estão todas apontadas contra mim como setas afiadas. Só que não sei se são as minhas próprias palavras ou se és tu que sabes usá-las muito bem para me atingir. Fico na dúvida.

C_LIMPA: É normal duvidarmos se os bons motivos são mesmo bons quando cremos nos maus motivos e os aceitamos, tendo-os, por vezes, como ideais. Mas, é um absurdo qualquer pessoa deixar-se perder – é um absurdo daqueles que ninguém pode entender. Por isso é que a Bíblia afirma que, quem se perde, é tolo. Só pode ser tolo. É um problema de raiz.

C_SUJA: Mas, como é que é um problema de raiz?

C_LIMPA: A salvação que Jesus pensou e arquitetou para nós, lida com a raiz dos nossos problemas e não apenas com a sua parte exterior. E, como não lida com a parte exterior, também não irá lidar com as aparências – a menos que lide com a mentira no coração (isto é, com o coração da mentira). Se o coração da mentira mudar, a aparência deixa de ser aparente e passa a ser uma prova real de uma manifestação daquilo que realmente se passa dentro de nós.

C_SUJA: Mas, foi Deus quem nos criou assim? Foi Ele quem fez nossa raiz assim ruim? Ele queria ser o único santo do Universo e fez-nos assim desse jeito?

C_LIMPA: Não, de maneira nenhuma. Deus ganha glória através dos que são santos e não dos que se perdem. E ainda bem que és honesto – pelo menos na forma como perguntas as coisas. A esse tipo de perguntas Deus responde também se perguntares a Ele. Por essa razão respondo-te também. As pessoas ficam com raiz perversa e crua quando pecam de alguma maneira. Quando alguém peca, separa-se de Deus e o seu íntimo muda com isso. E quando algo está cru, podemos cozinhar do jeito que quisermos, não é mesmo?

C_SUJA: Está bem. Nem sabia que era honesto. Todos dizem que sou mentiroso e eu nem me acho mentiroso – nem quando sou.

C_LIMPA: Bem, pode ser que nem te aches mentiroso porque falas muito contigo próprio em teu coração e nem consegues encobrir nada para ti mesmo. Mas, não significa que não encobres para os outros e nem significa que, reconhecendo, deixes de fazer o mal depois. Na verdade, reconhecendo o mal fica exposto para ser liquidado – ainda. Seria como colocar um alvo em plena luz para poder ser atingido com uma arma eficaz.

C_SUJA: Vou tentar colocar na luz para ti então.

C_LIMPA: Quem sabe a tua raiz já está mudando. Depois, pelos frutos veremos se mudaste mesmo e se aceitaste a mudança após ela ter ocorrido. Muitos querem voltar àquela vida antiga assim que encaram a nova. Nascer de novo é condição para entrarmos no céu, mas, não é garantia. Jesus mesmo disse, com certa mágoa é claro, que “ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: O velho é que é bom”, Luc. 5:39. E Saul também perdeu-se depois de ter sido mudado pela mão de Deus e ainda ter sido cheio do Espírito Santo depois de ter mudado. São realidades tristes, mas, nem por isso deixam de ser realidades. Nunca devemos ignorar uma coisa apenas porque ela é triste, não é?

C_SUJA: Mas, “o velho” é o quê? E porque dizem que ele é bom se não é bom?

C_LIMPA: Cristo usou uma figura aqui. Ele está-se referindo a vinho velho e vinho novo para exemplificar a luta que existe em quem bebeu do pecado. Quem bebeu do pecado fica com raiz carnal e só age mediante aquilo que é por dentro porque se separou de Deus. Mas, quando Jesus nos faz nascer de novo, quando nos dá uma natureza nova, podemos esforçar-nos para que ela singre e dê certo. Então, nem terá como dar errado. Mas, se a nossa natureza interior nem for mudada, podemos esforçar-nos até ficarmos roxos que, a única coisa que vai mudar, é a nossa aparência.

C_SUJA: Entendo. Então, nem é mau sermos esforçados? Meu pastor diz sempre que nem é pela força que conseguimos as coisas.

C_LIMPA: Não, não é mau. Deus disse a Josué “esforça-te e tem bom ânimo”, como se ele já conseguisse tirar bom ânimo de dentro dele próprio. Mas, isso é apenas porque ele havia mudado e dentro dele existia uma fonte de vida, aquilo que Deus dizia para ele exteriorizar. Também lhe disse aquilo para ele não se guiar pelas circunstâncias que mentem sempre quando Deus está em nós. Na verdade, quando éramos perversos e iníquos, todo o nosso esforço terminava em cansaço, em desânimo, numa falta de paz enorme, porque aquilo que tentávamos fazer contrariava o nosso coração devido a ele ser de natureza diferente. Mas, depois de sermos mudados porque buscamos Deus especificamente para isso (sendo que muitas pessoas buscam Deus por outras coisas e não para isso especificamente), o nosso esforço obtém resultados que permanecem para sempre e, porque pertence à nossa nova natureza, renova-se depois do esforço e nem se sente cansado depois da obra feita. Todos em Deus renovam-se a cada momento e sentem-se renovados – é algo que nem podem evitar que aconteça. Mas, cada crente real que não se esforça em Deus, sentir-se-á muito cansado descansando. As leis da nova natureza são diferentes: as pessoas cansam-se se ficarem paradas naquilo que é a vontade de Deus para elas.

C_SUJA: E se a vontade de Deus for que essa pessoa fique parada e esperando?

C_LIMPA: Se for esse o caso, ela sentirá cansaço quando se esforça. Ela deve esforçar-se para manter a esperança e a expectativa muito viva enquanto espera no Senhor. Só assim os que esperam no Senhor renovam as suas forças, Is.30,31. Jesus mesmo disse: “E não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, já que demora para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” Luc. 18:7-8. Outra triste realidade sobre bobos que não sabem manter aquelas esperanças que não enganam. Mas, aquele que não sabe manter a esperança que nunca engana, irá saber segurar numa esperança falsa, ou uma que engana e defrauda – nem que engane só no final!

C_SUJA: Eu fico abismado com as coisas que me dizes. Podes-me explicar o que é a salvação então? Fiquei confuso. Eu tinha outra idéia da salvação e agora fiquei com um nó na minha cabeça que não estou conseguindo desatar.

C_LIMPA: Bem, para desatarmos esse nó, precisas ficar quieto. Acalma a tua mente e esforça-te para pensar nas coisas de Deus, nas realidades. Jesus disse que não irias gostar do vinho novo e por essa razão nos avisou, para nos esforçarmos para gostar dele porque esse vinho é mesmo bom. É do melhor que há e precisas esforçar-te para gostares dele. Vale a pena o esforço. Nem permitas que a tua mente flutue quando ouves a palavra de Deus, pois, quem já bebeu do vinho velho, não consegue manter-se atento às coisas que o salvam dele próprio. Para isso necessita aplicar todo o seu esforço. Por essa razão Deus nos disse “amarás teu Deus com toda a tua força” também. Depois, quando já conseguires amar as palavras de Deus sem esforço, necessitarás mudar o teu jeito de novo. Mas, por enquanto, vale a máxima que diz: “Se teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o para longe de ti”.

C_SUJA: Vou tentar, mas, não prometo que irei gostar do que não gosto!

C_LIMPA: Em primeiro lugar, Deus salva quem já é povo d’Ele.

C_SUJA: Como é que é isso? Se eles já são povo d’Ele já são salvos, não são?

C_LIMPA: Pareces Nicodemus perguntando! Quando o anjo de Deus apareceu a José, anunciou Cristo como aquele que iria salvar o que já era Seu povo.

C_SUJA: E a Bíblia não diz que Jesus veio salvar o mundo todo? Por isso é que me considero salvo, pois estou no mundo e Jesus já veio.

C_LIMPA: Não é verdade isso. Jesus tem como salvar o mundo todo caso o mundo inteiro se possa tornar em povo Seu.

C_SUJA: Ele salva de quê então? Meu nó está inchando! Agora fiquei muito confuso! Nem sei se continuarei ouvindo tudo o que me falas! Nem as igrejas mais certas falam essas coisas assim.

C_LIMPA: Concordo que as igrejas dizem muitas coisas do jeito que as entendem. Mas, devemos antes ouvir o que a Bíblia nos diz.

C_SUJA: Mas, como é que entenderei a Bíblia sem que me expliquem?

C_LIMPA: Se perguntas mesmo a Jesus e tiveres a paciência de esperar que o Seu ensino chegue a ti e pegue em teu coração poderosamente, quando praticares também o que entendeste através d’Ele e acreditares em Sua instrução de alma e de coração, mesmo que um pastor tente contrariar aquilo que Ele te ensinou pessoalmente, levando a Bíblia a sério sem acrescentar nela aquilo que desejamos (ou aquilo que desejaríamos que ela dissesse). Então, entenderás a Bíblia de verdade. Na verdade, a Bíblia não necessita de interpretação, mas, de cumpridores. Os cumpridores entendem-na muito bem – ou começam a entender como faz sentido! Se não entenderes só o que ela diz, se fores aprender pelos outros, nem vais acreditar que estás certo quando Jesus te ensinar, pois será diferente de tudo aquilo que alguém te possa ensinar.

C_SUJA: Tudo bem. Concordo que nunca tentei concordar com a Bíblia e usei a desculpa que ela era confusa demais para lhe ser obediente. Às vezes tornou-se confusa, mas, outras vezes usei isso apenas como refúgio e argumento sem que fosse verdade. Por exemplo, agora estou mesmo confuso. Mas, nem por isso estou usando isso para não me esforçar a entender o que me dizes. E quero saber se, de fato, aquilo que me dizes vem mesmo na Bíblia.

C_LIMPA: Haja mais pessoas que contestem os verdadeiros!

C_SUJA: Por favor, não aumentes o nó da minha confusão. Explica para mim isso da salvação.

C_LIMPA: Está certo, vou tentar. Mas, fica quieto então, porque se não ficares, nem poderás saborear de forma que venhas a gostar. Qualquer um que come uma coisa que não gosta, só come com o intuito de provar. Mas, precisas comer com o intuito de te alimentares, pois viveste esfomeado durante muito tempo e nem sabes que isto te sacia. E, se não gostares, precisas comer como aqueles que precisam beber um medicamento amargo que cura.

C_SUJA: Está certo, vou ficar o mais quieto que posso então.

C_LIMPA: Em primeiro Lugar, Jesus salva quem é Seu povo. Nem podia ser de outra maneira. Se quiseres que Jesus te salve, precisas tornar-te uma pessoa que faz parte dos que crêem n’Ele e somente n’Ele. Quem acredita numa sinagoga, numa igreja e também n’Ele, não tem chances de se salvar de verdade. Pode crer que está salvo, mas, isso nem é o mesmo que ser salvo.

C_SUJA: Mas, as igrejas não falam de Deus?

C_LIMPA: Falam, sim. Mas, era de esperar que o diabo usasse esse meio tão eficaz para enganar também, não é? Se a arte do diabo é enganar e ser enganado, nem admira que ensinasse pessoas a enganarem-se a elas mesmas. É de esperar que devemos ouvir, entender e aceitar Jesus tal qual Ele é e como Ele fala. Quem não fizer isso, corre sérios riscos de ser condenado – por muito honesto que seja seguindo as doutrinas da sua igreja. Jesus disse: “Segue-Me!” Ele não disse< para seguirmos mais ninguém. E quem não ensina a seguir Jesus, ensina mal e nem deveria ser igreja.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Quanto à salvação, Deus salva quem já é Seu povo. Mas, salva-os de seus pecados. Por essa razão Jesus disse assim, colocando as coisas por ordem natural: “Crendo em Mim, através de permanecer nas Palavras que vos dei, sereis Meus discípulos; depois conhecereis a verdade que vos libertará”, João 8:31,32. Ora, para sermos libertos, implica que algo nos prende e que seremos salvos do que nos prende. E só será salvo quem estiver em condições de conhecer a verdade, experimentando-a, através da vivência pessoal.

C_SUJA: Onde diz isso na Bíblia? Mas, que diga igual ao que me estás dizendo agora!?

C_LIMPA: Em vários lugares a Bíblia diz isso assim desse jeito. Na verdade, essa é a verdade central de tudo aquilo que Jesus veio fazer ao mundo e de toda a Escritura. No primeiro livro do Novo Testamento lemos assim: “E Seu nome será Jesus, porque Ele salvará Seu povo de seus próprios pecados”, Mat.1:21. São os nossos pecados que são responsáveis pela falta de paz, de amor, de fé e de tudo que é real da parte de Deus. O pecado torna Deus irreal e desconhecido porque nos separa dele sem nos darmos conta disso.




 

 

DIÁLOGO 10

SOBRE O CÉU E O INFERNO

C_SUJA: Porque razão estou sentindo uma certa paz?

C_LIMPA: Nunca ouviste falar no Céu? Que o reino dos Céus chegou?

C_SUJA: Ouvi sim. Jesus dizia: “Eis o reino dos céus. Arrependam-se”.

C_LIMPA: Lá existe esse tipo de paz. E se chegou cá, é natural que as pessoas consigam prová-la para verificarem que nem é mentira.

C_SUJA: Mas, eu nem me limpei ainda! Porque sinto esta paz se nem me limpei? Ainda me sinto sujo.

C_LIMPA: O que estás sentindo está para a paz de espírito que reina no céu, como o cheiro duma boa feijoada está para a feijoada quando estás com muita fome – é só o cheiro dessa paz mesmo. E sentes paz porque estás ouvindo a verdade e estás sendo atraído para te limpares. Muitos contentam-se com pouco, no entanto, porque esse “quase-nada” é muito mais que alguma vez sonharam ter e acabam ficando por ali mesmo, perdidos entre a vida e a morte – perdidos na porta da vida.

C_SUJA: E como posso comer e alcançar essa paz por inteiro? Deve ser muito gostoso entrar nessa paz, nesse descanso.

C_LIMPA: Na verdade, é gostoso sim. Por isso a Bíblia fala “entrem no descanso” e também “está faltando um descanso para o povo de Deus”, Heb. 4:9. Este capítulo de Hebreus é o mais sério aviso a pessoas como tu, os quais só querem entrar se levarem seus pecados com eles. Colocam condições à vida, como se a vida dependesse deles e não eles da vida.

C_SUJA: Mas, eu não quero entrar?

C_LIMPA: Podes entrar, sim. Por isso a paz te chama e te está atraindo a ela para entrares nas condições dela. Mas, na verdade, é um convite subtil a limpares a tua vida e a deixares teus pecados para sempre.

C_SUJA: Não estou entendo onde queres chegar.

C_LIMPA: O cheiro atrai quem está sujo, porque se não tiverem uma percepção real do reino dos céus, ninguém terá vontade de entrar através da porta estreita (porque é estreita), arranjando maneira de imaginar um tipo de céu que só existe na cabeça dele – aquele onde os seus pecados são aceites. É mais uma tentativa de entrar na fantasia – ou de permanecer nela. Esse cheiro atrai quem ainda está perdido. Jesus mesmo disse: “E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”, João 12:32. Ele está cumprindo aquilo que prometeu. Mas, os perdidos podem-se enganar com isso, achando que nem estão perdidos porque o cheiro do reino dos céus os faz imaginar coisas.

C_SUJA: E Jesus só nos atrai desse jeito?

C_LIMPA: Não, pois o assunto é sério demais e por essa razão Ele usa tudo que pode e que tem ao seu dispor. Às vezes usa o cheiro do inferno também para fazer as pessoas sentirem um pouco da miséria e do desprezo que irão sentir por lá. Isso também costuma resultar. O segredo é fazer as pessoas virem a Ele, mas, sempre usando percepções da verdade e duma realidade que as pessoas facilmente ignoram. 

C_SUJA: Mas, se Jesus me der um cheiro do inferno irei ficar paralisado de medo! Nem irei pensar em arrepender-me!

C_LIMPA: Isso é o que tu pensas! Jesus sabe o que faz quando te dá a provar qualquer coisa que tem reservado para todos os habitantes da terra. E, tanto o céu como o inferno existem e estão aguardando para receberem quem vai para lá. Deus fala e mostra a verdade e ninguém deve ignorar esse fato sentindo medo.

C_SUJA: Mas... Jesus não pode dar-me apenas o cheirinho do céu para eu não me assustar?

C_LIMPA: Na verdade, tu não queres mudar e por essa razão pedes que Ele não te fale e não te mostre a verdade para poderes continuar como estás!

C_SUJA: Será que isso é verdade?

C_LIMPA: Eu não te falei que tens tendências para duvidar da verdade? Isso acontece com todos aqueles que, na verdade, não querem seguir a verdade de forma prática. Só querem meditar nela, sonhar com ela, enganando-se a si mesmos porque conhecem a verdade. Depois, dizem que vivem para Deus para se aconchegarem nos braços duma esperança falsa. Mas, só fica mais claro que queres evitar aquilo que achas ser uma humilhação – humilhação de buscar e de achar os teus ofendidos e parceiros de pecado para te retratares diante deles e diante de Deus, repondo a verdade do perdão de Deus diante das pessoas de forma prática. O mundo tem de ver que a tua consciência está sendo limpa, tal qual ele via a tua consciência sujar-se. É olho por olho e dente por dente.

C_SUJA: É verdade! Eu não iria gostar de ir devolver o que roubei. Uma das pessoas conhece a minha mãe e seria uma grande dor para ele só de pensar que eu havia roubado bombons na loja dele. Seria humilhante e constrangedor para ambos, tanto para mim quanto para ele.

C_LIMPA: E ninguém pode esconder uma cidade iluminada em cima dum monte, Jesus disse. Mas, as pessoas gastam fortunas tentando esconder essa cidade. Alguns tentam esconder para que os outros não vejam, enquanto outros tentam esconder deles próprios, para eles não verem porque estão do lado de fora dela.

C_SUJA: Deixa-me fazer-te uma pergunta honesta: existe maneira de evitar isso que me falaste?

C_LIMPA: Não existe, não. Mas, a verdade é que estás usando o constrangimento que imaginas que essa pessoa irá sentir para não fazeres aquilo que sabes que nem deves evitar.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Não creio que o constrangimento dessa pessoa seja o motivo para não ires pagar o que roubaste. Tem tudo a ver contigo e achas desculpas através daquilo que os outros sentem (ou imaginas que irão sentir), para não fazeres o que sabes que terás de fazer. Mas, de qualquer jeito, essa pessoa virá a saber de tudo mais cedo ou mais tarde, pois o justo Juízo de Deus manifestará tudo aquilo que fizeste ou deixaste de fazer.

C_SUJA: Todas as pessoas irão ver tudo o que fiz até hoje? Que vergonha irei ter! Mas, Deus pode fazer isso a mim?

C_LIMPA: Todos verão as tuas obras antigas. Deus é luz e luz revela tudo que está escondido e no escuro. O melhor será sermos nós a provocar esse juízo agora.

C_SUJA: Porquê? Que coisa! Dizer a todo mundo o que tenho escondido? Porque eu faria uma coisa dessas, deixando toda a gente achar mal de mim sem necessidade?

C_LIMPA: Porque se nos julgarmos agora e nos colocarmos na praça pública, nem seremos condenados por ninguém – nem agora e nem depois. Lembras daquela mulher que queriam apedrejar? Nem foi condenada com Jesus por perto! E, para além do mais, isso nem é vergonha nenhuma, pois é um ato muito nobre. No entanto, se não sentiste vergonha quando roubaste, também não deves sentir vergonha de restituir. Tem de ser olho por olho e dente por dente. A justiça de Deus exige que seja feito assim. Jesus mesmo disse “buscai primeiro o Reino de Deus e toda a sua justiça”. Quem não teve vergonha de roubar, nunca poderá ter vergonha de fazer uma coisa decente como restituir o que roubou e repor a verdade sobre sua pessoa diante dos outros a quem mentiu e encobriu. Isso é justiça feita.

C_SUJA: Porque razão tudo sobra para mim? Sou uma alma penada, não sou?

C_LIMPA: Também isso é um refúgio, um tipo de fuga escapatória. Quando tens dó de ti mesmo, estás pedindo a Deus que olhe para ti como tu olhas – através de olhos que usam a mentira para medir o que acham que vêem. Tu tentas tudo para não começares a ser justo e, assim, Deus não te poderá justificar. E justificar alguém é tornar alguém justo e não desculpado-o de cumprir toda a justiça.

C_SUJA: Mas, eu tenho vergonha e isso me dá dó de mim mesmo! Deus não me vai entender?

C_LIMPA: As coisas no céu não funcionam desse jeito. Por isso, se queres ir para o céu, precisas começar a viver aqui na terra com o jeito que se vive no céu. O cheiro dessa paz que provas, mas, não possuis, depende de que a tua obediência seja contínua. 

C_SUJA: Mas, no céu não tem pecado e, como lá nem confessam pecado, eu posso ficar sem confessar também, não é? Não é na terra como no céu?

C_LIMPA: Estás usando a verdade de teu jeito agora, para te servir. No céu existe justiça, sim. E, aqui, precisas praticar essa justiça para seres justo e aprenderes o jeito de lá antes de ires para lá. Tem de ser o céu aqui na terra, é verdade, conforme Jesus nos ensinou a pedir. O que existe no céu é justiça, tudo lá funciona de forma justa. E, se houvesse pecado lá, haveria justiça também em relação a esse mesmo pecado. Aqui precisa haver justiça. “Pelo que o direito se tornou atrás e a justiça se pôs longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas e a eqüidade não pode entrar”, Is. 59:14

C_SUJA: Mas, a justiça não é o que condena e prende ladrão?

C_LIMPA: A justiça prende e condena, sim. Mas, a justiça do céu é mais que isso, pois pode tornar justo quem é injusto se o injusto entrar em contato com a justiça. A justiça de Deus não condena quem é justo. Por isso precisamos ser justificados. Se andarmos dentro de Cristo, seremos justificados, pois a Sua presença nos transforma a cada passo que damos enquanto n’Ele.

C_SUJA: Então, as nossas idéias andam muito trocadas! Aqui, quando pensamos em justiça, pensamos em tribunal, policiais, ladrões e juízes.

C_LIMPA: É verdade. Mas, também haverá um tribunal e um dia do juízo para todos nós. E haverá as respectivas recompensas de cada um. Mas, como a justiça do céu nunca fica inerte e nem deixa de existir, trata de ilibar pecadores dando tempo e meios para eles se tornarem justos, começando por dentro e confirmando por fora deles. Mas, a justiça divina exigirá sempre olho por olho e dente por dente de todos nós. E nos recompensará mediante aquilo que rejeitamos tornar-nos, ou aceitamos ser feitos através dessa justiça que entra em nós – ou que não entrou em nós porque nem a aceitamos.

C_SUJA: Mas, não existe outra palavra em nosso vocabulário para descrever melhor essa “justiça”? É que estou a ficar confuso.

C_LIMPA: A Bíblia fala em justiça que entra em quem se está tornando justo. É a sua forma de justificar, isto é, de tornar justo quem é injusto. É uma justiça interior que se extravasa para toda a nossa vida exterior a partir do interior. Ela entra em nós e nós nela. A Bíblia fala claramente em buscarmos essa justiça acima de todas as coisas, isto é, buscando e achando o jeito de sermos justos através de Cristo. Como Cristo é justo, devemos ser também, isto é, do mesmo jeito e usando as mesmas armas.

C_SUJA: E isso resulta? E o que é a justiça final?

C_LIMPA: Claro que resulta! Cristo nem ia prometer uma coisa que não conseguisse cumprir logo. Não podemos olhar para Cristo através dos olhos que temos, porque andamos habituados a ver quem não cumpre. Quanto à justiça final, um dia Deus nos dará a recompensa exata e em exata medida e proporção daquilo que deixamos de aceitar ou daquilo que rejeitamos. Se rejeitarmos vida eterna, teremos morte eterna. Será olho por olho também nesse aspecto.

C_SUJA: Mas, isso é justo? Eu nem conheço a verdade!

C_LIMPA: E essa paz que estás “sentindo” não é tomar conhecimento da verdade? Será que és tão ignorante ao ponto de te perderes assim por causa da tua teimosia?

C_SUJA: Mas, continuo achando isso demasiado injusto para mim. Ninguém merece isso.

C_LIMPA: Para quem é condenado parecerá sempre injusto. Nenhum terrorista acha que a justiça sobre seja justa. Mas, a justiça de Deus nem deixa de ser justa apenas porque existem opiniões que contrariam e discordam dela por motivos pessoais. O que é justo, é justo. Não importa a quem toca a justiça. E nós devemos entregar-nos à justiça. E, um terrorista que se acha certo, ainda terá que reconhecer que está errado e entregar-se à justiça de quem achava estar errado, ou que era inexistente ou injusto para com ele. Tens um caminho longo a percorrer! É melhor começares logo!

C_SUJA: Mas, como é que o inferno pode ser justo? Fico desmotivado e nem quero começar logo não!

C_LIMPA: Isso é mais uma desculpa que arranjaste para morreres para sempre, não foi? Pecador será sempre inteligente para arranjar maneira de escapar da morte com Cristo!

C_SUJA: E também não entendo muito bem uma coisa: se é morte eterna, como é que haverá inferno ainda? Ou morremos ou sofremos eternamente não é? Minha pobre cabeça! Estou tão contrariado que nem quero continuar falando sobre isto!

C_LIMPA: Quem desiste, resiste. Quem quer desistir, mostra o quanto teima em não mudar. Prefere dar tudo a perder, acima de ser transformado. E, quem desiste não é sincero porque usa isso como chantagem sobre Deus. Se as coisas corressem do jeito dele, nem pensaria em desistir. Todos acham que, quem desiste, é um fraco. Na verdade, é um “forte” usando o seu ultimo recurso, a sua ultima arma, a sua derradeira força, seu ultimo argumento contra Deus, para não mudar.

C_SUJA: Está sobrando para mim de novo, não é? Pensava que Deus ia ter dó de mim agora que tudo se tornou muito difícil para mim!

C_LIMPA: Deus não tem dó de desistente. Nem pode ter. Na verdade, a chantagem de quem desiste (ou ameaça desistir), aumenta a ira de Deus para com ele. As pessoas gostam de imaginar que Deus tem dó delas enquanto a Sua ira está aumentando. É um engano, pura ilusão tomando conta do coração que vê Deus como Ele não é. A Bíblia diz assim nos Salmos: “Deus está zangado com os pecadores todos os dias!” É errado pensar que Ele não está zangado com quem peca.

C_SUJA: O que isso quer dizer?

C_LIMPA: Deus fica mais irado com quem desiste do que já estava. Ninguém ficará impune fazendo chantagem contra Deus usando a própria vida para fazer Deus mudar de idéias. Uma “greve de fome”, ou “greve de vida” nem resulta com Deus! Quem desiste, na verdade resiste e está lutando até à morte por um amor.

C_SUJA: Por qual amor é que luta? Pelo amor da sua vida?

C_LIMPA: Pelo amor que tem por si próprio. Deus faz de tudo para o pecador morrer e o pecador faz de tudo para não morrer com Cristo. Mas, só quem morre viverá e quem quiser ganhar sua vida, perdê-la-á. O pecador faz de tudo para se amar do jeito errado e ainda quer que Deus aceite isso e o ame do mesmo jeito que ele se ama. A vontade de desistir em alguém quando Cristo está operando a morte dentro dele, é a medida exata de amor próprio que essa pessoa defende e quer manter a qualquer custo. É uma ilusão enorme o pecador pensar que Deus vai ter o dó que ele tem por ele próprio. Aquilo que sentimos e amamos de nós mesmos nem sempre espelha aquilo que Deus sente e acha de nós. Não nos podemos esquecer que nos amamos a nós mesmos somente. E esse amor que temos por nós próprios deveria ser amor por Deus.

C_SUJA: Mas, eu não posso concordar com o inferno. Só concordo com o céu. Quero muito ir para lá.

C_LIMPA: Mas, nem será por isso que o inferno deixa de ser justo.

C_SUJA: Como é que o inferno pode ser justo?

C_LIMPA: Se rejeitas vida eterna, terás morte eterna; se rejeitas a alegria do céu, terás o vazio do inferno em igual proporção daquilo que rejeitaste ou não aceitaste. A beleza do céu, o tempo que ele dura, a paz e a alegria serão diretamente proporcionais ao vazio dentro das pessoas no inferno, ao tempo que irão ficar morrendo sem que morram. Se tiveres mil quilos de alegria no céu, terás os mesmos mil quilos de agonia no inferno – tudo proporcional e equivalente àquilo que rejeitaste indiretamente. Cristo disse que “o seu bicho não morrerá”. Tudo será proporcional e equivalente, “olho por olho e dente por dente”.

C_SUJA: Como é que rejeito indiretamente?

C_LIMPA: Tu queres ir para o céu e queres andar em teu pecado. Indiretamente, rejeitas o céu e aceitas morrer para sempre. Só que, aceitas morrer para sempre de olhos fechados, com a ilusão do céu ainda em tua cabeça.

C_SUJA: Mas, se é morte eterna, como é que iremos sofrer se morremos para sempre? Como é que um morto sofre?

C_LIMPA: A Bíblia não diz que morreremos para sempre – diz que estaremos sempre morrendo. Em Cristo estaremos sempre vivendo (através d’Ele). No inferno, quem for para lá, estará sempre morrendo também. Também lá, buscarão a morte e nunca a acharão. Essa será a justa, precisa pena e recompensa para quem desiste da vida eterna porque não desiste de pecar e não desiste antes da sua própria vida.

C_SUJA: Isto é demais para eu aceitar!

C_LIMPA: Eu sei que é. Mas, nem existe desconto para quem não concorda. E, mesmo que não aceites isso, pelo menos aceita limpar-te. O essencial será concordar com aquilo que é essencial e prioritário agora. Quanto ao resto, Deus nem irá mudar de idéias. Mesmo que deixem de existir pecadores e demônios, o inferno nunca deixará de existir. Mas, se os pecadores mudarem, as idéias de Deus mudarão a seu respeito também porque se converteram e aceitaram ser transformados de bom grado. E seria bom que o inferno ficasse vazio. Mas, nunca deixará de existir só porque os pecadores não concordam com ele por razões óbvias.

C_SUJA: Nem sei porque ainda fico aqui te ouvindo e perdendo o meu tempo para me assustar. O que mais me assusta é que falas como se isso fosse mesmo acontecer!

C_LIMPA: Mas, isso vai acontecer mesmo! E dá graças a Deus que consegues ter uma percepção do céu e um cheirinho do inferno. Quando sentires falta de paz, um vazio dentro de ti, lembra-te sempre que isso é só o cheiro de algo que vai acontecer que é muito real e muito maior que tudo que possas imaginar, sentir ou “cheirar”. Lemos na Bíblia, também, que quando Deus nos criou, colocou dentro de nós a percepção da eternidade. Diz assim: “Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade”, Ecl. 3:11. É por isso que sentes essa paz quando nem te limpaste ainda. Por essa razão é que as pessoas, ao viverem e olharem a morte de frente todos os dias, nunca assumem que um dia irão morrer: porque têm dentro deles a idéia da eternidade, a idéia de que foram feitos para viverem para sempre. Todos acham que só os outros irão morrer. Mesmo sabendo que isso é mentira, vivem como se sua própria vida fosse um fato garantido, uma realidade que nem precisa ser contestada, um direito natural. Mas, devemos aprender a ler e a obedecer os sinais dos tempos. E, para muitos, seria bem melhor irem a funerais todos os dias, para ver se aprendem a dura verdade da realidade duma vez por todas! “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens e os vivos o aplicam ao seu coração”, Ecl. 7:2.




 

 

DIÁLOGO 11

A GLÓRIA DE DEUS

C_LIMPA: Às vezes fico achando que é inútil falar contigo. Cansa muito falar com alguém que não faz logo a coisa que deve fazer e que é urgente. Tudo seria tão fácil e tão diferente de outro jeito, não é mesmo?

C_SUJA: Estás falando de mim? Estás te cansando de mim? Eu gosto tanto de te ouvir! Por favor, não me abandones! Que será de mim? Eu sei que achas que não te ouço, mas, gosto de te ouvir.

C_LIMPA: É, gostas de ouvir. Jesus não deu muitas oportunidades a quem resiste à verdade dentro dele desse jeito – gostando de ouvir sem cumprir. Um dia quererás ser mudado e nem acharás mais a oportunidade de poder fazê-lo, porque só através da graça conseguiremos mudar. A Bíblia diz que a graça passa por nós. Ou nós vamos com ela, acompanhando-a em seu ritmo, ou ela passa mesmo por nós! Sabemos que, para ficarmos para trás de alguém, nem precisamos ficar parados: basta andarmos mais devagar que essa pessoa. Precisas pegar na oportunidade com as duas mãos. Mas, até agora, pareceu-me que usas as duas mãos para rejeitares o que gostas de ficar ouvindo. Ficaste com vício de ouvir sem praticar. “Este povo glorifica-me com os seus lábios, mas, o seu coração está bem longe de mim”. Na verdade, por glorificarem com os lábios é que se afastam, por isso estão longe.

C_SUJA: Mas, eu quero glorificar Deus! Eu canto na igreja, divirto-me com o povo de Deus e tudo mais. Nós até almoçamos, jantamos juntos, temos festas na igreja e nem deixamos de nos congregar dessa maneira.

C_LIMPA: Não é desse jeito que alguém poderá glorificar a Deus.

C_SUJA: De que jeito?

C_LIMPA: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos?” Isso é jeito de glorificar a Deus, usando o Seu nome, as suas ordenanças como razão e como desculpa para encherem o estômago enquanto o coração clama pelo Juízo dos céus? Deveriam ceder ao clamor do coração lá em vossa igreja e não ao clamor do estômago e à fome do convívio.

C_SUJA: Mas, nós somos irmãos que se reúnem para confraternizarem à volta da Palavra de Deus.

C_LIMPA: Eu acho que é mais confraternizar à volta da mesa! E nem tenho duvidas que sejam irmãos fazendo isso! Quanto a isso nem duvido, pois, se não fossem da mesma espécie não confraternizariam. Se não houvesse festas, os irmãos também ficariam em casa – por serem irmãos.

C_SUJA: Estás me tentando agredir de novo?

C_LIMPA: Não, estou falando a verdade.

C_SUJA: Mas, o jeito que falas, fere-me.

C_LIMPA: E como achas que Deus se sente quando usas Deus para comeres e pecares? Jesus confrontou aqueles que o seguiam por causa do pão e do mesmo modo serão condenados todos aqueles que “O seguem” por causa da confraternização.

C_SUJA: E isso não glorifica Deus, quando cantamos e louvamos seu nome? Até oramos antes de comer!

C_LIMPA: E orar a Deus antes de comer é motivo de regozijo? Isso não é uma coisa normal? Eu oro antes de andar em meu carro! Mas, nem o faço porque isso glorifica Deus, mas, antes porque é a necessidade da criatura que Deus esteja mesmo presente sempre que entro numa estrada. Nem estou consciente de que oro, mas, antes que Deus me ouve e vai estar comigo. Se sentir no ar que Deus nem vai sair comigo, meu carro também não sairá dali. Porque razão irei andar sem Deus?

C_SUJA: Não estou a ver qual é a diferença. Desculpa, mas, sinto-me ofendido demais para que possa ver a diferença! Ainda estou a pensar na forma como ofendeste os meus irmãos lá da igreja. Não podes ofender as pessoas desse jeito sutil, senão elas nem te irão dar ouvidos.

C_LIMPA: E como é que vou explicar a diferença sem falar nela? Porque, se falo nela, ofendes-te e nem me ouves mais por essa razão! Existe alguma maneira de vocês hipócritas ouvirem a verdade? Alguma maneira, alguma receita que vocês subscrevam para que alguém vos possa dizer a verdade? Os fingidos e aproveitadores de Deus ouvem de bom grado se falarmos de algum jeito especial? Podes-me dizer?

C_SUJA: Às vezes nem precisamos que nos falem! Porque não ficas calado? É preciso ofender?

C_LIMPA: Sim, eu acho que é uma verdade o fato de não precisarem que vos falem destas coisas. Por isso é que Jesus, muitas vezes, nem se dá ao trabalho de responder aos hipócritas!

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Os hipócritas reclamam sempre porque Deus nem lhes responde quando clamam. “Por que temos nós jejuado, dizem eles e Tu não atentas para isso? Por que temos afligido as nossas almas e Tu não o sabes?” Is. 58:3. Eu acho que, uma das razões, é porque não precisam que lhes digam a verdade, pois, para serem hipócritas precisam já ter conhecimento da verdade. Não existirá fingido ou pretensioso sem que haja aquele conhecimento da verdade e da conduta certa. Para alguém fazer teatro, precisa conhecer muito bem todo o “script”. Apenas alguém com profundo conhecimento das Escrituras conseguirá ser um bom ator, um bom hipócrita.

C_SUJA: Estás-me confundindo. Como assim?

C_LIMPA: A hipocrisia e a mentira é um esforço contra algo de que se tem percepção. E se é esforço, é porque se esforça contra algo. Uma pessoa, quando sobe, esforça-se contra uma subida. Toda a hipocrisia esforça-se contra a verdade que conhece. Ninguém se esforça contra uma coisa que não vê ou que não enfrenta. Se os hipócritas não tivessem conhecimento da verdade, nem seriam hipócritas. Por isso é que Jesus disse para vocês: “Se fosseis cegos, não teríeis pecado; Mas, como agora dizeis: Nós vemos, permanece o vosso pecado”, João 9:41.

C_SUJA: Mas, eu não me acho hipócrita.

C_LIMPA: Claro que não. Todo o esforço do hipócrita é parecer outra coisa e acreditar que é aquilo que deveria ser. E esforçam-se tanto nesse caminho de erro que parecem ser outra coisa até para eles próprios, ficando sem a possibilidade de conseguirem acreditar que são hipócritas. Se não se espelharem na Bíblia e se não acreditarem que são hipócritas apenas porque Jesus assim o diz, se antes preferirem ofender-se, nunca se salvarão. “Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes, morrereis em vossos pecados”, João 8:24. “... Não voltaste para Mim de todo o teu coração, mas, fingidamente, diz o Senhor”, Jer. 3:4,10.

C_SUJA: Mas, como é que um hipócrita pode cantar para Deus e orar a Ele? Eu oro a Deus e canto! E mais: gosto dos hinos, amo-os e acho-os agradáveis!

C_LIMPA: Seria bom que o agradável fosses tu e não somente os hinos! Se encobrir é o negócio e a arte de qualquer hipócrita, poderão até cantar mais e melhor que qualquer santo, porque o louvor torna-se um engano perfeito e vira a cobertura ideal para qualquer um que se queira esconder. E, também, usam o fato de cantarem para Deus como razão para se sentirem ofendidos e fazerem-se ressentidos quando alguém lhes fala a verdade com intenções boas e nobres. Buscam e acham modo de terem justificação para nunca mais ouvirem. Nenhum hipócrita vive sem fabricar uma justificação que lhe pareça válida. E, “dar glória a Deus”, será sempre uma das razões que invoca para manter a sua conduta abstrata.

C_SUJA: Tu não cantas para Deus?

C_LIMPA: Eu canto para Deus, sim. Estás desviando a conversa falando de mim agora, querendo achar os erros que não tenho? Nem precisas fazer isso, pois, sempre que tiver algum erro serei o primeiro a querer falar dele.

C_SUJA: Não podes julgar os outros e fazer-te melhor que eles.

C_LIMPA: Mas, eu não “me faço” de nada; ainda não entendeste? E, também é verdade que não posso julgar. Mas, também não posso assentar-me na roda dos escarnecedores contigo. Como verei quem é escarnecedor se não for objetivo e coerente, se não conseguir distinguir um hipócrita dos demais? Os hipócritas até tornam a minha conduta muito difícil e o meu caminho muito estreito porque preciso ver quem é escarnecedor sem me enganar. Não posso julgar, mas, também preciso discernir e falar. O caminho estreita-se para os dois lados. Nem posso esquecer que Jesus disse: “Raça de víboras! Como podeis vós falar coisas boas, sendo maus?”Mat.12:34. E uma das promessas de Deus foi precisamente que “Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que o não serve”, Mal 3:18. Se é difícil distinguir, é porque são em tudo parecidos no exterior.

C_SUJA: Não podes usar essas palavras de Jesus para ofender as pessoas!

C_LIMPA: E tu não podes usá-las para te encobrires e para te refugiares melhor, defendendo-te contra mim. E, além do mais, todos se salvam ouvindo e aceitando a verdade no momento que a ouvem, seja essa verdade sobre nós ou sobre Deus. E, como direi a verdade a um hipócrita, se não posso usar a palavra “hipócrita” quando me refiro a ele falando com ele? Minha intenção nem é ofender, mas, a tua é achar motivo para nunca me ouvires. A tua intenção é achar que estou errado – não é buscar e aceitar só a verdade como verdade.

C_SUJA: Vamos mudar de conversa? Nem sei como começamos a falar sobre o fato de me considerares hipócrita sem que eu houvesse concordado debater esse tema contigo. Acho que as pessoas da tua seita são muito metidas nas vidas dos outros. Entram nelas sem que alguém lhes abra a porta!

C_LIMPA: Está certo. Durante um incêndio, ninguém toca a campainha para pedir permissão para salvar do fogo. E nem acho normal quando alguém se queixa de estar sendo acordado de seu sono quando sua casa está desmoronando sobre ele. Mas, se assim o queres... Estávamos falando da honra de Deus.

C_SUJA: É isso que mais me irrita em ti! Mudas de tema, nem brigas e nem mudaste de opinião a meu respeito em todo este tempo.

C_LIMPA: Precisas mudar a minha opinião por quê? Falta-te convicção? Precisas da força da minha opinião para te convenceres melhor, para te sentires mais garantido? Se eu não a mudar, sentes-te menos seguro? Sendo assim, a tua segurança só pode ser falsa e a tua insegurança só pode ser verdadeira e real.

C_SUJA: Eu não sei explicar: entendo tudo o que me dizes, mas, parece que não entendo. Só me sinto agredido por ti o tempo todo.

C_LIMPA: É. Jesus também perguntou às pessoas como tu: “Porque não entendeis a minha linguagem? Ouvindo, não entendereis…”

C_SUJA: A questão é que não entendo como é que cantar a Deus é pecado e hipocrisia, se estou cantando a Deus.

C_LIMPA: Deixa-me explicar de novo. Mas, não te ofendas!

C_SUJA: Está bem, vou tentar. Mas, nem é fácil!

C_LIMPA: Damos glória a Deus através duma vida, através daquilo que somos quando não impomos o nosso próprio comportamento. Isto é, nós somos a própria vida de Deus em destaque, somos a própria vitrine da natureza de Deus de forma real e damos glória a Ele desse modo, seja cantando através dessa natureza, seja morrendo ou vivendo, seja trabalhando ou descansando.

C_SUJA: E qual é a diferença?

C_LIMPA: Não vês? As pessoas dizem que aceitam Jesus quando é Jesus que as tem de aceitar; fazem com que as regras possam gerir e administrar todo o seu comportamento, ao invés de ser a natureza de seu comportamento a prescindir das regras por se haverem tornado desnecessárias e supérfluas; eles não são vida, nem as pessoas e nem os seus mandamentos e regras; mas, antes tornam-se morte querendo viver, pecado desejando ser aceito e convidado da ceia de Deus (Deus que é Vida pura). Mas, a morte nem pode ser vida, como cor preta não pode ser branca e vice-versa.

C_SUJA: Quando eu me limpar irei entender tudo isso com essa clareza? É que parece que essas palavras saem de ti tão facilmente! Impressiono-me muito com a facilidade com que essas palavras jorram de dentro de ti. Parecem rios saindo sem que nada exista para impedir. Parece que tens uma fonte em teu ventre. Dá a impressão de ser algo simples de ver e de entender! Como e quando isso pode acontecer comigo também? Na verdade, eu desejo aquilo a que me oponho em ti.

C_LIMPA: Tu queres entrar no aprisco das ovelhas sem ter entrar pela porta. Só quando nos limpamos é que as verdades se tornam claras e, aquilo que é simples e fácil de entender, se torna nossa própria natureza e entendimento. Mas, até lá, irás entender sem perceber, morrer sem viver, cheirar sem provar, provar sem conseguir comer – e isso à porta da vida, à saída da morte!

C_SUJA: Parece tudo tão simples!

C_LIMPA: E é! Paulo falava muitas vezes “na simplicidade que há em Cristo”. Nunca ouviste falar?

C_SUJA: E porque é tão complicado e difícil para mim?

C_LIMPA: Porque és hipócrita, ora mais! Apenas quando nos limpamos com Deus e com as pessoas, seja em privado ou em público, saberemos porque razão uma vida santa é a vida mais normal duma criatura criada conforme a imagem de Deus. Quem não for simples com essa vida, é hipócrita. Quem foi transformado e recriado por dentro, entenderá qual a vida capaz de glorificar a Deus – mesmo quando nem se acha cantando. Eu tenho a convicção em meu coração que até um mudo consegue glorificar Deus se esta Vida que Deus dá fluir livremente de seu ser e em seu ser, sem pecado que manche a saída da água pura que Cristo é.

C_SUJA: Falas como se esse simbolismo todo fosse coisa real! Assustas-me com essa realidade!

C_LIMPA: E é real. Apesar do simbolismo das palavras por nos faltar o vocabulário necessário para descrevermos o que realmente acontece dentro de nós quando Cristo entra mesmo (quando não é “aceitar” que Ele entrou apenas!), é a coisa mais real e mais bela do universo. Não existe nada semelhante em toda a criação de Deus. É pegar ou largar. O preço inicial é uma limpeza integral, minuciosa e eficaz em nossas almas, de um só jeito apenas: no sangue puro e purificador de Jesus e o conseqüente abandono de todo pecado. Depois disso, quem buscar achará e quem pedir vida em abundância receberá quando menos esperar. (E só não espera porque estava habituado a nunca receber porque a sua vida estava suja quando pedia. Habituou-se a não receber pedindo. Não podemos manter os hábitos e as expectativas de hipócrita depois de nos havermos limpado de tudo. Jesus disse: “Não vos assemelheis a eles...” Mat.6:8,17).

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: E cada passo que damos nessa direção, é um ato, uma dádiva que dá glórias a Deus. Jesus mesmo disse: “Aquele que TEM os meus mandamentos e os guarda...” João 14:21. Antes de tentar guardá-los, há que tê-los dentro de nós. E é guardando tudo que temos, que damos glória a Deus. Não podemos guardar uma coisa que não somos, isto é, que não temos em nós, como também não devemos deixar de guardar uma coisa que já existe em nós – não pelo esforço e nem pela violência – a qual foi operada pelo Espírito de Jesus desde dentro do mais profundo de nosso ser, até à parte mais superficial de todos nós.




 

 

DIÁLOGO 12

QUANDO JULGAMOS

C_SUJA: E porque razão custa tanto ficar sem pecar?

C_LIMPA: Por vários motivos. Mas, na sua essência, isso seria como perguntar por que razão é tão difícil ficares seco quando não queres sair de dentro da tua piscina.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Paulo disse que estava crucificado para o mundo e o mundo para ele. Ele estava fora do mundo e o mundo fora dele. João disse, falando dos filhos de Deus, que eles não são do mundo (que já não se encontram na piscina). Se saíres da tua piscina preferida, conseguirás secar-te da água do pecado. Fora da piscina dirás que é difícil molhares-te tal e qual dentro dela afirmarás que é difícil secares-te. Se participarmos das coisas do mundo, diremos que é impossível pararmos de pecar. Mas, saindo do mundo pelo Caminho certo, dirás como João: “Mas, TODO aquele que é nascido de Deus, não peca porque a sua semente está nele”.

C_SUJA: E, porque razão existem pessoas que deixam de assistir as novelas e nem assim conseguem ficar sem pecar?

C_LIMPA: Por várias razões. Ou a sua cabeça ainda ficou dentro da piscina e olha para trás como fez a mulher de Ló; ou, então, não se limpou e não confessou todos os seus pecados e isso impede uma intimidade com Deus. Quando as pessoas deixam as coisas do mundo sem estarem limpas de verdade, ficam com tendências estranhas para o fanatismo. E, também, como não têm luz, começam a inventar leis estranhas para manterem as suas posições, como os Coríntios faziam. Alguns inventam leis de cortar cabelo ou não cortar e arranjam opositores que mantêm a discussão acessa. Quando a discussão está acesa, ninguém pode manter a pregação em Cristo porque estão ocupados com discussões. É isso que Paulo quer afirmar, quando diz que “das quais coisas alguns se desviaram e se entregaram a discursos vãos, querendo ser doutores da lei, embora não entendam nem o que dizem e nem o que, com tanta confiança, afirmam”, 1Tim.1:6-7.

C_SUJA: Porque razão isso acontece?

C_LIMPA: Isso acontece porque as pessoas não se limpam de todos os pecados, de todos os fingimentos, de atitudes, de comportamentos e outras coisas mais. É como Paulo diz antes desses versículos, “Mas, o fim desta admoestação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé não fingida, das quais coisas, alguns se desviaram e se entregaram a discursos vãos, querendo ser doutores da lei, embora não entendam nem o que dizem nem o que com tanta confiança afirmam”, 1Tim.1:5-7. Todos os pecados que não se limpam, tornar-se-ão tropeços escondidos no futuro, de um jeito ou de outro.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: A pessoa que tropeça, nem sabe em que tropeçou e nem conseguirá adivinhar porque tropeçou. Só alguém que consiga falar com Deus descobrirá porque razão certas pessoas não conseguem parar de pecar. “Até o sacerdote e o profeta cambaleiam. Estão tontos e desencaminham-se; erram na visão, e tropeçam no juízo”. “Apalpamos as paredes como cegos; sim, como os que não têm olhos andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como se fosse de noite e, entre os vivos, somos como mortos”, Is.59:10. É muito estranho andarmos a apalpar paredes para andarmos quando temos a luz do sol para vermos tudo muito claramente. Se existe sol que nos dá luz e ainda assim nada vemos, é porque os olhos são cegos! Só pode ser isso!

C_SUJA: O que me falas faz sentido, mas, não estou a ver como é que alguém pode parar de pecar, porque na vida prática isso não resulta. Para mim são apenas palavras muito bonitas. E estou falando por experiência própria.

C_LIMPA: Só não vê quem não quer. Não estou dizendo que é fácil – Mas, que é necessário, lá isso é.

C_SUJA: Estás a julgar-me novamente dizendo que não quero ver?

C_LIMPA: Não, não estou. E, mesmo que estivesse, seria como um médico diagnosticando a doença que quer curar.

C_SUJA: Tu surpreendes-me a cada palavra que falas. Meu pastor sempre disse (e confirmou lendo da Bíblia) que não podemos julgar. Tu estás arranjando maneira de justificar o fato de me estares julgando.

C_LIMPA: Já não falavas em teu pastor há muito tempo para te justificares. Até já me esquecia dele!

C_SUJA: Existem coisas que ele me disse que me caíram bem. Gostei muito quando ele me disse que é pecado julgar. Desde então, tento não julgar ninguém e tento não permitir que me julguem.

C_LIMPA: O pecado, como ilusão que é, construiu barreiras, fortalezas e barricadas através das quais se defende e se mantém. Uma dessas defesas é afirmar que não podemos julgar. Mas, em outras partes da Bíblia, lemos que “Deus ama o juízo”; “julguem com reto juízo”; “Porque não julgais vós...”; Is.61:8; 1Cor. 5:12.

C_SUJA: E porque razão Jesus disse que, quem julgasse, seria julgado?

C_LIMPA: Jesus disse isso, sim. Mas, Ele não disse que quem julgasse seria condenado – disse que seria julgado. Em qualquer caso, todos nós seremos julgados de qualquer jeito, quer julguemos alguém ou não. E, também, não podes aproveitar-te dessas palavras de Jesus para viveres em paz dentro da tua piscina de pecados, para achares justificativa para nunca saíres dela. Paulo também disse em Romanos que, aquele que julga, tem os pecados que vê nos outros (quando julga mal).

C_SUJA: Por favor, explica melhor porque não consigo entender nada disso.

C_LIMPA: Quando as pessoas julgam da maneira errada, fazem-no para se defenderem e para se protegerem. Por exemplo, no teu caso, não estando limpo, podes impedir-me de te julgar porque queres continuar sujo – e Jesus nunca impediu que o julgassem, nem em público. Tu reparas que te “julgo”, mas, nem reparas que estás na defensiva. E, a melhor maneira de nos defendermos, será atacar. Quando atacas, só te estás defendendo. E, se afirmas que te julgo, pode ser isso que estás fazendo.

C_SUJA: Entendo. Então, para quem é que é errado julgar? Como é que se julga da maneira errada?

C_LIMPA: Da mesma maneira que usas essa verdade que Jesus falou para te protegeres, podes usar acusações contra os outros para melhor disfarçares os teus próprios pecados. Sempre que julgas para te encobrires e para defenderes a tua posição “estratégica”, estás errado. Era isso que Jesus queria evitar que as pessoas fizessem. Tanto que Ele aconselhou sermos capazes de tirar uma coisa pequena do olho de nosso irmão.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Existem pessoas que julgam os outros com o intuito de se encobrirem acusando, desviando as atenções. Através da acusação ofendida, desviam as atenções da sua própria sujeira e tentam as pessoas a terem dó deles e a serem “compreensivos”. E, na verdade, a acusação até já se tornou hábito tal que as pessoas já nem olham para os seus pecados para acusarem os outros, como quando têm unicamente a intenção de se camuflarem acusando. Como já virou hábito acusarem, já se tornou forma de vida e já perderam de vista qual a razão que os levaria a acusarem. E é por essa razão que entendem muito mal estas palavras de Jesus. Na verdade, acusam porque têm pecado que querem esconder e estão amargurados. Nesse caso, o julgamento sumário, a acusação apressada, é condenável.

C_SUJA: Estás dizendo que podemos julgar?

C_LIMPA: Não podes julgar, desse jeito não. Mas, também não podes confundir isso com a intenção do amor em salvar alguém dum certo tipo de pecado que viu e diagnosticou com precisão. Podes verificar que, quanto maior for a precisão do diagnóstico, mais a pessoa se irrita contra quem fala em seus pecados com a intenção de o ajudar. Jesus não nos disse que quem julgasse seria julgado porque julgou, mas, porque tem aqueles pecados que julga levianamente, com o propósito de se encobrir. Não é julgar que se torna pecado. Quem julga será julgado do pecado que tem e não porque julgou.

C_SUJA: E porque será julgado do seu pecado e não porque julgou?

C_LIMPA: Quem julga outra pessoa dessa maneira egoísta e acusadora, revela que tem pleno conhecimento desse pecado que vê em outro porque o tem também. Porque o tem, tem consciência dele e vê-o facilmente estampado noutra pessoa. Ao julgar desse jeito, manifesta que tem conhecimento de que é pecado aquilo que julga. Se tem conhecimento desse pecado, terá juízo também. Ora, se tem conhecimento de que aquilo que julga é pecado e tem, também, esse pecado, será julgado pelo pecado que tem porque sabe que aquilo é pecado. Se não soubesse, nem julgaria.

C_SUJA: Ainda não entendi muito bem.

C_LIMPA: Vamos usar um exemplo.

C_SUJA: Talvez seja melhor.

C_LIMPA: Imaginemos uma mulher no tempo de Cristo com um fluxo sanguíneo. Ela fede e ninguém se senta perto dela.

C_SUJA: Eu também não me sentaria! Não me sentiria muito bem.

C_LIMPA: Mas, Jesus sentaria porque a única coisa que fede para Ele é o pecado. Imaginemos que ela tem uma vizinha que também começou a ter o mesmo problema. Naquele tempo, as pessoas com esse tipo de problema eram excluídas do meio do povo. Por essa razão, pensamos que elas nem se queriam manifestar.

C_SUJA: Estou aqui imaginando. Continua por favor.

C_LIMPA: À volta da mulher que fede, temos a família dela que a ama e ao mesmo tempo precisa cumprir a lei de Moisés. A vizinha do lado (imaginemos que não gosta dela e que tem o mesmo problema), fala mal dela para toda a gente porque, procedendo assim, desvia as atenções do seu próprio problema, isto é, as pessoas ficam achando que ela não tem nenhum problema de saúde porque vêem-na acusando a vizinha que tem o problema. Também tenta aliviar o seu fardo de amargura desse jeito imbecil. Jesus disse para levarmos os nossos fardos a Ele – não aconselhou a lançá-los para cima dos outros, ou contra as pessoas!

C_SUJA: Entendo. Deve ser muito ruim ser julgado desse jeito.

C_LIMPA: É sim. Mas, só aqui, já temos alguns tipos de pessoas que manifestarão cada um, uma reação para com aquela senhora, cada qual julgando do seu jeito. Temos a vizinha que desvia as atenções dela própria porque tem o mesmo problema; as pessoas que passam e ouvem a critica da vizinha, umas crendo outras não acreditando porque detectam a amargura na expressividade da vizinha acusadora; e temos a família e aqueles que ficam divididos entre, ou cumprir a lei de Moisés, ou encobrir o negócio.

C_SUJA: Sim.

C_LIMPA: Mas, depois, imaginemos que vem um médico e diz para ela: “A senhora está fedendo muito. Precisamos tratar o seu problema para você ficar boa”. Na verdade, o médico usa os mesmos critérios, as mesmas palavras, para analisar e julgar o problema da mulher que os outros usam para condená-la e desprezá-la.

C_SUJA: Entendi. Então, para o médico não é pecado julgar a senhora que fede. É isso que queres dizer?

C_LIMPA: Para o médico seria pecado não julgar, ou não julgar corretamente. Agora, imaginemos alguém dizer ao médico que ele não pode julgar aquela mulher! Seria um absurdo, não é verdade?

C_SUJA: Seria sim. Até aqui, eu concordo. Eu tenho uma amiga que não vai ao médico porque é mulher e o médico é homem.

C_LIMPA: Mas, agora imaginemos que o médico vai visitar a vizinha que não quer ser exposta e diz-lhe: “A senhora também tem um fluxo sanguíneo que pode piorar se não for tratada”.

C_SUJA: Ela vai ficar muito triste porque foi descoberta e porque pode ser excluída da sociedade Israelense por causa da doença que tem. Nunca mais vai gostar daquele médico!

C_LIMPA: E não é? Mas, a ilusão do pecado faz-nos fazer coisas impensáveis. “Obriga-nos” a colocar a nossa vida em risco por causa dum orgulho, dum problema que não existe, dum “vexame” que pode significar a nossa salvação. Expor o problema dela ao médico poderia salvar a sua vida. Em todo caso, ela nunca conseguiria esconder o seu problema para sempre. É como o pecado: acaba fedendo demais, mais dia menos dia. As mentiras sempre tiveram pernas curtas e, no caso dela, nem seria diferente.

C_SUJA: É verdade. Até acusará injustamente o médico de julgá-la porque queria permanecer escondida e discreta, mas, não conseguiu porque o médico não o permitiu. Também irá desconfiar de todas as pessoas porque não sabe quem foi dizer ao médico que ela estava doente. Vai sentir-se muito envergonhada e, também, sentir-se-á humilhada por haver acusado a vizinha tendo o mesmo problema que ela. Sentir-se-á julgada demais.

C_LIMPA: Até que consegues enxergar a verdade! Que te aconteceu? Bem, na verdade, é isso que se passa com todos os pecadores. É verdade que os pecadores acusam os pecadores porque sofrem dos mesmos males. Mas, nunca podemos errar colocando as pessoas que nos sabem ajudar dentro do mesmo saco com aqueles que só nos sabem criticar – apenas porque julgar é pecado para a maioria das pessoas.

C_SUJA: Entendi.

C_LIMPA: Entendeste? Agora já não vais dizer que te estou julgando?

C_SUJA: Porque estás sempre apontando as tuas setas para mim? Às vezes também entendo as coisas! Tem algum mal nisso? Vou tentar lembrar disso tudo quando me sentir acusado por ti. Que coisa! Chega para ti?

C_LIMPA: Tudo bem. Não precisas ficar impaciente. Vamos ver quanto tempo a tua resolução vai durar. As pessoas que não se limpam, acabam esquecendo as promessas que fizeram.

C_SUJA: Porquê?

C_LIMPA: Porque entram em tribulação e atritos de alma, ficam ocupados, ficam presos em outros pensamentos e em tentar resolver outras perturbações. Nessas alturas agem com o coração que possuem e ficam demasiado ocupados e absorvidos com os espinhos da vida para se lembrarem das promessas que fizeram – ou até das promessas que Deus fez. Ali só vai contar o coração que realmente possuem – só ele determinará as suas condutas. Enquanto estão ouvindo palavras que salvam, sentem-se calmos. Mas, se não obedecem a essas palavras logo, as suas almas voltam ao cativeiro, o qual torna-se infernal porque provaram do Reino de Deus e da Sua paz. Nessas alturas, o coração já não tem como agir mediante as resoluções que tomou ou as promessas que fez. Nem pensa nelas e, quando pensa, reage mal e de maneira agressiva contra elas. Reagirá apenas conforme aquilo que é e não vai achar ocasião de recorrer às resoluções e votos que fez para manter a aparência. As tribulações não lhe darão espaço para se lembrar das promessas que fez. Quem faz votos, tenta arranjar um jeito de ser aquilo que não é. Quem se transforma de verdade, nem precisa de votos. Jesus disse: “Que teu ‘sim’ seja sim; e que teu ‘não’ seja não” – simplesmente.

C_SUJA: E quando temos problemas ficamos sem cabeça, não é?

C_LIMPA: É isso mesmo. Mas, ali, cada pessoa agirá conforme o coração que tem, pois a cabeça recusa-se a ficar fria – não é que não consiga, mas, apenas recusa-se. Se for uma pessoa exaltada, exaltar-se-á; se for paciente, ficará demonstrado o que é; se for calma e se seu coração estiver realmente perto de Deus (porque está limpo e porque permanece em Deus), lembrar-se-á das promessas que fez.

C_SUJA: Entendo. A pessoa só demonstrará aquilo que realmente é nessas alturas.

C_LIMPA: Então, a Bíblia diz para nos lembrarmos dos votos que fizemos a Deus e para os cumprirmos todos. Mas, para isso acontecer sempre, precisamos de ter o nosso tesouro limpo, firme e calmo desde a sua própria procedência, desde a sua natureza e desde a sua essência porque, senão for assim, a primeira tribulação acabará manifestando alguma coisa de tudo aquilo que realmente somos. Quando fizermos um voto, devemos conseguir ter um coração que cumpra aquilo que prometemos até quando nem nos lembramos mais do que prometemos.

C_SUJA: Então, as provações servem para vermos o que somos?

C_LIMPA: De certa maneira, sim. Muitas vezes somos provados para podermos confessar e expressar aquilo que somos de verdade, para sermos perdoados e salvos de nós próprios colocando-nos na luz, expondo-nos como somos e em ordem perante Deus.




 

 

DIÁLOGO 13

O PECADO É UMA ILUSÃO FRACA QUE SE FAZ FORTE

C_SUJA: Mas, agora explica porque é que o pecado é uma ilusão? Há pouco afirmaste que o pecado é ilusão.

C_LIMPA: O pecado tem força, mas, é uma força mentirosa. Ameaça, seduz, faz barulho, incita, finge e usa tudo aquilo que pode apenas com o intuito de mentir para as pessoas para que elas ganhem uma mentalidade que as possa dominar. Por essa razão é que Jesus frisa tanto que Ele é a verdade – em oposição ao pecado, claro. Se é a verdade que nos liberta, todo o pecado é uma mentira, uma ilusão. Só pode ser.

C_SUJA: Estás afirmando que vivemos num cativeiro próprio feito de vento, numa prisão com barras de vento?

C_LIMPA: É isso mesmo. Mas, as pessoas também acreditam que o pecado é bom e que a santidade é algo ruim e feio. Todos os pecados são mentiras que se tornaram o dia-a-dia das pessoas. O pecado criou um ambiente, uma “sociedade” e leis de conduta próprias, mesmo dentro das pessoas, para que vivam conforme o que sentem, condicionadas por um tipo de comportamento e por uma personalidade formada, monopolizada e escravizada.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Já viste uma pessoa com medo de tudo?

C_SUJA: Sim, já vi.

C_LIMPA: Existem pessoas com comportamentos condicionados por aquilo que pensam e acham quando é só o seu próprio coração que os guia e condiciona. Têm um comportamento interior que determina aquilo que irão pensar e fazer da maneira que estão condicionados a fazer. Por exemplo, se o pecado grita “perigo”, as pessoas ficam com medo de fazer qualquer coisa – até de fazer a coisa certa.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: A sua pessoa e personalidade são geridas e manipuladas pelo medo do perigo que provavelmente nem existe. E acontece o mesmo quando o pecado grita: ”prazer!” – correm atrás daquilo que o pecado diz com o intuito de manipulá-los. Depois, ri-se porque houve bobos que acreditaram nele. Parece uma piada, mas, é um jogo de vida ou morte, de verdade ou de fantasia. É um jogo muito sério. Com o tempo, o pecado já nem precisa gritar seja o que for – as pessoas já se condicionaram, já são do jeito que o pecado quer que sejam e o diabo só vai retocando e acrescentando o que falta neles do seu reino, ali onde tudo decorre como ele quer. Por isso é que o diabo não cessa de perturbar, cansar, amedrontar, ameaçar alguém que está abandonando a ilusão do pecado para ver se consegue demovê-lo.

C_SUJA: Dá para entender, mas, estou na dúvida. Eu acho que nascemos assim, em pecado. E eu não entendo como é que alguém é manipulado se já nasceu assim.

C_LIMPA: Mesmo que seja verdade que as pessoas nasçam no pecado, isso não impede que seja uma ilusão e que Deus nos criou para vivermos apenas da verdade. Uma coisa é onde nascemos – outra é como fomos feitos.

C_SUJA: Sei.

C_LIMPA: O mundo, depois, habituou-se a criar um ambiente onde se crê que a mentira é verdade – ou vida. A forma de namorar, a forma de beber e tudo mais que existe neste mundo de mentira, gira em torno duma ilusão da qual as pessoas se convenceram plenamente e que acham que são sonhos que se podem materializar. E quando querem sair do pecado, acreditam piamente que não conseguem ou, então, que estão abandonando uma coisa muito valiosa – por isso olham para trás como a mulher de Ló fez e Deus ira-se contra elas porque não tiraram a mentira do seu coração quando a deixaram ficar para trás. Quando vão às igrejas, ouvem o mesmo recital e, das poucas palavras que entendem, fazem uma festa própria baseada e sujeita à maneira de pensar que adquiriram. E, para ajudar no festim do engano, os pastores assimilaram a linguagem que o mundo usa sempre que interpretam a Bíblia. Não é o que a Bíblia diz que está errado, mas, é a linguagem e a forma como a dão a entender.

C_SUJA: Acho-te muito revolucionário e muito crítico em relação aos pastores. Que tanto tens contra eles?

C_LIMPA: Prometeste que nem irias interpretar-me mal novamente.

C_SUJA: É verdade. Havia esquecido já. Perdão.

C_LIMPA: Sabes pedir perdão? Que bom! Deverias aprender a pedir perdão pelos outros pecados todos também, um a um – às pessoas e a Deus, claro.

C_SUJA: São muitos. Estás falando nisso de novo? Não desviemos a conversa. O que tanto tens contra pastores?

C_LIMPA: Eu nem estou desviando a conversa. Penso mesmo que tu estás desviando a conversa, pois para ti só importa limpares teus pecados e queres evitar o assunto a qualquer custo. É mais importante para ti falarmos em como te limpares devidamente, do que conversarmos sobre as razões que me levam a achar que os pastores andam muito desviados.

C_SUJA: Depois podemos falar melhor sobre isso – novamente!

C_LIMPA: Entendo. Pretendes adiar aquilo que nunca deverias evitar nem mais um minuto. Mas, então, nem sou eu quem quer desviar a conversa como disseste, pois não?

C_SUJA: Não. Eu é que quero falar sobre essa atitude crítica que tens em relação aos pastores. Quem sabe devo exortar-te a não falares assim dos servos de Deus.

C_LIMPA: A atitude nem é crítica. É uma constatação de verdades. Devemos enxergar a verdade, falar da verdade e explicar a verdade. Ou faço isso, ou dou-me muito mal com Deus.

C_SUJA: Mas, os pastores falam de Deus.

C_LIMPA: Claro que falam. Eles apontaram para o alvo certo, mas, entretanto, falharam o alvo para o qual apontaram. A culpa de terem falhado é o telescópio que usam – está avariado e condicionado através da mentira. E, ainda, têm falta de visão para olharem como devem por um telescópio que deveria ser espiritual em todos os sentidos. Nunca ouvi qualquer um deles usar as palavras de Jesus e da Bíblia onde chama os pecadores de tolos que acreditam facilmente em mentiras. Em vez de tolos chamam-nos “irmãos”, ou “coitadinhos”. Parece até que é Deus quem tem culpa dos pecados deles.

C_SUJA: E, se as barras das jaulas que nos prendem são feitas de vento e de ilusão, porque recusamos sair delas então?

C_LIMPA: Aí é que está o dilema. Se o inimigo fosse real, visível, verdadeiro, teríamos uma forma específica de lutar contra ele. Mas, agora, as pessoas lutam com um inimigo de mentira como se fosse real – e é assim que mantêm a “lenda” do pecado viva.

C_SUJA: O pecado é como uma lenda, uma fábula?

C_LIMPA: É. Por isso é que Paulo diz: “não só desviarão os ouvidos da verdade, mas, se voltarão às fábulas”, 2Tim.4:4. Também, qualquer pecador gostaria que as ilusões que têm, dessem mesmo certo, que se pudessem materializar. Por essa razão, antes de Paulo ter falado que as pessoas voltam às fábulas, afirmou que “Virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos,” 2Tim.4:3. Aquilo que o pecado promete mentindo, é muito apelativo e chama a atenção de todos. E o povo é quem molda os pastores – não são os pastores que moldam o povo. E como as pessoas possuem um coração que mente até para o próprio, nunca terão dificuldade em acreditar nas mentiras de qualquer pecado – ou de qualquer pecador. Mas, na verdade, as pessoas acreditam facilmente quando alguma mentira chama a sua atenção e descrêem quando a verdade fica quieta.

C_SUJA: E porque razão a verdade fica quieta?

C_LIMPA: Porque a mentira é óbvia demais e a verdade está na cara também. É como se disséssemos: “Está na cara!” Por isso é que pecador é bobo. A Bíblia diz que nem um pássaro cai numa rede quando vê alguém armando a rede para o apanhar. “Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave”, Prov.1:17. Parece que as aves são um pouco mais inteligentes que os humanos. E Deus nem os criou assim, desse jeito.

C_SUJA: Sim, mas, eu acho que a pior parte vem quando a ave já está presa.

C_LIMPA: Quando ela está presa, fica presa porque mantém a mesma mentalidade. Na questão do pecado, ela luta contra o desapontamento ao invés de se acalmar, desprender ou esperar que Alguém a desprenda. E como fica desapontada com a vida, o coração desapontado, logo realça o mesmo comportamento e sentimento em relação a Deus quando Deus tenta relacionar-se com ela usando a verdade. Não se prima pela verdade, mas, relaciona-se através da forma que sente. Precisamos nos aquietar se quisermos sair dum laço de mentira. Mesmo porque, quem desamarra o laço, precisa que quem esteja preso, permaneça quieto para que o nó possa ser desamarrado.

C_SUJA: É verdade. Mas, neste caso do pecado, o que é a rede?

C_LIMPA: Por exemplo: o diabo escolhe alguém que te irrita, planta-o perto de ti, arranja uns problemas extras e tenta o teu coração a irritar-se; tudo ao mesmo tempo. É uma rede colocada numas estacas mesmo à tua frente e, no entanto, só vês a pessoa que te irrita em vez de parares e acreditares que o problema existirá somente se te envolveres com a rede, com o enredo. Como é uma rede, ele desvia o teu olhar para outros assuntos, outras preocupações e outras raivas para que não vejas a armadilha ou para que não a leves a sério.

C_SUJA: Mas, o diabo consegue fazer tudo isso? Desse jeito?

C_LIMPA: Claro que consegue! E também usa muitas outras maneiras de te apanhar que nem imaginas! Por exemplo, tenta-te por dentro a desistir se veres a rede vir para o teu lado. Nessa altura dizes: “ah! Nem quero saber! Estou farto de tudo!” E a rede aproxima-se cada vez mais. Usa o desânimo e o desespero, a tristeza e a melancolia, sonhos e expectativas frustradas e muitas coisas mais – cada uma da sua maneira. É como se ele tivesse uma roupa para cada estação do teu coração. Ele também pode colocar uma isca que te parece apetecível no meio da rede. “Livra-te como a gazela da mão do caçador e como a ave da mão do passarinheiro”, Prov.6:5. Depois de estares preso, ficas com raiva e justificas-te sempre contra alguém. Nesses momentos esqueces que, se Deus bate à tua porta, é para te salvar a ti da tua irritação e não de quem te irrita. O problema sempre foi o coração. E, Jesus veio para mudar os corações e não o diabo ou as circunstâncias. E o assunto é sério. Quero muito que me leves a sério!

C_SUJA: Mas, eu não concordo. Se me irrita, porque sou eu quem está errado? Deus precisa salvar-me ou livrar-me da pessoa que me irrita e não da irritação.

C_LIMPA: Vês como os pecadores discutem e argumentam sempre a favor do pecado e contra aquilo que Deus fala? Já estás lutando preso na rede. E nem dás espaço para a possibilidade do mal estar em ti e não só em quem te irrita. Mesmo que quem te irrita tenha pecado, não será o pecado dele que te prende na rede da tua morte. E, quando é Deus quem fala, devemos dar-Lhe todo o crédito que merece quando diz que o pecado é nosso. Ele é Deus e não engana e nem de engana! Mas, se preferires dar ouvidos e rédeas à tua irritação, terás um fim triste. Os que correm assim, cansam-se, como qualquer pássaro se cansaria lutando contra a rede que o prende por causa do medo e da pressa que o pressionam, Is.40:30.

C_SUJA: Mas, se não gosto duma pessoa, torna-se muito difícil concordar que sou eu quem está errado.

C_LIMPA: E se um médico que te consulta acertar no diagnóstico duma doença que tens e tu disseres que a doença não é aquela ou que a medicação está errada? Corres o risco de morrer porque contestas quem sabe melhor que tu sobre aquilo que sofres. Por isso é que Deus diz assim: “ao qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; Mas, não quiseram ouvir”, Is.28:12.

C_SUJA: É verdade. Mesmo quando os médicos dizem coisas que não entendemos, devemos dar-lhes crédito. Senão, eles também nos dirão: “mas não quiseram ouvir!”

C_LIMPA: Então, se o pássaro se irritar contra a rede, ou contra quem estendeu aquela armadilha, perde a sobriedade e ocupa a sua mente com enredos e com sonhos de vingança que nunca o levarão à sua libertação. Afunda-se cada vez mais no poço, prende-se cada vez mais e fica mais e mais emaranhado nos nós que ele faz porque não fica quieto. Ele enrola-se cada vez mais com cada movimento, a cada contestação que faz e isso só beneficia quem o quer apanhar. E, pior que tudo, ele usa o seu estado de espírito para ouvir e interpretar Deus. Por essa razão é que Jesus disse: “Negue-se a si próprio!” O objetivo de quem o laçou é comê-lo e o bobo preso contribui para o sucesso do inimigo, até diagnosticando mal e dialogando mal humorado com Deus – talvez até recusando dialogar com Deus que o pode salvar! E se o teu objetivo é libertares-te, deves deixar de lutar e de imaginar a raiva. Por isso é que a Bíblia nos manda sermos sóbrios, também.

C_SUJA: E tens mais algum exemplo? Pode ser que depois entenda melhor.

C_LIMPA: Vamos falar de sexo.

C_SUJA: Tu não tens complexos de falar disso? Eu sinto vergonha!

C_LIMPA: Pecado é pecado e precisa ser encarado. As pessoas olham para o sexo como um tema tabu, ou então através duma libertinagem que nem tem nada a ver com o sexo que Deus intentou criar.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: É um dos pecados que melhor exemplificam isto que quero dizer-te. As pessoas imaginam coisas sobre o sexo que ele não pode dar. E, se imaginam aquilo que ele não tem para dar, logo perdem aquilo para que serve também.

C_SUJA: Explica mais, por favor. Estou muito interessado.

C_LIMPA: A maioria das pessoas comete loucuras por causa do sexo porquê? Porque razão buscam aventuras, quando se sentem vazios, quando se interrogam muito se as esposas ou os esposos são os parceiros ideais ou se não são? É porque esperavam algo mais (ou algo diferente!) e não lhes saiu conforme o previsto. E Deus nem tem culpa que fiques desapontado com o teu parceiro, pois não tem culpa das coisas que idealizaste por tua autoria e decisão. O mesmo se pode dizer da riqueza e tudo mais. Tudo o que existe, só dá aquilo que pode, aquilo para que foi criado e nada mais.

C_SUJA: Tens certa razão. É a tal questão da ilusão, certo?

C_LIMPA: Sim. Depois, lutam, brigam, matam e falam uns dos outros por causa daquilo que imaginam. Por isso os Salmos dizem assim: “Por que se amotinam as nações e os povos tramam em vão? Todos juntos conspiram contra o Senhor”. As pessoas imaginam a guerra e entram com um pé de guerra em qualquer assunto – até mesmo onde nem existe guerra! “Eu sou pela paz; Mas, quando falo, eles são pela guerra”, Sal.120:7. O pecador está sempre em pé de guerra – até com ele próprio.

C_SUJA: Entendi.

C_LIMPA: Depois disso, torna-se muito fácil materializar o pecado: matar, trair, roubar e tudo mais. As pessoas dizem, por exemplo, que as guerras matam muita gente. Mas, eu acho que o pecado que matou mais gente, foi o adultério e o ciúme – tudo levado por imaginações e ciúme!

C_SUJA: E para sairmos da rede, como fazemos?

C_LIMPA: Bem, em primeiro lugar precisamos fazer aquilo que não queres fazer.

C_SUJA: O que eu não quero fazer? Eu quero viver para Deus!

C_LIMPA: Queres? Mas, não queres te limpar! E precisas de Deus e de conseguir ficar quieto e calmo para Ele te ajudar a sair de onde te enrolaste. Deus disse: “Mas os ímpios são como o mar agitado; pois não pode estar quieto. Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus”, Is.57:20-21. Se não ficar quieto e começar a lutar contra um inimigo que se colocou dentro da imaginação dele, o homem luta com o pecado como se fosse um inimigo real. Contra um inimigo real, usamos armas reais – mas, contra um inimigo da imaginação, precisamos ficar quietos, mesmo porque não nos pode alcançar. Basta crermos e confiarmos naquilo que Deus diz. E o pecador, para ficar quieto, precisa ter paz real; e para ter essa paz, necessita limpar-se de verdade também. Não só de ficar acreditando que está limpo e afirmar que isso é fé – que, “pela fé” que tem, está limpo – mas, antes estar deveras limpo. Isso nem lhe dará a paz que precisa e que pode ter!

C_SUJA: Mas, é muito arriscado entregar as armas desse jeito assim!

C_LIMPA: Arriscado é fazer como fazes! Arriscado é resistir a Deus! E quem luta assim contra o pecado, na verdade, resiste a Deus. Não passa duma teimosia essa tua recusa em limpares-te logo de todo o teu coração. E, para além do mais, Jesus fala-nos em rendermo-nos a Ele. A rendição é a alma do negócio – não a luta. Jesus disse: “Não resistais ao mal”.




 

 

DIÁLOGO 14

A SANTIFICAÇÃO

C_SUJA: Gostaria de ser santo, fazer milagres, entender Deus e fazer muitas coisas mais que os santos fazem.

C_LIMPA: E quem disse que todos os santos fazem milagres?

C_SUJA: Ouvi dizer.

C_LIMPA: E sabes o que é um santo?

C_SUJA: O que é um santo?

C_LIMPA: Um santo é todo aquele que se torna tão dependente de Deus que acaba por se tornar igual a Ele, tanto por fora como por dentro!

C_SUJA: Então, se for igual a Deus por fora, faz milagres, pois Deus faz milagres!

C_LIMPA: É verdade que Deus faz milagres. Mas, um santo é um milagre acima de fazer milagres. Ele é o milagre em si.

C_SUJA: E eu não posso ser um milagre também? O que me impede?

C_LIMPA: Sem te limpares? Um santo é um limpo – um limpo é um santo! Como vais resolver esse dilema? E ainda afirmas que não estás cheio de contradições? Queres ser santo sem te limpares?

C_SUJA: Mas, eu quero limpar-me!

C_LIMPA: Quando? Agora?

C_SUJA: Agora não. Nem quero que fiques ouvindo os meus pecados! E quando eu confessar todos os meus pecados desde que nasci, um por um, serei santo?

C_LIMPA: Não. Assim que quebrares essa parede de pecados construídos ao longo do tempo, serás colocado no caminho que leva à santidade. Tu estás separado de Deus atualmente por causa dos pecados antigos. Cada pecado que cometeste até hoje é um tijolo que foi colocado nessa parede que te separa de Deus e ela foi crescendo e crescendo ao longo dos anos. “Ele é a nossa paz, derrubando a parede de separação que estava no meio”, Ef.2:14. Mas, mesmo que tivesses só um pecado que exigisse confissão, seria muito difícil conseguires a capacidade de seres santo como Deus é. Poderias ser “santo” de teu jeito, na aparência, mas, nunca como Deus é.

C_SUJA: Como assim? Não entendi.

C_LIMPA: Ainda tem muito mais pela frente depois de estares limpo diante de Deus. E estarmos limpos diante de Deus, nunca será o mesmo que estarmos limpos diante dos homens, pois os homens vêem mal. Deus vê mais que todos juntos e, além do mais, os homens ás vezes vêem erro onde não existe erro e também acham certo aquilo que está errado. Temos de estar limpos diante de Deus que vê tudo.

C_SUJA: Ainda terei de ser santo depois de passar pela humilhação de confessar os meus pecados todos às pessoas? Ainda tem mais coisas pela frente depois de limpar-me assim? Pensava que tudo terminava ali, com essa humilhação.

C_LIMPA: O que para ti pode ser humilhação – para muitos nem é. Sim, existe muito mais depois de confessares às pessoas e a Deus e, se necessário, juntamente com outras pessoas. (Porque a Bíblia diz: “confessai os vossos pecados uns aos outros”). O caminho mal começou.

C_SUJA: Mas, então não está errado confessarmos os nossos pecados ao padre!

C_LIMPA: Claro que está! O que não está errado é confessar a Deus juntamente com alguém cujas orações sabes que são ouvidas. Se ele orar para que sejas perdoado, Deus perdoará porque “a oração dum justo pode conseguir muito na sua atuação”. Tiago, um outro filho de Maria (a mãe de Jesus), escreveu: “Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito naquilo que alcança”, Tiago 5:16. E, Paulo diz a mesma coisa “Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito (…) levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo”, Gal.6:1-2.

C_SUJA: Mas, eu morreria de vergonha se contasse os meus pecados a alguém. E se essa pessoa for contá-los aos outros que querem saber da minha vida?

C_LIMPA: Mas, se essa pessoa for daquelas que conta a tua vida para os outros, nem seria um justo. E a bíblia fala numa pessoa santa e justa, o qual ora por ti. E, além do mais, nem deves preocupar-te com aquilo que as pessoas acham e pensam sobre ti quando confessas os teus pecados, pois, o que ficará realçado diante dos olhos das pessoas será o fato que confessaste e não os pecados que eles ouviram. Toda a gente ouvirá e temerá ao tomar nota duma verdade da bíblia sem grandes explicações e de forma prática.

C_SUJA: E porque razão é necessário fazê-lo dessa maneira?

C_LIMPA: Não é que seja necessário, mas, é muito eficiente e é um passo de gigante para preparar a pessoa para tudo aquilo que ainda está à frente dela, no caminho para a santificação, no caminho da luz onde tudo fica amostra. As pessoas precisam saber e crer que Deus as perdoará e, também, Deus precisa atender a uma oração. Ora, o justo que ora por ti, crê e Deus ouve-o. Deus não mandou os amigos de Jó irem pedir a Jó para orar por eles porque Deus não os ouviria se fossem eles a orarem? “Ide ao meu servo Jó e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que eu não vos trate conforme a vossa loucura; porque vós não tendes falado de mim o que era reto, como o meu servo Jó”, Jó 42:8.

C_SUJA: Explica-me melhor, por favor. Parece sempre que nem sei nada ainda! E, também, nem sei porque razão pergunto tanto sobre as coisas que preferiria não ficar a saber!

C_LIMPA: Sabes que Jesus ressuscitou Lázaro, o irmão da prostituta Maria, aquele que esteve morto 4 dias, João 11.

C_SUJA: Sim, ouvi falar. O pastor leu a história na igreja.

C_LIMPA: Quando Lázaro saiu da sepultura, vinha todo enrolado e ligado com faixas e tiras de pano à volta de seu corpo, conforme o costume judeu. Mesmo que tivesse sido ressuscitado pela palavra de Jesus, ainda assim Jesus mandou os outros discípulos desatarem-no. Com nossos pecados sucede o mesmo: Jesus manda outros desatarem sempre que é preciso. Se tuas mãos estão atadas, como te irás desatar? Os amigos de Jó estavam atados e Deus mandou-os irem falar com Jó. E o único erro deles foi não terem falado tão bem como Jó!

C_SUJA: Entendo. É um bom exemplo esse. Mas, é só por essa razão que devemos confessar juntamente com quem sabe desamarrar-nos diante de Deus?

C_LIMPA: Jesus disse que, aquilo que um justo desamarrar aqui na terra, será desamarrado no céu. Mas, não é esse o único benefício direto que garantimos fazendo dessa maneira, limpando-nos diante de Deus e dos homens.

C_SUJA: Que outros benefícios existem?

C_LIMPA: Colocamos em prática um dos pilares duma vida santa: andar na luz. O outro pilar é fazermos o oposto das tentações, agora que conseguimos porque já não estamos com uma parede separando-nos do Deus que nos capacita e nos liberta para o conseguirmos.

C_SUJA: Andar na luz como?

C_LIMPA: A primeira reação de Adão e Eva, assim que pecaram, foi esconderem e fabricarem uma cobertura para a sua nudez. Não foi?

C_SUJA: Foi.

C_LIMPA: E com isso mostraram que o mundo mudou, isto é, que eles mudaram. Se essa foi a primeira reação dum pecador, o oposto disso será a primeira reação dum santo. Só pode ser!

C_SUJA: Como o oposto?

C_LIMPA: Se esconder foi o primeiro passo que o pecador deu, o primeiro passo dum santo será revelar e colocar na luz sem medo de que esteja sendo visto – seja quem for e seja visto por quem for. Nem precisa ter medo de revelar, pois, em qualquer dos casos, todas as pessoas irão ver seus pecados no dia do Juízo. “Tudo que está encoberto será manifestado”, afirmou Jesus. Porque iríamos esconder uma coisa agora que, em todo caso, irá ser revelada a todo mundo em breve?

C_SUJA: Dá-me mais medo essa parte do Juízo de Deus do que muitas outras! Toda a gente vai ficar sabendo o que eu fiz em toda a minha vida? Eu não concordo com isso!

C_LIMPA: Mas, Deus nem precisa da tua opinião para fazer uma coisa que disse que ia fazer, pois não? Se Ele precisasse de opinião nem consultaria quem não se limpa. Em Isaías, Deus afirma que Ele odeia a ajuda de quem anda em pecado. E nós também devemos odiar ajuda desse tipo – venha ela de que forma vier e em que circunstâncias vier. Será assim que os ambiciosos e os avarentos deixarão de ser chamados altruístas.

C_SUJA: Entendo. Mas, nem quereria ajudar a Deus!

C_LIMPA: Mas, quem não quer ajudar Deus, deixa Deus ajudá-lo e tu nem estás deixando Deus ajudar-te.

C_SUJA: Tu queres é que te conte todos os meus pecados!

C_LIMPA: Eu quero é que te limpes, seja de que jeito for, pois o preço que Jesus pagou para te limpares foi muito alto.

C_SUJA: Tá certo. Mas, através desse método será muito difícil conseguires que me limpe!

C_LIMPA: É, estou vendo que sim. Estás dificultando ainda mais um caminho que já é estreito. Em todo caso, ficarei sabendo de todos os teus pecados mais dia menos dia. E, aquelas pessoas contra quem pecaste, também irão ver o que falaste delas e tudo o que fizeste contra elas. Então, é melhor confessares tu agora e que fiquem sabendo através da tua boca.

C_SUJA: Mas, é melhor mais tarde do que agora! Pelo menos fica adiado.

C_LIMPA: Mais tarde não será melhor para ti. Nem um pouco! Agora é melhor. Lá não obterás perdão, porque a manifestação de teus pecados não será voluntária.

C_SUJA: Então serei condenado?

C_LIMPA: Sim, com certeza.

C_SUJA: E que terei de fazer depois de te confessar meus pecados?

C_LIMPA: Não tens que os confessar a mim.

C_SUJA: Tá certo. Entendi essa parte. Mas, o que acontecerá depois disso?

C_LIMPA: Quando colocamos na luz todos os nossos pecados, obtemos um principio, uma formação de conduta para o futuro e uma base para o que vem a seguir. O futuro dessa vida que vem depende de andarmos na luz. Toda a vida futura será baseada e fundamentada andando na luz desse jeito. Isso não é a santidade ainda, mas, é a porta por onde entramos para a casa da santidade – ou melhor, é uma das portas.

C_SUJA: E as outras portas quais são?

C_LIMPA: Uma delas, nós usamos mais numa fase inicial do que no futuro – se bem que a usamos muitas vezes no futuro também.

C_SUJA: Qual é?

C_LIMPA: Devemos fazer o oposto daquilo que a tentação quer que façamos. E, quando já não somos tentados, faremos o oposto daquilo que antigamente era a nossa vida – mesmo sem tentação, para nos abrir as perspectivas e o caminho.

C_SUJA: O oposto como? Espera, deixa ver se entendi. Seu eu for tentado a falar mal de alguém diante das pessoas, devo calar-me – é isso?

C_LIMPA: Não. Se estiveres sendo tentado a falar mal de alguém numa mesa de fofoca, deves falar bem da pessoa diante de todos. Isso é fazer o oposto da tentação. Se fores tentado a roubar, deves dar logo ali e não ficar quieto. Por isso é que Paulo diz assim: “Aquele que furtava (...) trabalhe para que tenha o que dar…”, Ef.4:28. Não furtar, apenas, não chega. E o mesmo se pode dizer de quem mentia: ficar calado, não bastará – precisa falar a verdade. “Falai a verdade, cada um com seu próximo!”

C_SUJA: Vejo que o caminho se aperta cada vez mais. Nunca pensei que fosse tão difícil!

C_LIMPA: Mas, nem é que seja difícil – tu é que não queres! Trata-se apenas de falta de vontade da tua parte. Nada mais! Por isso é que não podes estar a complicar mais o teu caminho – ele já é suficientemente complicado e difícil! Mas, se te tornares obediente, o caminho torna-se menos difícil a cada passo que dás. É muito simples de ser feito! É muito simples mesmo. A complicação só existe na tua cabeça e em quem não quer ser obediente.

C_SUJA: Como assim? Devo confessar porque não quero confessar? Devo começar já a fazer o oposto daquilo que meu coração fala para eu fazer?

C_LIMPA: Sim, é uma ótima idéia essa. É que nem começaste a andar no Caminho ainda.

C_SUJA: Acho que estás enganado. Eu não falto a nenhum culto da minha igreja. Ouço tudinho! É só o meu pastor abrir a boca e os meus ouvidos ficam escutando bem.

C_LIMPA: Claro, mas, não precisarei comentar porque isso acontece, pois não? Ou será que se faz necessário?

C_SUJA: Que estás insinuando?

C_LIMPA: A Bíblia diz assim: “Acaso andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” Amos 3:3. E, noutro lugar, também afirma que “virá tempo em que, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos”, 2Tim.4:3. E como existem muitos tipos de desejos entre os homens, haverá sempre muitas igrejas e denominações, cada uma com um jeito.

C_SUJA: Agora quem não faz comentários, sou eu! Essa afirmação que fizeste magoou-me muito! Nem a irei comentar!

C_LIMPA: Tudo bem.

C_SUJA: Porque ficas falando mal de meu pastor e dizendo que ele está errado sem que me sinta magoado?

C_LIMPA: Se tu te limpares, poderás continuar ouvindo teu pastor na mesma – e ainda ouvirás melhor. Nada impede que te limpes. Que idéia é essa de achares que não deves limpar-te por causa de teu pastor e por causa de tua igreja?

C_SUJA: É porque eles não me falam assim desse jeito que me falas.

C_LIMPA: Se te limpares, será melhor para ti e para a tua igreja – desde que digam coisa com coisa. Nada te impede de ires à igreja – a menos que Deus te mostre outra coisa. E nada te impede de te limpares também!

C_SUJA: Mas, o que tem de acontecer depois de me limpar?

C_LIMPA: A limpeza permitirá que, quando quiseres fazer o oposto da tentação, ou quando queiras transformar teus hábitos e teu coração pontualmente, conseguirás. Mas, se não começares, não terminarás. Só terminam aqueles que começam. E, mesmo assim, muitos que começam, não terminam bem – desviam-se em algum lugar.

C_SUJA: Porque se desviam depois de começarem?

C_LIMPA: Muitos olham para trás e Deus deixa-os pregados onde pararam a olhar para trás. Depois, nem notam que estão sozinhos e andam por outros caminhos. Têm tanta consciência de Deus, depois, quanto teria uma estátua de sal! E serão com Sansão de quem ficou escrito: “E não sabia que Deus o havia abandonado!”

C_SUJA: Entendo. A mulher de Ló virou estátua de sal, não foi?

C_LIMPA: Foi sim, (Gen.19:26). E nem as orações de Abraão lhe valeram para nada, (Gen.18:16-33).

C_SUJA: E porque razão uma pessoa olha para trás assim, mesmo depois dos anjos terem dito “Não olhem para trás”?

C_LIMPA: As pessoas, quando abandonam os seus pecados, esquecem-se de tirá-los de seus corações também. Abandonam os namoros e as novelas e deixam ficar tudo em seus corações. Depois, ficam implorando a Deus pelo amor das suas vidas. E só Deus pode ser o amor de nossas vidas. Outros deixam de beber e de freqüentar bares, mas, não deixam de rir das piadas dos alcoólatras e dos bobos. Ficam sempre com um dos pés no mundo que deixaram.

C_SUJA: E viram estátuas de sal?

C_LIMPA: Sim, claro. Deviam segurar a oportunidade. Se já abandonaram as ilusões, deveriam aproveitar para tirá-las do coração também.

C_SUJA: Então eu já sou a Torre de Babel feita em sal, uma montanha de sal!

C_LIMPA: Se tu o dizes! E nem assim temes? Nem assim te limpas?

C_SUJA: Depois de me limpar estarei bem?

C_LIMPA: Não, mas, estarás pronto para poderes estar bem, para terminar o teu caminho e ir até ao fim e chegando ao final com o mesmo amor com que começaste – sem pesos. Desse jeito que estás agora, nem conseguirás começar – quanto menos terminar!

C_SUJA: Como assim, terminar o caminho? Não termina quando aceitamos Cristo?

C_LIMPA: Começa quando Cristo te aceita. Quando ele te limpa pessoalmente, de alto a baixo, ele começa a obra da santificação em ti – por dentro e por fora. E, mesmo que nem importe quanto tempo dura essa obra depois disso, precisa terminar. Paulo disse: “Segui a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”, Heb 12:14.

C_SUJA: Entendo. Então sermos limpos é só o inicio do caminho?

C_LIMPA: É, sim. É o inicio e a porta de entrada para a vontade de Deus. Mas, também é a chave para conseguires abrir as outras portas para as soluções para todos os problemas e tentações que possam querer impedir-te de alcançares a vontade de Deus.

C_SUJA: Qual vontade de Deus?

C_LIMPA: A santificação é uma delas, claro. Paulo diz também: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação”, 1 Tesalonicenses 4:3.

C_SUJA: E preciso limpar-me para entrar nessa vontade de Deus?  

C_LIMPA: Precisas limpar-te para entrar em qualquer vontade de Deus. “E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas, será para os remidos. Os caminhantes, até mesmo os loucos, nele não errarão”, Is.35:8. Quem não se limpa, não tem acesso à vontade de Deus sequer. A porta estreita dá-nos acesso à vontade de Deus, ao caminho que se segue. Isso não significa que, quem tem acesso, faça depois aquilo que deve ser feito do jeito certo e até ao fim. Se não te limpares, nunca terás acesso à vontade de Deus – seja ela qual for! E Jesus disse: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no reino dos céus, mas, só aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”, Mat 7:21. Imagina só tudo o que te poderá acontecer ainda se não te limpares já!

C_SUJA: Estou ficando mais desanimado. Achava que seria mais fácil viver com Deus.

C_LIMPA: É mais fácil viver através de Deus. Mas, não do teu jeito e nem do jeito que pensavas. Viver a “verdade” sem Deus é uma coisa; viver da verdade com Deus é outra. Desse teu jeito nem será possível viver aqui como se vive lá no céu. Viverás de teu jeito com Deus na tua cabeça e nos teus sonhos desanimando-te porque não se concretizam – nada de real se passará. Serás como Sansão que nem sabia que Deus não estava mais com ele.




 

 

DIÁLOGO 15

A FÉ

C_SUJA: Tu nunca duvidas?

C_LIMPA: Tu nunca crês?

C_SUJA: Às vezes creio, às vezes consigo crer.

C_LIMPA: Eu às vezes duvido, umas vezes bem e outras vezes mal. Mas, corrijo-me quando creio mal ou quando duvido mal, também. Mas, se duvido bem ou se creio bem, agradeço a Deus.

C_SUJA: E é possível crermos mal e duvidarmos bem? Eu pensava que deveríamos crer sempre e nunca duvidarmos.

C_LIMPA: Claro que é possível crermos mal e duvidarmos bem. O diabo pode-nos ajudar a crer e a duvidar; Deus pode-nos fortalecer a fé e a dúvida também. Principalmente quando não temos certezas. Quando não temos certezas, devemos ficar na dúvida ao invés de acreditar a qualquer custo. E quando Deus nos fala e mostra, devemos acreditar a qualquer custo sendo obedientes e não forçando a “fé”. Quando obedecemos, mostramos que cremos – não quando nos esforçamos para crer! No entanto, será buscando e achando a verdade que anularemos a dúvida e a mentira.

C_SUJA: Quando é que duvidar é pecado então?

C_LIMPA: Duvidar é pecado quando o teu coração é o responsável pela dúvida sempre que Deus nos fala. Mas, se não for um problema de coração, se for por causa de quem fala ou devido ao que diz, a dúvida pode não ser pecado; Se não for por causa do coração que tens. Jesus falou aos incrédulos e chamou-os de “duros de coração”. E podemos aplicar o mesmo princípio em relação à fé. Tudo funciona como as moedas que têm dois lados: poderás duvidar da verdade ou da mentira e quem duvida da verdade, acredita na mentira e vice-versa. Depende das tuas aptidões e do coração que tens.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Ladrão crê em ladrão. Independentemente se a outra pessoa é desonesta ou não. Mas, antes se elas são do mesmo gênero, se têm o mesmo tipo de coração, se são do mesmo “bairro”; Logo crerão na mesma “verdade”. E, se és de Deus, acreditas em Deus também.

C_SUJA: Quem duvida da mentira tem tendência para crer nas verdades? É isso?

C_LIMPA: Sim.

C_SUJA: E porque razão Jesus falou tanto contra aqueles que duvidavam?

C_LIMPA: Porque eles duvidavam quando Jesus estava falando. Jesus nunca os repreendeu porque duvidavam, mas, porque duvidavam quando era a verdade que lhes confrontava e quando era Ele quem estava falando. E, também, nesses momentos, resistiam ao Espírito Santo que fazia uma obra da manifestação das verdades que Jesus estava falando dentro dos que ouviam. E se eles resistiam a tal manifestação eram duros de coração, pois o Espírito de Jesus nunca os iria enganar.

C_SUJA: Então, nem sempre é pecado duvidar?

C_LIMPA: Jesus elogiou uma igreja no livro de Apocalipse porque ela achou os falsos apóstolos como sendo falsos – e ainda por cima eram apóstolos, pessoas de autoridade. Hoje, as pessoas nem aos meros pastores conseguem ver como enganadores – quando são. E aquela Igreja fez mais do que duvidar – ela achou-os falsos. “Conheço as tuas obras, o teu trabalho e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são e os achaste mentirosos”, Apoc.2:2. Jesus elogiou-os por isso.

C_SUJA: É interessante.

C_LIMPA: O que Jesus condenaria, seria que duvidassem da verdade quando a verdade estivesse sendo falada e explicada no momento certo. Mas, Jesus também condenaria qualquer um que não entrasse em dúvida se fosse a mentira que estivesse sendo pregada ou pregando. A dúvida é uma faculdade humana e só se torna condenável quando usada ou no momento errado ou contra a verdade.

C_SUJA: Entendo. Quem descrê da verdade quando está sendo explicada, acredita na mentira. Entendi bem?

C_LIMPA: Sim. Cristo chama descrente a quem descrê quando a verdade é falada. Mas, se a mentira for falada e descremos, Cristo nos chamará de crentes e homens cheios de fé. Ele também dirá para nós: “… e os achaste falsos…” e nos elogiará.

C_SUJA: Entendi ainda melhor agora.

C_LIMPA: E o que pensavas que era a fé?

C_SUJA: Eu pensava que tínhamos de crer sempre e nunca duvidar, nunca julgar ninguém.

C_LIMPA: Não. Se fé fosse isso, todos os falsos agradeceriam e teriam caminho livre para enganarem mais bobos. Fé é poder crer na verdade, mesmo quando ela é invisível.

C_SUJA: E a verdade pode ser invisível?

C_LIMPA: Os teus pensamentos não são invisíveis? E, no entanto, vives deles. O ar que respiras não é invisível? Mesmo assim sabes quando está puro. Se respirares ar impuro, ou gás, saberás distinguir e sentir também – mesmo sendo invisível.

C_SUJA: Existe gente que não consegue acreditar na verdade?

C_LIMPA: Existem muitos que querem acreditar na verdade, mas, não conseguem. Outros que conseguem acreditar, mas, não lhe obedecem. Outros acreditam nela falsamente, tentando viver numa casa que não é para eles. Quem está separado de Deus por algum pecado, dificilmente consegue apoiar-se só na verdade e depender apenas dela sem sair desapontado. Ou mistura tudo, ou rejeita a parte prática de qualquer palavra verdadeira vinda de Deus quando menos espera. Jesus falou naqueles que podem crer e naqueles que não podem crer.

C_SUJA: Quer dizer, aqueles que não conseguem crer?

C_LIMPA: Sim, isso mesmo.

C_SUJA: E porque razão não conseguem crer?

C_LIMPA: Existem pessoas que se fossem honestos, descriam. E outros que, se fossem honestos, conseguiriam crer. É isto que Pedro diz: “os que alcançaram fé preciosa”, 2 Ped.1:1. Essa fé alcança-se; é uma dádiva da graça da presença de Deus. E para quem as verdades não são realidades ainda – as verdades de Deus, claro – deve arranjar-se com Deus e ver porque razão a sua vida interior não funciona da maneira correta. Deve haver algum pecado que o separa de Deus, o que faz com que a sua fé não seja “viva” e simples, antes faz com que pareça uma carroça carregada de pedras que precisa de muitos jumentos para que seja puxada através da obstinação. A fé de Deus anda sozinha, movimenta sem qualquer dificuldade.

C_SUJA: Como é que isso funciona assim desse jeito? É que isso é uma novidade para mim.

C_LIMPA: Quando uma coisa é uma novidade para ti e é real, tens a opção de acreditar nela voluntariamente ou não. No mínimo, dás um tempo para aquilo que ainda é novo e fresco se possam provar a si próprios. Por isso é que Deus diz em alguns lugares: “Ora, provem-Me nisto…”; “Mas, ponham tudo à prova. Retende o que é bom”, 1Tes.5:21.

C_SUJA: Mas, não é pecado pôr Deus à prova?

C_LIMPA: Pode ser e pode não ser. Deus mandou o rei Acaz pedir-lhe um sinal para que não duvidasse. E quando ele recusou o sinal, Deus deu-lho na mesma, Is.7:10-16.

C_SUJA: Entendo. Isso é porque Deus é novidade para as pessoas e nem deveria ser, não é assim? Ele é justo nesse aspecto também. Deus deveria ser o companheiro mais intimo, não é mesmo? Assim, habituados a Ele e conhecendo-O cada vez melhor, nem seria complicado acreditar quando fosse Ele falando.

C_LIMPA: Sim, claro que Deus é justo. É muito triste Deus ser ainda novidade para muitas pessoas. Muito mais triste é Ele ser um estranho completo. Mas, pior ainda que essas duas tristezas juntas, são as pessoas falarem de Deus, pregarem o evangelho e Ele ainda ser-lhes um estranho. Isso é muito pior! Ai dessas pessoas! Não queria estar na pele delas, de jeito nenhum!

C_SUJA: Mas, Deus não fará isso com aqueles que já o provaram e saborearam, não é?

C_LIMPA: Isso o que?

C_SUJA: Ele será justo com aqueles que o colocam à prova?

C_LIMPA: Para com todos aqueles que provaram a Vida como ela é e o conhecem pessoalmente, também será justo, tanto se acreditarem nele e depois Lhe serem obedientes, ou se não acreditarem n’Ele.

C_SUJA: Será justo duma forma má para muita gente?

C_LIMPA: De forma má só para os que duvidam na cara da verdade. Mas, quem duvida assim, deve tentar mudar o coração acima de tentar acreditar na verdade que ouviu. Ele duvida porque seu coração é perverso e duro. Mas, será coisa boa para o Reino de Deus e para o Bem de forma geral se esses forem julgados. Só não será bom para o condenado, mas, para o Reino e para o bem universal, será excelente. Deus salva até quando condena. Ele livra o mundo do mal e alguns ainda poderão ver a condenação deles e arrependerem-se porquanto assumem que o mesmo lhes acontecerá também se não se arrependerem.

C_SUJA: Entendo. Tudo quanto Deus faz é bom então?

C_LIMPA: Sim, tudo. Tudo é aproveitável.

C_SUJA: E porque razão Deus envia ou permite pragas neste mundo?

C_LIMPA: Para ver se as pessoas se arrependem. “O quinto anjo derramou a sua taça (…) e os homens mordiam de dor as suas línguas (…) e ainda assim não se arrependeram das suas obras”, Apoc.16:10-11.

C_SUJA: E porque razão as pessoas não conseguem salvar-se?

C_LIMPA: Porque ou não conseguem crer, ou recusam crer porque estão amargurados.

C_SUJA: Explica-me melhor.

C_LIMPA: As pessoas podem estar amarguradas ainda (até mesmo depois de se arranjarem com Deus) e, por essa razão, recusam acreditar porque estão com raiva. E, pior ainda, com sua vida contaminam algumas pessoas mais. “Tenham cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe e por ela muitos se contaminem”, Heb.12:15.

C_SUJA: E as outras pessoas que não conseguem crer?

C_LIMPA: Essas devem estar separadas de Deus por algum pecado. Se forem honestas, não conseguem crer porque a fé é fruto duma comunhão íntima com Deus. Se não há essa comunhão, nem existirá esse fruto. Mas, forçando-se a crerem desse jeito, sem que a fé seja fruto de Deus, são falsos num mundo de fantasia – ou num mundo de verdade. Eles queriam que a verdade fosse verdade para eles. “Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas, sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador”, João 10:1.

C_SUJA: E que esperança existe para as pessoas que estão separadas de Deus por pecados? E não existe mais nada que nos possa separar de Deus?

C_LIMPA: Nada mais nos poderá separar do amor que Deus derrama em nós para como ele amarmos. E não existe nenhuma esperança para quem está separado por pecado, pois a única será limparem-se. Assim que se limparem de tudo que os suja, logo ali conseguirão acreditar naquelas coisas que são verdade e apenas nelas. Também conseguirão duvidar das mentiras todas e não apenas de algumas. Se acreditarem ou duvidarem em mais do que isso, continuam com a falsidade que tinham antes. E, também, não precisamos limpar-nos daquilo que não nos suja – apenas devemos colocar na luz e o que é puro torna-se mais puro ainda.

C_SUJA: E porque razão alguns pastores e evangelistas dizem que precisamos crer em Deus?

C_LIMPA: Só porque os evangelistas afirmam isso, não significa que consigas crer quando eles falam. Eles deveriam, primeiro, criar as circunstâncias para que as pessoas pudessem crer, sendo guiados por Jesus enquanto criam as condições. Jesus disse “aquele que pode crer, tudo é possível ao que crê”, Marcos 9:23. Até será possível qualquer pessoa salvar-se do pior pecado de todos. Depois, aquelas pessoas que chegam a uma fé real, devem ser exortadas e incentivadas a crerem e a fazerem o que devem fazer (isto é, aquilo para que foram capacitadas e antes não estavam); porque, antes não conseguiam e nem podiam; mas, agora tudo se fez novo e diferente. Os outros devem ser exortados a arranjarem-se com Deus primeiro.

C_SUJA: Entendo. E depois de se arranjarem?

C_LIMPA: Depois conseguirão crer. Devemos ensinar as pessoas o caminho, o jeito e as condições primeiro; devemos levá-las a aprender como guardar os mandamentos de Jesus. Foi isso que Jesus nos mandou fazer: “ensinando-as a guardar tudo que vos mando…”, Mat.28:20 – ensinando-lhes o jeito de conseguirem!

C_SUJA: É muito interessante.

C_LIMPA: Mas, assim que podem crer, nem devem pensar com a cabeça antiga. Esses precisam ser exortados e exercitados a assumirem que tudo se fez novo – ou que ainda se fará. É uma nova realidade, agora. “Eis que tudo se fez novo”, 2 Cor.5:17. Esses devem e podem ser exortados ou encorajados a acreditarem na verdade – seja ela qual for. E se é Jesus quem está batendo à porta, que creiam em Jesus então. Ele baterá.

C_SUJA: E se Jesus não estiver batendo na minha porta? Como será isso?

C_LIMPA: Seria uma catástrofe muito grande. Mas, Jesus está sempre batendo, não te preocupes. Aliás, a Bíblia afirma que os olhos de Deus percorrem toda a terra para mostrar-se a todos que mudam o coração completamente para com Ele, os que se viram juntamente com o coração (com a sua essência) para Ele, 2 Cron.16:9.

C_SUJA: Mas, como irei arranjar-me se não crer antes de me arranjar?

C_LIMPA: Lembras-te que falamos sobre os efeitos do cheiro da comida? Aquela paz que “sentias” sem te teres arranjado ainda?

C_SUJA: Sim, lembro. Nem tenho como esquecer isso. Ficou marcado em mim.

C_LIMPA: Então, a Vida Eterna vem e torna possível que creias para que te arranjes com Deus e possas desfrutar de tudo que Deus tem para ti: o amor, a fé e de todos os outros frutos do Espírito.

C_SUJA: Como é que é? Frutos do Espírito?

C_LIMPA: Sim, frutos entre ti e Ele, quando te arranjas.

C_SUJA: Entre Ele e mim?

C_LIMPA: Isso. Por exemplo: o meu filho é fruto de uma comunhão entre mim e minha esposa. A fé e todos os outros frutos do Espírito são filhos duma comunhão entre ti e Deus. Nascem por causa dela, porque existe. Ninguém tem como impedir que isso aconteça, tal como ninguém tem como impedir que um óvulo fecundado se transforme em gravidez.

C_SUJA: E porque se chamam frutos do Espírito se nascem em mim e sou eu que os crio dentro de mim?

C_LIMPA: Pela mesma razão que um filho de minha esposa ganha o meu nome. Os filhos ganham o nome do pai, não é verdade?

C_SUJA: Sim, é verdade.

C_LIMPA: Por essa razão chamamos ao amor, paciência e tudo mais que vem de Deus, de “Frutos do Espírito” – ganharam o nome do Pai. E nós somos a mãe desses filhos. A fé é um deles. O domínio próprio é um fruto também. E, quando dizemos “domínio próprio”, falamos de algo que é nosso. Mas, ao mesmo tempo, é vindo e criado por Deus e nem por isso deixa de ser “próprio”.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Então, a fé vem da vida que Deus é. É fruto do Espírito e só está presente onde o Espírito mexe.

C_SUJA: Então, eu preciso ter vida para crer? Isso parece ser um absurdo! Eu quase que diria que preciso crer para ter vida.

C_LIMPA: Jesus disse: “Aquele que crê em Mim, tem a vida eterna”. Não disse que “terá a vida eterna” – já tem. Já tem dentro dele essa Vida sem altos e baixos – nem que seja em fase inicial. Por isso crê, por isso consegue crer. Se não crer sob essas circunstâncias, condena-se a si próprio, porque só a fé salva de nossos pecados. Jesus mesmo disse: “Se não crerdes, morrereis em vossos pecados”. Quem tem essa vida crê e quem consegue crer, consegue salvar-se de qualquer tipo de pecado – até dos piores. Haja fé desse tipo!

C_SUJA: Mas, não é quem crê que vai ter vida?

C_LIMPA: É a velha questão da galinha e do ovo: qual dos dois apareceu primeiro? A galinha ou o ovo?

C_SUJA: Eu acho que foi a galinha, pois Deus criou a galinha.

C_LIMPA: Também acho. Então, em primeiro lugar vem a Vida e, depois, o fruto dessa Vida Eterna dentro de nós: a fé. A fé é o ovo e a galinha é a Vida de Deus em nós. Por isso é que Jesus disse magoado: “mas não quereis vir a mim para terdes vida!” João 5:40. Mas, por outro lado, João também falou em cremos para termos vida, João 20:31. Não sabemos onde uma coisa começa e onde a outra acaba. Será sempre a velha questão entre o ovo e a galinha.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Mas, tanto a fé como a Vida, são dons – dádivas de Deus – sejam elas dádivas diretas ou indiretas, fáceis de alcançar ou pelas quais temos de lutar muito. Importante é que as tenhamos como dádivas e que não seja a nossa própria coisa. “Sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo e seja achado nele, não tendo a minha própria justiça, mas, a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé”, Fil.3:8-9.

C_SUJA: E tem mais coisas na Bíblia que digam isso desse mesmo jeito?

C_LIMPA: Tem muito disso na Bíblia. Isso é o que não falta lá. A bíblia fala muito na justiça própria, na cabeça própria (na própria cabeça!), entre outras coisas. “Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, procuraram estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus. Pois Cristo é o fim da lei para justificar (para tornar justo) a todo aquele que crê”, Rom.10:3-4.

C_SUJA: Então, se a fé é dom de Deus, mesmo que eu seja a mãe – a barriga incubadora desse dom – se Deus não operar em mim, não posso crer? Ou será que não devo crer?

C_LIMPA: Nós devemos poder crer numa verdade quando ela se torna nossa.

C_SUJA: E se alguém tentar “crer” quando não pode crer? É possível isso acontecer?

C_LIMPA: Condena-se também, pois é falso. Está pulando o cercado.

C_SUJA: Então, podemos ser condenados quando não cremos e quando cremos também?

C_LIMPA: Sim.

C_SUJA: Mas, isto é difícil de acreditar e muito difícil de aceitar!

C_LIMPA: Por essa razão é que esses pastores falsos serão condenados; pois eles nunca se arranjaram com Deus e falam coisas de seus próprios corações, conforme as entendem. Eles estão no fundo do mar usando os seus últimos fôlegos para mandarem os outros respirarem debaixo d’água. E roubam-lhes os seus dízimos e tudo mais que têm – até suas vidas eles roubam porque não os deixam ir respirar de outro jeito!

C_SUJA: Como é que foram parar no fundo do mar?

C_LIMPA: Naufragaram. Como é que se vai parar no fundo do mar? A consciência suja faz-nos naufragar. Essa fé será responsável por um naufrágio de sérios riscos. Paulo disse a Timóteo, um evangelista avisado: “Conserva uma boa consciência, porque senão, naufragas na fé”, 1 Tim.1:19. Essa fé é o filho, através do qual, os corações se irão purificando, passo a passo. Sem ela desse jeito, estaremos perdidos e nunca veremos Deus – nem agora e nem depois. “Os limpos de coração verão a Deus”, Mat.5:8. Por isso, só os que se limpam vão conseguir “purificar os seus corações pela fé”, Atos 15:9. E, sem uma consciência limpa, essa fé naufraga e sem ela, lá se vai o coração puro! E a própria pessoa também vai junta para o fundo do mar.

C_SUJA: Sem essa fé perdemos muito…

C_LIMPA: É verdade. E quando a tem mesmo, precisas apenas adaptar-te a uma nova realidade. E, se tiveres uma fé falsa, não tens essa fé purificada e transformada. Se não te limpas, sais perdendo muito porque é pela fé que nos salvamos de tudo – até de nós mesmos. Através da fé conseguimos – desde que não seja fingida. “Porque, todo aquele que é nascido de Deus, vence o mundo (vence o pecado, a ele próprio também ou qualquer outra coisa); e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. 1 João 5:4. Importante é que a fé nos salve dessas coisas. Os outros milagres são o de menos – esse é o maior!




 

 

DIÁLOGO 16

A ETERNIDADE

C_SUJA: Tenho medo da eternidade. Aliás, nem consigo imaginar uma eternidade. Parece que tudo vai acabar e que só eu ficarei.

C_LIMPA: É normal. Nunca um pecador pensará que vai morrer. Ele sabe que vai morrer, mas, não pensa que vai.

C_SUJA: É verdade.

C_LIMPA: Por isso é que a Bíblia diz que é melhor ir a um funeral do que ir a uma festa. Quem sabe, os seus olhos abrem-se e resolve cair na real.

C_SUJA: E porque razão as pessoas acham que não vão morrer quando sabem que vão?

C_LIMPA: Porque Deus criou-nos como seres eternos. A idéia da eternidade faz parte de nós. Mas, entretanto, deixamos de ser eternos. O ser humano é um mundo de contradições, está cheio de confusões. Ele foi criado eterno e vai morrer; foi criado puro e peca; foi feito para dar glória a Deus e toma para si próprio todo o prestígio e congratula-se facilmente. Tudo no ser humano é uma contradição.

C_SUJA: Porquê?

C_LIMPA: Porque a Bíblia diz que, quando Deus criou o homem e tudo o que existe, “tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade”, Ecl.3:11. A este homem, com o conceito da eternidade dentro dele desde a criação e sendo belo como criação, Deus avisou assim: “mas, da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”, Gen.2:17. Agora temos um homem que vai morrer, o qual tem a idéia da eternidade enraizada dentro dele. Sua maneira de agir e de pensar está em contradição com a sua realidade prática.

C_SUJA: Entendo. Por isso é que os homens acham sempre que os outros é que vão morrer e fazem piadas nos velórios?

C_LIMPA: É, essa pode ser uma das razões. Mas, não é a única coisa que acontece dentro dos homens quando pecam.

C_SUJA: Que mais acontece?

C_LIMPA: Os homens foram criados para serem puros, limpos, certos, obedientes, constantes e tudo mais. Mas, são impuros, sujos, incertos, desobedientes, inconstantes entre outras coisas. Tudo aquilo que a sua criação original ainda os faz pensar que são, entra em contradição com a realidade, com a sua vivência e com aquilo que realmente experimentam na vida prática.

C_SUJA: Por isso é que as pessoas acham-se sempre certas mesmo quando erram?

C_LIMPA: Pode ser essa a razão, sim. Pode ser – é uma das possibilidades. Todas as coisas dentro dos pecadores entram em contradição porque existe uma realidade oposta à criação que são.

C_SUJA: E que mais acontece dentro dos seres humanos desse jeito que falas?

C_LIMPA: Deus está ausente e as pessoas acham-no presente. As pessoas foram feitas para viverem na presença de Deus e crerem que Ele estaria com eles. Um ser que vive conforme foi criado, nem lhe passará pelos seus sonhos mais longínquos que Deus não está com ele! Nem concebe tal possibilidade! É dessa maneira que deveria pensar qualquer pessoa limpa diante de Deus e dentro da vontade de Deus: nem deveria passar-lhe um único pensamento que Deus não irá estar com ela! E, se alguém lhe disser que Deus não estará com ela, ela vai rir da piada – nem vai acreditar em tal afirmação!

C_SUJA: E porque razão é tão difícil acreditar quando devemos?

C_LIMPA: Porque o diabo troca sempre tudo e o pecador (que sai ou saiu ao diabo) pensa do mesmo modo. Quando a pessoa está mal com Deus, o diabo influencia as mentiras dizendo que Deus está com o pecador que, por sua vez, está em falta para com Deus e para com as suas responsabilidades – o diabo só usa aquilo que o pecador tem dentro dele; mas, assim que o pecador se arranja com Deus e com seu próximo, o diabo usará as realidades dos tempos em que não se encontrava bem com Deus para o atormentar e fazer descrer dizendo-lhe que Deus não está com ele. Antes usava as mentiras – depois, usa as verdades antigas. Irá implicar com ele, perturbá-lo e fazê-lo lembrar das vezes que Deus não estava com ele e, também, das vezes que as profecias das igrejas falsas não se concretizaram. Será um festim de confusão na pessoa que não estiver habituada a viver só da realidade e de aceitá-la como tal na hora que deve – por muito incrível que seja quando estamos bem com Deus, ou por muito difícil que seja aceitarmos se não estivermos bem com Deus.

C_SUJA: Às vezes sinto-me assim, muito confuso e com vontade de abandonar tudo.

C_LIMPA: É, isso seria de esperar. O diabo faz-te ter desejo de abandonar o que já abandonaste ou desprezaste há muito tempo para continuares achando que estás bem.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Se tu não te limpas e estás mesmo separado de Deus, pensar que deves “abandonar” tudo que nem tens, é uma maneira muito estranha de pensar! É mais uma forma de crer que tens algo que nunca tiveste.

C_SUJA: Eu nunca tive Deus?

C_LIMPA: Se tivesses tido Deus em ti, saberias ver qual a diferença agora. Como não sabes qual a diferença (só imaginas), deduzo que nunca tiveste!

C_SUJA: Quer dizer que não tenho nenhuma chance de Deus me aceitar?

C_LIMPA: Isso significa que só tens uma coisa para fazer – para fazer agora!

C_SUJA: Qual?

C_LIMPA: Tenho de te dizer novamente? Arranjar-te com Deus, claro!

C_SUJA: Mas, se sou crente e acredito em Jesus e falo d’Ele às pessoas, porque tenho de me arranjar mais ainda?

C_LIMPA: Eu acho que falas em Jesus para não teres de te arranjares. Um professor não acha que é estudante e, se estudante ensinar, pode achar que não é estudante. Um assaltante acha-se boa pessoa quando dá um bom dinheiro a um pobre.

C_SUJA: Eu acho que não sou assim.

C_LIMPA: Nunca leste o que vem na Bíblia: Lá diz assim: “No entanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: Aparte-se do pecado todo aquele que profere o nome do Senhor”, 2Tim.2:19.

C_SUJA: E se não se afastar do pecado?

C_LIMPA: Os teus fundamentos não permanecem. A palavra “permanecer” é da família da “eternidade”. E, se não te afastares do pecado, nunca permanecerás, nunca serás constante.

C_SUJA: Como é que é isso?

C_LIMPA: “Eternidade” não significa apenas uma coisa sem princípio e sem fim – é, também, algo que é constante, sem altos e nem baixos. É algo permanente e constante. Essa é a idéia da eternidade que também existe dentro de cada homem – ele acha-se constante, coerente e tudo mais. E se repara que não é assim quando Deus lhe dá luz, chora e pode-se arrepender.

C_SUJA: Pode-se arrepender como? Se chora já não se está arrependendo?

C_LIMPA: As lágrimas podem significar alguma coisa, mas, também podem nem significar nada.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Quando a pessoa chora porque a sua vida prática não condiz com aquilo que ela pensa, ela sente-se frustrada. Por isso chora e lamenta-se.

C_SUJA: E é errado ela chorar por essa razão?

C_LIMPA: Não. Errado seria pensar que, porque chorou, está perdoada e Deus vai estar com ela. As lágrimas pelos pecados chamam a atenção de Deus, é verdade, mas, não significam o perdão. O perdão é dado a quem se corrige desde os tempos que se lembra que errou, isto é, vai até onde errou e começa a corrigir tudo que pode, para logo de seguida começar a viver de outra maneira. Isso é arrependimento – não é chorar pelo leite derramado, mas, é ordenhar outra vaca!

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Existem pessoas que choram apenas porque foram “apanhados” em flagrante. Eles choram porque não conseguem mais esconder a vida antiga, foram surpreendidos e, ao mesmo tempo, não querem estar separados das pessoas. Estão com saudades mesmo antes de abandonarem a vida de porco. Nem a deixaram ainda e já olham para trás – por essa razão muitos choram.

C_SUJA: E também podem chorar porque a opinião pública muda acerca deles, agora que seus pecados foram expostos diante de algumas pessoas.

C_LIMPA: É verdade.

C_SUJA: Mas, continua. Não me deixes interromper-te.

C_LIMPA: Então, as pessoas tornam-se inconstantes e incoerentes porque não se limpam diante de Deus. Tornam-se uma contradição óbvia daquilo que são como criação. Acham-se corretos, prometem porque se acham cumpridores e logo esquecem-se do que prometeram porque são inconstantes. Mas, nem assim se reconhecem como sendo estranhos a Deus e faltosos.

C_SUJA: Então, quando a pessoa é inconstante é porque não se limpou? A sujeira é que causa a falta de “eternidade” dentro de nós?

C_LIMPA: É. “E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas, será para os remidos. Os caminhantes, até mesmo os loucos, nele não errarão”, Is.35:8.

C_SUJA: Por exemplo, a eternidade seria algo sem fim. Mas, também seria uma coisa constante – como disseste. Não é isso que me estás afirmando?

C_LIMPA: Sim, é isso mesmo. Estou vendo que me entendes cada vez melhor.

C_SUJA: Pode ser porque tens paciência comigo e explicas-me muito bem.

C_LIMPA: As pessoas só se tornam inconstantes por causa do pecado. O pecado leva a que sejam assim. E sermos inconstantes, para além de ser algo contrário à nossa criação, é o oposto da eternidade. Por essa razão existe tanta confusão dentro dum coração pecador. E por essa razão é que Isaias disse: “Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus”, Is.57:21.

C_SUJA: Então, é preciso sermos constantes – não apenas afirmarmos que somos porque fomos criados para sermos. A nossa criação leva-nos, por vezes, a dizer que somos aquilo que já não somos?

C_LIMPA: É preciso tornarmo-nos constantes, sim.

C_SUJA: Tornarmo-nos como?

C_LIMPA: Não podemos ser constantes por decisão e através dos votos que fazemos. Para que as decisões que tomamos sejam concluídas e aprovadas por Deus no final (porque são feitas através d’Ele), precisamos estar em comunhão com Ele e, assim, modificarmos as nossas maneiras de pensar.

C_SUJA: Mudar as nossas maneiras de pensar como?

C_LIMPA: Porque tínhamos uma realidade que, depois de limpos, não teremos mais, precisamos segurar na verdade e nas realidades que o diabo vai tentar contrariar e escurecer para os nossos olhos depois de nos convertermos de verdade, saindo da ilusão para a realidade.

C_SUJA: Entendo. Isso significa que, se eu falar em Deus e não estiver bem com Deus, os meus planos vão sair furados.

C_LIMPA: Sim, principalmente se ainda te podes salvar. Porque, nem vemos os planos de muitas pessoas perdidas darem errado. Existem pessoas que conseguem fazer as coisas que querem. Mas, isso nem será sinônimo de sucesso final.

C_SUJA: E o que tem isso a ver com sermos inconstantes?

C_LIMPA: Na aparência, aquelas pessoas que andam sem Deus – que andam no abandono total – nem são muito perturbadas pelo diabo e, por enquanto, nem por Deus. Mas, os seus fundamentos são falsos e quando morrerem nem vão ficar sabendo o que lhes aconteceu! Eles sentem-se seguros sem estarem verdadeiramente assegurados eternamente. A sua aparência parece ser firme e constante, mas, como a Bíblia diz, “foi colocado em lugares escorregadios e foi engordado com soberba para que caia (no final)”, Sal.73:18,19. E a sua queda será grande!

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Mas, o mesmo já não acontecerá com aqueles que se podem salvar, mas, que não estão salvos de todos os seus pecados e, ainda assim, falam de Deus para todos (e muitas vezes não falam para eles próprios). Esses tornam-se inconstantes e vacilantes em quase tudo porque falam de Deus. O mundo vê e toma nota – eles próprios nada vêem. E, se não parecerem vacilantes, estão-se esforçando para manter as aparências. E, também, existe o perigo de misturares as coisas de Deus com as tuas e, mais tarde, transformar-se-á num laço para ti. Quando estiveres bem com Deus, poderás ainda tornar-te inconstante e descrente nas coisas que deves fazer por Deus, através d’Ele por causa disso.

C_SUJA: Como?

C_LIMPA: Quando queres que Deus faça uma coisa que são somente os teus planos e ao mesmo tempo fazes algumas coisas de Deus conforme Ele quer, podes tornar-te inconstante no futuro (nas coisas de Deus). E precisamos ser eternos em todos os aspectos.

C_SUJA: Como isso acontece?

C_LIMPA: Tu esperas que Deus te abençoe naquilo que não é d’Ele e que é de tua autoria. Porque te amas muito, pensas que aquilo que queres será o que Deus quer. Também estás habituado a generalizar, certo? Mas, por essa razão, porque Deus não te dá aquilo que queres, facilmente pensarás que Deus não está contigo depois quando estiveres ocupado apenas com a vontade de Deus. E isso acontece apenas porque não te está abençoando naquelas coisas que querias que te abençoasse quando ainda estás vacilando entre dois pensamentos, 1 Reis 18:21. Irás deduzir e assumir erradamente que Deus não está contigo em nada do que fazes apenas porque te recusou em certos aspectos.

C_SUJA: É como se metade duma casa pertencesse a Deus e a outra ao diabo e eu destruísse a casa toda por conta disso em vez de expulsar o diabo da outra metade?

C_LIMPA: Sim, podemos colocar isso dessa forma. Mas, Deus estava-te abençoando e instruindo noutras coisas enquanto tinhas os teus pensamentos e resoluções próprias também. Isso vai criar instabilidade dentro de ti – mais tarde – sempre que pensares e meditares naquelas verdades que Deus te revelou no tempo que desejavas que Ele fizesse a tua vontade. Ele falava-te de outras coisas e não sabes distinguir entre essas e as que Ele não te dava. Umas coisas tornam-te incrédulo nas outras também. Deus não fazia a tuas coisas e ao mesmo tempo revelou-te outras. E, como vais pensar que Deus não estava contigo naquele tempo, irás desprezar ou recusar algumas verdades que te revelou. O teu estado de espírito de então, ficou associado e chegado às verdades em que podias confiar e não confiaste porque assumiste que Deus não estava contigo apenas porque não conseguiste aquilo que querias para ti. Resumindo: porque Deus não estava contigo em algumas coisas, acharás que não estava em nenhuma. Isso faz-te ser inconstante. “Se não o crerdes, certamente não haveis de permanecer firmes”, Is.7:9 

C_SUJA: E como posso resolver isso?

C_LIMPA: Precisas separar e catalogar as coisas e ver como Deus ainda estava tentando bater em tua porta por causa de certos aspectos – mesmo rejeitando outros em silêncio. Também precisas assumir o teu erro como erro e reconhecer que as tuas ambições não vinham totalmente de Deus – só em parte e na ignorância, como Paulo fazia antes de se haver convertido. De seguida, será necessário assumir que, as coisas que Deus te mostrava (se te mostrou mesmo), eram dignas de confiança – mesmo aquelas que irão sofrer ligeiras mutações e adaptações no futuro, por te ter mostrado apenas parcialmente.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: O problema maior que nos pode perturbar, é tornarmo-nos incoerentes e imprecisos. E isso vai acontecendo cada vez mais, pois, as pessoas oram, “Senhor, queremos fazer a tua vontade” quando querem dizer, “Senhor, queremos que faças a nossa vontade com o teu poder porque Tu nos amas”.

C_SUJA: E isso está certo? Pedirmos a Deus que nos faça coisas porque nos ama?

C_LIMPA: Claro que não está! Não se faz chantagem pelo o amor! E nem Deus aceita chantagens. Mas, as pessoas que têm a ousadia ignorante de orar assim, nem se dão conta que a vontade de Deus nem é a deles e que a deles não pode ser a de Deus. Assumem que aquilo que eles querem é o que Deus vai querer também – o que já o quer! Daí orarem “Senhor, faz a tua vontade” enquanto estão a pensar nas coisas deles, é só um passinho muito curto.

C_SUJA: Tem lógica isso que me estás falando.

C_LIMPA: E, por conta disso, acabam por se tornar inconstantes nas coisas de Deus mais tarde – uma coisa leva à outra.

C_SUJA: Porquê?

C_LIMPA: Porque, quando orarem pelas coisas de Deus, vão achar que Deus não lhes vai dar essas também porque não lhes dava as que queriam anteriormente – não vão ter a sua fé firme. E, também, vai faltar o desejo de concretizarem aquelas coisas que são de Deus porque ainda desejam as suas, aquelas que Deus recusa dar-lhes do jeito que desejam. Se não orarem pelas coisas deles, não vão ter assunto para orarem. Tal pessoa fica sentindo que está “desamparada” (e não sentirá que só o assunto é que está desamparado) e torna-se desapontada em suas expectativas e acaba concluindo e assumindo que Deus não está com ele em nenhuma área de sua vida. Faz como tu, querendo desistir de tudo! É vergonhoso alguém querer desistir assim! Mas, Deus não estava com ele naquilo que não era a Sua vontade – somente nisso. E ele generaliza porque misturava tudo antes. Agora, vai levar seu tempo até ele ver a diferença e chegar ao ponto onde tudo quanto pede a Deus lhe possa ser dado. Não é fácil chegar a esse ponto, mas, é necessário. Que ninguém se atreva a ficar sem atingir já essa normalidade da eternidade.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Generalizam sempre e destroem a casa toda porque um cômodo precisa de obras. Negligenciam a limpeza do resto da casa porque um quarto está sujo. É por isso que Tiago fala das pessoas inconstantes assim: “Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os corações”, Tiago 4:8. Ele não diz para desistirem e nem para tentarem só ser constantes e sem espírito vacilante, mas antes que se limpem – bastará limparem os corações e não desistir do resto, isto é, não abandonar o que está certo por conta do que não funcionou!

C_SUJA: E podemos confiar em todas as coisas que Deus nos mostra enquanto estamos nessas incoerências de dizer que queremos as coisas de Deus quando pedimos as nossas?

C_LIMPA: Claro que sim! Desde que sejam as coisas de Deus, não é verdade?

C_SUJA: Como assim, que sejam as coisas de Deus?

C_LIMPA: É difícil explicar uma coisa simples a alguém como tu que perdeu tanto tempo lutando e vacilando entre limpar-se ou não se limpar!

C_SUJA: Porque é difícil?

C_LIMPA: Porque ficamos agoniados só de verificar que já poderias saber todas estas coisas! Pareço alguém dando leite a um adulto e, ainda, usando uma mamadeira para consegui-lo! “Porque, devendo já ser mestres em razão do tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus e vos haveis feito tais que precisais de leite. Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança; Mas, o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal”, Heb 5:12-14

C_SUJA: Por favor, pára de me ofender e explica-me.

C_LIMPA: Por isso é que alguém que se atrasa nas coisas de Deus, pois está sempre com pressa e impaciente. Atrasado será sempre tentado a ser apressado e inconstante. E, a Bíblia diz: “Aquele que crê, não se apresse!” Is.28:16

C_SUJA: Por favor, continua.

C_LIMPA: As pessoas inconstantes são descrentes e os descrentes tornam-se inconstantes. Que queres que te diga mais? Nem tem muito mais para explicar! Está muito claro!

C_SUJA: Se tudo isso que me falaste for verdade, essa afirmação tem toda a lógica. E que mais acontece com quem não se limpa?

C_LIMPA: As pessoas que não se limpam, caem facilmente em laços e em todo o tipo de tentações que nem deveriam sequer existir em suas vidas. Eles vacilam quando deveriam estar firmes e estão firmes quando devem ceder abandonando a teimosia; só vêem o que querem ver, só entendem aquilo que querem entender (ou do jeito que preferem entender); não são humildes para aceitarem as coisas dos outros por causa do medo que têm de perder um argumento ou uma segurança, algo que lhes tira a as “certezas”; confundem as seguranças, isto é, se estiverem seguros na mentira sentem-se seguros no resto. Acham que, sentirem-se seguros em qualquer coisa, é segurança. Colecionam “seguranças” e cada uma tem um valor enorme – tentam convencer-se a qualquer preço e cada bocado de segurança falsa é segurado com unhas e dentes. E estão assim porque a sua criação misturou-se com a vida que receberam como salário do pecado. Sermos inconstantes, também é uma forma de salário, de recompensa e de soldo do pecado. Nem são água doce e nem são água salgada – é uma confusão, uma mistura.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: Os que vacilam, também são pessoas que desistem de tudo facilmente. Uma pessoa inconstante e vacilante vai sempre dum extremo ao outro: se não for do jeito dele, não será de jeito nenhum. Ele joga tudo para o alto, desiste de tudo e, se não for do seu jeito, não tem ânimo para fazer de outra maneira. Quem desiste, revela o quanto se ama a ele próprio.

C_SUJA: E o que isso tem a ver com a eternidade?

C_LIMPA: Não enxergas? Todas essas coisas são o oposto de tudo aquilo que a eternidade é. Desistem e, quem desiste, nem permanece ou não quer permanecer e a eternidade exige que sejamos de outro modo, de um modo oposto, isto é, ao invés de desistir, deveremos insistir – a eternidade permanece, é coisa que permanece para sempre; esse é o contraste. As pessoas tornam-se inconstantes por várias razões: ou são constantes de fundo falso e de aparência “firme”; ou nem aparência de firmeza têm. Mas, a eternidade é constante e firme por dentro e por fora. E, se fores analisar bem todos os comportamentos numa pessoa separada de Deus, verás que são o oposto da eternidade. Verificarás, também, que todo pecador ou tem ou quer ter a idéia de que está sempre certo – ele só quer a idéia e não a certeza real porque é incrédulo e tem receio de ser contestado. Se não pensar que está certo, ganha uma insegurança – e isso é tudo o que ele não quer ver, nem longe e nem perto! E, a pessoa em pecado, só deseja poder sentir-se bem e nada mais. É como um medroso: só se sente bem temendo! O preocupado, também, sente-se seguro preocupando-se; o mentiroso, mentindo. É isso que a Bíblia diz: “Pois não dormem, se não fizerem o mal”, Prov.4:16.

C_SUJA: Tem lógica.

C_LIMPA: Então, nem podemos esquecer que a vida que Jesus nos dá é e será eterna. Temos de nos ir habituando à idéia e, ao mesmo tempo, anular e extinguir toda a lembrança do pecado de forma real porque isso nos faz sermos o oposto da eternidade.

C_SUJA: Como se faz isso?

C_LIMPA: Através do sangue de Cristo, que nos limpa verdadeiramente. Ninguém que seja limpo por Cristo precisará esforçar-se para sentir-se limpo – não precisa convencer-se como o faria antes, através da segurança falsa. Muitos crentes convencem-se que estão limpos quando não estão.

C_SUJA: E seremos mesmo limpos?

C_LIMPA: Seremos mais brancos que a neve, Deus falou.

C_SUJA: Parece ser coisa boa.

C_LIMPA: É coisa boa. Mas, nem assim resolves limpar-te, pois não?

C_SUJA: Eu hei-de me limpar ainda.

C_LIMPA: É mais um sinal da inconstância.

C_SUJA: Qual?

C_LIMPA: Adiar as coisas. Quando adias, não levas nada a sério. E, se não levas a sério, és incrédulo e incrédulo não acredita que será condenado. Descrente é assim mesmo: não crê que hoje pode ser a sua vez de morrer; ou, então, não crê que será condenado se morrer. É tudo  uma falta de “eternidade” dentro do pecador e, também, uma falta de realidade. Adiar o que se deve fazer já, também é, de certa forma, o contrário da eternidade. E quem adia o que deve fazer já, vai querer adiantar o que não deve adiantar.

C_SUJA: E todas estas coisas acontecem comigo apenas porque não me limpei ainda?

C_LIMPA: Quais coisas?

C_SUJA: A falta de fé, a falta de eternidade dentro de mim e as outras coisas mais que me vens falando este tempo todo.

C_LIMPA: Sim, seguramente. Olha só o que vens perdendo apenas porque não te limpas logo! Estás adiando algo que já deveria ter sido feito ou que deverias fazer agora.

C_SUJA: Então, sou um monte de lixo apenas porque não me limpo de outras coisas? A teu ver sou um monte, uma montanha de detritos e de conseqüências sujas.

C_LIMPA: As palavras são tuas. Nunca disse que eras um monte de lixo – apenas disse e reafirmo que, se não te limpas, amontoarás pecados atrás de pecados e culparás Deus de todos os males, pelos quais, és o único responsável. Acusares-te sem te limpares, é desculpa de quem não se quer limpar – daqueles que ainda acham que ainda é possível outra saída por onde escaparem e por onde evitar limparem-se! E, se achas que és um monte de lixo com o intuito de desistires de te limpar porque imaginas que existe uma enorme tarefa diante de ti, tudo isso é conseqüência de não te limpares também.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: A tarefa de te limpares nem é enorme – é de enorme importância, mas, não é uma coisa tão complicada assim. Na verdade, preferes passar por todos estes problemas muito maiores do que aqueles que passarias limpando-te – se te limpasses, seria apenas uma pequena humilhação. Mas, preferes e escolhes ter problemas maiores e impossíveis de resolver.

C_SUJA: Mas, eu não quero problemas!

C_LIMPA: Sei disso. Mas, também não te queres limpar! Tu não queres problemas e, também, não te queres limpar. Olha para a vida de Daniel. Ele disse que nem Deus achou pecado nele. Deus vê tudo – até aquilo que ninguém vê! E, mesmo assim, Daniel disse que estava inocente diante de Deus.

C_SUJA: Mas, Daniel não tinha problemas? Ser jogado na cova dos leões não era problema para ele?

C_LIMPA: Aquele problema de Daniel e muitos outros também, eram problemas, sim. Mas, não eram problemas dele, para ser ele a resolvê-los. O único trabalho dele era estar limpo e inocente diante de Deus. Da boca dos leões, Deus cuidou.




 

 

DIÁLOGO 17

A IGNORÂNCIA

C_LIMPA: A ignorância é o oposto do Novo Testamento. Cristo anula a ignorância.

C_SUJA: Agora é que eu não entendi nada!

C_LIMPA: O que não entendeste?

C_SUJA: Como é que o Novo Testamento é o contrário da ignorância?

C_LIMPA: A ignorância, agora, também é um pecado.

C_SUJA: Como assim? E como é que o Novo Testamento é o oposto da ignorância se é parte da Bíblia? Não entendi nada mesmo!

C_LIMPA: Sabes o que é um Testamento?

C_SUJA: Sei. É quando alguém morre e deixa uma coisa escrita para quem fica para trás. Estás fugindo à minha pergunta?

C_LIMPA: E Jesus morreu, nós ficamos para trás e o Novo Testamento está escrito e é um complemento importante do Velho Testamento.

C_SUJA: Sim, mas, porque razão é o contrário da ignorância? E porque é um “Novo” Testamento? Ainda há o outro?

C_LIMPA: Sim, do mesmo Pai, a mesma lei. Só mudou o jeito como funcionam – como se estabelecem. O objetivo deles é o mesmo ainda – só mudou a maneira de se concretizar. Isto é, o tesouro é o mesmo, as maneiras de herdar e receber é que mudaram. Por isso virou “Novo” Testamento. Jesus morreu por nós e deixou-nos uma nova maneira de cumprirmos. Na verdade, é de podermos cumprir.

C_SUJA: O que mudou então?

C_LIMPA: Tudo e nada.

C_SUJA: Como tudo e nada?

C_LIMPA: Agora é possível cumprir e ninguém mais tem desculpa para não cumprir. Tudo mudou. Mas, a lei do amor e do mandamento de amar ainda é o mesmo – nada mudou. Só mudou o jeito de cumprirmos.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: “Porquanto o que era impossível à lei (ao Antigo Testamento), visto que se achava fraca pela carne, Deus enviando o seu próprio Filho e por causa do pecado, na carne, condenou o pecado para que a justa exigência da lei se cumprisse…”, Rom 8:3-4. Isto é, que “viéssemos a cumprir” o que a Lei de Deus exige. A lei de Deus agora pode ser cumprida através de nós. Jesus disse: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas, cumprir”, Mat 5:17. E, por este versículo deduzimos que foi o pecado que foi condenado e não Cristo. Lemos: “…condenou o pecado…”

C_SUJA: Então, agora é possível cumprirmos?

C_LIMPA: Sim, agora é fácil cumprirmos.

C_SUJA: Porquê?

C_LIMPA: Porque, as leis pressionavam o homem pelo lado de fora. O Espírito Santo (Jesus) pressiona-nos pelo lado de dentro ainda depois de nos transformar pela raiz. Tudo se faz novo a partir do lado de dentro e a maneira de cumprirmos mudou também.

C_SUJA: Parece simples de entender.

C_LIMPA: E é simples de entender. Mas, tudo se fez diferente. A partir daí, Jesus mesmo nos ensina tudo. Acabou a ignorância! Terminou a desculpa!

C_SUJA: Ah! É simples de entender, mas, a minha cabeça deu um nó. Entendo, mas, ao mesmo tempo não entendo. Parece que consigo provar uma coisa que não estou conseguindo ingerir. O gosto é novo e não estou conseguindo engolir direito. Tenho medo de estar sendo enganado, de sair desapontado uma vez mais.

C_LIMPA: Sei. Isso é porque estas coisas entendem-se fazendo e praticando através de Deus. Existem duas formas de errarmos nos caminhos que Deus nos dá: ou não andamos no caminho quando Ele nos dá (porque achamos que a responsabilidade é d’Ele e escondemos os nossos talentos); ou queremos andar no caminho certo sem Deus; se fosse desse jeito, quereríamos andar, sob nossas condições. Mas, a vida com Deus é uma vida e não uma teoria. E, sem estares limpo, nem irás conseguir. Por essa razão não entendes aquilo que entendes. Uma das conseqüências duma consciência suja é a ignorância. “Porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem e nem entendem”, Mat 13:13. Jesus disse que iremos entender assim que praticarmos juntamente com Ele, isto é, através d’Ele. “Mas, a vós é dado que entendam os mistérios de Deus”, disse Jesus. Só acho muito interessante que coisas tão simples sejam mistérios para as pessoas!

C_SUJA: Então, precisamos conseguir praticar do jeito de Deus para podermos entender?

C_LIMPA: Sim, precisamos praticar para isso acontecer. Na verdade, precisamos praticar do jeito do Novo Testamento. São duas coisas diferentes – não é só praticar. Também tem de ser “aqui na terra como é feito no céu” – do mesmo jeito, disse Jesus.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Jesus disse: “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber…”, João 7:17. Se não fizer, não vai ficar sabendo – nem estudando muito.

C_SUJA: Porque razão tudo é complicado para mim? Eu gostaria muito de entender tudo dessa maneira que tu entendes. Mas, sinto que não consigo!

C_LIMPA: Não é complicado sequer – tu é que recusas que seja feito do jeito do céu, do Novo Jeito de Deus. Já reparaste que estou usando palavras simples, daquelas que até uma criança entende? Se for complicado, é apenas porque recusas entender e também porque não te limpas como deve ser. E recusas porque estas coisas cumprem-se mesmo e tens medo que assim seja – não queres que seja assim tão inevitável, pois preferirias que continuassem sendo coisas bonitas que ouves para dormires. Preferes que nunca se cumpram. O que Jesus quer alcançar dentro de ti, será mesmo feito e nem poderás evitar que isso aconteça se te entregares só a Ele! Por isso não queres entender – dá-te medo! Na verdade, tu entendes aquilo que não queres entender, aquilo que preferirias nunca entender. Gostarias de não estar entendendo porque não queres mudar. Sabes que Jesus muda-nos, transforma.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: O pecador não é ignorante – ele faz-se ignorante, ou torna-se ignorante! É preciso sermos muito inteligentes para vivermos uma vida de pecado da maneira que os pecadores a vivem. Todo o pecador é um profissional, um especialista natural na sua área. Mas, não conhece a verdade pelo lado de dentro – a vida que leva, não lhe permite olhar e ver a verdade dentro dele.

C_SUJA: E porque me acho um ignorante nas coisas que me vens falando?

C_LIMPA: As pessoas longe de Deus só são ignorantes nas coisas de Deus. “Sábios deste mundo”, mas, ignorantes numa coisa só: nas coisas que os podem salvar.

C_SUJA: E como é que devemos fazer para sermos desse jeito, de vivermos para entendermos?

C_LIMPA: Fazes sempre a mesma pergunta!

C_SUJA: Ah, já sei o que me vais responder! Tenho de ir entregar tudo o que roubei, pedir perdão às pessoas contra quem falei, pedir perdão a Deus e tudo mais!

C_LIMPA: Vês como sabes? Nem és tão ignorante assim! Recusas fazer, adias as coisas que se fazem e praticam. E tu vens te desculpando que não entendes, usas a desculpa para adiares ou para não fazeres. Elas são entendidas desse jeito, praticando-as e não estudando-as.

C_SUJA: E tu não estudas a Bíblia? Só praticas, só “entendes”?

C_LIMPA: Estudo-a muito, claro! Mas, com intenção de saber como, quando e porque devo praticá-la. Não vou lê-la para continuar do mesmo modo e do meu jeito, no meu velho testamento.

C_SUJA: Entendo. Uns lêem para aprender, outros para aprenderem a viver.

C_LIMPA: Sabes, os pecadores também têm um jeito antigo, um velho testamento deles.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Eles até lêem a Bíblia, mas, a sua vida não muda – só mudam os argumentos! Nota-se de longe que é a mesma raposa que aprendeu a falar de outro jeito! E, embora existam muitas razões para isso acontecer, o normal é estar-se separado de Cristo por algum pecado.

C_SUJA: Agora sou raposa?

C_LIMPA: Tu é que sabes! Jesus chamou Herodes de “raposa”! (Luc.13:32)

C_SUJA: Mas, eu não acho que seja raposa.

C_LIMPA: Sim, mas, a raposa é cheia de manhas, de esquemas e de engenharia, sempre buscando um jeito alternativo. Os pecadores fazem as coisas do jeito deles e Deus quer ensinar-lhes a fazerem do jeito de Deus. O acesso ao jeito d’Ele, é uma limpeza completa. Mesmo que a limpeza só dê acesso, mesmo que não seja o caminho, ainda assim é a porta por onde tudo começa – ali tudo começa a fazer sentido. A experiência própria do jeito d’Ele, será a obediência depois disso. E a obediência será difícil depois da limpeza porque as pessoas habituaram-se ao fato de que as coisas de Deus não funcionavam com eles. Mas, quando não dão certo, tem uma razão para não darem certo. Nem é normal as coisas de Deus darem errado.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: No entanto, os pecadores só entendem se não fizerem as coisas ou se as fizerem do jeito deles e Deus quer ensinar-lhes a fazerem do jeito de Deus. Foi isso que Jesus mandou os discípulos fazerem.

C_SUJA: O que Jesus mandou fazer?

C_LIMPA: Ele mandou os discípulos ensinarem como fazer, ensinarem como conseguir, como guardar tudo aquilo que Deus nos deixou em testamento. Ele disse assim: “Ide por todo o mundo, (...) fazei discípulos de todas as nações (...) ensinado-as a guardar tudo que vos mandei”.

C_SUJA: O que isso quer dizer?

C_LIMPA: Que devemos ir apenas para ensinar às pessoas (se nós próprios já aprendemos) como é que se faz para poderem conseguir praticar e guardar tudo aquilo que Jesus ensinou. Não devemos ir só ensinar as coisas, mas, ensinar como fazer, isto é, “ensinando-as a guardar”. Agora, se ensinarmos tanto o jeito como as coisas de Deus, se as pessoas se tornarem obedientes e responsáveis ao modo como as coisas funcionam no céu, o jugo tornar-se-á leve e o fardo muito suave.

C_SUJA: Mas, aprender como fazer não é o mesmo que fazer?

C_LIMPA: Quando não existem coisas entre nós e Deus, tudo deve ser feito normalmente porque nada impede de sermos normais. Se as pessoas não fossem complicadas, tudo funcionaria dessa maneira simples e seria fazer como as crianças fariam qualquer coisa nova que aprenderam, através das influências de Deus dentro delas que até lhes passam despercebidas (caso estejam limpas). As crianças assimilam o jeito, fazem o que conseguem com muita prontidão e imaginam o resto que lhes falta aprenderem. Tudo o que ainda lhes falta, complementam porque assimilaram, também, o jeito de aprender e de fazer. Se não formos como crianças, seremos jumentos teimosos.

C_SUJA: Mas, eu não gosto de ser acriançado.

C_LIMPA: Ser simples como criança, não é sermos acriançados ou bobos. As crianças não são complicadas. Ninguém te disse para seres criança, mas, sim para seres como elas. Isto é, sendo aquilo que és e pronto! E, se não tiveres nada te separando de Deus e obtiveres a Sua plenitude de vida e ainda assim conseguires ser e viver aquilo que és, será muito fácil vermos o Novo Testamento em ti. “Irmãos, não sejais meninos no entendimento; na malícia, contudo, sede criancinhas, mas, adultos no entendimento”, 1 Cor.14:20.

C_SUJA: Ver o Novo Testamento em mim? Continuo sem entender!

C_LIMPA: Deus disse assim: “Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um Testamento Novo (…) não conforme o pacto antigo (…). Mas, este é o pacto que farei (…) depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniqüidade e não me lembrarei mais dos seus pecados”, Jer.31:31-34.

C_SUJA: O que isso quer dizer?

C_LIMPA: Mas, não consegues ver? Jesus ensinará até o mais pequenino! Por isso é que o Novo Testamento é o oposto da ignorância!

C_SUJA: Acho que entendi agora. Deus nos ensinará se estivermos em comunhão com Ele.

C_LIMPA: Isso é o Novo Testamento. Aos que se limparam e foram cheios de Deus, João diz assim: “Ora, vós tendes a unção da parte do Santo e todos tendes conhecimento (…).  E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas e é verdadeira e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei”, 1João 2:27.

C_SUJA: E quando os pastores nos ensinam?

C_LIMPA: Mas, sempre que os pastores vivem perto de Deus, não invalida que Deus te ensine pessoalmente quando eles te falam também. Só que, mesmo quando um pastor que vive perto de Deus te explica, Deus, ainda assim, te ensina pelo lado de dentro.

C_SUJA: Entendo. Os ignorantes também gostam de ensinar os outros.

C_LIMPA: É verdade. Mas, os sábios fazem de tudo para que todos os que aprendem, aprendam a ser ensinados por Deus pessoalmente. Pastor que não te leva a Cristo, é um lobo, é um mercenário – mesmo que não saiba que é e mesmo que recuse admiti-lo!




 

 

DIÁLOGO 18

A AMARGURA

C_SUJA: Existem dias que sinto uma raiva sem razão. Fico só com vontade de bater em quem fala comigo.

C_LIMPA: Assim que te limpares, isso termina.

C_SUJA: Termina como?

C_LIMPA: Deixa explicar-te – novamente!

C_SUJA: Tá. Mas, não me lembro de me teres falado disso.

C_LIMPA: Falei em te limpares.

C_SUJA: De novo com essa conversa? Um dia destes canso-me de ti para sempre e não te ouvirei mais. Irei para bem longe de todos e nunca mais me dirás que preciso limpar-me!

C_LIMPA: Espero que não faças isso. Mas, quem sabe Deus parte-te as pernas enquanto tentas fugir levado pela amargura.

C_SUJA: Ah! Deixa-te de me desejar mal! Estou cansado de te ouvir falar que preciso limpar-me!

C_LIMPA: Tá bom.

C_SUJA: E como é que a raiva termina se me limpar?

C_LIMPA: Nem todo o tipo de raiva existe porque não te limpaste. Alguns tipos de raiva são aquilo que tens de limpar.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Existe a raiva que te suja e existe a raiva porque te sujaste. Quando estás longe de Deus, teu coração fica amargurado e reage mal contra tudo.

C_SUJA: Qual a diferença entre uma coisa e outra?

C_LIMPA: Uma, a que te suja, separa-te de Deus. Desse pecado precisas limpar-te e arranjar-te conscientemente. Precisas, depois, fazer o oposto daquilo que confessaste a Deus e às pessoas.

C_SUJA: E a outra?

C_LIMPA: Bem, deixa explicar-te desde o início. Estou novamente a ensinar e a explicar-te uma coisa que saberias distinguir facilmente andando perto de Deus.

C_SUJA: Está bom. Vou esforçar-me para entender-te.

C_LIMPA: Já viste uma folha seca no chão?

C_SUJA: Sim, no outono.

C_LIMPA: Sabes para que lado a folha vai quando está solta no chão e sendo empurrada?

C_SUJA: Vai depender de que lado o vento vem, não é!

C_LIMPA: É isso mesmo. Uma pessoa separada de Deus é como uma folha seca à mercê dos ventos. Se o vento vier de um lado, é empurrada para onde o vento sopra. Mas, se o vento vier soprando do outro lado, vai em direção oposta, não é verdade?

C_SUJA: Sim, suponho que sim.

C_LIMPA: Então, se uma pessoa está obcecada com uma coisa e ainda por cima está separada de Deus, o diabo pode soprar-te amargura e vais para o lado que ele sopra ficando amargo sem saber muito bem porquê. Ou, se ele te molestar com pensamentos sujos, também estarás à mercê dele, até ele se cansar de brincar contigo, até estar farto da hora de recreio. E, quando ele se cansar, ainda estarás jogado no chão como uma folha seca à espera do próximo vento, à espera do próximo recreio. E a amargura é um desses ventos que te levam para onde muitas vezes não queres ir.

C_SUJA: Se eu fosse folha já estaria chorando por mim mesmo só de te ouvir!

C_LIMPA: E alguém separado de Deus é o quê?

C_SUJA: Porque dizes sempre que estou separado de Deus?

C_LIMPA: Porque disseste que nunca te limpaste. Uma coisa é sinônima da outra.

C_SUJA: Mas, eu tentei várias vezes e ainda ontem fui pedir desculpa à minha mãe por haver-lhe respondido de maneira grossa. Só não consegui orar diante dela, com ela ali olhando para mim. Se tivesse orado ela iria achar que enlouqueci de vez! Mas, uma coisa forte veio no meu coração para orar ali, diante dela. Mas, não consegui. Nem achei que fosse importante.

C_LIMPA: Tá certo. Quem sabe é essa a razão porque estás amargurado, pois nem foste obediente. Mas, era importante. Seria melhor ela ficar a pensar que enlouqueceste quando fizeste a coisa certa. Eu acho que ela nem iria pensar nada disso que imaginaste. Esse problema só existe na tua cabeça.

C_SUJA: Será?

C_LIMPA: Claro! Pior será se for Deus a achar que enlouquecemos porque não falamos com Ele abertamente diante das pessoas, Luc.9:26. E, se estamos falando com Ele, que nos importa que alguém esteja olhando fixamente para nós?

C_SUJA: Ah! Tu beijas a tua esposa em publico, quando todos estão olhando?

C_LIMPA: Se lhe fosse pedir perdão por alguma coisa, talvez.

C_SUJA: Então, quando me veio aquele pensamento de orar à frente dela, fiquei com a mesma sensação de estar a expor-me desnecessariamente e fiquei indignado. E ainda hoje estou indignado.

C_LIMPA: Quem dera estivesses pior! Parece que nem resolveu nada!

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Resististe ao Espírito Santo! Ele mesmo estava te dando uma saída para o caso e nem fizeste caso d’Ele no momento certo!

C_SUJA: É? É por isso que estou assim?

C_LIMPA: Pode ser por causa disso, sim. Se não honras a tua mãe, teu pai, sogra ou sogro, avô ou avó, os teus dias aqui na terra serão curtos e ruins. Agora, imagina o que te acontecerá quando não honrares o Espírito Santo! Mas, pedindo perdão à tua mãe, podes ter prolongado os teus dias aqui na terra.

C_SUJA: A Bíblia diz isso?

C_LIMPA: Sim diz isso. “Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem aqui na terra”.

C_SUJA: Então eu vou viver pouco tempo! Não gostava de meu pai! Ele bebia muito e espancava minha mãe até falecer!

C_LIMPA: Entendo. Só te curarás da amargura e do ressentimento assim que te limpares. Mas, nem posso mais falar nisso, não é? Tu ficas irritado e amargurado sempre que repito isso!

C_SUJA: Ah! Não vês que estou num dia mau? Por favor, poupa-me! Pelo menos hoje!

C_LIMPA: Eu estou bem disposto e o sol está lindo! Que se passa contigo?

C_SUJA: Como é que o sol está lindo? Não vês as nuvens?

C_LIMPA: Vejo. Mas, também vejo o sol por trás das nuvens. Ele é lindo e as nuvens não mudam o estado do sol.

C_SUJA: Tens mais alguma coisa para me dizer? Alguma coisa que eu possa entender?

C_LIMPA: Os mal humorados nunca levam em conta o estado de espírito dos outros. Aliás, não levam nada em conta! Só olham ara as suas “necessidades” de ira – as suas necessidades de morrer!

C_SUJA: Por favor, não desgastes ainda mais o resto da paciência que sobra em mim!

C_LIMPA: Tudo bem. Se não queres falar comigo, vou-me embora. Quem sabe encontro alguém com boa disposição. Alguém que se queira limpar com Deus para mudar de humor!

C_SUJA: Por favor, não faças isso!

C_LIMPA: Porque não?

C_SUJA: Explica-me então como é que devo fazer para ficar bem disposto, menos mal humorado.

C_LIMPA: Já ouviste falar de João Batista?

C_SUJA: Sim, já.

C_LIMPA: O que ele veio fazer?

C_SUJA: Ele veio preparar antecipadamente o caminho de Jesus, não foi?

C_LIMPA: Foi. Veio ajeitar os corações dos homens, torná-los bem dispostos e prepará-los para quando Cristo chegasse. 

C_SUJA: Como?

C_LIMPA: Olha o que diz a Bíblia sobre João Batista, quatrocentos anos antes. “Eis que eu vos enviarei o profeta, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; e ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha e fira a terra com maldição”, Mal. 4:5-6.

C_SUJA: E preparar o coração deles era fazer isso? Fazer os filhos entenderem-se com os pais e os pais com os filhos?

C_LIMPA: Sim, também era. No entanto, existem outros pecados que nos privam dum bom espírito também. Quando as pessoas se arrependiam, os seus corações mudavam.

C_SUJA: Mudavam como?

C_LIMPA: Ficavam “bem-dispostos” e em paz.

C_SUJA: E se confessarmos os nossos pecados todos ficaremos bem dispostos?

C_LIMPA: Sim, claro. Sabemos que aquilo que João veio fazer, foi colocar as pessoas face a face com seus pecados, “a fim de fazer um povo preparado e bem disposto para o Senhor”, Luc.1:16,17. E nem os fariseus se ofendiam com ele quando lhes chamava “raça de víboras”, como se ele não quisesse nada com eles.

C_SUJA: E porque razão os Fariseus não lhe viravam as costas quando lhes falava assim?

C_LIMPA: Porque viram que aquilo que ele dizia era verdade e não era ofensivo. Ele não tinha intenção de ofender, mas, de falar a verdade.

C_SUJA: E eles arrependeram-se?

C_LIMPA: Tenho a certeza que muitos ficaram em paz com Deus depois de aceitarem que era mesmo verdade aquilo que João lhes dizia sobre eles.

C_SUJA: E eu tenho de fazer o mesmo para ficar bem humorado? Depois disso ficarei bem disposto?

C_LIMPA: Creio que sim. Mas, nem todo o tipo de mau humor cura-se assim. Às vezes, o mau humor não é conseqüência, mas, é a causa.

C_SUJA: E se for a causa do problema?

C_LIMPA: Tens de voltar atrás e pedir perdão a toda gente. Mas, se for conseqüência, também necessitas voltar atrás e retratar-te diante das pessoas todas.

C_SUJA: E se voltar atrás e tornar a sentir que devo orar à frente dessas pessoas como me aconteceu com minha mãe?

C_LIMPA: Oras à frente delas! E mesmo quando não sintas o mesmo impulso, oras. Tens de mostrar a Deus que desta vez irás fazer a coisa certa da maneira certa de qualquer jeito – até mesmo se não te sentires impulsionado!

C_SUJA: Eu acho que irei ficar mal-disposto a vida toda!

C_LIMPA: Tu é que sabes. Não tiveste vergonha de gritar com as pessoas e de ficar mal humorado à frente delas, não é?

C_SUJA: Não. Nem pensei nisso sequer.

C_LIMPA: Se nem pensaste nisso, porque “pensas” em orar diante delas? Ora e pronto! Porque razão isso é um drama para ti? Ora e nem penses! Tem de ser olho por olho e dente por dente e precisas fazer por Deus aquilo que fazias para o pecado – do mesmo jeito, sem pensar.

C_SUJA: Mas, não sei se irei conseguir. Vou ficar com muita vergonha!

C_LIMPA: Vergonha de quê? De orar, de Deus ou de pedir desculpa?

C_SUJA: De tudo junto! Serão muitas vergonhas juntas e acumuladas!

C_LIMPA: Como pensas que entrarás no céu assim? Se, nem com mau humor entrarás, imagina se entrarás tendo vergonha de fazer a coisa certa! Jesus disse que, quem se envergonhasse d’Ele diante dum povo perverso e sem vergonha (por estarem a fazer a coisa certa), Ele se envergonharia dessa pessoa diante dos anjos também – diante daqueles que amam as coisas certas. Que é isso, amigo! Vergonha da coisa certa diante de gente ruim?  Deus nunca te perdoará isso! Precisas abandonar esse pecado logo, enquanto é dia e enquanto tens tempo para isso!

C_SUJA: E não tem outro jeito mesmo? Serei perdoado somente assim?

C_LIMPA: É, não tens outra saída. Fizeste mal, agora precisas fazer bem. Precisas fazer da maneira certa.

C_SUJA: É muito difícil para mim.

C_LIMPA: Eu acho isso muito fácil e simples. Chegas diante da pessoa, pedes perdão e pronto! Que existe de tão difícil nisso? Explicas que te estás arranjando com Deus (para não acharem que estás morrendo e despedindo-te pedindo perdão de tudo), oras a Deus e aceitas o perdão das pessoas e de Deus e pronto! Segues o teu caminho e nem olhas para trás. Que tem isso de difícil?

C_SUJA: E depois serei uma pessoa bem disposta?

C_LIMPA: Não deves ir pedir perdão para seres bem disposto. Mas, serás sim. Teu mau humor irá morrer depois disso.

C_SUJA: Mas, como é que isso funciona?

C_LIMPA: A causa de amargura em nós, é andarmos separados de Deus. Mas, como nem acreditamos mais em nada (muito menos em Deus), ficamos com a nossa amargura e com nosso coração mandando em nós como ditador, dando palpites contra as pessoas porque estamos amargurados de raiz. Nós não nos zangamos porque alguém nos faz mal – zangamo-nos porque nosso coração é zangão!

C_SUJA: Como é que é?

C_LIMPA: Jesus deu-nos um bom exemplo quando falou de irmos a segunda milha com alguém que nos obriga a andar uma só. Se vais até ao fim da segunda milha, nem tens nada de errado e a pessoa que te obrigou a andar uma milha fica sem jeito porque achava que uma milha já seria muito para ti. Se o teu coração estiver certo, se for do tipo certo, nem notarás que estás caminhando a segunda milha sequer! Mas, se não tens o coração certo, podes andar a segunda milha na mesma. Só que, se andares, aproveita, também, para mudares o teu coração ao mesmo tempo. Já que vais andar a segunda milha mesmo, então faz como deve ser feito! Aproveita e não faças as coisas pelo meio. Aproveita e muda o teu coração também!

C_SUJA: Entendo. Então, o meu coração é que é mal disposto de natureza? Não são as pessoas que me fazem mal?

C_LIMPA: É isso mesmo. Não são elas que te fazem mal humorado. És assim devido ao coração que ganhaste estando separado de Deus. “O teu caminho e as tuas obras trouxeram-te essas coisas; essa é a tua iniqüidade e amargosa é, chegando até ao coração!” Jer.4:18.

C_SUJA: Mas, é difícil de acreditar que isso funcione assim!        

C_LIMPA: Mas, é assim, podes e deves acreditar nisso. Porque razão, tu achas, João disse que, se amas a Deus amarás a teu próximo também?

C_SUJA: Não sei! Tu é que sabes tudo da Bíblia! Eu não posso saber, não é verdade? Sou separado de Deus, sou amargurado, as pessoas podem-me fazer mal todos os dias e eu, ainda assim, terei de ir pedir-lhes perdão para dormir descansado! Achas que isso entra na minha cabeça? Porque razão estás sempre implicando comigo? Quando é que me vais deixar em paz?

C_LIMPA: É difícil olhares para isto usando os pontos de vista da amargura que te mente continuamente. E não estás fazendo aquilo que os fariseus fizeram quando João Batista lhes falou duramente. Se visses as coisas do ponto de vista da verdade, terias outra opinião e, quem sabe, outra conduta.

C_SUJA: E, para ter essa opinião, preciso limpar-me desse jeito? Os fariseus ficaram bem dispostos depois de se limparem? Ou não ficaram?

C_LIMPA: É o que a Bíblia diz. Limpa-te e deixa de lutar contra ou a favor de teu coração! Faz a coisa certa da maneira certa e pronto! Deus proverá o resto. Não esperes estar bem humorado para te ires limpar! Limpa-te e pronto! Seja de que jeito for, limpa-te logo! O que estás esperando ainda?

C_SUJA: E foi isso que João Batista veio fazer? Tornar as pessoas bem dispostas?

C_LIMPA: Foi.

CS Foi para aceitarem bem as idéias de Cristo?

C_LIMPA: Sim, em parte foi isso mesmo que ele veio fazer.

C_SUJA: Mas, eu não posso aceitar isso assim. Ainda se isso viesse na Bíblia…

C_LIMPA: E vem na Bíblia!

C_SUJA: Onde diz isso?

C_LIMPA: “Converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; irá adiante dele no espírito e no poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de fazer um povo preparado e bem disposto para o Senhor”, Luc.1:16,17.

C_SUJA: É isso que diz lá?

C_LIMPA: É, se a tua Bíblia estiver bem traduzida, dirá isso assim.

C_SUJA: Então, o meu coração é que é amargo?

C_LIMPA: É. Ele está amargo porque é amargo. E para onde fores, levarás esse teu coração contigo.

C_SUJA: E se eu mudar de lugar, de emprego? Não ficarei melhor, não me sentirei melhor?

C_LIMPA: Mudando dum emprego que não gostas e arranjando um outro, teu coração hibernará um tempinho, mas, logo irás ter os mesmos problemas no novo local de trabalho porque o coração que tens, vai contigo. Será necessário mudarmos o coração e não o emprego!

C_SUJA: Porquê?

C_LIMPA: Porque o coração que tens vai contigo para onde quer que vás! E, também lá, sentirás o mau humor e tudo mais que seja conseqüência de estarmos separados de Deus. Mas, cuida-te para que as conseqüências não se tornem hábitos enraizados e profundos – em maneiras de ser!




 

 

DIÁLOGO 19

VIDA ABUNDANTE

C_SUJA: Há uma coisa que não entendo muito bem.

C_LIMPA: É normal. A unção da vida abundante é que nos faz entender muitas coisas e faz, também, entender da maneira certa.

C_SUJA: Existe uma maneira errada de entendermos?

C_LIMPA: Claro que existem muitas maneiras erradas de entendermos as coisas. É como os cálculos que os pilotos fazem para a rota dos aviões: só existe uma rota certa. Existem muitas rotas erradas e apenas uma que é certa. Só existe uma maneira certa de entendermos as coisas de Deus. De todas as rotas que existem, uma só está certa. Por isso muitos erram o caminho. Outros, por sua vez, abandonam tudo – incluindo o caminho certo – porque ficam entrando por todas as rotas erradas e desmotivam-se.

C_SUJA: Mas, porque abandonam tudo?

C_LIMPA: Porque, havendo muitos caminhos errados, assumem que não existe um caminho certo. Falam rápido demais, decidem apressadamente, levados por sua impaciência. Não param para pensar que, em todas as coisas desta vida, existe uma maneira certa e muitas erradas. Se vais de uma cidade para a outra, existe um caminho para lá e muitos que não vão para lá. É estranho que as pessoas desistam apenas do Caminho de Deus porque existem muitos outros caminhos errados ou parecidos, sendo que, para cada caminho certo, existem muitos outros caminhos alternativos que não vão terminar bem, em todos os aspectos da vida. No entanto, só na busca do caminho de Deus é que desesperam – na busca dos outros, não. Não achas isso estranho também?

C_SUJA: Visto desse prisma, parece estranho sim. Existem muitos caminhos errados e um apenas um que está certo. Não devemos desistir do caminho de Deus porque existem muitos caminhos enganadores. Tem lógica.

C_LIMPA: Claro que tem. Existem muitas rotas erradas para um avião e apenas uma rota certa para ele chegar ao seu destino. Se não andarmos de avião apenas porque existem muitas rotas erradas, ninguém chegaria ao seu destino. Seria o mesmo que não acreditarmos em profecias certas apenas porque quase todos os profetas atuais são falsos. O diabo, ou consegue colocar-nos numa rota errada, ou, em alternativa, faz-nos desprezar as profecias e outras coisas mais que sejam de Deus.

C_SUJA: E qual é o caminho certo para Deus?

C_LIMPA: Esse caminho certo é o da Vida Abundante. Ali, ninguém errará o caminho. E se errar, será restabelecido mantendo-se limpo.

C_SUJA: Mas, não te estás contradizendo? O caminho certo não é o da limpeza completa, andar na luz?

C_LIMPA: Para ti essa é a prioridade e, para quem já se limpou, andar na luz é a manutenção dessa vida. Quem anda na luz, permanece nesse Caminho. Quem não andar na luz, cairá nele – o próprio caminho fará com que tropece. “E ali haverá um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele”, Is.35:8.

C_SUJA: Então, para mim a Vida Abundante não é o caminho certo?

C_LIMPA: É. Será a única forma de viver, seja para que criatura for.

C_SUJA: E porque dizes que para mim é a limpeza?

C_LIMPA: Porque, a limpeza é a porta de entrada para essa vida. “E ali haverá um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele”, Is.35:8. Nem mesmo quando acha que passará.

C_SUJA: E porque razão o imundo não entra por ele? O que é um imundo?

C_LIMPA: Um imundo é quem esconde pecado, é quem fala do próximo, quem olha para as coisas do mundo e cujo coração sente saudades das porcarias que o mundo tem. Isso é um imundo, alguém que se faz sujo, que se suja por prazer.

C_SUJA: Assustas-me falando assim. Parece que estás falando de mim.

C_LIMPA: Não é preciso muito para sermos imundos. E os imundos nunca se consideram sujos.

C_SUJA: Entendo. E porque razão o imundo não entra no caminho de Deus?

C_LIMPA: O caminho de Deus é santidade. “Haverá um caminho que se chamará o caminho santo”. Se o caminho é a santidade, como é que pode ser imundície ao mesmo tempo? O seco pode ser molhado? O dia pode ser noite? O preto pode ser branco?

C_SUJA: Não.

C_LIMPA: Se o seco não pode ser molhado, o caminho de Deus não pode ser para o imundo. O caminho de Deus é a santidade e nada mais. Como é que o imundo pode entrar na santidade se continuar imundo? Nem tem cabimento tal presunção! A entrada é uma limpeza completa, mas, o caminho de Deus é uma vida abundante. A Vida Abundante é a pureza. Se pedires a Deus uma Vida Abundante, na verdade, estás pedindo pureza a Ele.

C_SUJA: Era mesmo sobre isso que queria falar. Fiquei na dúvida sempre que falavas em “vida abundante”. Falaste tudo o que eu queria perguntar. Eu não estava achando as palavras. É que falaste várias vezes nisso e fica martelando na minha cabeça o tempo todo. Ainda ontem fui deitar-me para dormir e só pensava nisso e nem conseguia dormir. Que vida é essa? É que, pelas tuas contas, eu não terei acesso a ela, eu não a tenho e nunca a terei.

C_LIMPA: O que ela é, tens de descobrir por ti. Bem, na verdade, precisas achá-la, experimentá-la e vivê-la em vez de tentar entendê-la. Eu não entendo qual a composição do ar quando respiro e, no entanto, respiro bem sem entender. Só necessito de pulmões saudáveis para respirar bem como precisarei dum coração puro viver a Vida Abundante que há em Deus. Na verdade, é a Vida Abundante que Deus é. Ele dá-se a Si mesmo.

C_SUJA: E não me vais explicar então? Terei de ser eu a descobrir?

C_LIMPA: Posso explicar um pouco, mas, só porque ainda tenho a esperança de que, ainda assim, a buscarás de todo o teu coração. Estas coisas não se explicam, vivem-se e experimentam-se.

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: E o que queres saber mais que eu ainda não te expliquei?

C_SUJA: Como é essa vida?

C_LIMPA: É uma vida que não depende do lugar onde vives. Se tens um bom emprego ou se vives passando fome, se és homem ou mulher, se estás lendo a Bíblia ou trabalhando, tudo é feito com essa vida – através dela.

C_SUJA: Mas, as pessoas dizem que vida é ganhar bem, casar e tudo mais. Eles sempre dizem “a minha vida não está correndo muito bem”, sempre que se referem a essas coisas.

C_LIMPA: Mas, isso não é o que a vida é. Jesus mesmo disse: “Acautelai-vos (…) porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui”, Luc.12:15. E não consiste mesmo! Nem tem como consistir. Vida é outra coisa completamente diferente!

C_SUJA: O que é a tua definição de vida então?

C_LIMPA: Vida é aquilo que está dentro de ti – não fora. Essa Vida real até pode usar tudo o que existe fora de nós, mas, não se perde, não aumenta e nem diminui através de nada do que existe fora de nós. Isso nem é possível de acontecer sequer.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Tu dependes dum lugar para respirares? Por exemplo: se estiveres no parque passeando respiras e se estiveres sendo espancado numa prisão já não respiras?

C_SUJA: Respiro sempre. Imagina eu sendo espancado e ainda não respirar!

C_LIMPA: Então, o teu respirar não depende do lugar onde estás e nem das coisas que te acontecem.

C_SUJA: Não depende mesmo.

C_LIMPA: Mas, se tivesses aprendido a pensar que respirar era não ter problemas? Se recusasses respirar dentro dum problema porque dizias que respirar é não ter problemas?

C_SUJA: Morreria! Morreria à nascença! Já tenho problemas desde que nasci!

C_LIMPA: Entendo. Então, a vida não depende das nossas circunstâncias. Não podes recusar vida só porque tens problemas. E as pessoas rebelam-se contra Deus ou enfraquecem-se quando têm problemas. É como se alguém recusasse respirar só porque tem problemas, recusasse viver só porque a sogra grita muito de manhã quando quer dormir!

C_SUJA: Entendo.

C_LIMPA: E tanto os ricos como os pobres podem respirar como podem deixar de respirar. A riqueza não melhora tua vida e a pobreza não a piora, porque a vida está dentro de ti – não é aquilo que possuis. Podes ter problemas num lugar muito arejado e viver sem problemas num ambiente sem ar. Mas, essa Vida é Deus. A Vida Eterna dentro de ti não depende do lugar onde estás, nem dos problemas que tens. As pessoas só dizem que Deus é bom quando Ele lhes dá alguma coisa. Mas, Deus é bom sempre – até quando lhes tira tudo que o têm como tirou a Jó. Deus não muda.

C_SUJA: E como é a Vida Abundante?

C_LIMPA: Imagina o que Deus é e terás uma percepção dessa vida abundante também.

C_SUJA: É muita alegria e paz?

C_LIMPA: Pode ser. Mas, vida é vida e paz é paz.

C_SUJA: Não me frustres! Como é essa vida?

C_LIMPA: É uma vida sem igual. É constante, não desce de intensidade se nos mantivermos nela, sendo puros. É aquilo que a Bíblia chama de Vida Eterna, isto é, Vida Constante.

C_SUJA: Mas, a vida eterna não é só depois da morte?

C_LIMPA: É só depois da morte do pecado – não depois da tua morte física.

C_SUJA: Como assim? Essa vida eterna é cá na terra?

C_LIMPA: Também é. Quem não a tiver cá, não a terá depois da morte também.

C_SUJA: Eu não irei viver no céu então?

C_LIMPA: Essa vida não é o céu – é Jesus. E vivemos essa vida cá e lá. Se o céu fosse muito lindo e Jesus nem vivesse ali, não haveria vida eterna lá. E se Jesus estivesse num lugar muito seco e árido, haveria vida eterna nele.

C_SUJA: Mas, isto é difícil de entender.

C_LIMPA: Não é difícil de entender. Em todo caso, que te vale entender? Precisas é ter essa vida e não entendê-la. Precisas achá-la!

C_SUJA: E porque não posso ter essa vida?

C_LIMPA: Nem irei explicar-te de novo! Pareces ingênuo de tanto que resistes contra limpares o teu coração!

C_SUJA: Então, nunca irei ter essa vida?

C_LIMPA: Tu irás limpar-te?  E depois de te limpares, irás buscá-la de todo o teu coração? Irás render-te a ela depois de achá-la? Irás entregar as tuas armas todas ou vais ficar com uma delas para trás?

C_SUJA: Não sei.

C_LIMPA: E como é que eu vou saber se vais ter essa vida se tu não sabes se vais fazer isso?

C_SUJA: Podias saber...

C_LIMPA: Mas, só tu podes saber isso! Fazes perguntas bobas!

C_SUJA: Estás perdendo a paciência comigo?

C_LIMPA: Não. Só não sei responder às perguntas bobas que fazes. Nunca leste o que a Bíblia diz? “Vinde a Mim...”; “Chegai-vos para Deus e Ele se chegará para vós. Limpai as mãos, pecadores”? Tiago 4:8. Se és pecador, limpa-te! Porque razão queres ficar só achando-te pecador? Limpa-te também!

C_SUJA: Tu estás-me tratando mal. Só pedi para me explicares.

C_LIMPA: Nunca leste o que Felipe respondeu a Natanael? Ele disse: “Vem e vê”, João 1:46. Faz o mesmo, “vem e vê”!

C_SUJA: Sinto cada vez mais que nem irei conseguir essa vida.

C_LIMPA: Eu sinto que cada vez mais a recusas.

C_SUJA: Estou a ficar desanimado.

C_LIMPA: Pareces um jumento que só pensa aquilo que quer, da forma que quer, daqueles que se deitou num lugar e não sai de lá por nada deste mundo – nem por Cristo! Ficou empacado ali, atolado num pecado gostoso e fatal, em uma teimosia.

C_SUJA: Mas, eu quero Cristo.

C_LIMPA: Tu deves estar querendo o teu cristo.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Tu não queres mudar e arranjas um cristo particular, um que fica dando conversa para ti em tua teimosia – em teu ninho de teimosia e de recusa.

C_SUJA: E o que pode acontecer comigo?

C_LIMPA: Quem quer o cristo errado, não conhecerá o certo. Existe algo pior que te possa acontecer que isso? Não existe pior coisa no Universo! E só o certo é real, só o real é a Vida Eterna.

C_SUJA: Mas, Jesus nos dá a vida abundante?

C_LIMPA: Cristo é a Vida Abundante. Só Ele.

C_SUJA: Como?

C_LIMPA: Ele disse: “Buscar-Me-eis e Me achareis, quando Me buscardes de todo o vosso coração”, Jer.29:13. Ele não disse que acharás isto ou aquilo, paz, felicidade, entre outras coisas, se O buscares; mas, antes disse que acharás a Ele. Buscas a Ele, achas a Ele! Ou querias achar outra coisa?

C_SUJA: Mas, como é Ele?

C_LIMPA: “Vem e vê”.

C_SUJA: Tu és muito complicado.

C_LIMPA: Quando O achares, acharás a Vida Abundante, Vida Eterna, Vida Constante, Vida sem Fim. Eu não estou complicado, mas, tu és. É preciso um complicado para ver complicação nos outros.

C_SUJA: Mas, se dizes que eu só irei achar o Cristo da minha cabeça, eu fico confuso!

C_LIMPA: Eu disse que, se te recusares limpar nem O acharás – nem buscando. Mas, se por acaso O achares estando sujo ainda, não irás gostar do que te vai acontecer!

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Ali já não terás mais tempo para ficares indeciso. Quando O achares, ou vives ou morres logo. Ele será uma pedra de tropeço para quem não se limpa. Mas, para quem se assusta e teme, Ele será um refinador, um purificador. “Mas quem suportará o dia que Ele vier? E quem subsistirá, quando Ele aparecer? Pois ele será como o fogo de fundidor e como o sabão de lavandeiros; assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata”, Mal 3:2,3. “Os pecadores de Sião (os crentes!) se assombraram; o tremor apoderou-se dos ímpios. Quem dentre nós pode habitar com o fogo consumidor? Quem dentre nós pode habitar com as labaredas eternas?” Is.33:14. Para quem não se quer limpar, isso será um trauma. Lembras-te que te contei de meu avô que não gostava de tomar banho? Quando alguém lhe deu banho, ele quase morreu! Se tu não te quiseres limpar, morrerás – nem serás como meu avô que sobreviveu ao banho!

C_SUJA: Porque dizes que não me irei limpar ainda antes de Cristo vir? Assustas-me!

C_LIMPA: Eu assumo que será assim apenas porque, aquilo que somos agora, seremos depois. Quando Ele vier, ainda estarás recusando fazer o que deves, também estarás adiando, pois, agora tens hábito de adiar e o teu hábito irá estar contigo. Quem diz, “amanhã” farei, quando o dia de amanhã chegar, também dirá “amanhã” farei. Vai ficar adiando porque é o que sabe fazer! Se mudasses agora a tua atitude, estarias pronto para quando Ele chegasse.

C_SUJA: E como é que é conhecer Jesus assim pessoalmente?

C_LIMPA: “Vem e vê”! O que te impede?

C_SUJA: Mas, é importante conhecê-Lo assim dessa forma pessoal?

C_LIMPA: É a única maneira de viver que existe, a única forma de existirmos.

C_SUJA: Mas, eu existo e não O conheço dessa forma.

C_LIMPA: Não vês que Deus te está dando um tempo para te arranjares? Por isso achas que existes!  

C_SUJA: Entendo. Mas, é necessário conhecê-Lo assim, desse jeito abundante?

C_LIMPA: Isso é que é a Vida Eterna. “E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, como o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, aquele que Tu enviaste”. João 17:3. Se Ele é abundante e O conheceres pessoalmente, como é que O irás conhecer sem ser dessa maneira abundante? Ele é abundante! Haverá outra forma de O conheceres? Se não for abundante, não é o verdadeiro Cristo! É um outro, seguramente.

C_SUJA: Agora fiquei muito desanimado. Se tenho de ver Deus dessa forma para me salvar, então é melhor desistir logo.

C_LIMPA: Mas, estás entendendo mal. Tu não tens de te salvar para ver Deus. Tens de ter Deus para te salvar.

C_SUJA: Não estou a ver qual a diferença. Acho que não existe saída para mim.

C_LIMPA: Tudo bem. Assim que começares praticando, verás a saída claramente. Continua recusando. Sabes que existe saída para a tua vida no momento que decidires limpar-te – logo a partir desse momento!

C_SUJA: Não sei se existe.

C_LIMPA: És muito obstinado e descrente! Pareces um jumento atolado na teimosia que gosta. E Deus disse: “Não sejas como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio”, Sal.32:9.

C_SUJA: Eu estou decidido a nunca mais te ver. Não me entendes! Quero sumir. Eu acho que nunca mais nos veremos a partir de hoje.

C_LIMPA: Entendo-te muito bem. E vais fazer o quê com a tua vida depois de sumires, depois do suicídio? Depois do suicídio, todos querem voltar e não acham saída do inferno! Não cometas suicídio espiritual!

C_SUJA: Não sei o que farei. Só sei que não irei continuar assim ouvindo-te e ficando cada vez pior. Não quero conversar mais contigo! Sinto-me mal, agoniado. Só me sinto condenado perto de ti. Até eu próprio me condeno perto de ti! Nunca me dás tréguas, ficas-me acusando o tempo todo!

C_LIMPA: Estás tão perto da vida e voltas para a morte?

C_SUJA: Não sei se isso é ir para a morte. Não sei se deixar de te ouvir será morrer.

C_LIMPA: Uma coisa é sentires-te acusado, outra completamente diferente é eu estar a acusar. Mas, nem poderei deixar de te falar a verdade apenas porque queres ouvir algumas mentiras a teu respeito. Precisas entender-me também, como eu te entendo.

C_SUJA: Mas, tu não me entendes!

C_LIMPA: Tá certo. Estás arranjando maneira de escapar do laço da verdade.

C_SUJA: Foi muito agradável conversar contigo. Estou-me despedindo de ti.

C_LIMPA: Tudo bem.

C_SUJA: Não me leves a mal, mas, não quero que me busques mais.

C_LIMPA: Nunca te busquei. Lembras-te que me vieste procurar?

C_SUJA: A culpa de eu te deixar é tua! Porque insistes afirmando que não tenho chances?

C_LIMPA: Porque não tens. Ou te arranjas com Deus ou passarás pelo fogo.

C_SUJA: E ainda me assustas!?

C_LIMPA: Queres que tua chantagem resulte é? Isso te salvaria de quê?

C_SUJA: Vou-me embora. Acho que nunca mais nos veremos.

 

E foi assim que C_SUJA virou as costas à Vida. Será que a vida virou-lhe as costas também?

E você? Vai fazer o mesmo? Vai desprezar a vida porque é orgulhoso, obstinado disfarçadamente? Na minha experiência já vi missionários e pastores recusando viver, rejeitando Vida. No entanto, continuaram pregando – muitos ainda continuam com as suas vidas missionárias e seguem em frente apenas movidos por questões de orgulho doutrinário, de fantasias sobre Deus e muitas outras coisas mais que nem teremos espaço para mencionar aqui. Seria tão fácil de outro jeito, não é verdade?

Houve um pastor evangélico que viu a verdade destes textos depois dos 60 anos de idade. Ele saiu do culto onde Deus lhe manifestou esta verdade. Chegando à rua, levantou os braços chorando alto e clamou em profunda agonia e tristeza: “Meu Deus, desperdicei a minha vida toda! Meu ministério não valeu de nada! De nada serviu”. E lembro-me daquelas palavras dos Salmos:

“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem”, Sal 127:2.

Era grande o desespero estampado em seu rosto. Foi a cena mais triste de ser presenciada. As pessoas ali presentes nunca mais irão esquecer aquela cena. Estava toda a gente em silêncio, olhando. Ninguém tinha algo para dizer-lhe, alguma palavra com que consolá-lo. Não tinham palavras sequer. Vá, amigo. Não deixe o mesmo acontecer consigo. Ainda é tempo de agir. Por favor, limpe-se. Quem sabe, alguma outra vida dependa da sua limpeza imediata.

Já que se vai limpar, aproveite e faça uma limpeza completa, decente e sem reservas. Não esteja com meias medidas, com decisões indecisas. Faça bem aquilo que tem a fazer. Porque faria algo mal feito?

Todos os avivamentos reais começaram sempre que os lideres se humilharam e confessaram seus pecados a Deus publicamente. Todos os avivamentos reais terminaram assim que as pessoas deixaram de andar na luz com seus pecados, obras e vidas. Não seja a próxima vitima do engano – nem antes e nem depois de se limpar. Que Deus o abençoe muito.




 

 

DIÁLOGO 20

ARREPENDIMENTO

C_SUJA: Voltei para conversar contigo. Mudei de ideias. Não aguento mais resistir. Não quis ser como Judas que rebentou pelo meio. Não consigo viver mais assim.

C_LIMPA: Bem vindo amigo. Que aconteceu para estares tão transtornado? Também parece que tens um brilho estranho em ti. Foste tocado por Deus?

C_SUJA: Eu estava muito orgulhoso. Estava determinado em meu coração que nunca irias ouvir-me falar sobre um pecado meu. Mas, não conseguia dormir.

C_LIMPA: Não é tão importante que reveles os teus pecados a alguém, como será importante quebrares o orgulho que criaste à volta disso. E, ninguém quer saber dos teus pecados – queremos saber se te salvarás deles e apenas isso. Mas, se crias um orgulho à volta disso – ou de qualquer outra coisa – Deus exigirá que o quebres. Bem vindo a bordo da embarcação que leva à Vida Real. Mas, por favor, continua contando.

C_SUJA: Naquela angustia que não me deixava dormir falei ressentido com Deus. E vi que estava ressentido com Deus e não contigo. Reparei que, se estava ressentido contra Deus, então tudo que me falaste era a verdade. Mas, continuava triste e, mesmo falando ressentido e magoado, acho que nunca fui tão expressivo e tão simples na conversa que tive com Ele.

C_LIMPA: Conversaste com Jesus?

C_SUJA: Sim. E, o mais lindo de tudo, é que Ele me respondeu.

C_LIMPA: Que te disse Ele?

C_SUJA: Bem, eu tenho a certeza que era Ele falando, pois não senti paz até tomar a decisão de vir falar contigo para que me ajudes a alcançar o perdão que me dará paz verdadeira. Eu sei que existe essa paz. Consigo cheirá-la no ar.

C_LIMPA: Entendo. E que te falou o Senhor?

C_SUJA: Eu ouvia dentro de mim algo como se fosse uma voz, uma insistência: “Faz a tua listinha! Vai falar com Jó! A ele ouvirei!” Jó 42:7,8. E por essa razão estou aqui. Sei que não te chamas Jó, mas, entendi bem o simbolismo da frase.

C_LIMPA: Ainda bem que vieste então. Trouxeste a tua lista?

C_SUJA: Trouxe sim. Demorei três dias a fazê-la e é por isso que só hoje pude vir. Trouxe duas, conforme me aconselhaste: uma que tem os pecados que cometi contra ou com pessoas; e a outra com pecados de todo tipo. São tudo coisas que tentava disfarçar e esconder. Mas, não vou mais adiar ou esconder-me e desculpar-me quando me olhar no espelho.

C_LIMPA: Está certo então. E como queres fazer?

C_SUJA: Não sei bem. O que me sugeres?

C_LIMPA: Deixa-me pensar. (C_LIMPA pensou durante uns breves segundos e decidiu). Bem, vamos pedir a Deus para estar conosco aqui? Depois, vamos conversar sobre teus pecados como se fossemos amigos que não escondem nada de ninguém. No final, podemos pedir a Deus que te perdoe para sempre. Mas, estás-me prometendo que a faxina será completa? É que, se não for completa, nem vale a pena começar.

C_SUJA: Será completa sim. E irei procurar todas as pessoas que puder encontrar para lhes pedir perdão. Vou manter esta lista até haver terminado de pedir perdão a todas as pessoas aqui escritas.

C_LIMPA: Está certo.

C_SUJA: Desculpa o meu nervosismo, mas, nunca fiz isto com ninguém.

C_LIMPA: Não te preocupes, estaremos só nós os três aqui.

C_SUJA: Quais três? Vais contar a minha vida para alguém?

C_LIMPA: Não. Somos três aqui: eu, tu e Jesus. Nunca contarei nada para ninguém, claro. Mas, tenho a certeza que tu contarás pessoalmente às outras pessoas.

C_SUJA: Não me assustes ainda. Espero mudar primeiro para poder fazer isso.

C_LIMPA: E porque resolveste fazer isso que vais fazer?

C_SUJA: Não tenho saída. E aquela voz não me dava qualquer descanso. Vi, também, que me podias ajudar. Vamos deixar as explicações para depois? Tenho medo de perder a coragem. Vamos começar logo?

C_LIMPA: Vamos então. Vamos orar e pedir a Deus para estar conosco?

C_SUJA: Vamos sim.

E oraram pedindo a presença de Deus. Uma oração muito curta e objetiva. Mas, nem foi preciso usar muitas palavras, pois o ambiente era sólido e a presença de Deus era fortemente (abundantemente) sentida ali no local. Era real e até mesmo C_LIMPA se arrepiou e se alegrou da forma como aquela oração foi atendida de imediato. A presença de Deus era real e parecia que o ar estava saturado de beleza.

C_LIMPA: Vamos, amigo, vamos começar.

C_SUJA: Por onde começo?

C_LIMPA: Pelo pecado mais difícil. Aquilo que te custa mais contar, que seja contado primeiro.

C_SUJA: Está certo.

C_LIMPA: Fala como se eu não estivesse aqui.

Depois de umas hesitações, C_SUJA começou a limpar-se.

C_SUJA: Eu matei o meu pai. Ninguém suspeita que fui eu.

Ouviu-se um soluço enorme no ar e C_SUJA sucumbiu e não conseguia continuar com sua confissão. Por fim, acalmou-se.

C_LIMPA: Continua amigo. Não percas tempo lamentando-te.

C_SUJA: Desculpa-me. Mas, é que guardei este pecado tanto tempo e agora que saiu não consegui resistir. Que devo fazer com este pecado?

C_LIMPA: O que achas que deves fazer?

C_SUJA: Eu não sei. Mas, o mais certo seria entregar-me à justiça e confessar o meu crime.

C_LIMPA: E como tudo aconteceu?

C_SUJA: Fui envenenando meu pai aos poucos. Ele espancava minha mãe e meus irmãos sempre que bebia. Quando ele morreu, disseram que havia sido falha renal e ninguém suspeitou de nada. Como ele bebia muito e até já tinha pedra nos rins, não foi difícil acharem que havia sido morte natural. A única coisa que temia, era que suspeitassem de minha mãe. E como isso não veio a acontecer, venho vivendo com isso pesando dentro de mim calado.

C_LIMPA: Tua mãe não sabia de nada?

C_SUJA: Não sabe de nada.

C_LIMPA: Se ela soubesse seria necessário falar-lhe que te estás lavando desse pecado. Em todo caso, será sempre necessário que fales a ela primeiro, antes de tomares qualquer decisão.

C_SUJA: Devo ir agora? Esperas por mim?

C_LIMPA: Sim, espero. Vai em paz.

Uma hora depois, C_SUJA voltou.

C_SUJA: Obrigado por teres esperado. És muito paciente. Era uma das coisas que me irritava em ti.

C_LIMPA: Continuemos então? Não percamos mais tempo. A tua vida vale mais que todo o ouro desta terra. Não esperar por ti seria como não esperar por um tesouro que Deus quer. Não adiemos ainda mais o que já deveria ter sido feito.

C_SUJA: Está certo.

C_LIMPA: Que conversaste com a tua mãe?

C_SUJA: Chamei a minha mãe e os meus irmãos para a sala e disse-lhes que precisava ter uma conversa com eles. Pedi a Deus para me ajudar e enquanto orava houve um silêncio e uma tranqüilidade que eu nunca havia sentido antes. Era como se Deus estivesse comigo. Toda a gente ficou olhando para mim. Contei como conversei contigo e disse que me queria arranjar com Deus e que por essa razão os chamara. Então, confessei que envenenei papai e que era culpado de seu sangue. Não disse que foi porque me sentia muito triste quando ele os espancava. Segui o teu conselho e falei só na minha parte do pecado. Falei como se não houvesse justificação para aquilo que fiz. Também, não me sentia muito bem dizendo: “matei-o por esta ou por aquela razão”. Matei e pronto! Falei que matei e nada mais. Não me justifiquei, não invoquei razão nenhuma. Mas, eles sabiam por que razão havia feito aquilo. Pedi que me perdoassem e a minha mãe ficou sem palavras. Depois de uns momentos, ela disse-me que suspeitava que papai havia sido envenenado por alguém, pois ela achou um produto suspeito em nosso quarto.

C_LIMPA: Tá certo. No fim oraremos a Deus. Continua por favor.

C_SUJA: Este pecado está resolvido?

C_LIMPA: Creio que está. Mas, depois decides o que fazer.

C_SUJA: Está certo.

Houve mais uns momentos de hesitação e C_LIMPA esperava pacientemente.

C_LIMPA: Continua.

C_SUJA: É muito difícil para mim.

C_LIMPA: Mas, podes contar. Será mais difícil guardares e esconderes que revelares.

C_SUJA: Está bem. Desde jovem que tenho pensamentos estranhos sobre sexo. Eu tinha muitas fantasias quando era mais jovem e sonhava ver mulheres sem roupa. Muitas vezes, quando minha mãe ia ao banheiro, eu espreitava para ver como era ela nua. Isto é horrível! Até a minha mãe era comida para as fantasias do meu pecado!

Houve mais uns soluços e um olhar envergonhado e C_SUJA continuou.

C_SUJA: Preciso ir confessar este pecado à minha mãe também? Morrerei de vergonha se tiver que fazê-lo!

C_LIMPA: Eu acho que não, mas, não dependas da minha opinião. Se Deus me mostrar algo, eu te direi. Mas, como Deus já te responde agora, podes colocar este assunto diante d’Ele. Como é um pecado entre ti e Deus, pode ser que não seja preciso. Mas, é só a minha opinião. Se Deus quiser que te humilhes diante dela, podes fazê-lo quando Ele te mostrar. Se for esse o caso, Ele irá à tua frente – nem temas ir. Tudo correrá bem também. Será como o outro que acabaste de confessar.

C_SUJA: Está certo. Vou tentar conversar com Deus sobre isso então. O pior de tudo é que me masturbava muitas vezes também. E hoje tenho nojo de mim mesmo porque fazia aquilo usando como referencia uma mulher pelada que idealizei a partir de minha própria mãe!

C_LIMPA: Tudo bem. Continua.

C_SUJA: Tratei muito mal meus irmãos também. Fiquei com raiva do meu irmão mais novo porque ele viu-me masturbando, escondido. Tratei-o muito mal depois disso por causa da vergonha que senti.

C_LIMPA: E a masturbação já parou?

Um enorme silêncio pesado.

C_SUJA: Não, ainda não consegui parar. Mas, preciso parar não é verdade?

C_LIMPA: Sim. Quem deixa os seus pecados alcança misericórdia. Só quem deixa após confessá-los, Prov.28:13.

C_SUJA: Nem depois de casado consigo parar. Parece um vicio que se apodera de mim. Mas, agora vai parar.

C_LIMPA: Com certeza. Continua.

C_SUJA: Mas, é possível parar?

C_LIMPA: Claro que é. Mas, se for difícil demais, cortas a tua mão fora! Jesus disse: “E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o inferno”, Mat 5:30.

C_SUJA: Se não conseguir parar, tenho de cortar a minha mão fora?

C_LIMPA: É uma das saídas. Em alternativa, podes cortar outra coisa, o outro membro do teu corpo! Ou uma coisa ou outra. Mas, se deixares esse pecado podes ficar com os teus membros todos.

C_SUJA: Vou deixar, sim. Não tem desconto, não é?

C_LIMPA: Não tem. Continuemos.

C_SUJA: Traí minha esposa em algumas ocasiões. Preciso contar para ela?

C_LIMPA: Não sei se deves. Deves consultar Deus sobre isso também. Mas, em todo caso, deves procurar as mulheres com quem traíste acima de procurares a tua esposa. Em tudo o resto, Deus pode-te mostrar o que deves fazer.

C_SUJA: Entendo. E se for mal guiado?

C_LIMPA: Se buscares mesmo aquilo que Deus quer, serás bem guiado. Não temas. Só não busques que Deus te diga o que desejarias ouvir. A partir de agora, só podes ser obediente a Ele e não buscar que Ele seja obediente a ti.

C_SUJA: Está certo. Estou a sentir-me muito aliviado já.

C_LIMPA: Mas, não te contentes com pouco. Limpa tudo! Limpa o resto que falta até ao ultimo pecado!

C_SUJA: Está certo. Menti muitas vezes, roubei. Irei entregar tudo de volta – tudo que ainda tenho comigo. Menti…

E os dois ficaram conversando sobre todos os pecados que estavam na lista e muitos mais que C_SUJA foi lembrando, os quais ainda não haviam sido escritos em sua lista. Para efeitos do dialogo, iremos manter o nome de C_SUJA, mesmo que já possa ser chamado de Consciência Limpa a partir desta fase. Três horas depois oraram juntos e C_SUJA ajoelhou-se diante de Deus regozijando-se muito numa paz que nunca imaginara possível.

C_LIMPA: Antes de ires embora, preciso falar-te umas coisas sobre a vida com Deus.

C_SUJA: Mas, que alegria! Estou tão leve! Parece que acabei de nascer! Parece que nunca pequei!

C_LIMPA: Está certo. Mas, continuemos. Essa paz permanecerá contigo. Nem precisas “curti-la” agora. Ela irá contigo para onde fores. Teme a Deus e anda nos caminhos que Ele te mostrar.

C_SUJA: Que me querias dizer?

C_LIMPA: Agora, precisas ler a palavra de Deus assiduamente, disciplinadamente. Mas, precisas juntar a isso o que Jesus te indica. Lê, também, a palavra de Deus conforme Jesus te vai mostrando e nas melhores horas do dia. Se leres nas piores e nas melhores, será bom também.

C_SUJA: Entendo. Como devo fazer a partir daqui? Devo ler livros também?

C_LIMPA: Só aqueles que Deus te mostrar. Mas, não na hora de ler a Bíblia. Dependendo de como Deus te mostrar, deves, no entanto, ter umas poucas horas por dia para te dedicares apenas à palavra de Deus. Fechas a porta a tudo que existe e entras para o santuário de Deus. Uma hora, duas, as que Deus te mostrar cada dia. Sei que nem todos os dias serão o mesmo, porque também sou guiado por Deus. Não importa a quantidade que lês, mas, sim a quantidade da revelação que obténs, seja lendo ou não.

C_SUJA: Entendo. E qual a melhor hora para ler?

C_LIMPA: Não sei. Terás de descobrir. Fala com Deus sobre isso e aquilo que Deus te mostrar terás de cumprir como se fosse uma consulta marcada.

C_SUJA: Como assim?

C_LIMPA: Se marcares uma consulta com um médico, ou com um dentista, vais à hora que queres?

C_SUJA: Não.

C_LIMPA: Faltas?

C_SUJA: Também não.

C_LIMPA: Se alguém te convidar para uma festa, para um passeio, para ir pescar à hora da consulta, tu vais?

C_SUJA: Claro que não!

C_LIMPA: Então. Com a Palavra terás de ter atitude idêntica. Se o telefone tocar, não atendes – a menos que Deus te mostre para atenderes. Se houver um tremor de terra, nem ligas. Não existe família, problemas e nada deste mundo deve existir para ti naqueles momentos. Só tu e Deus. No entanto, tudo o que te falo aqui, fica anulado se Deus te mostrar outro jeito. Mas, se não te mostrar, fazes assim. Podemos contar contigo?

C_SUJA: Sim, claro.

C_LIMPA: Está certo então.

C_SUJA: Porque razão estou-me sentindo assim… estranho, leve, como se tivesse acabado de nascer de novo? Esta sensação não vai terminar, não é?

C_LIMPA: Acho que não. Mas, em todo caso, será substituída pela sensação que acabaste de crescer quando cresceste; que acabaste de ser ouvido quando oras e és ouvido; e tudo aquilo que acabar de acontecer contigo, deixará o selo da aprovação de Deus dentro de ti. Essa aprovação de Deus deves manter sempre como a única luz e referência – como a única opinião que vale e que conta. Quando te acusarem ou elogiarem, deixa sempre ser Deus a dar a única opinião.

C_SUJA: Está certo. E como devo orar agora? Sinto que não posso continuar orando do jeito que aprendi, como se fosse um disco gravado para impressionar as pessoas.

C_LIMPA: Quando orares, falas com Deus tal e qual estás falando comigo agora – desse mesmo jeito. E esperas que te responda. Falas só o que te vai na mente e no coração. E lembra que oração é ouvir e falar, como uma conversa entre dois bons amigos. Ele te falar é garantia que te ouve também.

C_SUJA: Agora já me vais chamar de irmão?

C_LIMPA: Claro. Vou te chamar de amigo, de irmão, de príncipe e tudo mais. Segura em Cristo e Ele te dará um novo nome se fores fiel e seguires este caminho até ao fim. Pronto, irmão. Vai fazer o que Deus te mostrar. Que Deus te abençoe muito.

C_SUJA: Muito obrigado por tudo.

C_LIMPA: Não agradeças ainda. O teu caminho mal começou. Vamos guardar os agradecimentos para o fim e para  Deus. Que sejas eterno. E a melhor maneira de sermos eternos, é viver só o dia de hoje do jeito que Deus quer. Nem o amanhã existe e nem outro jeito de fazer as coisas. E, se fizeres só o trabalho de hoje, se ocupares o teu coração dentro das coisas que podes fazer agora, amanhã conseguirás cuidar, também, do dia de amanhã. Termina tudo aquilo que começares por Deus. Sempre que quiseres, conversaremos sobre as coisas de Deus em tua vida. Que Deus te abençoe e vai em paz.

C_SUJA: Amem.

E assim terminou o nosso diálogo entre consciências. C_SUJA entregou-se à justiça e confundiu os Juízes porque nas suas leis não havia lei que condenasse a quem se acusava a ele próprio diante da justiça, isto é, a quem apresentava queixa contra ele mesmo. Decidiram aplicar-lhe uma pena mais leve por causa das circunstâncias de seu crime premeditado e circunstanciado por sofrimento emocional prolongado. C_LIMPA visitou seu irmão várias vezes na prisão, onde muitos se convertiam por causa do testemunho de vida de ex-C_SUJA. Ele dizia que vivia para Deus e que seu campo missionário era onde estava – fosse onde fosse. Para ele, era igual estar ali ou em qualquer outro canto deste mundo, em qualquer outro campo missionário. Também escreveu cartas e pedidos de perdão a todas as pessoas que não conseguiu achar para lhes falar pessoalmente sobre os pecados que cometeu com ou contra eles. Os seus versículos preferidos passaram a ser estes dois: “ Por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensas diante de Deus e dos homens”, At.24:16; “… foi achada em mim inocência diante d’Ele; e também (…) não tenho cometido delito algum”, Dan.6:22. Sua esposa e restante família converteram-se, também, mas, todos oram por sua libertação. Esta felicidade é para sempre. Até dentro da prisão ela permanece. Que Deus esteja consigo também.

José Mateus
Portugal