A VIDA ETERNA
"E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro
e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste"", João 17:3
UM APONTAMENTO
É muito fácil e cómodo transformar a vida em algo que ela não é. É corrente
muita gente corresponder e responder de maneira errónea quando se fala
de vida ou mesmo da sua vida, daquela que não tem. A vida a correr bem
significa um bom ordenado, saúde e que mais. Mas quando se fala de Vida
em termos reais, nos termos nos quais a própria Bíblia os coloca,
surpreende-nos não só a franqueza mas também a veemência com que nos é
proposta, como se ninguém sem encontrar Cristo em pessoa a tenha como
possuir. É claro que isto parece um absurdo, mas quero e peço que,
quando chegar ao fim desta leitura consiga ver, não só que nunca se
tratou de nenhum absurdo, mas que também é possível, desejável e um
pleno mandamento ainda em plenas funções de Vida eterna para qualquer um
que queira, para qualquer um que a não queira comprar mas receber
pagando o preço da substituição duma que nunca foi vida por outra. É que
não é preciso comprá-La, mas para vivê-la e viver nela exclusivamente,
terá necessariamente de ser em vez de uma outra vida, pois estas serão
sempre incompatíveis uma com a outra, tanto em realidade, como em tudo o
que as possa rodear e envolver. A vida terrena nasce e abunda em ilusão
e, por não ter bases que a mantenham, prejudica e torna infeliz porque
ninguém tem como viver de ar durante muito tempo sem se sentir seu
vácuo, um vazio envenenado, pura irrealidade. A Vida eterna, aquela que
se experimenta já, aqui na terra mesmo, é real, virtuosa e não dá espaço
ao desleixe de nenhuma irrealidade e tem outra forma de ser vivida. É
aqui que jaz o segredo dela, pois é simples, pratica e ao alcance de
qualquer um que a queira assim, desse jeito.
Quem está habituado a carregar chumbo e vive com essa realidade desde que nasceu,
dificilmente se habitua e aprende a usar os mesmos braços, o mesmo
coração a elevar e carregar uma pena - ou algo mais leve ainda - sem que
ache estranho fazê-lo. Por essa razão - e não só - esta vida se torna
num caminho estreito e apertado e mesmo sendo leve e suave, no entanto,
poucos a conseguem ver e experimentar, pois carregavam sua vida anterior
e agora esta vida é Quem os os carrega para onde não sabem pois tentam
lidar com ela como se fosse algo estranho, ilusório e como se de chumbo
se tratasse ainda. Ela é real e não admite ser tratada como se desta
vida de ilusão se tratasse, pois não tem como ser tratada da mesma
forma, ofende-se se tentar ser vivida pela "força e violência", pela
ilusão e não pelo Espírito - "Esta é a palavra do Senhor, dizendo: Não
por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos
exércitos", Zac.4:6. E lemos que "E desde os dias de
João, o Batista, até agora, o reino dos céus é tomado à força e os
violentos o tomam de assalto", Mat.11:12.
Mesmo tomando-a de assalto (pois assumimos que aquilo que Jesus diz é verdade
e que a tomam de facto, mas em emoção e comoção por ser algo que os
humanos considerem como de "outro mundo") nunca ninguém se manterá nela
por muito tempo sem que seja pelas suas regras de realidade e aceitação
simples de como é real, natural e espontânea - no fundo, uma dádiva sem
igual. Esta Vida que procuro propor, da qual ouvimos da boca do Senhor
Jesus como sendo um "jugo suave e um fardo e leve",
Mat.11:30, terá sempre outra maneira de ser vivida e experimentada
e ninguém terá como acrescentar a ela através da preocupação e o
desleixe próprio que advém duma vida preocupada - é a pessoa atarefada
que se torna preguiçosa por se tornar afadigada. Esta Vida é um
mandamento e ai de quem não a tiver conseguido achar desse jeito! Melhor
lhe seria ser atado a chumbo e ser atirado no fundo do mar. Por isso diz
Jesus: "Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos e eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.
Mat.11:28,29. "Este é o descanso, dai
descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir",
Is.28:12. "O meu povo habitará em morada
de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos de descanso",
Is.32:18; "Portanto resta ainda um
repouso sabático para o povo de Deus", Heb.4:9.
Esta Vida eterna começa aqui e agora e assemelha-se a rios de água viva quando
vivida na plenitude prometida. Cristo disse: "Eu vim para que tenham
Vida e a tenham com abundância". Se isto é uma promessa, significa que o
indivíduo não a possui e que algo mais que viver como sabemos terá de
nos acontecer ainda, pois é possível haver sonambulismo a ser aceite
como vida em plenas funções, pois sabemos como alguém em profundo sono é
sempre capaz de fazer coisas impressionantemente bem e similares a uma
vida normal. Conheci uma moça que lavava a sua loiça enquanto dormia sem
nunca partir um copo sequer - e fazia-o todas as noites. O facto é que,
quando o fazia acordada, partia a loiça. Se por acaso isto ocorrer com
muita ou mesmo toda a gente, sempre e sem interrupção, criam-se
circunstancias favoráveis a que as pessoas deixem de conhecer e
reconhecer a vida em estado normal, isto é, o ser possível fazer as
coisas em estado vivente e não dormente.
Quem deixa de conhecer assim a vida, pode mesmo deixar de a desejar e, mesmo
desejando-a, deixa de crer que é possível ser a sua prometida Vida, se a
sua "vida" dormente lhe der razões para se sentir angustiada,
desprezada, vingativa e envergonhada do seu Deus, amargurada e com
vontade que assim não fosse devido àquela amargura que sente por culpa
própria. A amargura cria obstinação e vingança é obstinação. Todos
procuram algo que corrobore e apoie a amargura que de dentro de si brota
e pela vingança contra Deus e homens - muitas vezes contra si mesmos -
acham um certo meio de escape, uma chaminé pela qual deixam escapar seus
maus cheiros todos à custa do queimar de sua própria vida. Por isso
lemos sobre a profecia de Enoque que, "Eis que veio o Senhor com os seus
milhares de santos, para executar juízo sobre todos e convencer a todos
os ímpios de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram e
de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram",
Judas 1:14,15. O seu estado de espírito
assiste-lhes na morte que levam e suportam dentro de si, pensando que
carregam o rei dentro da sua barriga esfomeada. Por isso disse Cristo,
"quem tiver sede, venha; quem beber desta água nunca verá a morte e
nunca mais terá sede".
Esta morte, este estado de morte dentro de si, aquele vazio que se sente e leva as
pessoas a fazer coisas muito estranhas para ser preenchido com algo, é o
oposto da tal vida eterna que Jesus propõe, mas como algo a ser vivido
depois de se negar a "própria vida", aquela que se criou para si
próprio, à volta de si mesmo. É desta morte que o livro de Romanos nos
fala, quando diz que o pecado trouxe-nos morte e que o salário do pecado
é a morte. Lemos também que os pecadores estão de facto mortos, mesmo
andando e manipulando seus membros e sentidos "Portanto, assim como por
um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também
a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram",
Rom.5:12. Esta morte traz outra ainda, a
física, a qual por seu turno nos traz outra ainda mais vazia e
desprovida de Deus pela eternidade fora, quando aquele fôlego de vida
ainda restante em pecadores lhes for retirado para sempre. O próprio
inferno não é essa morte eterna, conforme muitos ainda supõem, depois de
tantos anos de evangelho em toda a terra, mas apenas o lugar onde irão
passar seu estado de morte contínua, sem nunca terminar. Imagine-se o
estado das pessoas depois da morte sem Deus, mas sem inferno e sem
sofrimento nas labaredas de fogo. Imagine-se uma situação onde as
pessoas manterão todos os seus sentidos, todos os seus pensamentos, mas
onde o restante do fôlego de Deus - que estes antes usarem para pecar -
lhe for retirado. Essa será a morte eterna, onde estará eternamente
morrendo sem nunca morrer - o seu estado será de morte porque sempre
rejeitaram a vida. As pessoas vivem como se esta vida nunca fosse
terminar para eles, mesmo sabendo que breve terminará - nunca assumem
seu próprio fim. O vazio que sentem agora em seus quartos, em seu bares
e discotecas, o qual tentam afogar com álcool e droga, se intensificará
e não terá nem volta nem álcool para ser afogado mais. O vazio que
sentem actualmente está para a morte eterna como o cheiro da comida para
a comida - é apenas um aviso, um cheiro do que estão a pedir que Deus
lhes dê tudo que pedem. Por essa razão é considerada apenas de morte sem
a palavra eterna agregada a ela ainda (enquanto cá estão). Judas foi uma
das pessoas que sentiu esse vazio de morte nele antes de se suicidar -
por isso se suicidou, não suportando tal coisa. Só que nem esse suicídio
o livrou dela, pois a morte intensificou-se logo de seguida para o além.
É isso que um pecador sempre faz - ele é levado a fazer algo pela morte
que sente em si. Depois, no inferno, nunca terá como fazer isso de novo,
pois lá nunca mais terá para onde escapar. É este hábito de vida que
teremos de depor caso queiramos viver e conviver com Cristo diariamente,
porque as pessoas nesse estado de morte fazem coisas para se sentirem de
outro jeito mantendo o pecado que lhes provoca essa mesma morte em vez
de acharem verdadeira Vida "que vem pela piedade"
Tito1:1 em Cristo, desde que real.
Agora, existe uma forma peculiar de experimentar esta morte pensando que se
está vivendo de facto. Por norma, as pessoas crêem em Deus e acham que
são crentes. Vivem uma vida em seu próprio mundo, pensando e crendo que
é semelhante à que Deus dá. Assim, buscam Deus para terem sua própria
vida e nunca para abrir mão dela. Logo, quando buscam Deus, fazem-no
para esta vida, para encherem seus estômagos, ou "não fosse Deus um Deus
de toda a justiça"! Lemos, por essa razão, "Tendes enfadado ao Senhor
com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o havemos enfadado? Nisto
que dizeis: Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor e
desses é que ele se agrada, ou, Onde está o Deus do juízo?",
Mal 2:17.
Mas a vida eterna pode vir a ser experimentada e plenamente vivida aqui e agora -
os tais "dias do céu sobre a terra". No entanto, Deus determinou que
esta Vida fora d'Ele não seja possível. Por isso disse Cristo, "Eu sou a
Verdade, o Caminho e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim". Ora, se
tem vergonha do seu único Deus, se pensa que pode usufruir vida
agarrando-se à morte, se pensa que nunca necessita salvar-se da sua
melancolia, ou que esta pode levar a algum lugar, seja bem-vindo ao
desapontamento, pois se quiser Viver terá necessariamente de morrer
(para estas coisas). Não se nega vida por se sentir vergonha ou mesmo
embaraço dela, pois vida é vida; não se apegue à morte porque tem
vergonha de se ver relacionado com a única fonte de vida em abundância
neste grande universo que é a sua mentira, isto é, a sua própria vida. A
vida que tem levado é uma ilusão da sua mente, da sua mocidade, da
sociedade, das suas próprias capacidades e desejos e por essa razão usa
seus próprios recursos para poder incrementá-las sendo que Deus nunca o
fará por si. Existindo uma real e sem fim, que espera para negar a sua
própria que não é nem nunca poderá vir a ser? "Quem não negar e
aborrecer a própria vida (aquela que criou para lhe servir e assistir na ilusão;
própria = uma muito própria, su-generis), não pode", não tem como vir a
ver Vida na plenitude desejável, em plena conformidade com aquela
dimensão da promessa. Se tem vergonha do seu Deus, se tem relutância em
vivê-la, se tem algum capricho que ainda pensa ser alguma preciosidade
rara e se ao mesmo tempo quer ser vivente, creia-me: não lhe será
possível nunca. "Aquele que se envergonhar de Mim diante dos homens, Eu
me envergonharei dele diante do Pai", afirmou Jesus Ser crente não
basta, pois pode ainda ser crente que se envergonha de viver sua vida
conforme o jeito de Deus. O tempo de fôlego que lhe resta e que podem
vir a ser anos cá na terra, é e será só o tempo necessário que lhe será
concedido para se poder virar e demonstrar em direcção à Vida que é
eterna, constante e sem altos e baixos. Não confunda fôlego e sofridão
com vida, pois ofende a verdade. E se até um girassol se vira para o
sol, porque razão se recusa virar-se para o seu Deus? Virar de verdade e
não sentimentalmente? Muitos preferem ir à igreja do que acharem Deus de
verdade, pois pela igreja podem obter suas próprias vidas. Hoje não
jogam futebol dentro do salão de culto apenas porque o recinto é
demasiado pequeno!
Os jovens têm alvos e cansam-se; os velhos também, pois nem que seja ponto alto do
seu dia irem ao cabeleireiro. Por isso se lê: "os jovens se cansarão e
se fatigarão e os mancebos certamente cairão, mas os que esperam
(esperar de esperança) no Senhor, renovarão as suas forças (...)
correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão",
(Is.40:29-31).
O estado de espírito das pessoas leva-os sempre a pensar alto, desejar
muito e sonhar com aquilo que pensam ser vida e depois trazem tudo isso
para dentro da igreja. Criam assim um estado mental que não negam nem ao
ver a porta do caixão querer fechar-se lentamente, dando-lhes uma última
oportunidade de reconsiderarem os seus emaranhados de ilusão e engano
próprio criado apenas com o intuito de se firmarem na mentira por algum
tempo mais - tempo esse que todos sabem que acabará. Querem sempre estar
acima dos acontecimentos mantendo uma pose em forma de vida muito
própria e que os outros apoiam por estarem a viajar no mesmo barco,
embora nunca o reconheçam que assim seja, pois só os outros é que morrem
- nunca quem vê morrer.
Ora, seria um absurdo pensar que a vida são apenas uns quantos anos que acabam por
ser sempre curtos e mal sofridos sonambulamente, que se nasce para
morrer depois de sofrer um pouco - alguns nem isso. Há algo aqui muito
misterioso que vamos procurar desvendar neste espaço que espero, possa
ler até ao fim. Sigo uma linha de raciocínio real, fundamental para a
vida na plenitude que acabei por vir a conhecer, sem a qual nenhum ser
humano deve atrever-se a passar mais um minuto da sua vida sequer! Seria
tolice fazê-lo, pois quem busca certamente acha.
Tudo o que aqui escrevo, é real, é possível, é simples e é caro mas sem preço: só
custa a vida que nada lhe trouxe ate ao dia de hoje - e se trouxe, não
poderá manter o que trouxe por muito tempo. A vida que proponho sem
vergonha de viver ininterruptamente, é e será sempre eterna, sem fim,
constante e na dimensão de Quem é. Proponho pois que não a compare com a
que tem ou pensa ter, (pois está escrito que "aquele que não tem, até o
que tem lhe será tirado", Mat.25:29),
mas que se prepare para as surpresas que pensou ou não, nunca serem
possíveis.
Não se trata de nenhum fenómeno, mas sim de algo que não conhece. Como não conhece,
afinal existe! Se não existisse, conhecia, pois todos gostam e
apreciariam ficção para que tudo aquilo que não é ficção possa ser
sumariamente desprezado. Ainda hoje se acha que a realidade nada tem de
bom e de belo para oferecer, ao que respondo, "a sua realidade" não tem
nada mais ou nada demais para oferecer. Mas a que proponho responde e
tem como corresponder muito acima de qualquer expectativa humana; será
que ainda hoje se dirá: "virá alguma coisa boa da Galileia?" Para tirar
qualquer dúvida, deixe de ir aos santuários e entre no seu quarto. Fique
lá até encontrar essa Vida. Verá que será apenas assim que se libertará
do sufoco que a serpente do seu engano lhe causa à volta do pescoço.
Todo o seu desconforto desaparecerá por si e a verdade renascerá,
Is.60:15,19,20. Peça-A a Quem não é de
pedra nem de porcelana - a quem tem como ouvir e a Quem tem como e o que
dar. Pedra não ouve, não se mexe, nada tem a haver com esta Vida nem com
outra qualquer. No entanto, muitos evangélicos a tratam como se ainda
fosse de pedra, mesmo abominando os ídolos aparentemente. Por essa razão
pulam e saltam, dançam e cantam, para terem como pensarem estar a
experimentar algo que nem de perto passou por eles. Quando Deus se
manifesta, quem não saberá dessa ocorrência? "Todos Me conhecerão, desde
o mais pequeno ao maior deles, diz o Senhor dos exércitos e ninguém mais
dirá conhecei ao Senhor, porque todos Me conhecerão". "Aquele que Me
busca encontra". Mas, caso busque a Cristo, nunca pense vir achar outra
coisa senão Aquilo que busca apenas. Se busca Cristo, achará o que busca
e não o que você acha que deveria achar perto dele, para si. Se não
encontrar, escusa de ser fingido na hipocrisia, acreditando naquilo que
não viu. O que Deus nos pede é você acreditar na verdade - nada mais. E
a verdade é possível contando que não se alegre mais e apenas com a voz
da mentira e da ilusão - é essa a condição - e que quando a verdade se
manifeste, deixe de pular como louco como se esta não existisse.
CAPÍTULO 1
O SENTIMENTO DE CULPA
A culpa é a força motriz de muita coisa opaca. É sempre algo que não se reconhece e
por essa razão só os outros a têm. Torna-se desta forma, um terreno
fértil a muita propaganda sem fruto. O mundo habituou-se a acusar para
se defender, a gabar-se para encobrir, enquanto se crê para desacreditar
o que não desejamos que seja verdade e que a única defesa possível é
nunca dar-se como culpado - a menos que não exista mais nenhuma
possibilidade de defesa. Mesmo quem não se esconde, nunca se quer achar
ou dar como culpado - por essa razão muitas vezes também se opta por não
errar, não porque não errar seja um modo de vida genuíno, mas antes um
meio de fugir à acusação. É deste modo, também, que muitos reconhecem
para encobrir e escaparem ilesos miraculosamente, pois não havendo
alternativa confia-se nos deuses das suas mentes pervertidas
egoisticamente pela confissão. Há quem confesse apenas para se
proteger a si mesmo. Não se chega assim a reconhecer por existir erro e
crime, não se acumula graça sobre graça, ninguém se detém para ser
honesto quanto a questões que apenas salvam e nada mais podem
proporcionar, a seu ver, do que aquilo a que sempre tentaram escapar:
paz com Deus e boa vontade para com os homens, para além de paz em si
mesmos, Is.27:5. Uma tranquilidade de
consciência, custe aquilo que nos custar, pague-se o preço que se pagar,
nunca transparece como motivo e condição para nos apoderarmos daquela
força que nos advém por havermos alcançado uma proximidade e intimidade
com Deus, isto é, apenas um motivo egoísta seria razão para se
reconhecer e confessar. Um culpado, só sai do seu sentimento de culpa,
reconhecendo pelos motivos certos - uma pessoa que se quer limpa e sem
consciência de seus pecados outrora cometidos, terá de os vir reconhecer
e confessar diante de Deus pela verdade. Por aqui, se vê que muitos
culpados acabam sempre por reconhecer como forma egoísta de sair de suas
próprias acusações (e de outros), mas não para ficar limpo de todo
pecado. Sabemos que é essa consciência de pecado que mantém o pecado
ainda em vida e que se Cristo a tirar de facto, todo pecado morre. Por
essa razão reclamam as Escrituras em forma de voz de Deus dizendo firme
e convictamente: "este é o refrigério, dai descanso ao cansado, este é o
descanso: mas não quiseram" Is.28 22.
Preferimos prosseguir, acusando de preferência Deus
naquilo em que fomos nós quem falhou gravemente. Ou então reconhecermos
para termos sossego em nós enquanto pecamos, mas nunca paz real com Deus
"que abomina a iniquidade".
O primeiro obstáculo no caminho da eternidade será, por isso, a culpa do pecador. O
primeiro passo para se largar o pecado, é a confissão do mesmo diante da
luz de Deus, perante Deus, gente e anjos. O primeiro passo para sairmos
de todas as acusações reais de consciência, é o sangue de Cristo lavando
nossas vestes e será o primeiro passo também para vestirmo-nos de umas
brancas que não se sujem mais. O que acontece dentro de nós durante uma
confissão integral de todos os nossos muitos pecados, é algo que não se
tem como descrever usando meras palavras. Existem pessoas que perdem por
inteiro toda a consciência de pecado, são lavados e purificados de tal
forma que estes se afastam de si para tão longe quanto o ocidente está
do oriente. Isto ocorre de facto, em toda a verdade. É um trabalho de
interiores fantástico, este que Cristo conclui em nós - basta começar
com ele sem nunca querer concluir mesmo antes de se haver começado por
razões pretensiosas e egoístas, concluindo um trabalho que nunca se
chegou a fazer.
Os que são inocentes não bramam, não gritam e saem ilesos. O nosso estado de
espírito diz que não porque são todos maus - todos menos nós, as únicas
vitimas! Se reconhecêssemos que os inocentes saem ilesos, pedíamos para
nos reconhecerem como culpados, pois nada temos de ilesos e gostaríamos
de ter e sabemos que a inocência perdida sempre volta através da
confissão de todo pecado diante de Cristo. Por esta razão,
reconheceremos sim que Deus existe, mas se for para o culparmos da
angustiosa falta de Vida na qual nos encontramos, mas que não sabemos
muito bem como explicar nem como exprimi-la, a não ser achando Alguém
como supremo culpado das nossas próprias falhas. "Não foi Ele quem nos
criou, se é que nos criou?", perguntamos em forma de argumento
acusatório. "Nós pecamos, mas Ele nos criou!"
Quando nos convém, pois, achamos que Deus existe. Da mesma forma, quando nos
convém, confessamos. Quando não nos convém, nem reconhecemos culpa nem
que Deus existe. Toda a incredulidade será sempre um pecado de
conveniência e que coincide profundamente com muitas das aspirações
ilusórias de qualquer pecador. Um pecador nunca acredita naquilo que
ouve - crê e descrê apenas naquilo que lhe convém! Por essa razão, Deus
passa por eles à distância, de tal forma que lhes é dado conforme sua
fé, pois se crêem que Deus não existe, a medida de sua fé e desejo fará
com que Deus nem actue a favor ou contra eles visivelmente. Serão
colocados em muitos lugares escorregadios onde confirmam, contra sua
própria consciência de todos os factos, que Deus nunca existe. E é
verdade que Ele não existe - para eles - pois estarão tão afastados
d'Ele, quanto o Sul está do Norte. Mas não que Ele esteja por longe, mas
sim que a consciência do pecador nunca teve uma experiência real da
factual, real e consoladora presença de Deus em toda a sua vida,
começando pela vida interior. É por essa razão que lemos assim da boca
de Pedro: "Arrependei-vos, pois e convertei-vos, para que sejam apagados
os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da
presença do Senhor", Act.3:19.
A partir desta presença do Senhor - real e não fingida
ou crida imaginariamente - nasce a verdadeira fé que é uma prova daquilo
que não se vê. A fé se não fizer prova, é falsa. A fé real é e nasce
como fruto duma verdade comprovada sem se saber como. (É verdade que a
pessoa nasce por dentro, onde nada vê, mas sente e comprova os ventos
que sopram por lá). Logo, muitos crêem que andar no escuro é fé - mas
andar na luz é que é.
Por natureza, o pecador acredita logo na mentira e se algo de real e
verdadeiro cruzar seu caminho, ele descrê, pois não bate certo com seu
estado de espírito, com sua natureza de ilusão. Por isso é que muitos
crentes aceitarão logo um Deus ilusório. (Eu nunca vi ninguém rejeitar
um Deus real, tanto quanto todos os crentes o fazem! Uns de uma forma,
outros pelo emocionalismo, outros crendo sem poder crer). Se a fé não
for uma consequência, uma comprovação experimental, é sumariamente
falsificada - ninguém passará em impunidade diante de Deus, promovendo-a
de alguma forma, pequena ou grande, Presbiteriana ou Pentecostal!
Todo o emocionalismo é a outra face da real incredulidade, pois onde Deus não
está presente, fazem crer que está. É obvio que ali, o diabo que não
dorme, aproveita para promover uns sinais de ocasião, passando por Deus.
Quem crê não inventa. Quem tem, não procura sentir que tem. Se Deus não
se aproxima de mim na minha simplicidade, porque razão o fará quando eu
estiver com a corda toda dada?
E precisamente por razões como essa que Deus diz para nos acercarmos ao
ponto de podermos entregar a nossa outra face ao "descalabro", porque
Deus reina e governa o ambiente dos que são puros de coração, pois os
limpos de coração vêm Deus nas suas vidas, nunca inventando que o vêem,
pois não necessitam ser enganados, Mat.5:8
- os outros que não estão limpos não vêm, mesmo que esteja presente. Os
crentes não são tolos, pois sabem que Quem vai defender suas causas, se
nunca levarmos em conta a misericórdia que se deve mostrar por haver
sido ferido por alguém que nunca terá como escapar das mãos vingadoras
de Deus, é o próprio Deus. Assim, sabendo que é Deus em pessoa que vai
julgar quem ofende e fere a face de alguém, quem confia não teme que
seja o Próprio a restituir a quem bate na face do lado errado, isto é,
devido ao pecado que a isso instiga. Como esse acto nunca ficará impune,
prosseguimos sem perdermos tempo em vinganças que não magoam sequer, mas
que têm o poder de trazer mais subversão a quem espera que se reaja
vingativamente, retribuindo estalo ao estalo que recebeu. É precisamente
isso que os criminosos esperam que se faça, pois não crêem ser possível
um fanfarrão nunca ser aquilo que pensa ser. É essa a sua queda, a razão
porque cai, havendo sido posto em lugares escorregadios onde não tem
como vir a discernir que está em queda livre, pois acha que ascende
quando cai de facto, (Salmo 73). Por
isso diz Deus a quem tem ouvidos, que "não temas quem mata o corpo e
depois nada mais têm que fazer; temei Aquele que depois de matar, tem
poder para lançar no inferno. Sim, vos digo, a Esse temei",
Lucas 12:4.5.
Outra maneira de se solucionar e contornar a questão, e tornar os seres
humanos permissivos ao ponto de aceitarem os nossos crimes sem objecção
possível, isto é, uma sociedade onde o crime compensa, onde o adultério
é forma corrente de vida quotidiana, onde mentir não está mal, onde
todos se acham humanos, (querendo com isto dizer que serão todos dados
ao erro quando lhes convém! E como foi Deus Quem assim nos criou, a
culpa de todos os nossos pecados será d'Ele - ou assim pensamos); onde
se pense e acredite que não se pode ir a lado nenhum sem mentir e sem
enganar, nem que seja só de vez em quando. Perde-se por completo
qualquer sede de justiça, qualquer desejo de se ser puro precisamente
porque se acha que se é mal visto quando se faz e pratica por natureza
aquilo que se acha estar certo, onde os que nos são próximos são alvos
da nossa cobiça e sentimentos e se nada tiverem para nos dar, perdem
todo seu valor real. O próximo passa a ser estimado apenas como um mero
objecto da nossa (in)felicidade. O único meio de poder que se acha, que
se pensa existir ali mesmo à mão, de se poder manifestar, é a critica ou
o louvor, o sentir-se tristeza por aquilo que não fizemos, não recebemos
e que os outros nos fazem. Sentimo-nos mal com as coisas que os outros
nos fazem e dizem, mas sentimo-nos apoiados e carentes de fazer e dizer
tudo quanto nos apetece e nem por isso nos sentimos nem ma, nem tristes.
E se de facto nada de mal fizemos mas o mal aparece feito, mais fortes
no apontar do dedo nos tornamos, pois é precisamente desse fôlego que
necessitamos para nos sentirmos fortes e com a razão nos apoiando e
efectivando no pecado da má língua e do mau estar e do mau pensar. Tendo
a razão do seu lado, qualquer pecador se sente forte e santo! Pois
quando o mal aparece feito foram sempre os outros, quando o bem,
procuramos que sejamos nós! É assim que muitas e variadíssimas vezes se
tenta encobrir aquilo que somos. Se faz isso será tão só porque é
culpado nalguma ou mesmo em muitas coisas. Logo, quando as pessoas se
sentem culpáveis, começam a querer ou encobrir porque não querem ser mal
vistas, ou a fazer melhor pela opinião e reconhecimento público pelos
outros. Logo, assim que se sentem culpados, sentem-se mal, não porque
fizeram mal a Deus, contra Deus e contra eles próprios a quem Deus muito
ama, mas porque são mal vistos, ou mal entendidos.
É, por isso, a culpa que sentem mas não reconhecem, que leva as pessoas a fazerem
muito daquilo que fazem. Procuram amizades para se sentirem conformados
com aquilo que são e não limpos de toda a culpa de verdade,
factualmente; buscam carinho para se confortarem na perversidade; adoram
tagarelar porque assim passa o tempo, ignorando até que tudo aquilo que
passa tem e traz fim; os relacionamentos são ultra-baseados nesses
princípios de vida: onde nós somos sempre os únicos com algo de bom e
dos quais o tempo para se viver nunca acaba - ou nunca deveria acabar. É
esta forma de encobrir tudo desajeitadamente que move o mundo em grande
parte. E é de esperar que assim seja, pois todas as consciências pesam
imenso e trazem consigo fardos inultrapassáveis de outra forma, fardos
esses que ninguém deseja tornar visíveis nunca. Há que achar um caminho
de fuga das acusações para um mundo auto-criado por nós próprios para
nós mesmos onde achamos que fazemos o bem, no qual só nós e os que são
tolos acreditam e no qual nos sentimos seguros e férteis na mentira que
achamos que conta e passará como verdade. Encobrindo, vivemos - é nisso
que cremos! Só nos sentimos mal se formos vistos - porque fomos vistos
e nunca porque aquilo que possamos haver feito de mal. A única coisa
que conta é a opinião sobre quem é mentiroso e vê sempre com olhos muito
próprios. Mas, há quem tudo veja como tudo é e esse vivem infelizes até
irem ter com Cristo conforme são e estão. Se nada passa despercebido a
Quem criou as mais pequenas bactérias deste grande Universo no qual nos
sentimos muito pequeninos, porque razão haveríamos ainda de encobrir
confessando? Por essa razão o odiamos e será por isso que descartamos
que exista sequer, quanto mais ser Justo naquilo que faz contra nós
"pobres pecadores"! Isto obriga a que nos tornemos verdadeiros, se
cremos n'Ele: e para um pecador é coisa de loucos demonstrar aquilo que
somos. Por essa razão "optamos" voluntariamente pela Sua não-existência.
É mais fácil achar que Ele não existe ou que existe de maneira a que nos
saiba e calhe melhor, do que acharmo-nos verdadeiramente perdidos,
conforme é de facto verdade. É-nos dado a viver conforme a nossa fé,
pois quem crê que Deus não existe ou não vê, acreditará nisso até ao
fim, pois como fruto colhe tudo o que semeia em forma de fé. E não fora
o dia do juízo final, nunca veria
Deus sequer! Mas como Deus tem de julgar o mundo, vê-Lo-ão sim, mas para
sua eterna vergonha.
Outra fórmula estabelecida nas sociedades em que "vivemos", é reconhecer Deus
de facto, mas desde que aquilo que fazemos seja considerado bom e bem
feito. Não aceitamos cá um Deus que nos imponha o que acha que está
certo, pois somos nós que criamos o nosso mundo, aquele no qual nos
esforçamos Que tem Ele a haver com aquilo que criou? E isto o que lemos
em João 1:11: "veio para o que era Seu
e os seus não o receberam". É duro demais para as pessoas e por essa
razão, terem de reconhecer Deus como Ele é e nunca como
desejariam que fosse. Foi isto que Cristo disse quando apareceu ao Saulo
que ainda não era apóstolo Paulo: "duro é para ti recalcitrar contra os
aguilhões", (Act.9:5). As pessoas
gostam de crer sim, mas desde que seja conforme melhor lhes convém -
nunca conforme aquilo que é verdade.
Existe porém outra forma eficaz de lidarmos com este peso pesado nas nossas próprias
consciências, o primeiro obstáculo no caminho de e para toda a verdade:
é o conseguirmos ser limpos de facto, de nos tornarmos sãos a nível de
culpa. Mas se somos culpados, como conseguir esse dito feito então? Será
possível alguém conseguir sentir-se ileso, inocente, puro e putrificado
depois de tantos anos de vida em pecado, de tantos hábitos colhidos nas
esquinas do diabo? Como assegurar depois o não voltar ao crime, como um
cachorro volta ao próprio vómito? Tudo isto é possível sim, pois Quem o
prometeu consegui-lo por nós em nós mesmos, criou o mundo. Por essa
razão diz Ele: "Lavai-vos, purificai-vos (...) ainda que os vossos
pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve;
ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca
lã". E não precisa ir ao padre. Encontre Cristo pessoalmente, cara a
cara e servia-se duma nova natureza onde a culpa não sopra sobre a sua
caravela e não lhe faz fazer coisas estranhas, tanto boas como más,
porque esta já não existe. Quem sabe resulta consigo também, pois poucos
há que queiram salvar-se de facto, não do interno mas da sua própria
natureza que não consideram perversa - e sair da culpa é o primeiro
passo. Tudo é possível desde que queira e desde que descubra quem é o
verdadeiro culpado da pessoa que é. Admitindo diante de Deus e dos
homens naquilo que é de facto culpado, o pecador tem como se ver livre
de toda e qualquer culpa. Não admitindo continuará sendo motivado,
empurrado a fazer tudo pela culpa que carrega e não admite nunca - mesmo
fazendo aquilo que não quer. A culpa é uma das forças de todos os males,
incluindo a desconfiança e passividade, isto é, no deixar correr o tempo
como se nunca fosse terminar para nós - os únicos que achamos não
merecer a morte.
Ora, o grande problema de não admitir culpas perante e diante de Deus, é mais
vasto do que aquilo que imaginamos. Por um lado não gostamos de admitir
seja o que for que não fale bem de nós, mesmo não sendo verdade. Por
outro lado, há coisas que nunca admitimos como erradas mas que são para
Deus. Ora, como somos seres que dependemos inteiramente de Deus (mesmo
que não admitamos tal coisa!), sentimos um leve corroer do nosso
interior, o qual nunca vemos mas experimentamos e o qual faz atribuir
aos outros toda a nossa culpa - que pensamos nunca carregar - pois não
admitimos o erro daquilo em que pensamos estar certos e no qual nos
sentimos no direito de vir a usufruir sem qualquer impedimento - porque
terá Deus de vir impedir estas coisas, perguntamos nós!
Somos seres criados à imagem de Deus; se por acaso nos afastarmos dessa imagem
sentimos um certo mal-estar que não sabemos explicar, pois é uma
consequência do mal não sabermos explicar aquilo que está certo ou
errado em nós ou connosco porque se soubermos que é por falta de Deus,
nunca o admitiremos. Isso leva-nos a fazer coisas estranhas ao nosso ser
- pecado - e a pensar aquilo que não devemos, tornando-nos assim pouco
razoáveis e recomendáveis, tornando mesmo a nossa própria existência
numa coisa simplesmente vã. Todo o resto da natureza glorifica Deus, mas
o homem, a coroa da criação, o único ser criado à imagem de Deus, recusa
suas origens e a viver conforme aquilo com que foi criado.
Esse leve corroer do nosso interior não nos deveria passar despercebido nunca,
pois é precisamente essa a luz dos homens, a que fala dentro deles
quando estão errados - isso é a ponta do véu daquela vida que veio aos
Seus e que os Seus não compreendem lá muito bem porque não lhes convém
para não terem de assumir culpas. Essa vida deixa um mal-estar na sua
ausência, deixa tal apontamento, tal lembrança ficar para trás como
lembrete: "Lembra-te, pois, donde caíste e arrepende-te",
Apoc.2:5.
Admitindo culpa, teriam então de reconhecer que estão errados em tudo aquilo que
fazem, que mentir é de facto errado e não motivo para piadas, que
desrespeitar um matrimónio é pecaminoso e infiel à própria pessoa,
quanto mais ao parceiro, isto é, ao seu intimo parecer que opina contra
isso voluntariosamente e que é sumariamente subjugado com piadas sobre
as pernas da vizinha para se justificar aquilo de que se gostaria de se
poder fazer com elas sem nos termos que sentir culpados mas sim
estabelecidos nas nossas próprias mentiras e desvarios, pois é assim que
o adultério se tornou uma forma de orgulho nacional! Daí assumir-se que
a descrença é uma opção voluntária e não só uma consequência daquilo que
fazemos e daquilo em que nos metemos de olhos abertos e através de
uma força com muitos incentivos que os outros iguais a nós muito
fervorosamente apoiam. O que mantém o sexo desvirtuado, são as
muitas piadas que todos corroboram para se sentirem em grupo contra si
próprios. Isto não é de admirar, pois se alguém é capaz de se destruir
fumando, porque não arranjar um enxame de abelhas que façam mel que
amarga no fim, dentro de si também? E porque não afirmar ostensivamente
e para proveito próprio que o amargo é doce? Apenas assim se
tem como prosseguir em frente, pois de outra maneira pensamos não obter
saída possível, pois ignoramos aquilo que Deus pode vir a transformar e
trazer para dentro de nossa vida interior - a Sua própria beleza na Sua
própria dimensão e plenitude. Qualquer crente que não possua essa
plenitude que lhe foi prometida, torna-se muito pior que um ímpio da
pior espécie!
E então, assim que as pessoas almejam a limpeza de consciência, não vivendo
conforme a sua própria constituição interior e até ganharem uma nova
auto identidade com a qual se irão identificar futuramente, nunca mais
se conformando com aquela imagem que subsiste dentro de si mesmos devido
à forma como foram criados, eliminado a antiga forma de ver as coisas
pela nova, sem que esta faça mais por aprovar aquilo que se consente
para poder se usufruir daquilo que mancha e que na sua opinião antiga
nunca deveria manchar! E de facto assim que as pessoas se sentem
apoiadas mutuamente quando o erro é colossal demais e tem de ser
substanciado através de todo apoio mútuo que seja possível alcançar nos
outros para assim usufruírem dum descanso interior auto-criado, logo se
esquecem que Cristo morreu precisamente para lhes ser um mediador dum
muito melhor concerto que esse a que aspiram - que é o máximo daquilo
com que podem vir a sonhar. E é através duma consciência calcinada que
investem neste tipo de vida de pobre e nu, pensando ser rico e vestido
com trajes de ouro fino, mas vivendo miseravelmente. Não admira pois que
a longo e a curto prazo haja um mal-estar interior, o qual se torna
insuportável e que se transporta para todos os lados devido a ser-nos
impossível subsistir outra saída, pois a nossa própria constituição a
tal não nos permite, ou não fosse essa situação significar o estarmos
longe e afastados de Deus. Ora, como defesa passamos a pensar que nos
sentimos mal porque os outros nos tratam mal - e assim prolongamos algo
a que Deus quer por termo. Maioritariamente por essa razão específica,
sentimo-nos plenamente apoiados e convictos naquilo e por tudo aquilo
que dizemos e procuramos para isso todo o apoio e concórdia do qual
podemos lançar mão, para adormecer e mortificar aquilo que nos devia
servir de alerta para nos levar a Deus. Sentimos dentro de nós ser o um
problema de facto, ou sentimo-nos mal porque achamos que Deus não nos
ama, ou porque temos problemas no trabalho os quais Deus, o sumo-culpado
de todos os nossos males, nada faz por resolver, em vez de ser porque
estamos em pecado grosseiro; é aqui que nascem a maior parte de todos os
mexericos sobre Deus, os quais fundaram muitas igrejas por este mundo
fora; de facto entramos num enorme ciclo, numa enorme roda de engano
muito próprio, do qual não queremos ser capazes de sair porque
aspiramos a uma saída airosa que nos permita o mal que achamos estar bem
e que nossos sentimentos de culpa nos são enganadores! É assim que
vivemos do absurdo, que nos tornamos em seres à deriva num mar
tempestuoso, o qual escolhemos e não admitimos sequer poder estar errado
- e quem disser que está, será considerado como consideramos todos os
nossos próprios males! E ainda dizemos que não somos nós que criamos o
mundo no qual nos achamos a delirar deste jeito! A Oeste vemos uma
bonança ilusória que pretendemos alcançar, a Este um Deus que não vai
intervir para não ter que suster o mal que nos fazemos. Por essa razão
diz ele "Quem quiser, venha.". Se Deus interviesse para bem, as pessoas
sentir-se-iam fortalecidas na incoerência que sentem e assegura,
desvirtuando assim toda a razão das coisas. Foi por essa razão que Deus
encerrou a entrada para a árvore da Vida ao que houvesse decidido comer
e alimentar-se do mal, pois lê-se que "o Senhor lançou o homem para fora
do Jardim do Éden (...) e pôs querubins e uma espada inflamada que
andava ao redor para guardar o Caminho da Árvore da Vida para que o
homem não estenda a sua mão e tome e coma da Arvore para que viva
eternamente " e faça assim com que o mal que a partir dali se
transformou no único desejo do homem pecaminoso subsista com vida, pois
essa veleidade ser-lhes-ia provável e bem possível!
Foi assim que a dissensão assegurou um trono dentro do coração, pois logo de
seguida o homem começou a escusar-se incriminando quem e quando devia
amar. Foi assim que achou bem dizer "a mulher que Tu me deste por
companheira" é culpada daquilo que eu fiz. A mulher é culpada (eu nunca)
e como Tu, Deus, a deste como ela é, és o maior culpado de todos! A meu
ver só existe um inocente no meio disto tudo e como só eu é que sei onde
começou todo o mal que em mim existe, ouve-me ó Deus, pelo menos de vez
em quando, não por Ti mas por mim!
É assim que os homens se ressentem daquilo que fazem! Eles acham que tratam mal a
mulher e os filhos por culpa destes e também por culpa de Deus que
nos faz sentir mal e revoltados! Deus acha - e bem - que nos
sentimos revoltados e com mal-estar porque havemos agido mal, porque
transgredimos contra a nossa própria natureza. O nosso interior acusa
esta situação e nós não aceitamos tal facto como consequência, tentando
remediar escondendo acusando, enaltecendo, elogiando ou deitando abaixo,
(qualquer um, de qualquer maneira, ensoberbecendo-nos como forma de
carimbar e convencer naquilo que pensamos e admitimos apenas de nós
próprios - a máxima perfeição - matando e acusando se houver quem nos
faça sentir acusados e imperfeitos, mesmo que não seja ninguém mais que
o próprio apenas que deseje sentir-se e ver-se como acusado!) Isto só
prova que sabemos o que fizemos a nós mesmos. Por sabermos é que nos
escondemos e nos refugiamos nas nossas mentiras e também nas desculpas
de situações que criamos para nos escondermos melhor ainda,
desviando-nos assim do ter de vir a reconhecer.
Existe aqui e então, uma disputa eterna entre verdade e mentira e só a verdade e
quem se apega a ela tem como envelhecer continuando perpetuamente em
refrigério absoluto. Deus diz: "tu sentes-te mal porque fazes mal"; nós
admitimos como única verdade que "nós fazemos mal porque nos sentimos
mal e com razão de o fazer e sentir assim, sempre que queiramos e sempre
que nos apeteça!" Até aqui admitimos - mas nunca mais do que isso. E
para nos podermos salvar, será necessário muito mais que isso. Deus diz:
"tu sentes-te mal porque bates na mulher que te dei"; nós dizemos: "eu
bato na mulher que me deste porque me sinto mal! E mais: ela não presta
se me faz sentir mal caso ela não tiver razões quanto baste par vir a
ser um objecto da minha felicidade em perversidade, um objecto e não um
ser vivente e autónomo, o qual não serve nem tem como servir para alguma
outra coisa deveras útil com excepção do meu bel-prazer!" Como nunca
paramos de bater, pois afirmamos que não será a tal saída para não
termos de ser envolvidos numa conspiração contra nossas mentiras de
conveniência, nunca confirmando se aquilo que Deus diz está certo ou
não. Como Ele "não existe" e se existe passa a não ter razão na forma
ligeira de desvirtuar a mentira e a ilusão que estão ao serviço e
proveito de quem peca sempre que estiver afastado de Deus por dentro e
por fora, não achando e recusando achar, assim, o caminho do
arrependimento e da restauração total que vem por fases ou não, de tudo
aquilo que se fez velho e apodrecido em nós, do qual pensamos gostar de
como cheira de forma nauseabunda, isto é, de facto! Deus diz-nos:
"sentes desejo porque pecas"; nós retorquimos: "eu peco porque sinto
desejo com o qual me criaste". Por essa razão disse Deus a Caim que "se
não fizeres bem - se não souberes como consegui-lo - todo o pecado jaz à
tua porta e para ti será o seu desejo e sobre ele dominarás",
(Gen.4:6,7).
Quem se afasta de Deus porque pecou, só pode vir a amar o pecado que tem, a
odiar o dos outros e nunca aceitar que se encontra naquela angustia
característica da perdição, isto é, em queda livre, porque está deveras
afastado da Vida; é assim que o coração busca vida na morte e no pecado
que mata pois nada mais resta neste mundo senão ou vida ou morte - nada
mais para além disso se pode encontrar. É como alguém que se afoga
cansado e se cansa ainda mais batendo na água em vez de estender a mão
para quem não quer reconhecer. E como o coração do homem é frenético na
busca daquilo de que sente necessidade, busca morte, isto é, vida na
morte, quer viver morrendo, passando a desejar amar aquilo que o pecado
dá como compensação (pois nada mais do que isso poderá fornecer a
alguém), então passa a buscar que Deus venha entrar na sua vida de
transgressão, quase e mesmo exigindo que lhe dê vida nela, "ou onde
estará então o Deus da justiça!" então, (Mal.2:17).
Ora, não achando vida na morte que sente dentro de si, procura trazer a
todo custo vida para essa morte que gere passivamente, esperando e
pensando que vive para sempre enquanto não pensar na morte, podendo
assim e entretanto consumir de tudo aquilo que deseja. Será assim que
Deus passa a ser considerado injusto, pois não abençoa com vida nem com
a Sua presença vivificadora as coisas que empreendemos. Não tendo como
satisfazer esses desejos, passa o pecador a sentir uma fome angustiosa,
pensando que apenas a falta daquilo que o pecado e a morte prometem e
dão para poder manter cativos quem se passa a enganar muito
voluntariosamente na perdição que deseja sempre, é precisamente o que
faz que sinta fome. É assim que passa a pensar que a mulher do vizinho é
a tal que lhe trará a tal felicidade que aspira ter enganosamente. Mas
se sente fome e sede, é porque não bebe daquela água que mata a sede e
seu desejo para sempre.
Outra maneira de nos mantermos no engano que desejamos e que para nós mesmos
criamos e fazemos por manter em "vida" corrente e passageira, que dure
para sempre e que ao mesmo tempo passe depressa, isto é, em morte
interior de facto e em pleno purgatório de angustias desmedidas, é o
encarecermos a vida que levamos, relevando-a sempre para primeiríssimo
plano, através duma religiosidade compradora e sempre conveniente. As
pessoas confessam, esforçam-se, sacrificam para que tais práticas sirvam
de moeda de troca para a tal felicidade que dizem que Deus pode dar, sem
que deixem sua vida muito própria. Mas continuam na mesma sem nunca
saberem muito bem porquê.
A qual destas práticas se tem entregue o meu caro leitor? A uma delas, algumas
ou a todas ao mesmo tempo, não vá uma delas falhar e desapontar?
Da mesma forma que Deus não tem como, não pode mesmo ter porque abençoar a morte
que passamos a considerar vida apenas porque somos nós que dela
usufruímos, também poderá a mesma situação ocorrer quando a vida é
nova, isto é, as pessoas passam a querer intimidar e persuadir Deus a
fazer apenas porque foram mudados por Ele e não porque amamos ou porque
Deus é bom em nós, de facto. Nada de mal existe em perseguir Deus a
efectuar, pois em muitos casos só buscando assim desse jeito
desenfreado, achamos. Mas será que não temos como discernir uma situação
da outra? Porque é que muitos alcançam tudo e mais alguma coisa de Deus
e outros quase nada, tendo ambos uma vida de aparências e de
semelhanças? Porque diz Deus "todavia Me procuram cada dia, tomam prazer
em saber os meus caminhos; como um povo que pratica a justiça e não
deixa o direito do seu Deus, perguntam-Me pelos direitos da justiça, têm
prazer em se chegar a Deus, dizendo: "porque jejuamos nós e Tu não
atentas para isso? (E a resposta) Eis que jejuais para vosso próprio
contentamento e requereis todo o vosso trabalho". É aqui que se
diz quando somos honestos, que "todos nós somos como o imundo e todas as
nossas justiças como trapo de imundícia; e todos nós caímos como a folha
(seca) e as nossas culpas como um vento nos arrebatam. E já ninguém há
que invoque o Teu Nome...". Deus nunca engana ninguém, pois se não
responde nem corresponde aos nossos anseios, deveríamos poder ouvir isso
como mensagem, quando se pode chegar ao ponto de se receber mesmo antes
de pedirmos até, pois a promessa é de que "antes que clamem Eu
responderei; estando eles ainda falando. Eu os ouvirei",
(Is.58:2,3; 64:6;65:24).
O que Cristo ensina como única verdade então, é o culpado reconhecer-se como tal
diante de Deus e não o inocente - o único que é bom deveras - para que
todo pecador venha a usufruir de verdade pela primeira vez da maneira
mais acertada, pois diante de nós apenas nada nos serve reconhecer, nem
mesmo diante do padre, mesmo que tais coisas nos sirvam e ajudem a
mantermo-nos no dia a dia sem proveitos eternos. Reconhecer assim diante
de nossos olhos apenas, não remove o pecado no futuro, porque não tem
forma nem poder de transformar corações. Já é bastante difícil
reconhecermos que erramos - imagine-se termos de reconhecer diante de
Quem nos envergonhamos reconhecer!
Assim, o problema não será Deus estar afastado da Sua criação, mas sim a sua
criação haver-se afastado d'Ele pela mentira na qual se refugiam agora
para se defenderem, para além de muitos mais variadíssimos motivos:
um deles é o seu sentimento de culpa, de revolta, de não entrega ao
facto de sermos criminosos se nos olharmos honestamente ao espelho. As
pessoas só se aproximam de Deus se for ou para o culpar, ou para se
desculparem culpando ou não, elogiando ou louvando mesmo, de mostrar
todo aquele azedume que sentem porque se sentem como culpados mas não
reconhecem porque são. O azedume leva-nos a culpar; e a raiz de todo
o azedume, é a culpa que carregamos e não reconhecemos. Reconhecendo-a,
porém, você terá como estancar essa azia que entretanto se tomou num
vicio e em ciclo, que entretém no engano e do qual o homem terá de abrir
mão se quiser ter como ver a Vida que agora começa - eterna e constante
- que tem como selos a paz interior em santidade; o amor que o homem
aprendeu a não querer admitir a não ser que envolva sexo ou dinheiro;
aquela paciência que espera sempre algo do seu Deus que o homem aprendeu
a odiar tão levianamente, entre outras coisas. Por essa razão, a culpa
nos é sempre oculta, pois assim desejamos que permaneça sempre. Uma
consciência adormecida, é tudo o que buscamos e nunca uma deveras limpa
de consciência do próprio pecado, senão, quem desejaria conviver com
acusações desenfreadas e sem controlo algum, tendo como admitir agora
que existe Deus para a poder tranquilizar e limpar? Quem pensaria que
uma consciência avivada é o único segredo duma verdadeira limpeza? Será
isto aceite por quem acha e crê que uma adormecida é que traz paz?
Adormecida sim, para o homem seria o ideal e teria lógica, ou então uma
que aceite ser pecadora.
Como pode, então, alguém ser verdadeiro, tornar-se aspirante àquela verdade que é e
sempre será única a meu ver, sem começar por ser verdadeiro com o que
fez, porque o fez e quando o fez? Se o fizemos, é verdade que o fizemos.
Ou será mentira só porque não foi nenhum outro ser senão o próprio quem
o fez? Lembre-se que não estou a querer falar dos outros, mas de si. Não
ponha mais tropeços onde não havia de haver nenhum já naturalmente. Se
se atrever a limpar reconhecendo diante e perante Deus duma forma
sumária e audaz, contra si próprio, limpar-se-á. E não reconheça apenas
aquilo que acha que está errado incitado pela conveniência! Ponha-se de
joelhos, pergunte a Quem sabe e não condena quem quiser beber desta água
da honestidade perante factos apenas. Não admita sem reconhecer
primeiro; reconheça primeiro e depois admita em confissão, secreta ou
não! É assim que se é perdoado e não quando nos vamos confessar porque é
uma exigência da igreja local, na qual nos pretendemos casar ou manter
um ritual de poder baptizar os nossos filhos por tradição
vergonhosamente enganosa! Já que tem de se confessar, porque não
aproveitar e fazê-lo diante de Deus em verdade e em espírito? Será que
só o faz por interesse e não para poder admitir tudo aquilo que é
verdade de facto? Quem sabe alcança misericórdia de facto também!
Como viverá eternamente qualquer culpado sem ela? Aproveite e faça-o
diante de Deus e, citando a própria Bíblia, "deixai-vos do homem cujo
fôlego está no nariz; em que deve ele ser estimado?"
O que Deus ensina é que a pessoa só pode limpar e maravilhar-se da limpeza que Deus
efectua de facto, quando reconhece o seu erro como crime que é - é
apenas quando a pode reconhecer diante do seu Deus, pois reconhecer só
não basta. Por isso é que quando se vai ao padre nada demais nos
acontece - ele não é Deus! Não existe outra fórmula mágica de contornar
esta grande questão, pois as pessoas só poderão sentir-se
verdadeiramente libertas, apenas depois de encararem de frente todas as
suas culpas no pormenor que Deus revela e manifesta, se é que as têm
quando as têm. Noto quase sempre que mesmo aqueles que não têm culpa
agem como se a tivessem, pois é norma de vida defendermo-nos a qualquer
custo - não vá sobrar algo para alguém também!
Mas e por outro lado, não podemos estar a reconhecer apenas porque gostaríamos de
experimentar o que qualquer um experimenta, passando por uma tão grande
experiência de limpeza interior - ao ver-se e ouvir-se tudo aquilo que
ocorreu nos outros, cria-se a tentação, pois quando não temos culpa
é-nos fácil reconhecer para podermos apresentar aquele ar de vítimas de
muito mau aspecto. Vendo aquilo que ocorre num ser regenerado, deseja-se
muito a leveza que diz experimentar e não fosse a pessoa em questão
associar esta brusca mudança a um Deus que se quer distante - não vá
alguém pensar mal de nós - haveria muitos mais candidatos à calmaria que
se vê e se sente no ar tão facilmente quando é Deus quem opera, por ser
bastante palpável e demonstrativa essa presença real: é muito real
aquilo que Deus faz dentro de alguém e quando o faz nunca passa
despercebido a ninguém - nem ao diabo!
Como se poderá servir deste milagre não encarando de frente tudo aquilo que
fomos capazes de fazer? Não encarando o Deus dos nossos pesadelos?
Muitos fazem isso porque não acham que uma regeneração nos seja de todo
possível - confessam porque acham que irão poder continuar no pecado.
Mas não existe maneira de nos fazermos e tornarmos tão alvos como a neve
sem encararmos de frente os nossos crimes, os comuns e os próprios
também, quer os achemos como tal ou mesmo não: aquilo que importa é a
verdade dos factos diante de deus e dos homens. Por isso disse Cristo a
um ser muitíssimo "espiritual", líder do povo de Deus na altura,
"necessário te é nasceres de novo". Também isso não seria possível a
menos que Deus exista de facto para nos tornar sãos como anjos e puros
como renascidos. Aliás, pela Bíblia deduzimos que qualquer humano que se
torne purificado através do sangue de Cristo, se torna num dos seres
mais puros do universo, mediante a contagem dos factos, isto é, no
conhecer tanto do bem como do mal em si mesmo e mesmo assim manter-se
puro pelo poder daquela nova vida que recebe no acto de contrição ao
reconhecer diante de Deus as suas culpas e não as dos outros. Isto
ocorre de facto, através duma fé pura n'Aquele que tudo pode, não só a
nível de suposição, pois se assim não fosse, não voltávamos às nossas
origens, havido sido criados em conformidade com a própria imagem de
Deus.
Isto é aquilo que a Bíblia chama de nascer de novo, de se tornar uma nova
criatura; não que seja totalmente nova, pois já se encontra criada - é
de facto nova para nós por nunca havermos sido como somos devido àquela
criação perfeita que o é qualquer ser humano. Havendo-nos degradado e
corrompido tanto, voltando para Deus, tudo nos parece novo demais,
depois de nos ser plenamente restituída a maravilha que somos e havíamos
de ser desde sempre, mas com naturalidade, pois os fingidos nunca
são aquilo que pensam ser. Qualquer mentiroso de coração, pode optar por
não mentir ou mesmo por dizer uma qualquer verdade por conveniência. Mas
dai a ser verdadeiro por natureza, vai uma grande distância mesmo!
Deixar de mentir ainda não é dizer a verdade; e dizê-la não diz que
somos verdadeiros. Se formos verdadeiros, raramente necessitamos falar
para acreditarem em nós, pois a natureza na qual nos naturalizamos, fala
sem que oiçamos e faz-se ouvir ruidosamente na consciência de quem tem
como ouvir e extrair até do silêncio.
Por isso, sentimos sempre a culpa da transgressão ao transgredirmos, pois por
natureza somos criados à imagem de Deus, ou seja, um pato não se
sentiria culpado ao entrar na água, mas um pombo sim, porque sente que
não faz parte do meio no qual se viu envolvido por culpa própria, por
acidente ou mesmo por distracção. O dito pombo só terá de olhar para
cima e reconhecer Quem o pode tirar de lá sem falhas, não havendo de
saber porque razão se encontra a afogar num lago que não ajudou a
conceber. O que é um facto, é que pode e tem como sair de lá ileso sem
ser necessário achar um qualquer culpado pela situação de desespero na
qual se encontra e não deseja. Buscaremos ainda culpados se nos pudermos
salvar? Acha-se em vias de afogamento tão só porque não estende a sua fé
e mão a Quem pode salvar de facto; enquanto se buscam culpados, nunca
nos sentiremos com ar de quem precisa duma Mão Salvadora; por essa
razão, se vir a morrer, será por culpa própria e nunca porque se
encharcam de água as suas penas. Havendo sido Deus quem inventou e criou
as penas que nos mantêm quentes, vemo-Lo como único culpado da situação
na qual nos achamos sem saber muito bem porquê, apenas porque
decidimos que sabíamos nadar sem o saber. Que fique claro que está
escrito: "aquele que clamar, invocar o Seu nome, será salvo". Quem o
prometeu não mente. Pode não ser culpado da situação na qual se
encontra, mas é culpado de não crer ser possível e necessário ser salvo
por Deus apenas! Se estiver numa cova de leões ferozes pela sua
inocência, reconheça que só Deus o pode tirar de lá.
O primeiro grande obstáculo no caminho da nossa regeneração completa, daquela
restauração infinitamente bela e sem mácula, que pode ocorrer de facto,
são as nossas culpas. Mas como poderemos passar este obstáculo se
achamos que nada de mal existe em dormir com o homem da vizinha depois
disso? Ou se roubamos é porque nos falta? Desde quando é a falta motivo
para ir roubar? Não existe um Deus que nos pode suster em tudo quanto
possamos pedir d'Ele, que tem como nos dar um marido perfeito e muito
próprio? Então, porque achamos justo roubar e justificamos quem só pode
ser considerado criminoso diante de Deus? Existirá sempre maneira de se
justificar no mal e na descrença? Se Deus tudo pode, porque rouba para
comer e para vestir e ainda se justifica por essa razão? Ou será só
porque Deus não sustenta na vaidade a razão porque rouba na loja onde
trabalha? "Ficas sem desculpa tu ó homem..."
O problema não será tão só o que fazemos, mas porque o fazemos. Tenhamos em conta
que só roubamos porque somos ladrões; quem não é ladrão não rouba, quem
rouba é ladrão de facto. O crime é o furto - o coração de quem furta é a
origem de todos os seus males. Ora se quem tem fome e rouba para poder
comer não tem como ser inocente, imagine quem rouba por intuito de
vaidade e desejo ardente!
Ora, para os culpados se poderem transformar em futuros inocentes, algo terá
necessariamente de ocorrer dentro deles - uma mudança, brusca ou não -
contando que seja real mesmo (pois só o será sendo Deus a operá-la de
facto) - a qual assegure não só o ser possível sentir-se culpado quem é
de facto transgressor e criminoso, mas que torne possível um futuro que
faça sentido à própria consciência que começa agora a possuir de forma
avivada. Para uma pessoa plenamente transformada diante de Deus que tudo
pode verificar sem se enganar sequer, todos os crimes passados se
apagam, pois deixou de se ser criminoso pela ausência de toda a
consciência de pecado. É isto que transparece das Escrituras quando
dizem: "aquele que confessa e deixa as suas transgressões,
alcançará misericórdia; aquele que as encobre nunca prosperará",
(Prov.28:13).
A quem se transforma numa novíssima criatura, tudo é perdoado. A quem
não é regenerado, mesmo não transgredindo, nada lhe é perdoado, pois nem
sempre os assassinos matam. Todos são responsáveis pelo coração que os
leva a fazer o que fazem ou não fazem, mas sim por aquilo que são.
Ora, se alguém se acostuma a derrubar as próprias barreiras da consciência com
as quais foi eternamente criado por ser transgressor, cria-se um estado
de sítio no qual é-lhe extremamente difícil identificar o crime como
tal, quando este é cometido e incentivado a atropelar a própria
consciência que de certa forma ainda possui, pois a consciência com a
qual qualquer ser humano foi criado, viverá para sempre com ele - nunca
morrerá, nem no próprio inferno. (Foi por essa razão que Cristo disse
que até no inferno "o seu bicho não morre, nem o fogo se apaga",
Marc.9:48).
Qualquer criminoso só deixará de cometer o crime se isso for evitado em defesa do
seu próprio interesse - nada faz se os seus interesses nunca forem
subjugados ou ameaçados de alguma forma. Mas o crime também cessa
deixando de haver criminoso! Até isso pode deixar de se tornar um
obstáculo, pois as pessoas habituam-se a crer que só aos maus é que
acontecem males e como não se vêem nunca como maus - a não ser que lhes
interesse verem-se como tal - persistem em levar a sua avante até serem
surpreendidos por alguma forma de justiça existente que possa cruzar o
seu caminho ainda. É assim desta forma que se cria um coração
corrompido, habituado ao crime, considerando que o mau é bom e que o
doce é amargo. É isto o que a Bíblia nos diz quando Deus nos fala
dizendo: "Ai dos que puxam pela iniquidade com cordas de vaidade e pelo
pecado como se fosse com cordas de carros! Ai dos que ao mal chamam bem
e ao bem mal; que fazem da escuridade luz e da luz escuridade; e fazem
do amargo doce e do doce amargo!" (Is.5:18-21).
Qualquer criminoso tem vergonha de Deus ou mesmo de ser visto a falar
d'Ele; é assim que diz que o doce é amargo! Seria mais fácil falar da
mulher do vizinho que é mais conhecida que Deus! Não será isto uma
calamidade entre seres criados por Ele?
Existe então a possibilidade da pessoa ter a capacidade, mas não a disponibilidade,
de reconhecer que é criminoso diante do seu Deus, mesmo quando a isto é
plenamente convencido e induzido - ou mesmo quando não encontra forma ou
fórmula de poder refutar o mal que fez, sobeja-lhe sempre a
possibilidade do refúgio, do esconder-se no seu silêncio ou mesmo na
desculpa, ou na culpa que os outros têm, pois se os outros nada souber
em não se fez - nada se viu, nada se fez! É precisamente esta a
mentalidade de qualquer pecador. Diz sempre em seu coração (citando a
Bíblia): "Como o sabe Deus? Ou há conhecimento no Altíssimo? Pelo que a
soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como de um
adorno!" Sentem-se seguros no mal, fortalecidos na vaidade das suas
próprias mentiras, pois nenhum mortal acha que pode morrer, só os outros
é que serão mortais em vias de extinção.
Teremos então aqui um grande problema para resolver, pois para o pecador se ver
limpo e livre de todas as suas culpas reais terá de ter como as
reconhecer primeiro e acima de tudo. Para as poder reconhecer terá de se
exprimir em conformidade com uma nova natureza (que também não deveria
sequer ser nova!) que adquire e a qual não pode comprar nem roubar de
alguém, nem tão pouco pedir emprestado - pois já basta de ideias - e da
qual pode vir a usufruir se tiver a espontaneidade de se aproximar de
Deus que tem como o recriar por de dentro e muito profundamente. Terá
necessariamente de buscar vida na Fonte. Para se aproximar d'Ele, terá
de reconhecê-Lo, pois de outra forma não terá como se tomar num ser
realmente vivente e disponível interiormente para tudo aquilo que for
belo e verdadeiro aos olhos de Deus. Não quererá o meu caro
leitor ser vivente sem Deus, pois não? Nem ser pecador com Deus, pois
não? Nem que Deus viva para abençoar o seu mal, pois não? É que as
Escrituras dizem que, "Afaste-se do pecado todo aquele que professa.".
Cristo disse que "quem se envergonhar de Mim, Eu Me envergonharei dele".
Mas para Deus tudo é possível: basta crer. E por isso que lemos dum Salmista: "Tu
livraste a minha alma da morte, como também os meus pés de tropeçarem,
para andar na Luz dos viventes", isto é, na Vida que é a luz que os homens não
compreendem como tal. Quem desta natureza não desfrutar seja por que
razão for, perde-se mesmo que nunca se sinta perdido. O sentimentalismo
engana muita gente, a verdade dos factos é que não - essa terá
necessariamente de a descobrir por si.
O princípio desta nova vida começa então pelo reconhecer da verdade se esta nos for
possível. É verdade que o adultério, a má-língua, a bisbilhotice, a
inveja (só se inveja porque se acha que Deus não existe para nos dar
também!), a vaidade (porque se acha que devemos de nos ver sempre acima
da verdade e dos outros), a soberba (porque achamos que somos donos dos
nossos destinos e não só), o furto - são crimes graves. Há que os
considerar assim, pois esta é a única verdade dos factos e creio que nem
mesmo os pecadores envolvidos nestas praticas abomináveis tenham como
não reconhecer que o mau é de facto mau. Mas para alguém que se sente
envolto nas praticas correntes destes mau feitios, reconhecer que aquilo
que faz está e é de facto errado, terá de se manifestar contra ele
próprio de forma a poder reconhecer e conhecer todo o mal que faz a si
mesmo. Foi principalmente por esta razão que Cristo avisou que, "aquele
que não aborrecer a própria (auto-criada) vida, não pode ser
Meu..." se não tivermos como vir a ser d'Ele, Ele não tem como vir a ser
nosso Deus, a menos que seja a nível da nossa imaginação e suposição
apenas, pois qualquer um pode, tem como supor tudo o que lhe convém,
temporariamente até ao dia do Juízo.
Tendo em conta que se tem de reconhecer desde que seja a verdade dos factos
consumados, porque será assim tão difícil então, já que é verdade? Será
que Deus quer saber daquilo que já sabe? O que Deus quer alcançar nem
será o reconhecer daquilo que se fez, mas sim que se fez; e quem
reconhece que fez, sem acrescentar à sua confissão razões porque fez,
tem oportunidade de ver assim aquilo que é de facto e de coração, ao
contemplar todo o mal de que foi capaz até ali. Aquilo que importa ver,
será aquilo que é quem fez e não o que fez; o que fez revela o que é.
Daí a confissão ser necessária, pormenorizada diante dos seus olhos e
mediante aquela nova luz que não é capaz de admitir qualquer falha, mas
que tudo é capaz de perdoar.
Desta forma, a pessoa pode e tem como ver tudo aquilo que fez mediante a luz da sua
natureza, para de seguida ganhar uma nova ao confrontar-se com a pessoa
de Cristo em forma real, invisível ou mesmo não. Não se confrontando com
quem é e sempre será a única fonte de vida interior e mesmo exterior,
ninguém tem como vir a possuir e usufruir daquilo que nunca deveria
sequer a vir a ser uma coisa estranha: uma nova natureza. Nessa nova
natureza que se cria vendo o semblante de Deus como é, podemos então ter
a oportunidade única de a retermos como espelho fiel de toda a verdade,
de ver nossa própria à luz dessa vida que se manifesta, comparando-as
uma com a outra, mesmo espontaneamente. É esta Vida que entra, tanto a
nível de nova natureza, como da própria natureza de Deus entretanto
manifestada, que obtemos luz.
Não pode mais continuar a julgar à luz da consciência calcinada e vacinada que
antes possuía, contra a verdade das coisas, ou que era capaz de usufruir
estando afastado de Deus. Agora, pois, terá necessariamente de se
esforçar para o fazer mediante aquela luz que vai nascendo e despontando
com muita leveza dentro de si, com a finalidade de reconhecer aquilo que
é e pode vir a ser sem Cristo, mediante a recolha de tudo que fez contra
si mesmo, contra Deus e contra homem e criança. Por essa razão é que a
porta é deveras estreita, pois nem sempre se vê aquilo que temos de ver,
ao entrar onde nunca se entrou. Esta nova vida que nem sempre se
reconhece quando desponta, é a que terá de vir a ser a única forma de
luz de ora avante, pois nenhuma outra o poderá guiar aos pastos
verdejantes prometidos, a uma real percepção de tudo aquilo que é, a uma
Vida interior que se quer plena e repleta para sempre. Aqui a Vida se
torna luz para os homens. E será precisamente a isso que Cristo e a
Bíblia chamam de Vida Eterna. Por isso lemos em João 1:4, "n'Ele está a
Vida, e a Vida é a luz dos homens, e a Luz resplandece nas trevas e as
trevas não a compreendem". É esta Vida que é a única luz para todos os
homens. Busca luz? Quer algum assunto esclarecido para além de qualquer
dúvida também? Experimente encontrar esta Vida e siga-A sem receios de
qualquer género. Olhe para ela e siga seu rastro, aquele cheiro suave
que exala e deixa para trás. Nunca busque saber das coisas, mas da Vida
que tudo revela e demonstra. Aproveite para nunca se confundir com a
razão pela qual essa vida se manifestou, ao comtemplar sua natureza
maligna. Não diga, ao ver aquilo que Cristo provocou em si, não Lhe
rogue para se afastar de si também como o fizeram os Gadarenos,
Mat 8:34, nem diga como Pedro "Senhor,
afasta-Te de mim porque sou homem pecador. E se é dentro do
seu coração que ela aparece e se como o pecador é
teimoso por natureza e ouve apenas e tão só o seu próprio coração, tente
de seguir a vida em vez de contemplar a desordem que esta trouxe a
desarrumar toda a sua casa. Antes siga essa Vida desde seu interior,
contemplando não a desordem que esta colocou a nu e à vista lá onde ela
vai apareceu, mas aquilo que ela quer ver construído de ora em diante.
Houve uma moça católica praticante que me disse assim, lavada em
lágrimas: até ontem, antes de havermos falado, eu era a pessoa mais
feliz do mundo, mas agora todo meu mundo ruiu. Foi assim que ela
entendeu seguir seu coração em vez de seguir a luz que nela despontou.
Ela só via a sua ruína, seus porcos todos afogados (carne proibida por
Deus em Israel), em vez de ver quem a queria levar a uma vida nova dali
em diante. Sua vida já estava arruinada muito antes de eu haver entrado
em cenário e seria apenas uma questão de tempo até o mar do pecado e da
idolatria se apressarem a consumir todos os seus dias no fogo do
inferno. Mas resolveu dizer que foi aquela luz que ela não entendeu que
lhe destruiu sua vida anterior, pois nunca mais teria como viver dela
sem sentimentos de culpa, sem magoar sua família abandonando o
catolicismo. Também se entristeceu com a vida em vez de se regozijar
pela Sua vinda oportuna. Suas lágrimas serviam de pretexto para nunca
seguirem aquela vida. Não terão os pecadores uma grande aptidão para
seguirem o que os seus corações lhes sugerem noite e dia? É assim que
fica sem desculpa, pois é do seu próprio coração que despontará aquilo a
que deveria estar a dar ouvidos há muito. Por isso a promessa do Novo
Testamento (eis a palavrinha NOVO aqui também) reza assim: "este é o
(novo) concerto que farei depois daqueles dias, diz o Senhor: porei a
minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração",
Jer.31:31-34. Se nunca entender esta vida e não crer que ela veio
para seu bem, morrerá na total confusão. Aquele que crê jamais se
confundirá com toda esta situação. "Como está escrito: Eis que eu ponho
em Sião uma pedra de tropeço; e uma rocha de escândalo; e quem nela crer
não será confundido", Rom 9:33.
Deixe as dúvidas de fora dos seus horizontes. Se esta Vida não lhe puder
esclarecer sobre tudo aquilo que gostaria de saber, creia-me, nada mais
pode! Se isto não ocorrer de facto, então Deus mente. Ninguém mais
precisará de guias espirituais, pois esta promessa diz também na mesma
passagem que "não ensinará mais alguém a seu próximo dizendo "conhecei
ao Senhor" porque todos me conhecerão, desde o mais pequeno deles ao
maior, diz o Senhor (que fique claro quem o disse): porque lhes
perdoarei a sua maldade e nunca mais Me lembrarei aos seus pecados".
E para Deus poder perdoar é porque algo muito substancial mudou dentro
de quem pecou e não apenas porque confessou. Por isso lemos acerca de
muitos iludidos que "não dizem no seu coração que Eu ainda me lembro de
toda a sua maldade; agora, pois, os cercam as suas obras; diante da
minha face estão" (pois as obras nunca mentem sobre a qualidade das
arvores), Os. 7:2.
E esta é a luz que os homens não entendem, pois buscam as respostas mais longe de
onde deveriam buscar, isto é, dentro do seu coração, em forma de Vida e
não apenas em forma de conhecimentos extensos e profundos de doutrina.
Foi por essa razão que Cristo disse que "aquele que crê tem a vida
eterna", pois se não a tivesse dentro de si não teria como crer a
não ser mentindo. Cristo apenas quer dizer que a pessoa que tem aquela
capacidade de crer, crê porque já tem a vida eterna dentro dele mesmo. E
este crer não é o crer que Deus existe, pois isso todos o sabem, nem
mesmo que Cristo é o único Salvador. Mas existe sempre a possibilidade
de se poder compreender e entender perfeitamente esta luz, este tipo de
luz, bastando para isso não ser mais trevas nem um segundo mais sequer e
decidir seguir luz em forma de vida. São as trevas que não compreendem
esta Vida com a finalidade expressa de não a seguirem. Quem a comece a
compreender, deixou de ser trevas, quem acaba por aceitar o Vida que
revela, acaba vivendo de facto. Qualquer que seja capaz e audaz o
suficiente para assumir que Vida é a única via possível, nunca se
sentirá perdido, pois Cristo mesmo prometeu que "aquele que beber da
Agua que Eu lhe der, nunca terá sede, porque a Água que Eu lhe der se
fará nele uma fonte que salte para a Vida Eterna" (mesmo que ainda não
haja saltado para aquela constante forma de Vida sem fim, pois é isso
que a palavra eterna significa em termos Bíblicos, isto é, constante e
permanente) e, "aquele que vier a Mim nunca andará em trevas, ninguém o
arrebatara da Minha mão". Bastará tão só ouvir o que se passa no seu
coração, contando que essa Vida seja uma realidade plena e repleta lá.
Teme quando ninguém o poderá arrebatar de Sua mão, para sempre? O reino
de Deus é dentro de si é lá que ele se manifesta para Reinar.
Se alguém continuar a ter sede depois de achar o Cristo, será por culpa própria.
Ou dirá simplesmente que não tem sede, mentindo caprichosamente para
nunca ter de reconhecer suas próprias culpas? É uma das muitas formas de
que usufruem muitos tolos para se desviarem ainda mais da crença que
Deus existe. Por isso se sentem aliviados quando pensam que acreditam
que Deus existe. Mas terão que obter muitíssimo mais que crença, pois
terão de ter Vida (Eterna) dentro deles, aquela que faz crer de forma
real. Se pensou que a crença na verdade bastaria, enganou-se - Deus terá
de ser real e vivente em si. Quão distante estará a crença da realidade
das coisas! É como conhecer o Brasil pelo mapa na perfeição e nunca ter
estado em solo do país que tão bem conhece - pelo mapa! Poderá não saber
muito de Deus, mas tendo-O de facto e não crendo que O tem apenas, tem
tudo aquilo que precisa para se tornar num ser vivente de facto
também! Muitos dos que conhecem o Brasil, não o conhecem pelo mapa -
e é preciso ser-se brasileiro para se conhecer o Brasil como ele é.
Comecemos então de novo:
-
É preciso que a pessoa em questão veja o seu erro de forma real e precisa,
isto é, quem quiser quando quiser - mas buscando de Deus naquele
momento. É preciso que veja mediante Vida que entra, que buscou e
achou - não conforme aquilo que acha. Não existe hora marcada para
isto ocorrer. Cristo disse: "quem quiser venha! Vós os que não
tendes dinheiro, vinde, comprai sem dinheiro e sem preço". Dinheiro
já não será impedimento. Não seja como os que se destroem com
cigarros, pois são os que dizem sempre que vão deixar quando
quiserem - desde que seja sempre num futuro que nunca é hoje. Amanhã
nunca é hoje para estes. Não faça o mesmo com a Vida, pois um dia
poderá ser tarde: quem sabe amanhã será tarde para si. Acharia
normal alguém estar a morrer à sede e jogar água limpa fora quando
lha oferecem sem pedir algo como paga de retorno? Não merecerá tal
pessoa a morte a que aspira por tolice e orgulho desmedido?
Pense por si e deixe os outros em paz! É sobre si que falo - é o seu
coração que procuro atingir.
-
Tão pouco verá o erro a menos que o veja mediante uma nova natureza que não
acha ser-lhe de todo possível. Uma consciência calcinada não vê onde
erra e se vir, não sente a necessidade de admitir. Mas a quem crê,
tudo é possível, pois o seu Deus é Criador do mundo inteiro. Por
essa razão disse Ele também: "se não crerdes, morrereis nos vossos
pecados e para onde Eu vou, não podereis vós ir!" Aquele que não
crê, não verá a Vida, mas a ira de Deus permanecerá sobre ele". Por
essa razão é absolutamente necessário crer quando a nossa
consciência avivada nos diz algo. Quer uma consciência avivada?
Peça-a a Deus pessoalmente. Mas porque a pede? Para ver se Deus
existe ou para Viver? Que Deus existe já você sabe! Por isso disse
Ele: "buscai-Me e Vivei!",
Amos 5:4, isto é, sede seres
realmente viventes!
-
Ganhando essa nova natureza sem a poder comprar, é humilhante porque terá de
reconhecer sem se envergonhar que é Deus quem opera dentro de si
tanto o querer como o fazer conquanto Lhe seja permitido. Mas só é
humilhante para quem não passe imediatamente a amar tudo aquilo que
vê, incluindo Deus em pessoa tal qual Ele é! A nossa fé
altera tudo, menos a Ele. Ele permanecerá para sempre. Por isso é
que a Vida que Ele dá sem preço, é eterna. Vai aceita-La? Vai
rejeita-La? Então, que decisão será a sua? Pense bem! Ninguém que
rejeite vida permanecerá impune. "E a condenação é esta: que a luz
(Vida) veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz
porque as suas obras são más. Porque todo aquele que faz o mal,
aborrece a luz e não vem para a luz a fim de que as suas obras
(sejam manifestas) não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade
vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque
são feitas em Deus", João 3:19-21.
-
Mediante esta nova natureza irá ver as coisas como elas são vistas lá do
alto. A pessoa ou aceita tudo aquilo que vê, incluindo uma limpeza e
um perdão sem fim, ou rejeita e foge para se refugiar na
incredulidade outra vez apenas por conveniência! "Eis Aquele
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" - e não perdoa apenas!
Imagine-se! Ele tem como tirar! Porque fugir e condenar-se para
sempre então? Se Ele tem como tirar os do mundo inteiro, imagine os
seus! Ou acha que a eternidade não existe?
-
Deus não é humano, pois busca quem quer ser transformado por dentro. Os humanos
em pecado buscam para apontar o sua própria malvadez nos outros e
sentirem-se assim desculpados e mesmo destituídos dos seus próprios
pecados. Um ladrão ao acusar outro de roubo tem porque se sentir
protegido, pois engana-se a ele próprio acusando. Como Deus não é
assim, não acusa nem revela com intuito de se defender nem de
condenar, nunca devemos temer ser condenados por nos manifestarmos
como somos a ELE. E que isso seja real e não apenas bonito de se
ouvir, "...importa que os que O adoram, O adorem em espírito e em
verdade. Porque Ele busca a tais que assim O adorem". Quem tem medo
da polícia é sempre o ladrão. Como a polícia não deve mudar, resta
apenas que o ladrão se vire para ser verdadeiro. Dai a deixar de ser
ladrão é um pequeno passo, pois a polícia de que aqui falo é
poderosa tanto em perdoar como em transformar para se assegurar uma
inocência futura. E não assegura a Vida apenas através da ameaça do
inferno!
-
É fácil reconhecermos os erros se não tivermos de os reconhecer diante de
Deus, pois para isso teremos de O vir a reconhecer como nosso
Supremo Dono e Criador. Ninguém acha ser possível ser- se ainda
livre quando debaixo dum jugo, pois não nos parece lógico. Mas a
verdadeira liberdade advém precisamente disto, de volvermos às
nossas origens. Cristo disse: "se Eu vos libertar, sereis
verdadeiramente livres", "o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve;
vinde a Mim todos os que estão cansados e oprimidos e Eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim que sou
manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas
almas", agora e já - não espere que isto aconteça só depois da
morte, pois se não experimentar esta Vida Eterna agora e já, você
está muito mal, em muitas más condições mesmo! Por alguma razão não
tem esta Vida. Já pensou nisso assim dessa forma? Acautele-se, não
entre nem na vida nem na morte de olhos fechados - não compensa.
-
Se nos envergonharmos de Deus, envergonhamo-nos de Quem tem vida para nós.
Acha justo que lha dêem mesmo assim? Viva do engano, então, e
veremos quanto tempo mais se poderá suster. Mas olhe, hoje alguém
lhe mostrou o Caminho, a Verdade e a Vida e não quis ouvir porque é
mau e não é porque Deus não existe. Isso quereria todo o criminoso
que fosse verdade! Deus não tem como deixar de existir. A
alternativa é rever as suas armas, a ver se não têm a pólvora seca!
E então, em que é que ficamos? Vem ou fica, vive ou morre? Está a
escolher entre Vida eterna e morte - também eterna - será assim tão
difícil optar? Ou uma ou outra, pois não existe nada mais como
alternativa. "Diante de ti ponho a maldição e a bênção, a vida e a
morte: vê qual escolhes". Não vê que nas Escrituras Deus o trata por
"tu", como sendo seu amigo? Porque hesita ainda? Quem hesita é
sempre pior do quem opta por morte, pois quem opta por morte ao
menos reconhece Deus - quem hesita não!
-
A solução e o caminho serão então reconhecermos tudo o que fazemos e fizemos
não com o intuito de virmos a ser condenados, mas sim exemplarmente
exercitados a aceitar uma muito nova natureza exterminando a velha,
pois se o fizemos é porque somos o fruto de reconhecer tudo
aquilo que fizemos, é a verdade no íntimo e sem isso nunca nos será
possível nem alcançar nem continuar a conviver com a nova natureza
que nos é proposta, se é que a temos alcançado já. Quem reconhece
onde e como errou, reconhece o que é por dentro - um sepulcro caiado
que só tem ossos malcheirosos para apresentar. Reconhecer é muito
mais fácil do que reconhecer quando é verdade. O caminho mais fácil
e frequentemente proposto por tudo o que é igreja, é dizer: "Senhor,
perdoa-me os meus pecados, até aqueles que não conheço!" Que
absurdo! Mas se obtivermos uma nova natureza conforme Cristo nos
prometeu, então não devemos hesitar em demonstrar aquilo que somos
naturalmente. Daí as palavras "quem pratica a verdade vem para a
luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas
em Deus". Já manifestou as suas? Todas? Ou optou por esconder
algumas no cofre da sua rigidez de coração?
-
A outra opção é confessarmo-nos para sonegar consciências, para baptizarmos,
ser igual aos outros da nossa turma, casarmos e sermos abençoados
naquilo que sonhamos e idealizamos, como se a confissão fosse e
servisse de moeda de troca. Também é comum em países católicos
assumir enganosamente que é através do padre que se pode chegar a
Deus. Que fique bem claro que foi o Deus que pregam estes homens
vestidos de batina, o Próprio, Quem disse: "ninguém vem ao Pai senão
por Mim!" Como se pode pregar um Deus falando em sentido contrário
daquilo que Ele mesmo disse? E assim que se sustenta quem engana
usando a Bíblia debaixo do braço, pois só o Nome das Escrituras
servem para credibilizar quem engana por assim poderem dizer a quem
gosta de ser tido como tolo, que é diante de Deus e pessoas aquilo
que nunca pode ser: salvador! E que salvadores são eles! Logo de
seguida fazem e aconselham alguém a dizer umas rezas a quem não
ouve, a encurvarem-se diante de imagens mesmo contra o próprio
mandamento de Deus! Metade das Escrituras que carregam debaixo do
braço, ou que põem ao lado dum pedaço de porcelana com nome de santo
para os credibilizarem a eles próprios, falam e exprimem-se
precisamente contra estas práticas! Seremos nós assim tão fechados
na nossa estupidez? Desde quando é que um pedaço de pedra nos pode
ajudar? Sejamos lógicos e verdadeiros! Qual o pedaço de pedra que
tem Vida? Então porque se curva à mentira? E porque se recusa a
encurvar-se à única Verdade? Será assim tão difícil para si
recalcitrar contra os aguilhões que quer manter para deles tirar
aquele proveito que as lamurias concedem e que também serão
egoisticamente motivados e por isso lhe dão o que mendiga?
-
Deus só aconselha e exige confissão para poder chegar ao coração do pecador,
pois se este não for voluntariamente, efusivamente e declaradamente
verdadeiro perante a verdade, não tem como vir a salvar-se. A
confissão serve para se começar a ser verdadeiro de facto e
nada melhor para lá chegarmos senão aquilo que não desejamos que
alguém venha a descobrir e a saber sobre si mesmo! Mas se não for
agora exposta(o) voluntariamente, sê-lo-á de qualquer forma no dia
do Juízo. Porque é que as pessoas que se confessam aos homens que
servem as imagens que Deus condena - porque Deus é real e as imagens
nunca o poderão ser e quem não é real não pode oferecer vida que
seja real, quanto mais bela - não saem de lá transformados e
incentivados e com pleno poder duma nova Vida? Pense por si! Tenho a
certeza que estes lobos vestidos de ovelhas não podem oferecer mais
do que aquilo de que eles próprios nunca usufruem, pois todos os
seus seguidores têm de se confessar vezes sem conta: isto só quer
dizer que nunca chegam a ser transformados. Mas as Escrituras que
lhes fortalece na mentira - porque não as cumprem mas servem-se
clandestinamente da autoridade que pensam que esta lhes outorga -
dizem sem margem para qualquer duvida: "transformai-vos peia
renovação (...) para que experimenteis (...)"; mais: "aquele que
está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram, eis que
tudo se fez novo." O que estes seres têm de novo é aquela batina que
engana apenas. A devoção não transforma ninguém, saiba-se desde já!
Deus em pessoa sim.
-
Deus é real; a sua transformação terá de ser real também, pois se não for
Deus mentiu. Esta realidade só é possível concebendo verdade no mais
íntimo do nosso coração: para nós mesmos e depois diante dos homens
e de Deus. Aquilo que se quer é a verdade e não saber dos seus
pecados e crimes. Se Deus quisesse ficar a saber dos seus muitos e
grandes pecados apenas, não os apagaria de seguida! O que Ele quer é
aquilo que nos faz confessar, ou seja, a verdade em nós! " (...)
importa que aqueles que O adoram, o façam em espírito e em verdade,
pois a tais busca (e concebe) ". O que Deus quer alcançar é aquela
disponibilidade que tem como semente a verdade. Sem verdade ninguém
tem como viver da verdade que vai ser a sua nova natureza. Não será
preciso fingi-la para tê-la, pois ela é. Qualquer ser humano que se
preze foi criado em conformidade com as exigências dessa Vida
- fomos feitos para ela, por essa razão nos sentimos sempre mal
quando noutra! Já pensou porque vive sempre infeliz e insatisfeito,
se é que sente a verdade dos factos também? Há quem não se sinta
infeliz a matar, mas mata porque é infeliz por natureza concebendo
razões para poder matar!
Quero expor
tudo o que sei sobre esta Vida que é eterna, constante, que tem como
nascente a verdade no íntimo e sem a qual nenhum homem com ou sem
batina, verá a vida. Esta Vida começa e tem como começar aqui e agora.
Foi o que Cristo disse com as palavras "na terra como no Céu", pois o
paraíso pode descer sobre si. Lemos também a promessa seguinte: "como os
dias dos céus sobre a terra". E também: "derramarei sobre vos o Meu
Espírito (...)" ou "a vida que agora é". Mais palavras para quê? E tudo
começa aqui onde se cria uma fonte que possa vir a saltar para uma vida
plena de surpresas e alegrias interiores através da verdade e nunca da
mentira, para uma vida eterna, isto é, constante e permanente, "qualquer
um que queira, venha(...) dar-lhe-ei a comer do maná escondido". "Aquele
que beber desta água que Eu lhe der, nunca terá sede, porque a água que
eu lhe der se fará nele uma fonte que salte para a vida eterna", aquela
vida que agora é, pois pode começar já e aqui onde está,
1Tim.4:8b. Este será, no entanto, o primeiro passo para uma vida
plena, abolir a culpa pelo transformar de facto por dentro. A
Vida Eterna é cá na terra, como lá no Céu. O primeiro obstáculo para
chegara ela, é a culpa que sentimos e muitas vezes reprimimos ou
desculpamos em vez de confessar pormenorizadamente e individualmente.
CAPITULO 2
A VIDA NO LUGAR DA MORTE
Existem variadíssimos conceitos sobre o que é a vida e o que é a morte. Na verdade, todos
crêem que a Vida eterna é para depois da morte para que possam ainda
usufruir daquilo que acham que é vida por cá. Aqui, o que se experimenta
ainda, é na verdade um tipo de morte que as pessoas consideram vida. Por
essa razão os humanos deste mundo andam sempre em busca do algo que lhes
falta, mas que nem sempre é visto como algo separado de seus anseios
desta vida.
Temos de distinguir e apreciar a palavra "morte" tal como a Bíblia nos coloca. A morte, a
morte física e a morte eterna, embora coisas distintas, são parentes
umas das outras e são inseparáveis. Do mesmo modo que a "Vida que agora
é" será um botão para uma flor em futuro, para um Jardim de seres
viventes e resplandecentes, o tipo de vazio que sentimos vivendo do
pecado e consequentemente longe de Deus é apenas um cheiro daquilo que
está para vir ainda. A morte que sentimos aqui e agora dentro de nós, o
vazio, faz-nos fazer certas coisas que achamos serem vida, mas que na
verdade são apenas fugas e evasivas para atenuar ou camuflar o quanto
nos falta por dentro ainda.
POR TERMINAR
José Mateus
Portugal