TEMPO PARA ORAR
"E aconteceu que indo eles de caminho, entrou numa aldeia; e certa mulher por
nome de Marta o recebeu em sua casa; E tinha uma irmã chamada Maria, a qual assentando-se
também aos pés de Jesus, ouvia a Sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos
serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me deixe servir
só? Diz-lhe que me ajude! E respondendo Jesus disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e
afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a melhor parte,
a qual não lhe será tiradaquot;, Luc.10:38-42
Engane-se quem pensar que não devemos usar as melhores horas e ocasiões do dia
precisamente para estar em comunhão com quem pode abençoar ou mesmo
amaldiçoar todo o nosso dia, pois é o único que tem plenos poderes
para tal feito. Ora sendo assim devemos ter em conta que não devemos
desperdiçar tempo e força física com tudo menos aquilo que nos
mantém vivos para sempre. Também não podemos esperar muito quando
buscamos cansaço noutras coisas e só quando já não há mais nada para
fazer é que vamos verificar se veio algum E-mail lá de cima. Suponho
que qualquer pessoa que receba E-mails humanos ou mesmo de
familiares, esteja sempre atento e disposto a deixar de fazer algo -
seja esse algo o que for! - para ir verificar se alguma mensagem
chegou. Mas se por acaso for Deus a querer-nos falar ao coração
quando estamos a fazer o tal algo, seja através da leitura ou da
simples comunhão com Ele, perdemos qualquer interesse mesmo
sabendo que nos convém somente a nós começar a ouvir e a entender a
Sua voz! Só vamos ter com Deus quando terminamos nossos
afazeres. Por essa razão é que "há muitos que dormem".
Nunca, mas nunca mesmo, poderemos esperar algo mais no nosso dia a dia do que a
justa retribuição da maneira como tratamos Deus. "Com a medida com
que medirmos nos será medida" qualquer bênção ou maldição.
Receberemos em igual proporção o carinho e responsabilidade com os
quais lidamos com Quem só nos quer salvar e abençoar e se isso é
pouco, nunca saberei o que será muito então!
Recordo-me dum homem que se chamava Andrew Murray, o qual mudou um país inteiro
através da maneira como orava, obedecia e falava com Deus. Este
homem Sul-africano, da Igreja Reformada, estava um dia a orar nos
seus aposentos em sua casa, quando alguém lhe veio anunciar que o
seu irmão, que não via há muitos anos, chegara para visitá-lo. A sua
comunhão com Jesus era tão pura que todos sabiam que o seu tempo de
joelhos lhe era mais precioso que o próprio comer. Mandou
respeitosamente dizer que não podia atender o irmão naquele momento
porque estava com Jesus. Pediu que esperasse na sala até ele ter
resolvido todas as questões daquela importante reunião em seu
quarto. Só passado pouco mais de uma hora é que foi ter com seu
irmão para abraça-lo. E é isto que revela o grande sucesso deste
humilde homem que tanto fez pelo Reino de Quem o criou. Esta notícia
correu o mundo inteiro e até eu estou aqui a divulgá-la, tal como é
divulgado aquilo Maria fez a Cristo com o unguento que por amor
sobre Ele derramou (Mat. 26:13).
É sabido que Deus gosta que ordenemos os nossos dias e horas de acordo com o
melhor das nossas possibilidades. Mas também adverte que "os seus",
quase sempre sem pestanejar, "não querem ordenar as suas acções a
fim de (se) voltarem para o seu Deus" (Os.5:4).
Estarão sempre à espera que algo de bom lhes suceda
como que por magia e os leve a fechar qualquer porta do seu
barulhento mundo de afazeres para então apenas poderem comungar com
o seu Deus. Mas procurar e ordenar as coisas de maneira a que o
melhor seja dado à vida eterna interior, dando a Deus o que é de
Deus e tirando a um qualquer César o que nunca lhe pertenceu mesmo,
é normalmente abstracto e confuso para quem pensa que Deus anda a
brincar com as nossas vidas em vez de sermos nós os acusados de tal
pratica!
Qualquer argumento de que não temos muito tempo para a oração esvai-se sempre
quando olhamos a vida repleta de bênção em plenitude e toda a paz de
quem fala com Deus pessoalmente, como falou Moisés, Elias. Olhemos
para a regularidade da vida de quem honestamente comunga com Deus em
espírito e em verdade e sem rezas e orações soltas e pecaminosas.
Serão sempre uma bênção e uma ajuda preciosa para quem os rodeia e
deseja experimentar as coisas que só Deus dá e recebe de nós também.
É comum as pessoas tirarem das bolsas dos seus corações vazios
desculpas de falta de tempo e de falta de vontade em estar debaixo
do consolo de quem muito nos quer, até verem como Deus resolve todos
as nossas problemáticas situações desde que nos contentemos com o
resolver do problema principal aos olhos de Deus. Por isso disse Ele
a alto e bom som: "mas buscai primeiro (e acima de tudo) o reino de
Deus e toda a sua justiça e todas estas coisas vos serão
acrescentadas". (Mais adiante procurarei elaborar sobre as palavras
"e toda a sua justiça" vendo que significa muito mais do que
possamos imaginar!)
Se isto não fosse verdade, haveria razão para não nos debruçarmos mais sobre
este tema. Mas é verdade e por essa razão peço-lhe, caro leitor,
para dar contas do seu tempo à sua consciência (já que se recusa a
dá-lo a Deus), mesmo estando esta ou não já calcinada com
desventuras de bel-prazer em autentico desleixe espiritual. Posso
garantir que é comum estarmos perante fenómenos "sem explicação",
quando escolhemos de coração a melhor parte para nós também. Olhe-se
a vida de quem comunga em primeiro lugar com Jesus Cristo e verá que
a sua vida corre sobre carris oleados, mesmo sendo tal vida mais ou
menos complicada do que a de qualquer outro ser vivente na terra.
Nunca vi um homem de Deus passar fome (no mínimo espiritual!)
optando por desejar labutar pela melhor parte da vida como o fez
Maria (Lucas 10:38-42). Por isso,
"Maldito o homem que tendo... promete e oferece ao Senhor uma coisa
vil; porque Eu sou um grande Rei",
"e quando ofereceis o coxo ou o enfermo, não faz mal! Oferece-o ao teu
príncipe: terá ele agrado em ti?" (Mal.1:8).
"Ai dos que repousam em Sião...".
O grande problema de alguém vazio de alma, é que deixa muito facilmente de
sentir a fome e o vazio que asseguram sempre uma cegueira e uma
surdeira tais que muito dificilmente acreditam que se pode ouvir
Deus, ou que se pode ser saciado da fome. Estou aqui a falar com
alguém, espero, que pelo menos deu a devida atenção à confissão
integral de todos os seus pecados a Deus, no mínimo. Pergunte-se a
um médico ou a alguém que tenha passado alguns dias seguidos com
fome e ver-se-á que comentários farão sobre a reacção natural dum
organismo a tal situação. Sabe-se que qualquer pessoa deixa de
sentir fome depois de alguns dias sem comer, deixa de sentir que
está a morrer. Ou pior ainda, pode até deixar de ter qualquer
apetite para sempre, o que lhe trará grandes danos físicos e não só.
Por essa razão é que a grande maioria de todos os crentes se
encontram em fase aguda de anorexia. Se é isto que se passa com o
nosso organismo, o que é que nos faz pensar que o mesmo não ocorre
aos nossos corações e espíritos? Jesus disse: "Eu sou o pão vivo que
desceu do Céu, para que aquele que dele comer não morra. Se alguém
comer deste pão viverá para sempre; e o pão que eu der... darei pela
vida do mundo" (João 6:50,51),
pois "nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que vier
da boca de Deus". Mas como nos será possível tudo isto se não temos
tempo para dizer "fala Senhor que o teu servo escuta"? Será que se
dá com a devida regularidade, ênfase e frequência o tempo que é
fulcralmente necessário para a devida e atempada salvação de todo o
nosso coração dos nossos próprios males?
Anorexia espiritual é quando entramos numa fase de apatia, de orações sem
resposta, através das quais mais tarde começamos a pensar e a agir
que de nada nos vale buscar Deus, pois nunca o achamos mesmo.
O outro principal problema para quem se esforça minimamente em oração, é que
faz tempo para orar religiosamente e nunca de acordo com uma
verdadeira necessidade, pois a necessidade é-lhes sempre oculta ou
ignorada pelo receio e medo de serem egoístas ou estarem a pedir
demais! Como se pode pedir demais a um Deus que é dono e criador
único dum universo sem fim, nunca vou entender mesmo. Será a
necessidade ou a desculpa que deve imperar sobre todo nosso tempo em
oração? É a necessidade quem deve determinar a angústia da oração,
pois Deus não é leviano a ouvir. Mas se o tratamos assim, Ele nos
dará em conformidade com a nossa fé. Foi Cristo que disse: "Seja-vos
feito segundo a vossa fé",
Mat 9:29. Se Deus não é leviano a
ouvir, pergunto, porque o seremos nós a pedir? Não quero com isto
dizer que um pai vá dar uma arma para a quem precise só de pão, nem
que podemos estar a pedir coisas que nos matam em vez do oposto. Mas
levando isto em conta, não deveremos aproximarmo-nos dele com tal
espírito de leviandade que só Lhe dará razões para fechar e nunca
abrir as portas do Céu. Caro amigo, é seguríssimo que as portas do
Céu se abrem, tal como o é que se fecham; e se abrem, podem abrir
para sempre, podendo estas fecharem-se para sempre também ou não
estaremos a falar aqui dum mesmo Deus sempiterno.
A necessidade deve empolgar qualquer pedido, mesmo que alguém não
consiga desentrançar a forma em como possa vir até nós a resposta -
ou o pedido. Anteriormente, noutros trechos, falei muito
superficialmente sobre a natureza do que esperamos dum Deus fiel,
isto é, uma resposta conclusiva, porque "qual de vós é o homem que,
pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E pedindo-lhe peixe
lhe dará uma serpente? Se vós pois, sendo maus sabeis dar boas
coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso pai que está nos Céus
dará bens aos que lho pedirem" (Mat.7:9,10,11).
É por esta razão que nunca poderemos esperar nada menos de Deus que
aquilo que nos é essencial e necessário, daquilo que lhe pedimos. Se
não for, pois, a necessidade a empolgar o pedido, porque oramos
então? Para passarmos algum tempo num piquenique religioso? Ora
amigos, isto é um festim de hipocrisia absurdo e incoerente! Existem
poucos crentes que sabem orar realmente! Ou não sabem esperar de
Deus peixe quando pedem peixe, ou então pedem uma serpente por a
confundirem com uma qualquer enguia (o que inviabiliza em grande
parte dos nossos outros pedidos em sua quase totalidade também); ou
então não advém a necessidade dum desejo racional e coerente. Porque
as pessoas podem estar a pedir a sua salvação sem que a desejem,
necessitem ardentemente e esperem que Deus lhas dê de facto, como
sempre dá o que lhe é pedido. Ora, se alguém não deseja escapar dum
qualquer inferno (sendo o desejo o de escapar do que é eterno ou
não!), como poderá estar a pedir uma coisa na qual o seu próprio
coração não se consegue nunca rever? Se uma qualquer pessoa não
deseja livrar-se dos seus apetites sexuais desmesurados e
irracionais, como pode pedir a Deus perdão dos seus pecados? Se
rouba, porque pede ainda a Deus o seu sustento? Agora, se alguém
enfrentar as suas incoerências de frente, tal pecador poderá muito
bem começar a ser concreto no que pede! E assim poderá então obter
umas respostas conclusivas dum Deus também muito real e realista,
dentro da sua imensidão de glória. Não se admire então de, quando
lhe pedir peixe, que Ele lhe dê o Atlântico inteiro a abarrotar
dele!
Deixemos então de ser hipócritas porque os nossos problemas são reais e
duradouros. E quer queiramos quer não, quer acreditemos quer não, a
eternidade jaz ainda à nossa porta! Não será o meu descrer que irá
impugnar a existência de realidades tão concretas como essas, pois,
o eu crer ou não se tais coisas existem de facto, nunca as
inviabilizará dos cartórios da existência, pois nunca deixarão de
existir apenas porque eu não creio nelas. Ora, assim sendo, não
devemos pois pensar que Deus não tenha respostas reais para nós
sobre pedidos e necessidades não menos concretas. O facto de Deus
ser concreto e real deveria ser um grande incentivo para se obter
d'Ele tudo aquilo que pedimos dentro da Sua vontade. Ao não
recebermos por uma qualquer razão mais ou menos válida, isso
deveria-nos angustiar ao ponto de não largarmos a aba do Seu manto
até esclarecermos esse fenómeno que é pedir e não receber! Haverá
por certo razões porque não somos atendidos e se assim suceder por
uma qualquer razão, convém que nos seja ali e agora esclarecido o
porquê, sob pena de na próxima aproximação a Deus (que esperamos que
seja para breve!), não tenhamos a nossa confiança totalmente
quebrada e nos tornemos hipócritas diante dele, mas sim para que nos
aproximemos d'Ele com muito mais confiança - pois Sua fidelidade
merece muito mais do que tudo aquilo que d'Ele possamos vir a
confiar.
É isto que quero esclarecer no pequeno espaço deste capítulo. Se não
arranjarmos tempo bastante sob qualidade para impugnarmos as
mentiras que nos cercam acerca de Deus, que tipo de retorno pudermos
esperar daquilo que fazemos? Não nos será dado em conformidade com
aquilo que esperamos de Deus de facto? Não disse Deus "eis que
diante de ti está a maldição e a bênção, por isso vê qual caminho
escolhes"? É que tanto a bênção como a maldição já existem, quer
queiramos que assim seja, quer não! Se Deus nos avisa com tão grande
antecedência assim, não será por falta de avisos que as pessoas
continuam impregnadas de erros e teimosia em cair por nada, razão
pela qual a Bíblia nos diz que somos "vendidos por nada". Ou será
porque quando Deus diz "escrevi para eles as grandezas da minha lei;
mas isso é para ele como coisa estranha... rejeitou o bem: o inimigo
persegui-lo-á" (Os.8:12,3), Ele
tem toda a razão? Ora, como podemos nós esperar que sejamos colhidos
pelas simples verdades que estão escritas há muito se não usamos o
nosso tempo como deve ser? Como esperar que as coisas de Deus não
nos sejam estranhas se não usufruímos do melhor do nosso tempo para
contemplar o nosso rosto ao espelho da Verdade, da Vida e do Caminho
que devemos seguir sem olhar para trás sequer, sob pena de virarmos
estatuas de sal se a tal ponto formos incoerentes? Como poderemos
obter tal confiança que nem alega olhar para trás, se não
contemplarmos verdades verdadeiramente reais e respostas
verdadeiramente concretas com bastante tempo e com suficiente
regularidade? Com que confiança alegaremos a nossa entrada nos
átrios de plenas verdades se no imiscuímos de usar pouco ou mesmo
muito do nosso precioso tempo cá na terra para ouvirmos um pouco
daquilo que Deus nos tem a dizer sobre nós, sobre Ele próprio e
sobre como devemos nos orientar diante d'Ele e com que poder o
poderemos vir a fazer? Se você não tem tempo para estar com Deus,
não terá tempo para viver, porque Ele é a única verdade e única
fonte de vida existente em qualquer recanto deste imenso universo.
Como saberá que Ele é a única verdade e a única vida senão não tiver
tempo de abrir a Bíblia e folheá-la até
João 14:6? Como poderá alguém
aperceber-se dos enganos das igrejas e dos corações dos homens se
não se esforça minimamente em buscar Deus para que lhe seja dito
como Deus vê o coração do homem, isto ainda em tempo de poder
achá-Lo? Por isso lemos em Heb. 4:16:
"cheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça para que
possamos alcançar... e achar... a fim de sermos ajudados em tempo
oportuno". Como pode esperar que Deus a abençoe hoje "em tempo
oportuno", que calha bem, se não teve tempo de o buscar ontem?
Se você trata melhor o seu emprego que a Deus, se trata seus filhos melhor
que Ele, lembre-se de recorrer a eles na próxima aflição e não a
Deus! Ou só recorre a Deus quando já está aflito? Não pode Deus ser
Ele por aquilo que é em tempos de fartura também, para si?
As pessoas que se desenganem esperando vir a saber de forma magica que "ninguém
vem ao Pai senão por" Cristo, se não se derem ao trabalho ler e de o
buscarem de joelhos e de todo o seu coração e de toda a sua alma e
durante todo o tempo que isso deles vier a exigir! Como poderão
saber que Cristo salva verdadeiramente se não usam do seu tempo para
buscar a única salvação possível? Ou pensa esperar até à hora da
morte como fez o salteador que com Ele foi crucificado? Um ainda foi
a tempo - mas o outro já não, pois não alcançou misericórdia em
tempo oportuno. Não poderá deixar ocorrer que aconteceu com o que
não foi salvo e que naquele momento só podia ser egoísta e incapaz
de parar para pensar como mereceria ser condenado precisamente
porque não buscou de Deus em tempo real um coração que fosse
perfeito para com Ele? Haverá muito poucos que consigam uma
sobriedade igual à daquele criminoso que se salvou mesmo em cima do
último momento. Por isso, não facilite em nada sobre questões tão
importantes como são a nossa eternidade porque haverá sempre "um
caminho que ao homem parece direito (do qual) o fim é a morte",
aquela sem qualquer volta possível! (Prov.
14:12;16:25). Como poderão as pessoas entender tudo isto se
não usam tempo para inquirir agora para obter respostas amanhã ou
mesmo hoje, respostas reais mesmo e não menos duvidas? Como poderá
alguém dizer de coração aberto que "o Senhor esclarece as minhas
trevas" (2Sam.22:29) sem fazerem
bom uso do tempo no qual ainda vivem? A vida é curta demais e sendo
assim mesmo, deveríamos saber usar da melhor maneira o que nos pode
vir a faltar oportunamente!
Que disse Cristo de Maria? Que ela escolheu a melhor parte, a qual nunca lhe
será tirada. Que faz você? Será que ainda vai conseguir derramar
todo o seu unguento precioso sobre quem você ainda não ama de
verdade? Será que vai a tempo de consegui-lo ainda? Vai conseguir
amá-Lo assim sem sequer passar tempo só com Ele? Como poderá vir a
cumprir a lei "amarás o teu Deus com todo o teu coração e com toda a
tua alma" e com todo o teu tempo, se não gastar o seus minutos por
inteiro apenas para conhecê-Lo melhor e mais de perto e com mais
regularidade ainda? Como se poderá vir a amar quem não se conhece
realmente, mesmo que d'Ele se oiça regularmente, diariamente
mesmo? Raciocinemos e deixemo-nos então de hipocrisias estranhas e
invulgares, mais precisamente aquelas que são sempre muito
vulgarmente e mais facilmente aceites em qualquer meio que pretende
ser só religioso e nada mais, daqueles que só têm fama de estar
vivos! (Apoc.3:1)
Ora, aqui estão umas das muitas razões porque as pessoas nunca se esforçam em
conseguir tempo para auscultarem Deus em seu intimo e dentro dos
seus quartos que pensam ser solitários por nunca lhes passar pela
cabeça que Deus lá estará se assim quiserem:
-
A naturalidade da sua arrogância aliada a uma tentação
preguiçosa em distrair-se em vez de curar-se quando lhe falta paz de
espírito, faz com que qualquer pessoa que sofra deste vírus dormente
se oponha a Deus e à sua própria consciência contrapondo sempre que
Deus está em pleno controlo de tudo e que não será o seu esforço em
deixar os seus afazeres que mudarão as coisas, isto a seu ver. Será
sempre mais fácil trocar o quarto que imagina cheio de solidão, por
um bom ou mesmo mau programa de televisão cheio de fofoca e
violência por este lhe parecer poder oferecer companhia. Muitas
vezes é Deus quem coloca sobre si aquele sentimento de solidão e de
fraqueja sob o qual manqueja, para que assim se dirija àquela fonte
de vida. Mas porque não gosta daquilo porque se está a passar, logo
entristece o espírito que opera em si esta fome de estar com Ele a
sós, indo se destrair conforme "o curso deste mundo". E se tal
programa conter coisas instrutivas ainda maior e com mais força se
torna qualquer desculpa de nunca se estar com Deus, pois acha-se que
não se pode perder um bom programa. É por essa razão que Cristo diz
que aquele que perder a sua vida ganhá-la-á e aquele que ganhá-la,
perdê-la-á. A tal companhia é solidão no fim de todas as contas e a
'Solidão' afinal é a companhia que sempre buscamos, desde que nos
conhecemos!
-
Qualquer forma incrédula de ver as coisas (como a
opinião de que só as orações dos 'fortes' são ouvidas, ou mesmo de
estar com a consciência intranquila e em consequente temor de se
aproximar de Deus, ou ignorando que as únicas coisas que permanecem
precisam de tempo para se apoderarem de todos os nossos sentidos),
opõe-se sempre a um real "conhecimento de Deus" na Sua plenitude,
naquela que prometeu a todos quantos crêem. Daí a intranquilizar-se
cada vez mais em sonolência espiritual, vai apenas um pequeno passo.
Por isso adverte Paulo contra todo e qualquer tipo de "altivez que
se levanta (sempre) contra o (pleno) conhecimento de Deus"
(2 Cor.10:5).
-
Na minha modesta opinião, as pessoas procuram sempre
algo mais do que aquilo em que não querem crer, ou porque nunca lhes
convém ou simplesmente porque nunca lhes agrada. É-lhes sempre
difícil aceitar que Deus sabe e tem sempre melhor do que aquelas
coisas que conceberam sonhando em suas vidas de adolescentes ou
mesmo de adultos. Como têm sempre argumento contra Deus, concebem
"ovos de basilisco" e emaranhados de "teias de aranha" que os
prendem sempre nos seus sofás e nunca os deixa criar tempo quanto
baste para se porem de joelhos diante do Rei dos Reis,
oferecendo-Lhe apenas o melhor que têm, sempre que precisam, isto é,
sempre que não se sintam bem consigo próprios, com Deus, com o seu
próximo ou apenas e tão só com a sua consciência. o Melhor para Deus
é aquilo que temos, tudo quanto temos, seja uma consciência pesada,
seja uma leve e favorita.
-
Uma falta de vontade evidente ou não, reconhecida ou
não, em se submeter à vontade de Deus para a sua vida,
principalmente no que toca a pessoa com quem Deus quer que nos
casemos ou não casemos, ou da vontade de Deus em falar a
verdade com alguém de quem mantemos uma certa relutância em nos
aproximarmos sem preconceitos nem vergonha, timidez, frigidez ou por
falta de amor, ou uma carência da consciência da realidade no que
toca a perdição do tal próximo, pode-nos muito facilmente separar do
nosso quarto para irmos de encontro ao que nunca gostaríamos de ter
de aceitar.
-
Uma tristeza injusta e desmesurada contra Deus e as suas
maneiras de nos tirar do mal que concebemos como boas coisas desde a
mais tenra infância e que por essas razões passamos a considerar mal
as suas maneiras, passando a tê-las como rudes. Não aceitamos que
Deus tenha razão naquilo que faz mesmo que nos doa muito. É difícil
conceber que Deus possa ter grandes propósitos através de meios que
dificilmente aceitamos por desconhecermos certas verdades acerca
d'Ele e da sua melhor vontade para as nossas vidas, se é que as
queremos abundantes e repletas de alegrias sem igual. Mas para tal,
é preciso acreditar que Ele tem as suas razões em nos dar coisas que
às vezes acabamos por aceitar com alguma dificuldade.
-
Se, porém, aceitamos que Deus tem razão e poder de fazer
o cozinhado que consideramos ser 'castigo', detemo-nos em tristeza
contra nós próprios por estarmos a merecer de qualquer forma tudo o
que nos advém. É precisamente aqui que muitos entram no abismo de
auto-condolência que tanto mal prevarica contra nós mesmos. Veja-se
o que David fez quando Deus o castigou com a morte filho do seu
pecado em
2 Sam.12:18-3 e interrogue-se o
leitor porque razão amava Deus tanto a David acima de qualquer
suspeita. Tudo o que Deus faz é bom e acumula num bem duradouro em
nós ou fora de nós. Por essa razão dizem as Escrituras que "todas as
coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus (ou daqueles
que possam ainda vir a amá-Lo), daqueles que são chamados por seu
decreto", (Rom.8:28). Já não
podemos dizer o mesmo daqueles que não amam ao ponto de sua própria
vida lhes ser de valor superior a uma comunhão com um Deus real, com
aqules que apenas dizem que O amam, mas mentirosamente.
-
Um qualquer pecado nosso ou não, que nos tira a boa
disposição espiritual (compreenda-se
Lucas 1:17) e que nos leva a acumular ainda mais pecados por
uma notória falta de liberdade em confessar e reconhecer o mal
quando este nos visitou, se é que nos visitou, faz com que a
consciência pese demais para que possamos levantar-nos dos nossos
cadeirões de lamentos e venhamos a Deus sem mais demoras. "Portanto,
tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados. E
fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja
se não desvie inteiramente, antes seja sarado. Segui a paz e a
santificação sem a qual ninguém verá a Deus, (nem os crentes!),
tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus e de que
nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe e por ela muitos se
contaminem", (Heb.12:12-15).
-
Negligencia e descuido em não se ser sincero na procura
de Deus, pode fazer infiltrar perda de tempo enquanto estamos de
joelhos nos nossos quartos. Estar lá por estar, também a nada nos
leva, de facto. A evidente falta de sinceridade faz-nos estar sós em
nossos aposentos quando oramos e isso faz com que a sentida solidão
provocada pela ausência muito mais que justa de Deus em Espírito dos
nossos aposentos e corações, nos faça hesitar em buscá-Lo também,
seguramente. Essa hesitação pode-nos fazer virar pilares de sal que
para mais nada servem senão serem pisados com as injúrias verbais de
todos quantos nos rodeiam, sendo provavelmente essa a única formula
por Deus achada de preservar toda e qualquer verdade, desagregando-a
ostensivamente de nós para sermos conscientemente considerados maus
exemplos para que assim a verdade de Deus saia um pouco incólume das
nossas incoerências desprezíveis, do ponto de vista divino.
-
Os nossos apetites sexuais, vícios, incompatibilidades
de humor, impaciência, desleixe naquilo que deveríamos fazer bem e
outros, trazem-nos um forma de ver as coisas que podem afrontar Deus
muito levianamente devido à fácil normalidade com que aceitamos tais
práticas descompensadas de qualquer coisa que nos faça auferir um
qualquer prazer na mentira quando pensamos estar em espírito. É
sabido como as pessoas dão muito mais valor a que se faça justiça
pelas próprias mãos, se enfureçam sem ser por causas justas (sendo
justíssimo apenas aquilo que se faz contra si mesmos); também como
aos vícios dão razão de ser, encobrindo as próprias incoerências com
palavreado fácil de admitir que ninguém tem nada a haver com aquilo
que se faz do próprio corpo, ignorando assim que o suposto templo de
Deus (o nosso corpo) seja profanado tão levianamente quanto
possível; serão estas as coisas que nos trazem uma natural separação
de Deus e será por essa razão que nos sentimos a sós no nosso quarto
pela ausência forçada de Quem lá deveria estar em nós e por nós. Por
essa razão é que sentimos solidão quando ousamos ir buscar a Deus o
que trazemos do diabo em nós! Se o sexo e as mentiras que criamos à
volta dele, nos desviam de coisas concretas e de resolver as nossas
buscas mais sinceras e honestas, nada mais como resolver a questão
duma vez por todas, embora não sozinhos mas sim com uma liderança do
próprio Jesus em nós porque não há pecado do qual Ele não nos possa
salvar. Por isso diz a Bíblia que Ele pode salvar até à perfeição
qualquer que d'Ele se aproxime para tal finalidade,
Heb.7:25, e não salvar apenas. (Convém realçar, então, que a
perfeição nunca serão as renuncias de sexo, ira e outros, mas sim o
seu uso puro dentro daquilo que estará certo).
-
Desapontamentos anteriores quando passamos muito tempo
de joelhos sem obtermos qualquer sinal, nem qualquer resposta por
motivos que não queremos ou não sabemos facilmente reconhecer por
falta de sabedoria espiritual. "Portanto, o meu povo será levado
cativo (para as garras do pecado) por falta de entendimento",
(Is.5:13; Oséias 4:6).
Diz-nos em sua carta o meio-irmão do nosso
Senhor Jesus Cristo: "pedis e não recebeis porque pedis mal, para o
gastardes em vossos próprios deleites". Ora, levando em conta que é
possível o tal fenómeno de não recebermos o que pedimos por razões
que sejam crimes não confessados ou não regularizados, temos assim a
oportunidade de ir ter com Deus perguntando-Lhe o que se passa e
porque não responde Ele aos nossos pedidos. Não será difícil ser
atendido num pedido deste calibre, pois dentro da sua vontade se
situa tal clemência e "se pedirmos alguma coisa conforme a Sua
vontade, Ele nos ouve"
1João 5:14,15. Bastará tão só dar
razão sincera a Quem a detém desde sempre e vencer assim a
resistência que nos priva de ir ter com Deus. Se não deixarmos de
ser sinceros, reconheceremos que estamos desanimados com algo por
falta de "compreensão" da parte de Deus e se assim for, Ele nos
mostrará desde logo porque razões essa Sua falta de compreensão é
justa e incompatível com aquela Sua natureza ou no mínimo
razoavelmente incompreendida por nossa falta de entendimento das
coisas.
-
É também muito comum a qualquer pecador - devido
principalmente à sua natural incredulidade por estar separado da
real presença de Deus por alguma razão que pode conhecer ou
desconhecer - pensar que Deus é apenas para uns quantos
privilegiados que andam em cima da terra. Embora isto seja verdade,
pode muito bem suceder que tal pessoa injusta e precipitada nas suas
análises a sangue frio, passe a ser um desses privilegiados, pois
Deus manifesta-se a qualquer um que tenha perdido algum ou muito do
seu precioso tempo a limpar a sua vida. Jesus disse:
"bem-aventurados os limpos de coração, porque eles
verão a Deus" Mat.5:8
e deduzimos implicitamente que aqui não fala apenas
de ver Deus depois da morte, mas sim aqui e agora, também para
alguns limpos de coração, mas para todos os limpos e lavados em Seu
sangue - desde que seja verdade mesmo. É verdade que quem vê Deus
serão tão só os limpos de coração e ninguém mais - mas é verdade
também que serão todos e não apenas alguns. Estes poderão então
passar a ser considerados como privilegiados e de facto não poderei
argumentar contra tal percepção das coisas, mas daí a assumir que só
alguns poderão limpar as suas vidas e restabelecer assim aquela sua
vida interior e não só, àquela glória original e sem discrição
possível, é uma presunção maliciosa que pretende tão só culpar um
inocente Deus das nossas desnecessárias incompatibilidades com a Sua
Vida. Aquela que nos dá se a pedirmos atempadamente, que se pode
transformar em grandes "rios de água viva que saltam para a Vida
eterna". Ou não teria Cristo dito sem qualquer leviandade que "Eu
vim para que tenham vida e a tenham com abundância"
João 10:10, pois disse "se assim não
fosse Eu vo-lo teria dito". Tendo um coração limpo, em nosso quarto
nunca estaremos a sós, pois lá veremos Deus.
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Existirão muitas mais razões que nos levam a desfalecer
antes mesmo de entrar no único Santuário aceite por Deus e que só
Ele para nós reservou desde há muito, o qual não foi obra de
qualquer homem mas sim de Jesus. Caberá assim a quem quer ser
realmente feliz com o seu Deus, desvendar porque razões não carrega
consigo o modo e a única maneira de se sobrepor aquela privação
anti-natural de não se refugiar em seu Deus acima de tudo, em vez de
se refugiar no seu próprio mundo, no dos outros, seja esse religioso
ou não, seja de auto lastimação ou de incompatibilidade física,
doença ou cansaço - coisas que Deus facilmente poderá resolver ou
não desde que com Ele vamos ter sem mais demoras e sem mais
desculpas de mau vendedor daquele nosso peixe que facilmente
apodrece ao sol dos nossos pecados e do qual só nós dispomos. É de
lamentar que ninguém ache que não existe nada mais anormal e
anti-natural do que recear ir ter com Deus, ou de apenas não desejar
estar com tal Ser tão doce e muito mais real e que se manifesta
sempre acima de qualquer das nossas melhores expectativas. Nunca é
normal alguém não buscar Deus de todo o coração e só por essa razão,
deverá o meu caro leitor descobrir porque razão se anormalizou e
desumanizou assim tanto, não querendo buscar Jesus e apenas a Ele e
nenhum outro santo que a ninguém poderá ouvir, esteja este vivo ou
morto. Porque se afastará uma ovelha do rebanho do Seu pastor sem
ser por razões muito obviamente contra procedentes e anti-naturais?
Tais coisas nunca serão assim tão normais como se faz passar por aí.
É que quando alguém diz que não sabe se Deus existe ou não mas que
acredita n'Ele e que desejava poder encontrá-Lo, apenas corrobora
tudo o que aqui digo. Nunca será normal qualquer pessoa viver longe
do único ser para o qual foi criado e para o qual deverá viver
eternamente, tal qual um rio é sempre uma cavidade na qual deverá
sempre haver água corrente.
Continuará quem me escuta ausente do seu quarto por troca de um outro afazer,
seja este aparentemente para Deus como pensava Marta seriam os seus
cozinhados, ou tão só para nos distrairmos pensando que encontramos
solidão quando buscamos Deus? Será porque conhece bem a vida dos
religiosos que nunca encontram aquilo que pensam que buscam, que
pensa que Deus lhe dará uma pedra em vez de pão? Não permita que a
falta de vida mais que evidente nas vidas de quem lhe prega aos
domingos o levem a imaginar e a conceber tais alucinações tão
mentirosas! É evidente que se a perspectiva for realmente outra,
nada nos poderá vir a separar do amor de Deus em Cristo Jesus!
Confirme lá se isto que escrevo é verdade ou não. Dê a Deus o que é
de Deus então: seu tempo integral.
José Mateus
Portugal