VERDADEIRA INTERCESSÃO
"E viu que ninguém havia e maravilhou-se de que não houvesse um
intercessor"", Is.59:16
Muito se fala sobre este assunto. Mas poucos chegam a saber uma ínfima
parte do seu verdadeiro significado: consequentemente, pouco se sabe
sobre a dimensão do seu alcance, do poder daquilo que pode. A
verdadeira intercessão, não é constituída por palavras, mas sim por
tomar aquele lugar de quem precisa - de Quem pode atender e também
de quem pode ser atendido. Serão sempre três as facetas da
verdadeira intercessão - nós teremos como ter de ser ouvidos,
teremos que nos intrometer entre homem e Deus, falando dum lado
insistentemente e persuasivamente com Deus sobre o homem e do outro
lado com o homem sobre Deus. Um intercessor nada será mais que um
intermediário muito persuasivo, que toma o seu lugar, o seu posto,
entre as partes em conflito e se recusa abandonar o seu lugar de
interveniente, a menos que haja sido ouvido por ambos os lados e que
estes se entendam de ora em diante - o que será muito mais que ser
claro e bem esclarecido.
Existe um conflito claro entre homem e Deus. A carne é inimizade a Deus e o
Espírito é sempre uma forma de inimizade aberta contra todo homem
carnal. Logo, a carne e o espírito sempre serão opositores um do
outro, embora haja uma relação peculiar entre ambos. Quando um
relacionamento humano está quebrado, as partes fecham-se nelas
próprias e fazem como se uma e outra não existissem mais. Isto nunca
acontece entre carne e Espírito, pois o conflito é sempre aberto e
destroem-se e corroem-se um ao outro. A carne nunca será Espírito e
o Espírito nunca será carne. Logo, a carne acha que tem um Deus para
sustentá-lo em todas as suas veleidades, ou não fosse Deus um Deus
de "toda a justiça"! Deus tem por certo que toda a criatura Lhe
pertence por Criação e caso assim não seja, devido a constituição
interior da pessoa em si, deve haver uma justiça eterna que destrua
a carne da face de toda a Terra. Lemos que Deus disse quanto a isso,
já desde os tempos de Noé: "Então disse o Senhor: O meu Espírito não
permanecerá para sempre no homem porquanto ele é carne
Gen 6:3. E disse o Senhor: Destruirei da face da terra o
homem que criei", Gen 6:7.
Primeiro tentou diminuir seus
dias a ver se o homem que desejava viver se arrependia vendo a sua
vida encurtar-se drasticamente, vindo a achar estranho morrer cedo.
Mas nunca resultou, pois todo pecador é tolo e suicida ao ponto de
nunca dar ouvidos à razão.
Torna-se assim evidente que existe um conflito aberto entre todo homem e
Deus. O homem trata de lidar com Deus à sua maneira exclusiva:
ignorando que existe; Deus pela justiça: destruindo para sempre.
Um intercessor é então alguém que se interpõe entre as partes em
conflito, em primeiro lugar para que Deus reponha toda Sua glória
sobre todo homem; em segundo, para que o homem retorne às suas
origens de perfeição distinta, vivendo exclusivamente para aquilo
que foi criado. É alguém que acha que Deus pode e tem como e porque
vir a recriar todo o homem por inteiro e que o homem tem como e
porque albergar a santidade e exclusividade de Deus em si. Um
intercessor é também algo dos dois numa só pessoa: é Deus para o
homem e homem para Deus. Cristo se fez carne porque intercede melhor
assim; Ele também é Deus. Por essa razão é intercessor - tem tudo em
Si mesmo, tudo o que é dos dois lados. Por isso lemos: "Portanto,
pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus,
porquanto vive sempre para interceder por eles.
(26) Porque nos convinha tal sumo-sacerdote, santo, inocente,
imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime que os céus",
Heb 7:25-26.
Deus tem todo o poder para transformar o homem, quer ele queira ou não
inicialmente, pois todo o poder Ele tem para, "derribando
raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de
Deus, leve cativo todo pensamento à obediência a Cristo",
2Cor 10:5. Porque, embora
andando na carne, não militamos segundo a carne, (4)
pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus,
para demolição de fortalezas", 2Cor.10:3-4.
"Por isso daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e,
ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora
já não o conhecemos desse modo", 2Cor.5:16.
Mas o homem tem todo o poder para ser ouvido por Deus também. Se Deus
ouviu a voz dum homem já, não a irá ouvir de novo? Sabemos que se
diz de Josué que: "E não houve dia semelhante a esse, nem antes nem
depois dele, atendendo o Senhor assim à voz dum homem; pois o Senhor
pelejava por Israel", Josué 10:14.
Então, uma das funções dum real intercessor é convencer Deus a todo
custo a salvar quem está perdido - Ele pode. Mas como se essa
questão não bastasse, Ele ainda tem coisas prometidas a esse
respeito, às quais Ele terá necessariamente de vir a ser
inteiramente fiel. É aqui onde nos esquecemos das doutrinas de
eleição e que mais, pois quem está perdido precisa que alguém puro
clame por ele diante de Deus, pois ele próprio nunca o fará a menos
que seja para coisas carnais e materiais mesmo.
Assim, é comum num intercessor sentir em sim mesmo toda a miséria de quem é
seu objecto de misericórdia, isto é, sente o verdadeiro estado de
espírito de quem está perdido, avalia sobriamente sem fechar seus
olhos para a realidade, sabendo de antemão que não existe pecado
onde a mão de Deus não possa chegar para perdoar e extinguir de vez.
A condição é que o pecador deixe seus caminhos logo, pois existem
coisas sobre as quais não teremos como mudar nunca. A Palavra nos
diz que "E virá um Redentor aos que se desviarem da transgressão,
diz o Senhor",
Is.59:20. Logo, temos de interceder
diante de todo homem que ceda totalmente nessa questão, a qual todo
homem considera desde nascença que é toda a sua vida, todo o seu
desejo, pois sonha mesmo em conformidade com tudo aquilo que o
pecado oferece.
Por outro lado, um intercessor se vira para Deus para, por todos os meios
legais, fazer Deus intervir logo numa certa vida para bem da mesma.
Essa é a verdadeira função dum verdadeiro intercessor - tem um duplo
trabalho a efectuar. Por isso diz Deus daqueles que, em nome de
Cristo, fazem o que Ele sempre fez: "E os que de ti procederem
edificarão as ruínas antigas; e tu levantarás os fundamentos de
muitas gerações; e serás chamado reparador da brecha e restaurador
de veredas para morar", Isa 58:12.
Para que isso se efectue com toda a perfeição, temos outro aspecto a levar em
conta também: o Espírito Santo. O Espírito Santo cria um pesar em
quem intercede, chegando tal pessoa - a menos que se alarme com a
ocorrência que deve ser sempre considerada normal numa vida
evangélica profunda e limpa - a chegar a interceder com gemidos
inexprimíveis mesmo. O próprio Consolador intercede por nós, dentro
de nós mesmos, fazendo-nos ver e sentir a miséria de quem está
perdido. Isto não é coisa para pessoas fracas que fogem da primeira
vista da desgraça, pois a realidade dos factos é que vai tornar um
intercessor real, vendo as coisas como Deus as vê, um dos partidos a
convencer.
Logo temos também o Espírito Santo, muitas vezes a pedido do intercessor, a
operar dentro de quem se tornou leviano pelo e no pecado. Assim
temos uma dupla assistência que em tudo é perfeita e aperfeiçoante
na salvação de quem está deveras perdido e em calamidade profunda,
ao ponto de não a reconhecer mais como perdição sequer.
Assim temos este duplo trabalho operante dentro dos homens: dentro de quem
intercede para que veja o lado de Deus, como ele é de facto e também
dentro de quem está perdido para que abra seus olhos e ouvir e ver
nossos argumentos de intercessão de facto. Achamos então, que este
trabalho onde o Espírito Santo também intercede por nós, tanto
diante dos homens como dentro de nós mesmos, não significa de
maneira nenhuma que ele interceda nos céus por nós, mas que opera
dentro de nós como se fossemos nós mesmos, dentro de Seu templo, em
nosso ser; e também por nós dentro de quem tentamos convencer. Ele
faz isso por nós em nós mesmos em tempo real e actual. Isto se chama
o verdadeiro espírito de oração. Haja pessoas que nunca fujam da
vista da miséria real e factual na qual todo homem se encontra de
facto, nem do peso que sobrecarrega todo seu espírito e baixa todo
seu semblante, pois ninguém gosta de se sentir mal e muito menos
pelos outros. Mas é pelos outros devemos que fazer aquilo que Cristo
fez por nós também.
Assim temos este duplo trabalho digno, muito digno mesmo, mas sendo
assistidos nele pelo Espírito Santo que nos foi dado para isso
mesmo, entre outras coisas é claro, pois, "o Espírito nos ajuda na
fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas
o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis" - mas
em nós, como se fossemos nós mesmos, coisa nossa, de nossa própria
autoria! Rom 8:26. Por esta razão é que muitos
homens de Deus são apelidados de arminianos, pois agem sob tutela do
Espírito de tal forma que nem parece ser assim, com tal coração e
entrega que, mesmo dependo na sua totalidade do Espírito para sua
realização, entregam-se a essa mesma obra como se apenas deles
dependesse tudo, devido a estarem inteiramente habituados e
familiarizados com a obra do Espírito Santo neles por eles. Assim,
amam e intercedem de todo coração e são criticados por isso.
Mas, aqui temos de cuidar de duas facetas distintas, pois devido àquilo a que
todo homem se habituou desde sempre, ele age normal diante dos
homens que conhece e anormal e fingido diante de Deus que acha que
não existe. Logo passa este espírito para a intercessão, manipulando
Deus e lidando com o homem apenas. Mas Deus atende apenas quem O
pode tratar como Ele é, isto é, normal. Daí que lemos que, "Ora,
sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos
que o buscam", Heb 11:6.
O intercessor terá de trocar os pólos, pois nada tem
para esconder ou fingir diante de Deus mesmo, pois Ele tudo vê e
observa. Quem deve ser manipulado é o homem e não Deus. Mas por
outro lado, o homem é fugidio e tem espírito de goma, o qual escapa
da mão de quem o quer segurar. Será então diante dos homens que
temos de ser cuidadosos, precavendo-nos sempre de suas rebeldias e
sermos sérios e concisos diante de Deus, pois nenhuma sabedoria
funciona diante d'Ele, nenhum esquema. Como o homem vem da infértil
incredulidade, aproxima-se de Deus querendo "comprá-Lo" e adquirir
Seus favores com palavras estudadas e escolhidas, como se fosse
homem, enquanto que diante dos homens que não têm sabedoria que se
realce mesmo, somos desabafantes, concisos e concretos. Isto terá
necessariamente que ser mudado em toda a nossa maneira de ser e de
estar, tanto diante de Deus, como diante de todo homem! Logo,
toda a sabedoria e todo o empenho sabe sempre a pouco quando
intercedemos diante dos homens como se fossemos a própria boca de
Deus; e toda a espontaneidade e verdade no íntimo vai saber sempre a
pouco quando intercedemos diante de Deus pelos homens. Será que se
seu vizinho tiver sua casa a arder, você chama os bombeiros com
doçura, perdendo tempo com piropos e elogios à actuação deles antes
de lhes comunicar que existe um incêndio devastador na casa de seu
amigo? Se isso é verdade, se o homem está dentro do inferno por
inerência, acha que Deus que vê todas as coisas atenderá um
hipócrita querendo comprar Deus com louvores e "piropos santos"
antes de clamar por alguém que está em vias de extinção eterna?
Guarde seus louvores para quando ver a mão poderosa e salvadora de
Deus! Ali sim, aí pode louvar Deus de todo coração e alguém mais o
poderá acompanhar nesse hino de gratidão! Isto é o que o ser humano
tem de mudar caso queira ser um herói intercessor.
Sabemos pois que "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus,
pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os
que estão na carne não podem agradar a Deus",
Rom 8:7,8; logo, teremos necessariamente de agir em
conformidade com toda a destreza diante de qualquer homem e com toda
a sinceridade e abertura de coração diante de Deus. Este será o real
trabalho dum verdadeiro intercessor: é alguém que cobre pelos dois,
tanto diante de Deus pelo homem, como diante do homem por Deus. Que
nunca se diga de nós que "Sim, a verdade desfalece; e quem se desvia
do mal arrisca-se a ser despojado; e o Senhor o viu, e
desagradou-lhe o não haver justiça. E viu que ninguém havia e
maravilhou-se de que não houvesse um intercessor",
Isa 59: 15,16.
Quero usar dois exemplos para melhor ilustrar tudo o que quero aqui transmitir,
pois é coisa simples de se ver e experimentar de facto, mas difícil
de colocar em palavras elucidativas e convenientes. A simplicidade
de todo este esquema de salvação torna sua explicação um tanto ou
quanto difícil. Logo quero usar o exemplo de Moisés para tentar
explicar a parte de intercessão diante de Deus a favor do homem e
dum cachorro para ilustrar a verdadeira intercessão diante do homem
a favor de Deus. É de realçar que nenhum intercessor deve abandonar
seu posto de vigília por um minuto que seja! Deus diz que "Mas o meu
justo viverá da fé; e se ele recuar, a minha alma não tem prazer
nele", Heb 10:38. É difícil lidar com um Deus
assim. Ele tem o Seu jeito e nunca mudará e se quisermos lidar com
Ele para colocá-Lo a conversar pessoalmente com o homem, temos de
saber que Ele não aceita recuos de nossa parte.
Numa bela manhã, quando cruzava uma das ruas de Lisboa, vi um cachorro
atropelado com uma perna partida e cheio de dores. Aproximei-me e
quando tentei pegar nele, quase me mordeu, pois achava que lhe iria
infringir mais dor ainda. Ele não entendia (nem queria entender) que
eu apenas o queria ajudar a levá-lo à clínica veterinária mais
próxima. Então pensei que não me podia ofender por este cachorro não
me entender, pois estava em grande sofrimento. Sendo assim, não
podia atender à sua agressividade, mas sim à sua necessidade. Logo
tentei falar meigamente com ele, levando-o a confiar em mim e a
esquecer-se assim da sua dor por um momento. Só assim teria como
ajudá-lo. Mas isto também não funcionou muito bem, pois ele
deixava-me chegar perto dele porque se sentia muito carente, mas não
me permitia tocá-lo porque lhe doía. Então arranjei um cordel e
aproximei-me dele de novo, com outra aproximação, com ar carinhoso e
decidido (pois é importante saberem que não vamos recuar e vamos
terminar nossa obra aconteça o que acontecer!) apontando para seu
focinho dócil, mas cheio de dentes. Fiz um laço e consegui laçar seu
focinho por inteiro. Toda a sabedoria de aproximação resultou. Pude
então agarrar nele e transportei-o o seu médico sem mais demoras.
Foi assim que este cachorro foi realmente salvo. Intercedi por ele,
não levando em conta sua agressividade, nunca me ofendendo com ela,
mas cuidando de conseguir tudo o que era necessário ao seu bem-estar
futuro.
Todos nós sabemos que os homens vivem descuidados neste mundo, ignorando as
ruas que cruzam, magoando e ferindo todo seu ser por inteiro e sendo
atropelados pelo pecado. Mordem e gesticulam contra um primeiro
gesto de ajuda oportuna que se lhes apresenta, nunca entendendo do
que se trata aquele estender de nossa mão. Assim diz Deus que todo
aquele que quer ganhar uma alma terá de ser sábio em todo o seu
proceder. Logo, "o que ganha almas sábio é",
Prov. 11:30. Esta sabedoria inclui sempre um momento oportuno
de se laçar quem morde por onde morde, um esquema de o fazer, um mal
a ignorar e uma obra a levar até ao fim sem nunca recuar dela em
nenhuma circunstancia. Aquele que lança mão do arado e olha para
traz nunca estará apto a promover o reino de Deus entre os homens.
Pode alguém laçar o cachorro por onde morde e abandoná-lo ali na
estrada pensando que fez algo de muito bom sem haver terminado sua
tarefa por inteiro? Que sábio será esse que se dá por feliz havendo
alcançado um feito de coragem apenas sem que haja alcançado seu
propósito final ainda? Se antes estava machucado, agora com sua boca
laçada, nem terá como abri-la para clamar de dor e ser ouvido por
alguém que passe por ali de novo! No entanto, é isto o que fazem
muitos que pregam o evangelho - laçam e deixam as pessoas ao
abandono em doutrinas que Deus os abençoará e que nunca mais se
perderão e que devem frequentar os cultos e orar, mas nunca cuidando
de suas vidas reais de facto. Isto não é ser intercessor diante do
homem.
Agora, intercedendo diante de Deus a favor de todo homem, não temos
argumentos nenhuns com excepção de nossa própria vida. Deus disse
que "Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida
pelos seus amigos", João 15:13.
Caso nossa vida seja preciosa diante de Deus, limpa, aprazível, accessível e cheia de fé,
podemos intervir diante d'Ele, sem medo de a perder, sendo
importunadores de primeira classe, tal como fez aquela viúva que
nada tinha a perder clamando a um juiz mau e iníquo, quando este
menos deveria ser perturbado. Esta viúva colocou sua própria vida em
risco, pois sabemos que os juízes naquele tempo mandavam matar sem
apelo nem agrado, pois tinham toda a autoridade para o fazer - tal
como Deus a tem também. Jesus nos ensinou a agir da mesma forma para
com Deus, mas este sendo Bom, pois foi para nós mesmos que se deu
todo o trabalho de relatar esta parábola. Deus se torna numa pessoa
difícil de ser achada, apenas para nos levar a buscá-Lo de todo
nosso coração. Podemos mesmo achar que Deus é cheio de esquemas e
desistir de procurá-Lo, achando que Ele deveria saber melhor. Mas
não será assim que Ele será achado de nós. Pode até ter esquemas,
mas nunca O acharemos fora deles: será achado à Sua maneira. E quem
desistir perde a vida que traz em sua própria mão para ser salva.
Deus não pedoa um lapso destes.
Deus se aproveita de toda a situação para nos levar a uma maior e mais real
intimidade com Ele mesmo - quem poderá levar Deus a mal por isso? Se
o acharmos, será porque O buscamos de todo nosso coração. Lemos que
"Então me invocareis e ireis e orareis a mim e eu vos ouvirei.
Buscar-Me-eis e Me achareis, quando me buscardes de todo o vosso
coração", Jer 29:12,13. Ora, será
apenas por nós próprios que devemos buscar Deus assim? Um
intercessor, tapa a brecha entre outros e Deus, coloca-se entre Deus
e homem de todo coração, oferecendo sua própria vida para o fazer
logo, não se importunando com suas próprias necessidades quando fala
com Deus. Sei dum homem que prometeu a Deus que, se isso resolvesse
o caso, que se entregaria também para ser crucificado, mas não só
isso, mas que escolheria ficar pendurado em todo sofrimento até à
vinda de Cristo se fosse preciso, se isso salvasse as pessoas! Não
será necessário dizer que este homem contribuiu para a salvação de
milhares de pessoas quase sem pregações nos USA, o século passado! É
frequente acharmos as pessoas buscarem Deus assim, de todo coração,
mas apenas quando estão eles próprios em necessidade - mas, caro
leitor, pode, tem você porque buscar Deus assim, esquecendo-se de si
mesmo, de suas necessidades, carências e confortos diante de Deus
que logo nota se é fingido ou não, quando pode ser ouvido por Deus?
Vejamos o que significa isto, de buscar Deus de todo coração, também
pelos outros.
Moisés chegou ao ponto de desejar veementemente perder a sua eternidade
desde que os outros se salvassem. Ele disse a Deus de todo coração.
"Agora, pois, perdoa o seu pecado; ou se não, risca-me do teu livro,
que tens escrito", Ex. 32:32. E
sabemos que ele aqui falava do livro da vida, tal como Paulo que diz
"Porque eu mesmo desejaria ser separado de Cristo, por amor de meus
irmãos, que são meus parentes segundo a carne",
Rom 9:3. É obvio que, para isto ser real e possível, nenhum
intercessor terá como cobrir aquele abismo, o fosso que existe entre
Deus e homem, caso esteja ocupado e preocupado (que é ainda mais
grave que mera ocupação!) com as coisas da sua própria vida. Lemos
que, "E todo aquele que milita, de tudo se abstém"; "ora, eles o
fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma
incorruptível. Pois eu assim corro, não como indeciso; assim
combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo e o
reduzo à submissão, para que não venha a ficar reprovado",
1Co 9:25-27. Pode você agir assim, desse mesmo modo, pelos
outros, por quem mata, esfola e talvez desprezou, injuriou ou matou
seus familiares ou amigos ou irmãos na fé? É que, se não conseguir,
tudo aquilo que Cristo fez por si foi em vão, no que toca a si
mesmo, pois você ainda não é amor de verdade - só por ser.
Vejamos o que significa interceder de todo coração, mas só que pelos outros
também. "Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo o
vosso coração". Jer 29:13
É assim, Deus não está medindo as coisas pelo meio, nem está para
permitir ou fazer ajustes de contas com qualquer ser humano:
qualquer um O pode achar nas Suas condições. Você é crente? Ainda
pode achar Deus, pois não se engane!
A parte essencial de todas as orações, nunca é o buscar
mas sim o achar. Quem não acha, ou não orou e se orou deu no mesmo:
melhor lhe seria nunca haver perdido seu tempo. Oração que não acha
é sinal de mal-estar ou desaprovação e qualquer crente deve estar
cabalmente habilitado a ler os sinais dos tempos: oração sem
resposta, pede de nós algo mais que a própria resposta em si. O sol
sem qualquer calor, a água sem humidade, o homem sem amor, um olho
dum cego, ou uma oração sem resposta, nada de diferente têm entre
eles. Resposta não pode servir de sinal, mas nunca deixa de ser
sinal. Resposta é o coração da oração. Crente que ora quando Deus se
cala, continuando assim mais um dia, é como criança que brinca com
seu carrinho pensando que é gente grande num rali. Mas se continuar
assim toda sua vida de crente, algo de errado se passa em tal pessoa
- algo de muito errado mesmo!
Já falou com alguém ao telefone? Que acharia se
estivesse falando sozinho? E que acharia se houvesse resposta e
correspondência adequada, por exemplo, um "sim" e tal coisa nunca se
confirmasse na prática depois? Dormiria ainda com paz, sabendo que
pode estar a ser enganado ainda em tempo de reverter tudo a seu
favor? Hoje ainda, assim que ouvir Sua voz, seu sinal de mal-estar?
Ou preferiria o lar dos tolos onde se diria "Deus há-de fazer, Ele
há-de me abençoar", quando Ele quer mostrar-lhe precisamente o
oposto daquilo que você pensa pela ausência de resposta? Eu poderia
imaginar, poderia afirmar até, que mesmo obtendo resposta não serve
de sinal claro que Deus está connosco e de bem com quem ora -
imagine então como está Deus com quem nunca obtém resposta! Caim
falava com Deus e obtinha resposta! Os demónios pediram a Jesus para
entrar nos dois mil porcos e Jesus lhes concedeu. Será que há
pessoas dentro de nossas igrejas piores que Caim aos olhos de Deus?
Se Deus ouve os demónios em pedido (por vezes), porque se recusa a
ouvir os crentes?
Deveria ser a coisa mais simples, mais natural de todos
costumes humanos, o ser-se ouvido por Deus. Nada disso deveria ser
estranho ao ser humano. Mas é! Vamos ver este versículo de buscar
Deus de todo o nosso coração: que significa ele para nós.
Em primeiro lugar, Deus se concentra na palavra "Me
achareis" e passa todo o ênfase para, "de todo o coração". Sabe que
Deus diz assim: "Eis que Meu galardão está comigo". Esta palavra,
"ME achareis", deveria merecer muito mais atenção de todos nós -
apenas por um momento que seja. Deus não diz para buscarmos as
coisas que Ele dá e distribui, mas sim a Ele somente. Assim
acharemos todas as coisas n'Ele e não todas as coisas apenas. Se O
acharmos, seu galardão vem com Ele. Quer pão? Esqueça que está com
fome e busque a Ele e não pão; está com sede? Ele diz "vem a MIM" e
não às águas que Eu dou; entende este discurso? "Por que não
compreendeis a minha linguagem? É porque não podeis ouvir a minha
palavra", João 8:43.
Jesus, Deus afirma "ME achareis". É a Ele que busca? Ou é a cura que
Ele promete? Ou a felicidade? Deus nunca enganou ninguém: se não O
achar, pessoalmente, individualmente junto com seu pedido, caso seu
pedido haja sido atendido, é claro que se precipitará no mar também!
Ou acha que só aos porcos pode acontecer tal coisa e ao seu pedido
não? Deus disse a Abraão: "Não temas, Abraão; Eu sou o teu escudo, o
teu único galardão", Gen 15:1.
Se Deus atender seu pedido e Ele não estiver incluído pessoalmente
na resposta da oração que fez, logo, seu pedido é coisa que para
nada serve senão para ser pisado pelos homens, como sal sem sabor
será.
"De todo o coração": poderia escrever um livro inteiro
sobre isto. Mas não vou, porque espero que você se irá colocar de
joelhos para multiplicar este pão com aquela confiança de quem o
fará porque esta é uma vontade de Deus. Se está orando, se está
suplicando preocupado, como pode estar seu coração TODO envolvido na
busca de Deus? Quando Deus fala "de todo coração", quer dizer o
oposto de se estar dividido entre dois, três ou dois mil pensamentos
e ocupações. Se seu filho está à morte, se seu pedido é urgente,
será que vai buscar Deus por Ele? Ou seu coração está dividido entre
Deus e seu filho? Ou busca Deus porque seu coração não está sequer
dividido: está todo com seu filho?
Há que buscar Deus, mas de todo coração. O mesmo Deus
que disse "Não adulterarás", também disse com a mesma força de todas
as Suas palavras que, "Não procureis, pois, o que haveis de comer,
ou o que haveis de beber e não andeis preocupados.
(30).
Porque a todas estas coisas os povos do mundo procuram; mas vosso Pai
sabe que precisais delas",
Lucas 12:29-30. Então? Em que ficamos então? Buscamos Deus? Ou achamos
Deus? Vai querer, desejar só o galardão de Quem
amou todo
o mundo de tal maneira? Ou será Ele o seu único galardão também? Se
não for, seu coração estará dividido. E só O achará de todo coração.
Pode você fazer isto pelos outros também? Já e só por eles?
Isto é o verdadeiro trabalho dum intercessor real colmatar, tapar a brecha
entre homem e Deus. Deus está irredutível na total destruição do
homem e isso nota-se pelos muitos flagelos à volta de todo mundo
hoje mesmo. O homem é amante e aspirante ao pecado e acha que é para
isso que Deus existe e deve existir, para lhe poder dar tudo que seu
"pobre" coração deseja! Sabemos que Deus nunca mudará e que o homem
é criação para viver apenas da perfeição. Também sabemos que o homem
mudará caso Deus toque nele por dentro. Logo teremos de ter nossos
horizontes todos muito bem definidos e delineados.
Vai você servir de interveniente entre estes dois pólos extremados, e
irreconciliáveis e irredutíveis? Dum lado Deus, do outro o homem,
ambos em desentendimento profundo, irremediável mesmo, onde um
consenso nunca será possível. Um opera contra o outro, em inimizade
actuante e visível. Vai colocá-los a conversar um com o outro, a
falarem de suas desavenças? Só tem uma maneira e uma agenda sobre a
mesa de negociações: o homem querer mudar todo seu coração,
confessando todo seu pecado. Vai conseguir esse feito entre dois
pólos que não suportam um o que o outro é e faz? Deus diz que "não
posso suportar a iniquidade!"
Isa 1:13. O homem insinua e acredita
que nunca poderá viver sem elas e só quer Deus desde que todos os
seus sonhos lhe sejam concedidos oportunamente e desde logo. O
verdadeiro trabalho dum intercessor, será pela agência do Espírito
Santo, nunca desfalecer em tal obra nobre, pois tudo é possível para
aquele que crê. Ele intercede por nós em nós mesmos. Por essa razão
gememos muitas vezes sem saber muito bem porque razão.
Todo crente tem necessariamente de servir de ponte, de plataforma de
entendimento entre facções, uma Justíssima, outra injusta ao
extremo. Seja um real intercessor - mas não por si. Jesus nunca fez
um único milagre na terra que beneficiasse a Ele próprio
directamente. Fez tudo por quem o rodeava naquele momento. Pode você
vir a fazer o mesmo?
José Mateus
Portugal