Dr. Kurt E. Koch (1913 – 1987)
AVIVAMENTO NA INDONESIA
por
Dr. Kurt Koch
Autorizado a publicar aqui por BIBEL- UND SCHRIFTENMISSION pela esposa do autor, Bärbel Koch
1ª PARTE
Existem três países hoje sobre os quais se focalizam preferencialmente as
atenções de todo mundo. O primeiro destes países é sem dúvida, Israel.
Este País permanece sendo o centro das atenções e dos acontecimentos no
mundo. Poderemos dizer com toda a certeza que, a menor nação na face da
terra, tem a historia mais rica de todas. Nem será aqui que debateremos
este assunto, pois já o fiz em meu livro “Aquele que vem”.
O país
que divide igualmente as nossas atenções nesta fase do tempo é o Vietnam.
Será neste poço de fogo que se decidirá o futuro de toda a Ásia. E as
perspectivas ocidentais nem são as melhores quanto a isso.
O
terceiro País que é bastante discutido nos círculos cristãos mais
próximos é sem dúvida alguma a Indonésia. Qual a razão para este
interesse súbito em torno deste País? Iremos deixar esta pergunta sem
resposta por enquanto para podermos olhar mais de perto para a história
religiosa da Indonésia.
*Nota do
tradutor: temos de levar em conta a data quando este livro foi escrito,
perto de 1970.
I. O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INDONÉSIA
Todo
aquele que queira entender bem o presente, necessita entender bem seu
passado. Como uma ponte entre dois continentes, o mundo de ilhas da
Indonésia tem uma história bastante relevante e que em nada se pode
considerar insignificante. Fósseis descobertos lá relacionam este país
com a época do homem de Pequim e esta ligação ancestral asiática
influenciou definitivamente a história econômica e cultural deste país
de muitas maneiras.
As
inscrições rupestres nas pedras datando mais de três mil anos ainda não
foram totalmente decifradas e aguardam investigação científica mais
apropriada.
A
situação religiosa na Indonésia também é muito interessante de ser
seguida. O país foi penetrado por quatro correntes de pensamento
distintas e estas acrescentaram as suas várias influências ao animismo
que se desenvolveu simultaneamente na área.
No
primeiro e no segundo século mercadores indianos trouxeram o Hinduísmo
para o país e foram estes mercadores que trouxeram a famosa madeira
aromática para o mundo ocidental. Assim, a Europa conseguiu ter estas
madeiras aromáticas antes mesmo de ter conhecimento do país de sua
origem. A religião e a cultura Hindu desenvolveram-se durante os Séculos
VI a XIV, tornando-se um poderoso reino e as raízes da linguagem atual
da Indonésia baseiam-se precisamente nestas raízes da cultura Hindu.
No
Século no VI, VII e VIII o Hinduísmo foi ultrapassado pelo Budismo e uma
vez mais foram os próprios negociantes Indianos que importaram esta nova
religião para dentro do País. Ao construírem o seu tempo em Borobudur,
os budistas construíram um santuário em Java, local onde existia o
santuário Hindu mais sagrado, Prambana. E foi assim que estas duas
grandes religiões indianas subsistiram lado a lado em Java numa perfeita
coexistência.
Foi
apenas nos Séculos XII e XIII que começou a época do Islã a qual
estabeleceu o seu primeiro pilar em Atche no norte de Sumatra. O reino
Islâmico que começou sua existência no ano 1205 sob liderança do sultão
John Sjah durou até ao ano 1903. Estas religiões causaram grandes
dificuldades aos senhores coloniais Holandeses, inclusive a alguns ainda
em nosso próprio século.
Qualquer
um que leia com atenção os profetas do Velho Testamento descobre com
facilidade que eles frequentemente mencionam as ilhas ou as regiões para
além do mar. Este olhar visionário destes homens de Deus chegou muito
para além do seu próprio país (Is.66:19). Seriam estas ilhas
negligenciadas então pelo aquele que disse “Ide por todo o mundo, e
pregai o evangelho a toda criatura (Marc.16:15)”?
Os
primeiros mensageiros de Cristo que ali chegaram devem ter sido os
primeiros pais do Cristianismo. Nem é de ignorar o fato de que o
Apóstolo Tomé, o qual trabalhou na Índia, atravessou para Indonésia
juntamente com mercadores Indianos. Em qualquer caso, temos conhecimento
que missionários da Igreja Mar-Tomé (Igreja relacionada com o nome do
apóstolo), trabalharam na Indonésia.
A
próxima prova real de uma obra missionária na área foi confirmada
através de avaliações exaustivas e dolorosas de documentos históricos
pelos quais se comprova que Cristãos vindos da Pérsia vieram para
Indonésia nos anos 671 até 679. Mas, depois disso este continente
permaneceu nas trevas por um longo período. Estes foram os séculos
durante os quais a igreja cristã do mundo ocidental foi perdendo pouco a
pouco a sua força original. Gradualmente a candeia de Roma também foi
colocada de lado e o seu ímpeto espiritual ficou com cede no Centro e
Norte da Europa. Precisamos, também, levar nosso pensamento de volta até
aos esforços dos missionários germânicos, para a reforma Cluníaca e
também para aqueles que anteciparam a reforma: Wycliffe, Hus e
Savonarola, para obtermos evidência destes fatos durante este tempo
quando praticamente nada era conhecido sobre a Indonésia.
Isto,
contudo, foi substancialmente alterado quando mercantes navegaram para
os portos da Índia e se aperceberam do mundo de ilhas a Leste. Seguindo
a época de descobrimentos de Cristóvão Colombo, o mundo tornou-se louco
pelos descobrimentos de novos mundos. Ao mesmo tempo, as nações dos
descobrimentos marítimos buscavam aumentar e fundamentar seu comércio.
Em 1511 os Portugueses conquistaram as Ilhas Molucas, causando a retirada dos
Muçulmanos dali e pressionando-os mais para o Sul. Os Católicos entre os
portugueses ocupantes de então fundaram a primeira Igreja Católica nas
Ilhas Molucas em 1522. Não muito tempo depois disto, o missionário
Francis Xevarius chegou ali vindo da Índia. Mesmo que ele tenha
trabalhado na obra de Deus apenas de 1546 até 1547, a sua influência foi
tão vasta e tão grande que desde então ficou conhecido como o Apóstolo
dos Indonésios.
O século
16 também viu o início do poder colonialista holandês. Os cristãos
indonésios não ficaram propriamente alegres quando os holandeses baniram
o trabalho missionário do norte e do sul de Sumatra e de Bali. A razão
invocada para os holandeses fazerem tal coisa era o temor de que os
nativos se rebelassem e com isso abandonassem o trabalho nas plantações.
A questão da expulsão dos cristãos de Bali trataremos adiante mais
detalhadamente.
A
formação da igreja protestante nas ilhas Indies é considerada pelos
cristãos hoje como uma incoerência, estando os sentimentos divididos
sobre o assunto. Os pastores eram oficiais do Estado que recebiam seus
salários diretamente do governo holandês. Era algo similar ao que
ocorreu no tempo de Constantino “O Grande” – qualquer um que quisesse
progredir em sua vida particular teria necessariamente de se tornar
cristão para que tivesse como alcançar seus objetivos. Foi assim que a
igreja cristã nasceu na Indonésia e isso contribuiu para que nem as
tradições pagãs e nem as crenças hindus fossem extintas da vida da
igreja.
Para
além da Igreja que era o próprio Estado em si, também surgiram obras
missionárias de vários tipos e de outras igrejas locais em Java, Bali,
Celebes, Bornéu, Sanghir, Nias, Sumatra, Sumba e Nova Guiné – para
mencionar apenas algumas das mais importantes. A leste de Java a
formação duma Igreja Indonésia fica para sempre ligada ao nome de um
relojoeiro Germânico, o irmão Endo. Um cristão vindo da Rússia, irmão
Coolen, também deveria ser mencionado neste capítulo.
No
século XX, quando a era da descolonização começou, o poder das forças
coloniais holandesas foi sucumbindo gradualmente. Na Indonésia um
movimento fundado em 1908, conhecido como “Ressurgimento da Ásia”, foi
ganhando terreno. Esta tendência sublinhou as lutas do povo Indonésio em
prol da sua independência.
Durante
a Segunda Guerra Mundial o País foi ocupado pelos japoneses por três
anos e meio. Depois de sua retirada a Indonésia declarou sua
independência no dia 17 de Agosto de 1945 e criou uma Constituição,
conhecida como Pantja Sila. Contudo a Constituição não pôde ser
implementada devido à recusa holandesa de reconhecer sua independência.
Isto resultou numa guerra de libertação que durou mais ou menos quatro
anos. Sob pressão da ONU e muito especialmente dos americanos, os
holandeses finalmente cederam e abandonaram o país em 1950.
Mesmo
assim esta terra não foi capaz de achar seu descanso. O inimigo que se
seguiu era interno e vindo do seu próprio povo. Primeiro o poder
colonialista teve de ser quebrado. Seguiu-se uma batalha contra um maior
inimigo para os Indonésios.
II. O tributo de sangue da indonésia
Através da tentativa de golpe de estado de 1 de Outubro de 1965, a Indonésia foi
forçada a uma mudança radical da sua história. Atualmente existem
revoluções de várias dimensões num ou noutro canto do mundo praticamente
todos os dias do ano. Contudo devido ao curso dos acontecimentos do
mundo hoje eles raramente são notados. E mesmo assim as circunstâncias
da Indonésia são um tanto ou quanto excepcionais. Aqui os acontecimentos
que tomaram posse do curso do país foram de importância crucial para o
desenvolvimento político do leste de toda a Ásia.
Sempre
se soube que o presidente anterior Sukarno alimentava simpatias
comunistas quando a parte oeste da Nova Guiné foi forçada a estar sob
administração Indonésia em 1 de Setembro de 1963. Logo ali os
missionários previram grandes dificuldades em relação ao seu trabalho.
A
premonição tinha razão de ser. A influência comunista cresceu no país.
Qual seria o resultado final? O resultado foi completamente diferente
daquilo que os comunistas esperaram.
O Massacre planeado
No dia 1
de Outubro de 1965 os comunistas tentaram obter o controle do país. Seu
primeiro objetivo foi remover todos os generais e oficiais dos seus
respectivos postos. Os comunistas tinham os seus próprios oficiais
prontos e à espera para tomarem os lugares que iriam vagar.
Somente
em Jacarta seis generais foram presos durante o primeiro massacre
comunista. Eles foram tratados em conformidade com as práticas
comunistas da época na Ásia. Os seus olhos eram parcialmente puxados
para fora das órbitas e as vítimas mutiladas eram forçadas a correrem
nus entre mulheres comunistas treinadas para o efeito, as quais
espetavam os pobres generais com facas até que sucumbissem sob tortura.
Contudo, escaparam dois da hierarquia em Jacarta. O primeiro desses foi
Suharto. Seu filho estava gravemente doente no hospital na hora que se
deu o início da revolta e ele foi obrigado a passar a noite ao lado da
criança. Quando os comunistas o procuraram em sua casa não foram capazes
de o achar.
Este pequeno imprevisto foi o suficiente para frustrar a revolução dos
comunistas, a qual fora planejada minuciosamente. Suharto era a cabeça
da estratégia da reserva. Ele alertou seus homens imediatamente e
através de seu primeiro ato de retaliação apoderou-se da rádio de
Jacarta.
Humanamente falando esta simples ação salvou as vidas dos cristãos e dos
missionários do país. Os comunistas estavam à espera de um comunicado
que seria difundido pelo pelas estações de rádio do país, para assim
começarem o seu assalto final. Mas, estas ordens de ataque não chegaram
e o ataque morreu antes de nascer.
A contra
iniciativa de Suharto trouxe para a luz as listas daqueles que se
encontravam na lista negra dos comunistas. Estes continham os nomes de
cada oponente político dos comunistas.
A lista
religiosa continha nomes de todos os sacerdotes e líderes muçulmanos,
juntamente com todos os sacerdotes católicos e missionários
protestantes. As comunidades cristãs da Indonésia teriam sido
sumariamente eliminadas através deste golpe perfeito, caso Deus tivesse
permitido o sucesso dessa revolução.
O
segundo general a escapar das garras dos comunistas foi Natsution, que
antes havia sido o ministro da defesa. A sua sobrevivência nas mentes
dos Indonésios deve-se, tal como a de Suharto, a um pequeno milagre.
Quando
os comunistas forçaram seu caminho para dentro de sua casa, Natsution
quis entregar-se. Contudo, sua esposa não o permitiu. A primeira bala
dirigida a ele falhou o alvo, mas infelizmente acabou por atingir a sua
filha pequenina, a qual tinha acabado de sair de seu quarto correndo
para o corredor. Morreu algum tempo depois.
Natsution escapou por uma porta das traseiras. Sua esposa correu com ele
até o muro do jardim. Ele subiu nos ombros dela e foi assim que
conseguiu alcançar os terrenos vizinhos, os quais pertenciam a uma
embaixada estrangeira. Os dois cães de guarda existentes nesses terrenos
também o deixaram escapar miraculosamente sem o importunarem.
Entretanto, em sua casa um outro ato de amor cristão foi demonstrado. Um
ajudante e oficial de Natsution era Cristão. Para poder encobrir a fuga
do seu chefe, quando os comunistas perguntaram “você é Natsution?”, ele
respondeu “sim, sou eu mesmo”. Ele foi abatido logo ali.
Os
cristãos podem questionar se este homem deveria ter mentido ou não antes
de morrer. Seja o que for que pensem, este ajudante fez o que fez apenas
para salvar a vida do seu superior hierárquico e este ato de amor
cristão prático será avaliado à luz da eternidade, acima de ser avaliado
através das visões doutrinárias inflexíveis de muita gente.
A terrível retaliação
A maneira horrível como os generais haviam sido mutilados indignou os
Indonésios e provocou-os a uma ira incontrolável. Juntamente com isto um
outro incidente, o qual mais tarde foi vergonhosamente abafado, embalou
a revolução em toda nação. As mulheres comunistas, para além de outras
atrocidades que cometeram, virtualmente violaram os pobres generais
enquanto estavam amarrados. E então, por último, o perigo mortal que
estava ameaçando os sacerdotes muçulmanos provocou uma ira pública sem
precedentes. Temos de ter em conta que 90% da população da Indonésia é
muçulmana.
A
subseqüente retaliação para a qual os muçulmanos foram provocados causou
verdadeiramente mortes a mais pessoas do que aquelas que haviam morrido
até então na guerra do Vietnam. Uma onda de anticomunismo varreu o país
de ponta a ponta. À noite, pessoas movidas para a vingança, entravam
pelas casas dos comunistas e outros que eram suspeitos, assassinando
todos os homens que encontrassem. Esta onda de assassinatos custou à
região algo como um milhão de vidas só nos meses de Outubro, Novembro e
Dezembro de 1965. O mundo ocidental foi mantido sem qualquer informação
da extensão destas medidas retaliatórias infligidas pelo povo Indonésio.
Pelo menos desta vez os comunistas receberam em troca tudo aquilo que
fizeram aos outros.
As
contas e as conclusões finais dessa série de assassinatos foram
terríveis do ponto de vista de vidas humanas e atrocidades cometidas. Em
muitas vilas a leste de Java nem um único homem sobreviveu. Enormes
covas eram abertas onde os comunistas assassinados eram lançados em
massa para serem enterrados.
Imaginemos a dor que caiu sobre as famílias Indonésias: crianças sem pai
e esposas sem marido! Este foi seguramente o único lugar em todo mundo
onde os comunistas sofreram aquilo que eles próprios infligiram sobre
outros povos na Rússia, na China comunista, em Cuba e em tantos outros
países por este mundo fora, durante décadas e décadas.
O sofrimento dos cristãos
Os muçulmanos contentavam-se principalmente com a liquidação dos seus
inimigos políticos, mas em outras partes do mundo como no leste da
Nigéria e no sul Sudão eles aproveitaram a onda para atacar igualmente
os cristãos, seus “inimigos” espirituais.
Por
exemplo, uma família cristã numa vila muçulmana tentou aliviar a dor das
esposas dos homens assassinados. Isto foi precisamente o que os
muçulmanos estavam esperando. “Nós temos provas”, diziam eles, “que os
cristãos são parceiros dos comunistas”. Voltando a atenção para casa
dessa família, eles entraram, mataram o esposo e forçaram a pobre
senhora a cozinhar para eles cada dia e também a lavar as suas roupas
manchadas de sangue.
Os
comunistas perseguidos frequentemente procuravam ajuda entre os cristãos
porque sabiam que essa ajuda não lhes seria negada. Isto, com toda
certeza, provocou os muçulmanos, os quais repetidamente clamavam pelas
ruas: “os cristãos e os comunistas estão coligados!” Por esta razão, em
muitas áreas, a perseguição aos comunistas alargou-se também para o lado
dos cristãos.
No
entanto o Senhor cuidou dos seus filhos. Um missionário de Bornéu, o
qual viveu a confusão na ilha, relatou-me o que aconteceu em seu próprio
distrito. Ele disse: “Entre as perseguições sangrentas e as atrocidades
assustadoras, tivemos oportunidade de ver o poder de Deus operando,
porque nenhum dos trezentos cristãos da área foi morto. O Senhor não
permitiu que nem um cabelo de suas cabeças fosse beliscado”.
Um outro
missionário que trabalhava noutra ilha disse: “Quando os assassinatos
começaram, um jovem professor comunista foi procurar refúgio dentro da
comunidade cristã. Enquanto esteve com os cristãos foi-lhe mostrado o
caminho para Cristo. Ele vinha diariamente ter com os cristãos os quais
oravam com ele regularmente. Mesmo que houvesse sido originalmente
levado até eles devido ao seu temor, ele testificou mais tarde que o
Senhor era de fato seu Salvador”.
Tempos
depois um informante denunciou o caso aos muçulmanos. Indo para a igreja
onde o professor costumava passar a noite, eles ficaram de vigia para o
apanharem e uma manhã puxaram-no para fora e degolaram-no em frente da
igreja. Os muçulmanos, de seguida, voltaram-se contra os cristãos. ‘Isto
é mais uma prova de que vocês são comunistas’. Depois de alguma
discussão entre os líderes muçulmanos, foi decidido massacrarem a
população cristã na sua totalidade e em todo o distrito; mas Deus
interveio. Uma companhia de soldados chegou ao local vindo dum batalhão
próximo dali, os quais decidiram proteger os cristãos durante meses, até
que os problemas houvessem passado. (Eu tive a oportunidade de visitar
esta comunidade pessoalmente).
A
intervenção militar nesta instância foi deveras marcante. As tropas
governamentais, por norma, nunca se preocupavam com a onda de
assassinatos que iam ocorrendo. As únicas perguntas que eles faziam
eram: “Por quem é que nós devemos lutar? Qual o lado que está certo?
Caso os comunistas tivessem triunfado tudo seria diferente”.
Esta
luxúria muçulmana para derramar sangue foi muitas vezes a origem de
muita ansiedade entre os cristãos. Um cristão chinês na ilha de Java
disse-me uma vez: “Nós somos um espinho na carne dos muçulmanos de três
maneiras: em primeiro lugar, eles não gostam de nossa raça; em segundo,
eles têm ciúmes de nós, porque os chineses trabalham mais do que eles e
obtêm maior sucesso em seus negócios; e em terceiro lugar, eles
simplesmente nos odeiam por sermos cristãos”.
Eu
também testemunhei este tipo de relacionamento tenso em todos os países
do oriente. Cidades e países com uma forte presença chinesa,
tendencialmente expandem-se e prosperam mais rapidamente que as outras
áreas circundantes. Esta é a principal razão porque a Malásia e
Singapura experimentaram um tão grande desenvolvimento econômico. Em
ambos estes países, pelo menos 50% da população é de origem chinesa.
Olhando
para o futuro, os conflitos são propícios a ocorrerem e em alguns casos
já aparecem no horizonte. Por exemplo, os cristãos queriam construir uma
igreja no subúrbio de Jacarta. Contudo, a população da área consiste
majoritariamente de muçulmanos e esses logo acharam maneiras e
mecanismos de impedirem a construção dessa igreja.
Similarmente, um médico cristão relatou-me como ele comprou um grande
pedaço de terra de um muçulmano para ali poder construir um hospital
cristão. Quando os muçulmanos vieram a saber qual a finalidade do prédio
em construção, ele cancelou a venda durante as últimas legalidades da
venda. O médico perdeu muitos milhares de dólares americanos devido à
ocorrência. Mesmo que ele estivesse legalmente correto, ele decidiu
nunca levar o caso a um tribunal muçulmano devido ao temor sobre o que
estava escrito em I Coríntios 6.
Chegará
o dia em que os muçulmanos entrarão em conflito aberto contra os
cristãos. Essa é uma parte da realidade colocada como cenário diante do
mundo antes que ele acabe. Os seguidores de Cristo irão passar por
maiores e maiores provações antes que o Senhor venha em sua glória e os
liberte de todas as suas dores.
III. A ECONOMIA DO PAÍS
Este livro é fundamentado por várias visitas que fiz à Indonésia e mesmo que
as condições de 1966 e 1967 não sejam necessariamente as mesmas
atualmente, a ilustração do crescimento que a Indonésia experimenta
hoje, é de grande valor.
Numa das
minhas primeiras visitas ao país fui imediatamente confrontado com a
pobreza da população em geral. Jacarta, a qual na altura seria uma
cidade com cerca de três milhões de habitantes, para além de alguns
edifícios construídos com propósitos claros de busca de prestígio e
aprovação, provou não ser mais que um aglomerado de estradas ruins,
cabanas a caírem, cores horríveis e de pessoas subnutridas.
Durante os períodos de seca, a fome e a devastação logo se tornaram evidentes em
muitos locais. Anteriormente, eu não tinha nenhuma concepção sobre a
situação real existente na Indonésia. Normalmente, quando alguém fala de
fome, temos tendência em pensar logo na Índia.
Durante
estas minhas primeiras visitas ao país testemunhei diariamente
demonstrações públicas de estudantes e alunos escolares. Inicialmente
achei alguma dificuldade em tolerá-los devido ao barulho incessante e
infernal dos seus gritos e de suas palavras de ordem. Contudo, fui
confrontado com duas coisas distintas sobre esses manifestantes, as
quais os contrastam fortemente com os loucos e descontrolados
manifestantes da Europa e da América. Primeiramente, as procissões
movimentavam-se nas ruas numa ordem perfeita. Não havia violência de
qualquer tipo. E qual a segunda razão? Bem, na altura eles realmente
tinham uma razão sobre para se manifestarem, algo que não pode ser dito
da maioria dos manifestantes ocidentais.
O que os
motivava? A sua fome! Por quê? A razão era que nas semanas anteriores o
preço do arroz havia subido para mais de cem rúpias o quilo. Isto era o
equivalente ao que um motorista duma fábrica ganharia de salário com um
dia de trabalho. E ainda por cima, um quilo de arroz não durava muito
tempo quando se tinha uma família inteira morrendo de subnutrição.
Os
estudantes universitários e do ensino básico que eu tive oportunidade de
presenciar, tinham justificação mais que suficiente para atraírem as
atenções sobre o seu dilema. Se isso iria resolvê-lo, era uma questão à
parte. Um dos membros do governo disse uma vez num discurso: “Se gritar
alto ajudasse a baixar os preços do arroz eu seria um dos que gritaria
mais alto”.
Qual é
basicamente a raiz deste problema? Será a Indonésia capaz de alimentar
sua própria população? Bem, em teoria a resposta seria sim, porque a sua
área de cultivo é capaz de suportar não somente a população atual de 110
milhões de habitantes, mas seria até capaz de suportá-la mesmo que fosse
multiplicada por três ou quatro vezes.
O país é
de fato extremamente grande e é constituído por três mil ilhas
separadas, alcançando cerca de quatro mil milhas de extensão, ou seja,
cerca de 7.000 km de ponta a ponta. A terra em si, também é muito fértil
e necessita apenas de ser cultivada.
Isto,
contudo era precisamente um dos muitos problemas que necessitavam ser
resolvido. Não existe qualquer plano sistemático para limpar o terreno e
torná-lo arável. Quão fácil seria transformar as escarpas montanhosas em
abundantes plantações de arroz. Seria apenas uma questão de conseguir
armazenar a água durante a época das chuvas. Mas, ao invés disso, a água
escorre pelas montanhas e transforma-se em grandes enxurradas que acabam
por destruir as vilas nos vales abaixo dessas montanhas. Durante minha
permanência em Jacarta a água estava a uma altura a cerca de 30 cm.
Devido a
uma exploração insuficiente da terra, é preciso importar o arroz. Em
1968 foi-me dito que faltavam 600 mil toneladas de arroz para suprir as
necessidades do país. “E de onde importam vocês o arroz, então?”
Perguntei eu. “Da índia e de outros países asiáticos?” “Não, eles também
não têm o suficiente para o seu próprio consumo! O arroz vem da América
e é realmente muito amável da parte deles, porque nós nem sequer temos
moeda estrangeira para que possamos comprar”.
O
resultado foi que o arroz que tinham estivesse a ser comercializado a
preços exorbitantes. Por essa razão, enquanto a população rica
armazenava o arroz que recebiam, os pobres nunca seriam capazes de
suportar o preço da compra e eram deixados à deriva para que achassem
outras maneiras de encherem seus estômagos. Um importador disse-me: “Nós
já estamos a comprar comida que se dá aos porcos nos Estados Unidos e
misturamos com o pão”.
Mesmo
assim, a Indonésia não tem qualquer necessidade de passar fome. É um
país muito rico. No tocante a minérios e recursos minerais este país é
considerado como o terceiro mais rico de todo o mundo.
Mas para que servem seus recursos naturais, no entanto, se não são explorados? A
industrialização é sempre anda sempre em paralelo com uma agricultura
eficaz. Existia uma falta clara de especialistas e de pessoas formadas
para o efeito e mesmo que existissem nunca seriam capazes de obter os
postos de trabalho para os quais haviam sido formados. As rédeas do país
sempre estiveram nas mãos de oficiais militares. A Indonésia sempre foi
um Estado militar. Isto significa que todos os postos importantes, ao
invés de serem ocupados por pessoas especializadas, eram mantidos por
oficiais de alta patente do exército.
O que é
que um general sabe sobre agricultura ou exploração de minas?
Normalmente não sabe nada. Dar provas de si mesmo numa parada militar ou
no uso de armas, não qualifica ninguém automaticamente para um plano de
sustentação da economia dum país.
“O
exército arruinou literalmente a economia do país”, foi-me dito uma e
outra vez. A população sempre apontou para o fato de os oficiais
seniores haverem tomado para si as diretorias das empresas anteriormente
holandesas e bem estabilizadas. Os resultados sempre foram desastrosos.
Somente em 1967 cerca de 2.000 empresas importadoras entraram em
situação de falência ativa. A situação precisava ser resolvida
urgentemente.
Passeando por um shopping de Jacarta, vi muitas prateleiras vazias nos
estabelecimentos comerciais, pois os donos dessas lojas não tinham
capacidade para comprar os produtos que lhes faltavam devido à falta de
capital. Estavam, por isso, preenchidos com produtos de baixa qualidade.
Este era
o cenário dos primeiros anos seguintes ao fim das greves gerais que
então houve no país. A pergunta é agora, se o governo é ou não capaz de
clarificar esses problemas. Na minha visita mais recente pude verificar
que alguns dos problemas da Indonésia já estavam sendo domados de forma
eficaz.
No fim
do ano de 1968, o governo começou a recolocar os especialistas nas suas
devidas funções de responsabilidade. Foi então que, no dia 1 de Abril de
1969, um plano de cinco anos para desenvolvimento do país foi
introduzido. O preço do arroz baixou tão dramaticamente que chegou a
atingir zero do que era em 1967. Também não mais necessitavam importar o
arroz que era dado aos porcos nos Estados Unidos para ser misturado com
pão. As lojas estavam novamente repletas de bens. O país conseguiu
superar a crise de estagnação que se havia instalado na economia.
É muito
errado dar ouvidos àquela propaganda que os comunistas fazem hoje em
relação à Indonésia. Pensemos um pouco no que seria deste país caso os
comunistas houvessem tomado conta das rédeas dele. Certamente que seria
mais um caso de miséria em massa organizada, tal qual acontece em todos
os países comunistas desse mundo.
Existem três fatores fundamentais que devemos reconhecer quando tentamos acessar
as características políticas e econômicas da Indonésia. Eles são:
Em primeiro lugar, o exército preveniu que o país entrasse em colapso sob a
ameaça dos comunistas. Por essa razão todo mundo asiático deveria
mostrar-se agradecido.
Ao
governo precisamos dar um tempo para reconstruir a economia destruída.
Os cerca de 20 anos desde a saída dos holandeses do país são muito
poucos para que uma comunidade lutadora e desenvolvida se possa firmar,
particularmente porque antes eram sempre colocados em antagonismo com o
desenvolvimento.
3. Para um
povo que conseguiu sua independência apenas há duas décadas atrás, será
necessário que aprendam a consolidar e a preservar os valores de
liberdade que, entretanto, conquistaram. Ninguém consegue alcançar o
impossível. Será que os Estados Unidos e a Suíça se fizeram tudo aquilo
naquilo que são hoje apenas em poucos anos?
Contudo,
durante este breve período de independência da Indonésia, muito já foi
alcançado. Alcançou um nome próprio dentro do mundo da liberdade e
encontra-se hoje a melhorar substancialmente e a consolidar cada vez
mais a sua posição econômica no mundo desenvolvido.
4. Se quiser desesperar-se, vá por via aérea
O que significa este provérbio? É com muito humor em suas vozes que os
Indonésios usam essas palavras para descreverem a falta de regularidade
das suas próprias linhas aéreas, uma inconstância permanente à qual nós
próprios fomos sujeitos. Éramos cerca de 80 pessoas em Jacarta esperando
um vôo para o leste de Java para participarmos numa conferência que se
realizaria lá. Durante dias e dias, a única coisa que pudemos fazer
dentro do aeroporto foi sentarmo-nos ora num lugar ora noutro e esperar.
Foi um grande teste para a paciência de todos e posso afirmar que para
mim pessoalmente também foi uma grande bênção.
Enquanto
esperávamos, consegui fazer vários contactos. Uma das primeiras pessoas
com quem comecei a falar foi o Rev. Ward, o vice-presidente da ‘World
Vision’. Ele havia-me ouvido falar uma vez na Califórnia. Na tentativa
de apanhar um outro avião, ele entrou num táxi e fez uma viagem de quase
30 horas – podíamos ver facilmente a exaustão estampada no seu rosto.
Mas, em vez de se queixar, as suas únicas palavras eram: “Bem, creio que
nosso desapontamento é o apontamento de Deus”. A sua atitude era
simplesmente maravilhosa. Apesar de todos os problemas a que foi sujeito
devido à falta de eficiência do seu próximo, nem uma palavra de queixume
saiu dos seus lábios. Este missionário estaria certamente uns degraus
acima do que eu estava na escola de Deus.
A bíblia
e a vida muitas vezes ensinaram-me aquela lição de que Deus pode
transformar nossos tempos de desespero em bênçãos secretas. A este
respeito, as histórias do Velho Testamento sempre foram para mim
valiosamente proveitosas.
Considerem, por exemplo, a história de José desde Gen.37-50. José foi
lançado primeiramente num posso sem água pelos próprios irmãos e vendido
a alguns negociantes midianitas. Imaginemos a angústia e a saudade de
casa que o entristeciam. Contudo, essa sua aflição, ou antes, esse crime
cometido pelos irmãos de José, foi transformado após muitos anos, numa
das maiores bênçãos vinda da parte de Deus para com a humanidade. Quando
a fome atormentou os humanos José foi capaz de salvar tanto seu pai
quanto seus irmãos e foi desta sua maneira peculiar que ele executou o
plano que Deus tinha para salvar a humanidade, pois foi através de sua
migração para o Egito que os filhos de Israel proporcionaram tornarem-se
aquela nação da escolha de Deus.
O atraso
insuportável que sofri da parte das Linhas Aéreas Indonésias, GERUDA,
trouxeram consigo variadíssimas surpresas. A única razão porque as
descrevo aqui é para ilustrar a grande bondade de Deus para conosco
devido ao fato de ele sempre esconder uma bênção no interior de cada
desapontamento que possamos encontrar, desde que em Seu serviço.
Quando
meu acompanhante me apresentou pelo meu último nome a um australiano que
esperava conosco, o homem rapidamente exclamou: “Dr. Kurt Koch? Eu o
ouvi falar numa igreja Batista na Austrália!”
Meia
hora depois eu conheci um outro australiano apresentando-me apenas pelo
meu nome Koch, ele replicou: “Eu tenho alguns livros de um Dr. Koch da
Alemanha. Eles ajudaram-me muito em minha obra. Por acaso o senhor o
conhece também?”. Eu? Conhecê-lo? Claro que o conhecia muito bem. Não
conseguirão imaginar a surpresa que vi estampada no rosto daquele homem.
Ele logo ali me convidou para ir falar em sua igreja em Melbourne em
vários discursos e a coisa mais encorajadora foi verificar que as datas
a que ele apontou encaixavam com muita perfeição dentro do programa
planejado para a minha visita à Austrália.
Mas a
melhor experiência de todas foi a última. Durante anos estive tentando
encontrar o rastro de Bakth Singh. Era o evangelista mais conhecido da
Índia. Nada menos que trezentas igrejas novas foram fundadas através dos
seus esforços missionários. Em muitas cidades grandes ele consumou
vários cultos em massa envolvendo milhares de pessoas sem um único
recurso aos meios de publicidade abusadora e exploradora que os
americanos propagaram pelo mundo.
Sempre
tentei encontrá-lo em alguma ocasião ou pelas digressões pela Índia, mas
nunca obtive qualquer sucesso. E eis agora, aqui estávamos um olhando
para o outro numa manhã cheia de irritações e desapontamentos.
Sentámo-nos a conversar durante horas porque ele estava esperando o
mesmo vôo que eu.
Foi
deveras uma ocasião maravilhosa e enquanto eu o questionava sobre sua
vida, ele teve a oportunidade de me contar sobre a maneira como se
converteu. No final, ele disse-me: “Vamos procurar um lugar sossegado
onde possamos orar juntos?” O meu novo amigo de Melbourne ainda se
encontrava comigo e achamos um lugar mais reservado onde passamos meia
hora em oração e na qual nos esquecemos dos problemas que nos rodeavam.
Bakth Singh também havia sido afetado pelo atraso. Ele já deveria estar
discursando na mesma conferência para onde nos dirigíamos a leste de
Java e, mesmo já tendo sessenta e cinco anos de idade, também foi
forçado a sujeitar-se a uma viagem de comboio de dezoito horas assim que
descobrimos que não teríamos qualquer hipótese de continuar nossa viagem
por via aérea.
A
comunhão que eu pude usufruir com este irmão abençoado durante os 14
dias seguintes, foi uma inexplicável bênção para mim. Quando nós enfim,
nos separamos, ele convidou-me para ir a Hyderabad para discursar lá
durante algum tempo. Eu tinha intenção de aceitar aquele convite durante
uma altura dos próximos meses.
O
provérbio inglês, na verdade, cumpriu-se. Sem esta falha da companhia
aérea em nos providenciar um vôo, nunca teria achado esta oportunidade
de comunhão com tantos outros missionários que se acharam ali presos
comigo dentro do aeroporto de Jacarta. Aquilo que o diabo arruína, Deus
refaz e molda naquilo que quer.
IV. BALI, A ILHA DO DIABO
No tocante à beleza paisagística, Bali é sem dúvida uma das pérolas das
ilhas Indonésias. Descrever a beleza desta ilha num único relato seria
praticamente impossível. Uma das primeiras coisas que tive oportunidade
de apreciar a partir do hotel pobre e extremamente primitivo onde me
encontrava, foi a praia. As ondas brincavam com a areia a uns 40 metros
de distância da varanda de onde as apreciava. Diariamente traziam para
fora da água quantidades enormes de estrelas-do-mar, moluscos e outras
criaturas, as quais os habitantes locais recolhiam assim que na maré
baixava. Depois, agradeciam ao mar pela bênção que, diziam, o deus mar
lhes deu.
Para
além das ondas nos corais do recife, a uns 500 metros de distância, as
águas fervilhavam noite e dia. Apenas um mal aconselhado nadador se
atreveria a entrar naquelas águas. Um jovem médico alemão pagou essa
audácia com sua vida, tendo sido levado pelo mar. O seu quarto ficava
apenas a duas portas do meu.
Ao largo
da baía, podemos identificar nada menos que três vulcões. O maior deles,
o grande Agung de dose mil pés de altura, estava ativo enquanto
permaneci em Bali.
Bali
herdou muitos nomes através dos turistas que a visitam. Alguns turistas
chamam-na “A Ilha do Paraíso” e outros “A pepita dos Trópicos”. Quando
Nehru visitou Bali, em 1954, ele cristianizou seu nome, chamando-lhe “O
Alvorecer do Mundo”.
Pulau
Dewata – Ilha dos Deuses – é o que os indonésios chamam à sua ilha. Eles
deverão saber melhor que ninguém. Mas, quem são estes deuses? Certamente
nenhum deles saiu do Velho ou do Novo Testamento. Tendo sempre em conta
o nome local desta ilha e conforme se iam familiarizando com as práticas
de seus habitantes, os missionários renomearam-na para a “Ilha do
Diabo”.
A vida religiosa de Bali
O nome “Ilha do Diabo” já soa a desafio para qualquer crente em Deus.
Precisamos explicar o que isso realmente significa.
A
religião tribal ancestral dos Balineses é uma forma politeísta de
adoração da natureza. Crêem que cada cemitério, rocha, montanha e
caverna têm um espírito próprio. A cerca de 40 milhas a noroeste de
Denpasar, dois mil búfalos selvagens ainda vivem em seu enorme
cemitério, sendo venerados como animais sagrados. Ninguém os pode matar.
São considerados espíritos encarnados dos nativos que morreram e foram
enterrados naquele extenso cemitério.
Após a
introdução inicial do país ao Hinduísmo e mais tarde do Budismo,
juntamente com o Animismo que já existia por lá, os templos Balineses
logo começaram a demonstrar o seu sincretismo religioso. Para além dos
vários deuses relacionados com a natureza, também encontramos aqui os
deuses indianos Shiva, Brahma e Vishnu.
Os
problemas emergentes dessa mistura religiosa foram cuidadosamente
ultrapassados através duma certa dose de perícia da parte dos nativos.
Enquanto Buda ensina a não matar, os ancestrais deuses da natureza
Balineses exigem sacrifícios de sangue. Como iria ser resolvido esse
dilema? Muito facilmente! Os animais eram deixados a matarem-se uns aos
outros.
Esta é
uma das razões para o surgimento das horríveis lutas de galos nestas
ilhas. Ao lado do templo Taman Ajun existe uma arena gigantesca onde
esta forma de entretenimento se realiza. Os galos são bem alimentados
antes das lutas. Os seus donos dão massagens em seus pescoços durante
semanas a fio para assim fortalecerem os seus músculos. Também compram
amuletos aos mágicos para fazerem de tudo para que seus galos possam
vencer. Milhares de pessoas juntam-se para assistir a estes espetáculos
horrendos. As competições duram até uma das aves morrer. Então é trazido
um próximo par para lutarem.
Através
destas lutas de galos foi trazido consenso entre deuses Indianos e
Balineses. Os habitantes da ilha não matam animais. Mas, os galos
matam-se. E é assim que os deuses da natureza conseguem seus sacrifícios
de sangue.
Estes
campeonatos, contudo, revelam um outro lado grotesco. Um ilustre
visitante perguntou a um governador do distrito: “Por que é que não
proíbem estes espetáculos grotescos? É uma mancha enorme na vossa
cultura!” O governador respondeu: “Existe uma terrível luta interior e
falta de paz dentro de cada nativo de Bali. Nós necessitamos desse tipo
de escape. As lutas de galos funcionam como meras válvulas de escape. Se
não tivéssemos essas lutas, teríamos provavelmente problemas maiores.
Por isso, este mal menor mantém outros males piores longe do horizonte”.
Ao
Balineses também criaram outros compromissos devido às misturas da sua
religião com os deuses da natureza e com as religiões vindas da Índia.
Durante milhares de anos existem nos cardápios os famosos pratos de
cachorro. O pior de tudo é que estes cachorros são verdadeiramente
nojentos e alimentam-se quase exclusivamente de excrementos humanos. São
cachorros vadios que são apanhados, os quais são a “unidade de
saneamento sanitário” das aldeias e cidades. Mas, o Budismo proíbe matar
e comer animais. Os Balineses acharam um jeito muito próprio de se
redimirem diante de Buda antes de matarem um animal, oferecendo uma
oração a um dos seus deuses pedindo perdão e prometendo uma pequena
porção da carne como oferenda: “Nós damos-te um pouquinho de nossa carne
de cachorro!” De seguida estão prontos para saborearem o seu cachorro,
se saborear é a palavra correta!
Templos e Danças
O templo Taman-Ajun o qual já mencionei anteriormente, é uma curiosidade real. Os
Balineses chamam a este templo “Hotel dos Deuses”. É uma excelente
terminologia. Até eu ter chegado cá nunca me teria apercebido que os
deuses também passavam férias. Uma pessoa tem logo tendência comentar
aquilo que o Elias disse em I Reis 18:27, quando desafiava os profetas
de Baal exclamando: “Gritem mais alto, talvez o vosso deus tenha saído
para algum lugar”.
Mas isto
é aparentemente aquilo que dizem acontecer com os deuses Balineses.
Estes nativos acreditam que os deuses se encontram neste templo uma vez
por ano para uma conferência. Alguns vêem de muito longe e outros de
mais perto. Antes deles se reunirem no maior templo de Bali, Besaki,
eles passam a noite no templo Taman-Ajun. Depois disto vão para sua
conferência em Besake, o qual fica situado nas escarpas montanhosas do
vulcão Agung. Durante a erupção do vulcão em 1963, parte deste templo
foi destruída. Contudo, os deuses ainda não pediram ajuda ao mundo
ocidental, pois o templo ainda espera reparação. Elias poderia dizer a
mesma coisa hoje que disse naquele tempo.
Certas
danças de rituais famosas são realizadas durante as festas dos templos.
A
primeira dança é a do fogo. Os que dançam são colocados em transe por um
sacerdote. Uma fogueira é acesa diante do templo. Cada dançarino é
persuadido que ele é um cavalo perseguido por um tigre. Ele começa a
tremer. Em seguida o sacerdote convence-se que, o seu único caminho para
escapar, é através do fogo. É assim que o dançarino hipnotizado passa
correndo sobre o fogo. A seqüência é repetida várias vezes perante uma
audiência entusiasta. Quando o dançarino é tirado do transe pelo
sacerdote, mesmo estando completamente coberto de suor, ainda revela
sinais de terror estampados no seu rosto e os seus pés não manifestam
qualquer sinal de queimadura.
Outra
dança é ainda mais famosa: a dança da faca. Esta é a maior atração de
Bali, a qual atrai milhares de turistas à ilha todos os anos.
O
calendário Balinês tem 10 meses de 35 dias cada. O dia de ano novo e
outros festivais tendem a oscilar nas suas datas. Dois destes festivais
são chamados Galungan e Kunigan.
O maior
e mais importante festival é, contudo, Melis. Como parte deste festival,
sacrifícios são trazidos para as praias. Os sacrifícios são feitos antes
de a maré subir. É bastante notável como depois destes sacrifícios uma
grande onda vem colhê-los. Os Balineses mantêm por isso a crença que
isso revela apenas que os deuses aceitaram suas oferendas. Mas, na
verdade, é apenas um fenômeno natural, pois a maré costuma chegar ali
bem mais suavemente. Somente na data deste festival é que existe essa
subida brusca das marés.
Quando
os sacrifícios terminam é quando os nativos começam a dançar. E conforme
dançam tentam contar uma história ancestral mitológica. O alvo deles é
matar uma feiticeira chamada Rangda. Ela, contudo, consegue sempre
escapar a seus inimigos. Os homens viram suas espadas contra eles
próprios e enquanto fazem isso um deus amigo vem ajudá-los e as pontas
aguçadas das suas espadas são impedidas de penetrarem em sua própria
carne. A implicação mitológica deste teste é que, mesmo que o dançarino
tenha intenção de matar a feiticeira Rangda e ela consiga virar as suas
espadas contra eles através de seus poderes mágicos, todo o vingador do
mal será sempre protegido e ajudado. Por detrás dessas representações
podemos colher o conceito de o bem triunfar sobre o mal. Basicamente, os
dançarinos são todos induzidos para atuar em transe. Este fenômeno de
transe é muito vulgar em toda Ásia. Eu pessoalmente tive muitas
oportunidades de testemunhar eventos como este, pois, os seus
procedimentos dão-se sempre no exterior. Mesmo que seja muito fácil
entrar numa multidão que se reúne para assistir a um espetáculo desses,
eu nunca assisti deliberadamente a nenhum deles pois eu creio que um
cristão deve evitar qualquer ritual pagão, desde que lhe seja possível.
A Guerra de Magia
De tempos a tempos em vários outros livros meus, mencionei os duelos de
poderes mágicos. Quando cheguei a Bali em 1968 e fui chamado a intervir
numa conferência de pastores todos me disseram: “Você chegou na hora
certa. Existe um duelo mágico neste preciso momento em Bali”.
Um
desses pastores relatou-me o que se estaria passando. Existem guerras
mágicas em Bali desde tempos remotos. Estes duelos são, no entanto,
mantidos secretos. Os turistas nem chegam a saber da sua existência.
Essas batalhas só se tornam de conhecimento público quando os nativos
Balineses que estavam envolvidos nelas se convertem ao cristianismo e
começam a confessar os seus pecados secretos publicamente. Descobrimos
que todos os mágicos da ilha (e existem bastantes) estão intimados e
destinados a envolverem-se nestes assuntos.
Em Bali,
tal como no Tibete, existem professores de magia. Cada qual tem os seus
seguidores e discípulos e quando os seus pupilos chegam a alcançar certo
nível de treinamento, estas guerras começam com o intuito de testar e
fortalecer os poderes mágicos dos indivíduos nelas envolvidos. Estas
olimpíadas mágicas são uma forma “pacífica” de combate.
A
situação pode ser repentinamente alterada quando um dos combatentes
morre. O duelo conseqüente traz muitas vezes a morte de um dos mágicos.
As lutas, contudo, não são feitas com armas convencionais, mas antes com
poderes mentais. Eles escondem-se debaixo de árvores assombradas, mais
ou menos a 2 km umas das outras. É assim que eles se combatem através de
poderes mágicos.
Caso um desses duelos se alastre para os amigos dos envolvidos, será então
quando começam as guerras.
A guerra de magia de 1968 aconteceu da seguinte forma. Um dos mágicos pediu uma
xícara de café num restaurante Balinês pequeno. O dono do restaurante,
também um mágico, colocou veneno no café. O outro apercebeu-se do que
lhe estavam fazendo e declarou guerra desafiando o dono do restaurante
para um duelo de morte. Chamando os seus amigos para os ajudarem, as
duas facções rivais tomaram os seus postos separados mais ou menos a 2
km. O sinal para a batalha começar consistia em duas luzes que vinham ao
mesmo tempo, uma do leste e outra do oeste. Quando os nativos as viram,
reconheciam-nas como luzes mágicas.
As guerras de magia são quase sempre limitadas a um mês de duração. Os
feiticeiros guerreiam-se durante a noite e dormem durante o dia. Têm por
hábito enviar primeiro os participantes com menos poderes para iniciarem
essas batalhas. Quando recebi este relatório de um pastor local, ele
acrescentou: “seis ou sete pessoas já morreram só nesta batalha, desde
que começou”. No final deste conflito, os dois combatentes principais
enfrentam-se pessoalmente e a guerra termina assim que o oponente mais
fraco sucumbe e morre.
Muitas vezes perguntaram-me se uma guerra mágica não é sinal claro de que o
diabo se encontra dividido contra ele próprio. Não! Quando dois homens
lutam numa arena de boxe, o mais forte vence. Mas, nenhum dos dois deixa
de ser pugilista e ambos continuam pertencendo à mesma profissão.
Antes de sair de Bali, tentei a todo custo saber um pouco mais sobre estas
guerras de magia e, para isso, inquiri um nativo Balinês. Ele mostrou
uma enorme surpresa ao perceber que eu sabia do que estava passando e
perguntou: “como é que você veio a saber coisas sobre esses nossos
assuntos ancestrais? Eles são cuidadosamente mantidos em oculto de todos
os turistas e nós nunca revelamos nossos segredos a estranhos”. Eu não
consegui descobrir mais nada deste homem.
Possessão Demoníaca em Bali.
Seria muito interessante para os filósofos da religião, para os parapsicólogos
e para ministros evangélicos saberem que existem várias formas de
possessão em Bali. Em nenhum outro país na terra achei tantas
diversidades cuidadosamente diferenciadas. Isto dá-nos mais luz sobre
esta “Ilha do Diabo”.
Em
primeiro lugar, existem certas expressões em Balinês que não tem
qualquer significado ético sequer. Referem-se apenas a um estado de
possessão. Nestes tais termos incluem-se Kepangloh, Krangsukan,
Kerauhan. Essas três palavras são meramente usadas para descreverem um
inexplicável estado dos possessos.
Uma
outra expressão, Daratan, tem sua origem numa palavra em Balinês Darati,
a qual significa terra e descreve um tipo de possessão causado por
espíritos da terra.
Kerasucan é usado para descrever um tipo de possessão onde a pessoa é
acometida de um poder exterior a si mesma. É como se uma ‘auréola
invisível’ fosse colocada sobre a vítima.
O termo
Kemidjilan vem da palavra Midjil, a qual significa aparição. Este tipo
de possessão está ligado a uma experiência com alucinações.
A
palavra Bebainan originou-se da expressão Bebei, a qual significa ‘alma
sem redenção’ ou então ‘pequeno demônio’. As pessoas atormentadas por
esta forma de possessão são completamente controladas por ela.
Especialistas Balineses são até capazes de distinguir entre diferentes
tipos de doenças originadas por estas formas de possessão. Isto está
acima daquilo que muitos psiquiatras do mundo ocidental alguma vez
conseguiram fazer. Eu fiquei enormemente surpreendido com os
conhecimentos psiquiátricos destes indígenas, os quais conseguem
distinguir entre possessão Bebainan e a dança do Santo Vitus. Nunca ouvi
falar de um psiquiatra ocidental que fosse capaz de fazer o mesmo e
esses cientistas ocidentais têm, por norma, um ar de superioridade que
levaria alguém a pensar que eles têm o monopólio da sabedoria.
Entre os
fenômenos mais interessantes de possessão existe um conhecido como
Sanghgang Tutut. Isso refere-se a um pedaço de madeira que se crê ter o
poder de proteger uma pessoa. Isto é na realidade uma forma de possessão
animista. Devido ao fato desses nativos acreditarem que todos os
materiais inanimados possuem uma alma, isso leva-os a crer que essas
mesmas coisas possam estar possessas. Do ponto de vista da história
religiosa, isto trata-se obviamente de uma questão de panteísmo, mas
também floresce nos perímetros da cultura cristã. O psiquiatra Dr.
Lechler afirmou que não apenas pessoas, mas também casas poderiam ficar
possessas. E nada menos que o Prof. Jung de Zurique também tem a mesma
opinião. Contudo, nenhum deles ousou tornar públicas as suas opiniões. A
razão eram seus temores de serem tidos como associados na loucura. Isto
foi o que ele me confessou numa conversa em privado em Männedorf. Ele,
contudo, escreveu o prefácio do livro do Dr. F. Moser intitulado
“Fantasmas”. Estes fenômenos que o mundo ocidental tenta escamotear a
qualquer custo são, no entanto, muito familiares aos nativos de Bali.
Os tipos
de possessão acima mencionados não são de maneira nenhuma as únicas
conhecidas em Bali. Isto foi apenas para demonstrar que a possessão
demoníaca e demônios fazem parte do dia a dia de toda a ilha.
Como é
que os cristãos e missionários deveriam enfrentar um problema desta
envergadura? Nós podemos dar um grande suspiro de alívio que em Cristo
todas essas coisas são vencidas e facilmente ultrapassadas. O poder da
sua redenção e a eficácia do Seu sangue que Ele mesmo derramou por nós,
são o suficiente para exterminar qualquer cadeia demoníaca que possamos
vir a encontrar em nosso caminho. Naturalmente que cada cristão e
ministro têm razões mais que suficientes para se alegrarem se Deus
providencialmente prevenir que sejam obrigados a confrontarem-se
diretamente com problemas como estes. Mas, qualquer um que seja chamado
para contribuir para a cura das almas daqueles que são oprimidos através
dos poderes do ocultismo, precisa saber qualquer coisa sobre a batalha
onde se vai envolver. Nós não podemos de maneira nenhuma considerar
pessoas mentalmente doentes como possessas e nem os possessos como
mentalmente doentes. Os erros continuados neste campo não são apenas
achados entre os psiquiatras, mas muito mais entre os ministros do
evangelho. E tais erros levam a avaliações incorretas e a tratamentos
extremamente pobres e inapropriados.
Um outro fator que dará um raio de luz na globalidade da situação em Bali, são as
estatísticas médicas nesta ilha, as quais confirmam que 85% de todos os
doentes desta ilha são doentes neuróticos. Não será isso apenas o outro
lado dos transes induzidos, fenômenos mágicos e demoníacos que ocorrem
por toda ilha?
Cristianismo em Bali
Considerando as circunstâncias que acabamos de descrever, nem nos
poderemos surpreender com o fato de que o cristianismo progrediu muito
pouco em Bali. Dos seus 2.000.000 de habitantes, 6.000 são cristãos
protestantes e 4.000 católicos.
Deve ser levado em conta que entretanto se propagou uma triste combinação entre o
cristianismo e todas as religiões locais. Assim, não apenas temos o
hinduísmo e a adoração da natureza combinados um com o outro, mas também
temos o cristianismo associado à prática de magia na ilha. Isso chegou a
atingir o ponto vergonhoso que até existirem feiticeiros “cristãos”.
Mas, vamos ouvir primeiro algo acerca do desenvolvimento da igreja cristã em
Bali. Recebi minhas informações de vários ministros do evangelho na
área.
Na história do colonialismo holandês, Bali foi a última ilha grande a ser
ocupada por eles. Até ao virar do século, oito reis compartilharam o
governo da ilha entre eles. O genro do presidente do senado real deles
foi o meu intérprete. Ele é, na verdade, um cristão.
Como
esses oito reis se opunham aos holandeses em conjunto, os holandeses não
foram bem sucedidos durante muito tempo na tentativa de tomarem o
controle total da ilha, mesmo havendo estado há mais de trezentos anos
em território indonésio.
A segunda metade do século XIX, um missionário católico estabeleceu-se em
Bali. Ele conseguiu ganhar um único Balinês para sua religião. Este
primeiro cristão, contudo, mais tarde apostatou-se e acabou por matar o
infeliz missionário católico. O rei da região onde vivia este assassino,
desejando agradar aos holandeses, entregou-o para ser julgado conforme
as suas leis. Os colonialistas, preocupando-se pouco com o julgamento,
mandaram fuzilar o assassino. Os Balineses iraram-se devido a este
tratamento aparentemente sumário e arbitrário. O rei mandou dizer aos
holandeses: “Nós não condenamos ninguém sem uma audiência prévia”.
Devido a esta injustiça, uma oposição enorme surgiu. Como resultado,
cerca de 170 holandeses foram sumariamente assassinados pelos Balineses.
A rainha da Holanda reagiu tão severamente contra essa insurreição que
acabou por assinar um decreto-lei, o qual proibia qualquer missionário
de entrar em Bali. Devido a este decreto, nenhuma igreja conseguiu ser
fundada em Bali até 1929 quando uns quantos missionários vindos do leste
de Java entraram secretamente em Bali e acabaram por passar a mensagem
cristã de boca em boca.
Este método de evangelismo não era tão inapto como se pode pensar, pois a
religião Hindu em Bali sempre se centrou em famílias individuais. Desta
maneira, cada família tem o seu próprio local de orações, templos e
altares sacrificiais privados.
O progresso para com a fundação de uma igreja cristã não pôde, no entanto,
ser impedido apesar desse decreto impeditivo. Mesmo porque alguns dos
oficiais colonos holandeses favoreciam o cristianismo em claro desafio
ao decreto existente. E assim, em 1930 uma igreja cristã foi formada. A
igreja em Bali é por isso muito jovem e por assim dizer na sua primeira
geração. Hoje, existem cerca de 25 pastores Balineses em toda a ilha.
A igreja cristã concorre com enormes impedimentos vindos dos costumes
dominantemente pagãos de Bali. Em 1963, contudo, uma enorme oportunidade
foi presenteada aos cristãos. Foi neste ano que o vulcão Agung entrou em
erupção e devastou 12 vilas. Morreram 1500 pessoas. Os Balineses ficaram
muito aturdidos, também devido ao fato de que o seu templo nacional, o
grande Besakih, ficou parcialmente destruído. A sua fé nos seus deuses
ficou muito trêmula e eles tornaram-se muito receptivos à mensagem
cristã, especialmente porque a ajuda do mundo cristão em forma de
dádivas começou a fluir para as áreas devastadas.
Contudo, a igreja não soube usar esta oportunidade extraordinária. Chegaram
tantas dádivas que a organização do corpo de cristãos, ainda pequeno,
não conseguiu administrar. Um ano inteiro foi necessário para distribuir
toda a ajuda que ali chegou. Durante este tempo, as portas abertas
tornaram a fechar-se. A igreja cristã em Bali perdeu a sua grande
oportunidade. A obra social envolvente não deixou vaga para pregação do
evangelho.
A igreja Balinês não é única neste aspecto. Temos muitos paralelos iguais a estes
nas igrejas européias e americanas. Quão frequentemente nossas igrejas
colocam o trabalho social como prioridade, negligenciando todo esforço
evangelístico. As preocupações para com o corpo e o físico empurram para
ao lado todos os cuidados que também deveríamos ter para com as almas
dos que perecem sem serem ajudados a salvarem-se.
A Força da Magia e da Feitiçaria Dentro da Igreja
A igreja de Bali tem o caráter similar a muitas igrejas noutros campos
missionários. Os cristãos que saíram dum ambiente pagão, ou cujos pais
ou avós ainda estejam envolvidos a crenças pagãs, são facilmente
apanhados pela magia e pela feitiçaria. Isto é o que acontece também em
Bali.
Eu tive oportunidade de falar em cinco igrejas diferentes. Quando adverti contra
a bruxaria, uma série de perguntas agitadas surgiram. Um dos presbíteros
da igreja disse-me: “O que devemos fazer quando um de nós for mordido
por uma serpente? Não existem médicos sequer nas redondezas. Estes
curandeiros são os únicos que nos podem livrar de morrer. Por que razão
nós, como cristãos, não podemos ir a um curandeiro Hindu num caso como
este?” Respondendo a esse presbítero eu disse: “Nunca ouviu falar do que
Jesus disse em Marc.16:17 que Ele também cura mordidas de serpentes? E
nunca leu sobre Paulo que foi mordido por uma serpente na ilha de Malta
e nada lhe aconteceu por intervenção direta do Senhor Jesus?” O
presbítero ficou mudo e não me respondeu. Eu prossegui: “Como é que, nós
cristãos, podemos visitar um feiticeiro pagão? Poderíamos fazer isso
caso confiássemos mais no poder do diabo do que no poder de Deus. Mas,
mesmo que Deus não me ajudasse depois de haver sido mordido por uma
serpente venenosa, preferiria morrer a clamar ao diabo por sua ajuda”.
Então contei a toda congregação exemplos de alguns missionários que haviam
sido mordidos por serpentes venenosas e os quais sobreviveram. Um desses
exemplos foi um missionário no Brasil, o qual havia sido mordido por uma
serpente bastante venenosa, sukkru. Os Índios ali presentes com o
missionário afirmaram: “É o teu fim. Não existe cura para a mordida
dessa serpente”. A visão do missionário já estava ficando degradada e
pouco clara. Seu pé inchou tanto que ficou quase do tamanho duma pata de
elefante. Os índios carregaram-no para dentro de uma de suas tendas.
Eles vigiaram ali ao seu lado e ele acabou por ficar inconsciente. Após
alguns minutos o desafortunado homem recuperou sua consciência e em
desespero clamou: “Senhor Jesus, lembra as tuas promessas!” Ele ficou
inconsciente novamente. Mas, foi ali que o poder do veneno quebrou. Em
vez de morrer, o missionário, depois de ter ficado em coma durante algum
tempo, recuperou totalmente. Não surgiram quaisquer seqüelas depois de
sua cura milagrosa devido a esta mordida.
Contei essa história àquela igreja de Bali. Contudo, o dito presbítero mantinha
as suas perguntas. Ele passou a explicar: “Nós temos um homem aqui que,
mesmo não sendo um feiticeiro verdadeiro, tem uma pedra com a qual ele
cura os doentes. Quando estive doente, pedi a este curandeiro a sua
pedra branca, mas devido ao fato de eu ser cristão ele não me emprestou
nem mesmo implorando-lhe. Por que razão isso seria errado de fazer caso
houvesse conseguido usar essa pedra e caso ela possuísse os tais poderes
milagrosos?” Ao que eu respondi: “Você pode dar-se por feliz por não ter
conseguido usar essa pedra! Os efeitos póstumos são dramáticos e
pertencem à esfera da bruxaria e do diabo, mesmo que apenas fossem meros
poderes de sugestão”.
Mas eu não fui capaz de convencer este presbítero nativo. Contudo, no mínimo
consegui que muitos outros presentes ali na igreja nunca mais
recorressem ao poder dos curandeiros hindus.
É de lamentar que a maioria dos pastores nativos não consiga discernir o mal
dessas coisas de bruxaria e, por essa razão, nunca chegam a esclarecer
devidamente as suas congregações dando-lhes uma clara direção sobre
questões do contacto com coisas ocultas.
Numa convenção de ministros em Bali, um dos pastores afirmou possuir poderes
de médium e que estes lhe haviam sido dados por Deus. Seu avô havia sido
um feiticeiro muito esperto e muito temido naquelas redondezas. Tanto
ele quanto seu pai haviam herdado as habilidades de magia de seu avô. E
esses poderes ocultos eram tidos como dádivas de Deus! Uma confusão
completa de opiniões e uma absoluta mistura de espíritos! Contudo, esses
são os homens que presidem às igrejas locais.
Um outro presbítero declarou abertamente perante a igreja lotada: “Eu ainda
possuo todos os meus amuletos e instrumentos de encantamento em minha
casa; mas eu creio que não têm qualquer poder sobre mim porque não
acredito neles, não deposito fé neles”. Eu guiei o homem para At.19:19
onde os Efésios trouxeram todos os seus amuletos e livros de magia e
fizeram uma enorme fogueira com eles. Adverti-o a fazer também o mesmo,
queimando todos os seus objetos de ocultismo porque, com toda certeza,
representariam um sério impedimento em sua vida e uma influência
satânica sobre ele e também sobre sua família inteira até às 3ª e 4ª
gerações. Mas, infelizmente, também não o consegui convencer ou demover
de sua opinião já formada.
Será que nos podemos admirar de que a igreja em Bali ainda não tenha
experimentado um avivamento real igual aos que se estão dando em outras
ilhas Indonésias? A magia e a feitiçaria serão sempre barreiras enormes
que operam contra o evangelho da vida. Nós podemos constatar essa
verdade ainda mais claramente nos avivamentos que ocorreram na ilha de
Timor e noutras também, onde o movimento do Espírito Santo sempre
começou após as pessoas terem reconhecido pelo nome cada pecado e
principalmente cada pecado de feitiçaria, trazendo seus amuletos e
instrumentos de feitiçaria para fora e destruindo-os com fogo diante das
igrejas.
Mas, mesmo assim, a situação nesta “Ilha do Diabo” não é tão negra quanto se
possa pensar. Existem aqui algumas primícias do Espírito que revelam que
o Senhor Jesus deseja claramente fazer progredir uma obra em Bali
também.
Numa outra vila, depois de eu ter discursado durante algum tempo com um
cristão, ele disse-me: “Até bem pouco tempo atrás eu era Hindu. Mas,
desde que comecei a seguir o Senhor Jesus, fui severamente perseguido.
Os habitantes da minha vila perseguem-me de maneiras inconcebíveis. A
minha esposa não pode mais buscar água da fonte pública e eu fui
ameaçado de que não seria enterrado no cemitério da vila porque,
disseram eles, eu cortei todos os laços com a comunidade dessa vila”.
Tentei encorajá-lo o melhor que pude como irmão. Qualquer pessoa que se
torne cristão num ambiente pagão pode contar com perseguições ferozes.
Mas, no entanto, o mesmo se poderá dizer das pessoas que se arranjam com
Deus dentro das igrejas evangélicas do mundo ocidental. A diferença nem
será grande.
No leste
de Java encontrei um outro jovem cristão vindo de Bali. Ele relatou-me a
sua história. Em 1962, um missionário chegou a Bali com uma comitiva de
cristãos para ali trabalharem para Deus durante um tempo. Alguns jovens
rapazes encontraram-se com o Senhor Jesus durante esse período de
campanha evangelística. Três deles estão estudando hoje na Escola
Teológica do leste de Java. (Nota do tradutor: Esta escola foi o centro,
o epicentro e o início do avivamento na Indonésia). Um destes jovens era
a pessoa com quem estava falando e o qual me relatou que não podia mais
entrar na casa de seus pais devido a sua escolha de ter-se tornado
seguidor de Cristo. Os seus pais ainda são pagãos e não estão
minimamente dispostos a tolerarem a decisão irredutível que ele tomou. E
foi assim que a Escola Teológica se tornou na sua nova casa e seu novo
lar.
Mas
agora e nesta fase, Bali já se poderá gloriar de mais e de melhores
primícias do que as que acabamos de mencionar. Existe um número de
cristãos espalhados pela ilha, os quais conseguiram escapar e
libertar-se dos poderes opressores do ocultismo de seus antepassados. É
verdade que existem muitos poucos crentes reais, mas um deles é o Pastor
Joseph, o qual organizou toda a minha campanha e palestras pela ilha.
Estes
cristãos, os quais encontram-se numa minoria tão evidente, tornaram-se
realmente os combatentes pioneiros que levam Cristo sobre seus ombros
dentro desta ilha. Eles não se desesperam e nem se nota qualquer sinal
de angústia nos seus rostos. O Senhor Jesus sempre construiu o seu reino
através de pequenas sementes de mostarda. Se esses indivíduos, que são a
vanguarda de Cristo nesta ilha, permanecerem fiéis, o seu número nunca
permanecerá pequeno. Será precisamente aqui nesta fortaleza das trevas –
este paraíso de demônios – que esta ilha poderá vir a tornar-se a Ilha
de Cristo e não mais a Ilha do Diabo.
V. JOHN SUNG
Ninguém
deve ignorar a obra de dois evangelistas caso queiram escrever sobre o
avivamento que decorre atualmente na Indonésia. Estes dois evangelistas
fizeram nos últimos 30 anos variadíssimos cultos em grande escala dentro
de Java. São dois apóstolos de Deus: John Sung e Andrew Gih. Eles eram
particularmente amigos que de início começaram por trabalhar juntos,
mas, a longo prazo, desenvolveram métodos evangelísticos individuais.
Ambos eram oriundos da China e ambos estenderam as suas obras para
dentro dos países que faziam fronteira com o seu. Entre os chineses
dentro da Indonésia existem hoje muitos cristãos genuínos que podem
afirmar que devem a qualidade da sua fé às campanhas destes dois homens.
Em Jacarta o Dr. Toah disse-me que esses dois evangelistas chineses
trouxeram mais chineses a Cristo do que todos os outros evangelistas
estrangeiros em conjunto da história da China. Vamos, em primeira-mão,
relatar a história de John Sung, o qual começou a sua obra em Java antes
de Andrew Gih.
O Pequeno Pastor
Sem entrarmos em detalhes biográficos sem interesse, vamos no mínimo tentar
dar uma imagem correta da vida e da obra de John Sung no seu tempo. A
lâmpada deste homem excepcional brilhou durante cerca de 43 anos; desde
1901 até 1944. Deus deu-lhe uma plenitude de poder do Espírito Santo que
eu nunca consegui detectar em nenhum outro evangelista do nosso século.
Isto não é nenhum exagero sequer, mas é a minha firme convicção.
Havendo nascido e tendo sido criado em Hinghwa, John estava presente quando com
nove anos de idade um avivamento começou na igreja de Hinghwa. Mesmo
sendo ainda uma criança nessa época, ele foi literalmente quebrantado em
lágrimas e experimentou uma definitiva e genuína conversão.
Logo desde o início da sua vida com Cristo, a oração tornou-se o ponto alto
da sua vida espiritual. Quando, durante esses anos, seu pai ficou
criticamente doente e foi dado como perdido por sua própria família, a
desesperada mãe de John, a qual já não conseguia mais orar devido à sua
angústia, disse-lhe: “Vai para o teu quarto orar por papai. Deus ouve
orações”. John lançou-se sobre os seus joelhos e orou ardentemente pela
vida do seu pai. Como resultado e apesar de todos os pontos de vista e
expectativas dos médicos em sentido contrário, seu pai recuperou sua
saúde milagrosamente. Esta foi a segunda resposta que ele obteve em toda
sua vida como um jovem guerreiro do seu Senhor.
Durante o avivamento em Hinghwa, o pai de John tornou-se o líder dos pastores da
cidade e logo se esgotou sob o jugo e o peso de toda a sua obra. Ele
designou pregadores itinerantes, os quais usava para pregarem nas
igrejas circundantes em sistema rotativo. John logo tomou o seu lugar
entre estes mensageiros de Cristo, mesmo sendo de longe o mais jovem de
todos eles. Ele já ministrava sermões conscientemente preparados e
delineados na tenra idade de 14 anos. Quando seu pai se tornou incapaz
de continuar o seu trabalho devido à pressão da obra sobre si, John
passou a substituí-lo muito bem. As congregações amavam a sua forma
simples de pregar devido ao seu estilo vívido e simples de entrega das
mensagens. Já por essa altura, cristãos bem estabelecidos em Cristos
ficavam a pensar: “O que vai ser este menino?” Luc.1:66.
Na vida de todos os homens verdadeiros de Deus, podemos quase sempre detectar a
mão providencial e atuante de seu Criador. Isto é algo que também pode
ser visto na vida de John Sung. Como rapaz na escola ele já chamava a
atenção sobre si devido à facilidade que tinha para estudar e para a sua
incansável sede de empreender e trabalhar. Assim, ninguém se deve
surpreender que este jovem zeloso colocasse uma educação universitária
como alvo diante dos seus olhos. Contudo, porque a China de então tinha
uma grande instabilidade e guerrilhas desde 1919, ele começou a pensar
entrar numa universidade Americana.
Mas vários obstáculos e impedimentos colocaram-se diante dos seus planos.
Quem pagaria a sua viagem? Quem seriam os seus tutores durante a sua
estadia nos Estados Unidos? E a parte mais difícil de todas, era que
John tinha uma infecção nos olhos tipicamente chinesa, a qual lhe
impediria sem dúvida a sua ida para a América! Um quarto tropeço era o
seu próprio pai que se opunha às suas idéias de viajante. Eram quatro
tropeços enormes demais para serem vencidos.
Mas pode alguma coisa ser impossível a Deus? John entregou-se à oração. Este era
o curso que ele sempre tomava em alturas como esta. Deus deu-lhe a
primeira resposta na forma de uma carta. Uma missionária americana, a
qual nada sabia sobre seus planos, escreveu-lhe para encorajá-lo e
aconselhá-lo a estudar nos Estados Unidos, dizendo que se ele assim
desejasse ela seria sua tutora durante a sua estadia no país. Ele ficou
enormemente alegre e mostrou a carta a seu pai e perguntou-lhe: “Não é
isso, por acaso, a resposta de Deus?” Seguindo-se a esta primeira
vitória conseguida, muitos donativos de dinheiro começaram a chegar de
várias origens, que não apenas cobriam todas as suas despesas, mas
também permitiriam que ele levasse consigo uma reserva financeira para
cobrir as suas despesas iniciais na América. A ajuda para a infecção das
suas pálpebras chegou inesperadamente de uma outra fonte. Enquanto
cortava o cabelo, o barbeiro notou a infecção e ofereceu-se para
limpa-lhe o interior das pálpebras com um osso revestido de prata e
lavá-lo de seguida. John aceitou. Este processo penoso foi realizado
nele várias vezes até que a infecção ficou totalmente curada.
Finalmente, também seu pai lhe deu o seu consentimento para partir. Isto
foi apenas o início da obra do “Grande Arquiteto” que, pela sua
misericórdia, capacita sempre os seus apóstolos e filhos de tal maneira
que consigam alcançar sempre os Seus objetivos.
A crise
Esta nova vida na América foi tudo menos fácil. Sua saúde era delicada, sua
falta de dinheiro era contínua e uma cirurgia que ele não pode evitar
contribuiu para que ele permanecesse firme em oração. A missionária
americana também não cumpriu a promessa que lhe havia feito. Esta forma
de atuar dos cristãos ocidentais sempre foi um grande vexame para muitos
novos crentes, pois tudo que é promessa é tratado com muita banalidade.
Mas, para John, isso significava simplesmente que ele teria a
oportunidade de se agarrar e de se firmar nas melhores promessas que a
Bíblia lhe fazia.
Apesar dessas dificuldades tremendas, John progrediu de tal maneira em seus
estudos que qualquer um ficaria pasmado diante do seu sucesso. Em apenas
três anos ele concluiu um programa curricular de cinco anos. Mais ainda,
ele encontrava-se sempre no topo das melhores notas da universidade.
Para além de ter conseguido receber os prêmios que se ganhavam no campo
da física e da química, também lhe foi dada uma medalha de ouro devido
ao seu aproveitamento nesse ano. Quando ele finalmente recebeu a sua
graduação, todos os jornais fizeram reportagens que lisonjeavam este
brilhante e talentoso jovem chinês. Três universidades tentaram
assediá-lo para lecionar. A mundialmente famosa Universidade Harvard
ofereceu-lhe mil dólares anuais se ele entendesse alistar-se entre os
seus professores, uma soma que em valor monetário atual seria invulgar.
Contudo, John ficou-se pela oferta mais modesta da Universidade Estadual
de Ohio.
Por esta
altura o estudante esfomeado por conhecimento aplicou-se em obter
Doutoramento e Ph.D. em química. Mas, como nessa altura a química alemã
era a mais avançada, John pensou aprender a língua para poder ter acesso
aos livros científicos alemães. Durante as suas férias ele embrenhou-se
no estudo desta língua estranha e em apenas dois meses conseguiu
dominá-la de tal maneira que foi capaz de traduzir para o inglês um
livro complicadíssimo de química. O professor que revisou a tradução
pensou que ele tivesse estudado alemão durante anos. O que um homem
normal poderia levar dois anos a conseguir, John conseguiu em apenas
dois meses. Uma vez mais, este feito causou um grande reboliço nos meios
americanos. Ele foi atormentado e assediado por prêmios e convites.
Durante este tempo, até mesmo a Universidade de Pequim tomou
conhecimento do sucesso desse seu compatriota e chegou a oferece-lhe o
título de Ph.D. Contudo, o convite que maior atração exerceu sobre ele,
chegou-lhe da Alemanha, local onde os serviços deste químico
extraordinariamente talentoso eram muito desejados. Uma equipe de
cientistas propôs um posto de pesquisa com condições financeiras
invejáveis.
O Dr.
Sung, como ele era conhecido agora, orava incessantemente sobre o passo
seguinte. Como resposta o Senhor conduziu-o para as palavras em
Mat.16.26: “Que proveito tem o homem em ganhar todo o mundo se perder a
sua alma?” Os seus pensamentos foram imediatamente recolocados no seu
plano e voto iniciais. Ele tinha apenas a intenção de estudar
temporariamente na América e voltar para China como pregador do
evangelho. Foi então que decidiu ir estudar teologia no Seminário
Teológico durante certo tempo. Foi desta forma que ele chegou –
certamente guiado por Deus – ao seminário da União Teológica de Nova
Iorque, muito conhecida pela sua teologia liberal.
E foi
assim, também, que ele começou a sua preparação final para a obra diante
de si, através da qual proclamaria o reino de Deus. Mas, os ensinos
desta escola iriam levá-lo a afundar-se sobre os seus joelhos de forma
implacável.
A causa
principal para esse colapso foi a teologia ensinada neste colégio. Cada
problema ou obscuridade na Bíblia era discutida a luz da razão humana.
Apenas aquilo que pudesse manter-se aos escrutínios da lógica era aceite
como verdadeiro. A fé em Cristo como propiciação para os nossos pecados;
a validade dos milagres; a ressurreição; a ascensão e a segunda vinda de
Cristo eram banalizadas por carecerem de provas científicas. Tendo sido
servido com esta dieta magra, o Dr. Sung perdeu toda a sua fé e foi
empurrado para uma crise interior e para uma fase muito crítica da sua
vida. Ele disse para si mesmo: “Tudo aquilo em que acreditei
naturalmente até agora foi-me roubado. Não posso continuar a viver neste
estado. Ou a minha vida termina, ou então Deus precisa dar-me outra
maneira de vivê-la através do Seu Espírito”.
Deus
ouviu o clamor do seu coração uma vez mais. Durante a noite de 10 de
Fevereiro de 1926, o Senhor apareceu-lhe. Estando sob o peso infernal do
jugo do seu pecado, o Dr. Sung clamou ao Senhor orando e chorando até
muito tarde daquela noite. De repente, ele ouviu uma voz dizendo-lhe:
“Meu filho os teus pecados te são perdoados”. Com isto a sua alma foi
repentinamente preenchida de luz. Mesmo sendo noite escura, alcançou a
sua Bíblia e começou a ler os evangelhos de uma maneira tal como nunca
havia feito.
Na manhã
seguinte todos os outros estudantes e professores notaram de imediato a
transformação no seu semblante. O Dr. Sung também não tinha qualquer
intenção de manter a sua nova experiência em segredo. Onde lhe fosse
possível, ele dava testemunho do Senhor Jesus Cristo abertamente e o seu
jeito abrupto de se exprimir causou logo reboliço dentro da escola.
Mesmo porque desde criança ele havia sido uma pessoa de visão muito
clara e de decisões muito radicais e bruscas que duravam para sempre.
Passou a
descrever os seus livros de teologia como livros de demônios e,
queimando-os, dedicou-se integralmente e exclusivamente ao estudo
aprofundado da Bíblia e à oração. Os seus professores liberais ficaram
extremamente chocados com esta sua maneira brusca e condenaram-no
veementemente pela forma como catalogou a teologia deles. De imediato,
imploram-lhe para se submeter a um exame psiquiátrico extensivo.
Isto é
típico! Em primeiro lugar estes racionalistas destroem a fé dum homem e
depois, quando ele se encontra completamente desfalcado e nu e acha o
Senhor Jesus, é considerado como um doente mental e colocado no
hospício. Eu tenho a sincera esperança de que, apesar de sua teologia,
estes teólogos modernos possam vir a aperceber-se do seu grande erro e
chegar tão perto do Senhor Jesus que ainda serem salvos. Eu gostaria de
ver as suas expressões quando um dia se aperceberem de que a sua
teologia é diabólica e serve apenas os interesses do diabo na terra.
Na
história de José lemos o que ele afirma: “Vocês intentaram mal contra
mim; mas Deus o tornou em bem”, Gen.50:20. Isto também foi o que
aconteceu com o Dr. Sung. Aquilo que o seminário da União Teológica
intentou contra ele, transformou-se subitamente no propósito de Deus
para o Seu filho.
O Dr.
Sung foi aconselhado a “descansar” durante seis semanas e ele concordou,
embora com algum protesto. Contudo, depois desse prazo de seis semanas
haver expirado, ele pediu permissão para voltar ao seminário. Mas,
foi-lhe dito expressamente que não voltaria mais para lá. Foi então que
o seu temperamento aguçado explodiu: “Eu fui enganado! Eu não estou
mentalmente doente, mesmo levando em conta que meu coração foi
completamente esmagado por esta vossa teologia miserável, a qual me foi
servida no vosso seminário. Nem com ela eu fiquei louco!” Este desabafo
energético levou o psiquiatra a transferi-lo para uma sala para
pacientes violentos. Esta foi uma das piores experiências da vida de
Sung, tendo sido obrigado a passar os seus dias e noites numa mesma sala
com maníacos depressivos, violentos e que usavam continuamente palavrões
indecentes para se expressarem!
Mas, uma
vez mais ele inquiriu do Senhor o que isso significava. A resposta
chegou de imediato: “Todas as coisas contribuem conjuntamente para o bem
daqueles que amam a Deus”. Foi então que o Dr. Sung recebeu uma outra
mensagem pessoal do seu Senhor e Rei. Foi-lhe dito: “precisas suportar o
tratamento durante 193 dias. Será deste modo que aprenderás a suportar a
cruz que te vou dar para poderes aprender a carreira de obediência até o
Gólgota”.
Com esta
resposta John Sung contentou-se e sossegou de imediato seu coração.
Ficou sabendo que era a vontade de Deus para si e que tudo que poderia
fazer era esperar com a certeza que acabaria saindo e que estava dentro
da vontade de Deus. O psiquiatra autorizou-o a regressar para seu quarto
privado inicial. Ali, o Dr. Sung teve bastante tempo para orar e
explorar a sua Bíblia. Ele leu avidamente muitos capítulos por dia. Mais
tarde ele comentou: “Essa foi minha verdadeira formação teológica!” Ele
leu a Bíblia quarenta vezes durante este tempo de descanso forçado. Mas,
não havia contado nada a ninguém sobre a promessa que Deus lhe fizera de
tirá-lo dali em 193 dias. Mas, o fato é que 193 dias depois deram-lhe
alta da clínica psiquiátrica. Isto apenas prova que a mensagem que ele
recebeu tinha realmente vindo de Deus e não havia sido fruto da sua
imaginação. Dr. Sung estava agora devidamente armado para as suas
campanhas evangelísticas na China.
Nós
cruzamos frequentemente com períodos de quietude como estes e
verificamos que todos os instrumentos especiais de Deus passam sempre
por eles. José ficou dois anos na prisão; Moisés passou 40 anos no
deserto de Midiã; Elias ficou escondido no ribeiro de Querite; Jeremias
achou-se sozinho na prisão muitas vezes e uma vez dentro do poço; João
Batista esteve na montanha-fortaleza de Machaerus. Lutero em Wartburg
até seu tempo haver chegado.
Estes tempos de solidão fazem parte do programa curricular da escola de Deus.
O Wesley da China
O seminário da União Teológica já há muito tempo que havia removido da sua
lista de estudantes o nome de Dr. Sung. Não queriam mais nada com ele
desde que queimou os seus livros. Mas, o coração de John estava apontado
para a China e foi, em 4 de Outubro de 1927, que ele saiu de Seattle
para Xangai.
Assim
que o Dr. Sung chegou à sua pátria e tendo-se reunido à sua família que
não via há 7 anos, descobriu que havia um pequeno pormenor ainda por
esclarecer. O seu pai disse: “Filho, eu sempre fui um pregador pobre.
Espero agora que tomes um lugar para ti na universidade para assim
ajudares a pagar a educação dos teus irmãos”. John temia que isso viesse
acontecer precisamente daquele jeito. Mas, a sua resposta a seu pai foi
imediata: “Pai a minha vida foi dedicada a espalhar o evangelho da
verdade. Eu estou morto para o mundo, para vocês e para mim mesmo
também. Nunca terei a possibilidade de tomar outro caminho pelo qual
possa seguir”. E foi assim que o curso de toda sua existência ficou
permanentemente selado.
Foi
então que em Maio de 1928 Dr. Sung se encontrou com Andrew Gih pela
primeira vez. Ambos ficaram com a consciência de que a vida de um e do
outro iriam tomar caminhos particularmente similares. Para ambos, era
apenas uma questão absoluta de estarem completamente rendidos ao seu
Senhor com o único propósito de espalharem o evangelho tal qual o
Espírito Santo os levasse a fazer.
De
início, esses dois homens trabalharam em conjunto. Andrew Gih muitas
vezes servia de intérprete ao Dr. Sung nos distritos onde os seus
dialetos não lhe eram familiares.
O
primeiro encontro do Dr. Sung com o movimento das línguas estranhas
provou ser significante e bastante esclarecedor. Isso ocorreu no porto
de Tsingtau. Foi ali onde teve que se questionar sobre os dons do
Espírito. O movimento “carismático” neste porto, com um tipo de
população que se alterava constantemente, era bastante forte. Os seus
seguidores afirmavam afincadamente que a plenitude do Espírito Santo se
manifestaria através de sinais exteriores como línguas estranhas,
canções espirituais, visões e sonhos. O Dr. Sung entrou numa
argumentação bastante quente sobre este assunto sem se dar conta. Ele
ficou confuso e foi então que decidiu não pregar mais e ficar somente a
ouvir Andrew Gih. Orando incessantemente por clarividência não seria de
admirar que o Senhor lhe concedesse uma vez mais a resposta.
Andrew
Gih estava pregando sobre João 4 e falando sobre a água da vida que
Jesus estava oferecendo à mulher samaritana. A resposta que ele queria
do Senhor veio com uma revelação muito clara. Mais tarde John comentou-a
resumidamente: “A bênção de Deus e a plenitude do Espírito Santo nunca
consistem numa procura de línguas estranhas e nem de quaisquer
manifestações exteriores, mas em tornamo-nos rios incondicionalmente
puros para que essas águas da vida do Espírito Santo possam ter como
fluir livremente a todas as almas sedentas à nossa volta”.
A partir
desse momento Dr. Sung começou a pregar claramente através de uma nova
força e poder. Não poucas vezes ele orava: “Senhor purifica-me e
transforma-me de tal maneira que as águas vivas possam brotar de mim
como as quedas e correntes do Niagara”.
Por onde
que ele fosse havia um avivamento real e genuíno: homens reconhecendo
publicamente seus pecados; inimigos reconciliando-se os com os outros;
bens roubados sendo devolvidos aos seus respectivos donos com
confissões; professores confessando os seus pecados aos próprios alunos
e colegas. Mas, o melhor de tudo era que em cada campanha missionária
que ele fazia formavam-se comitivas para levar o evangelho até às vilas
e aldeias vizinhas. Não poucas vezes após uma única campanha entre
sessenta a cem dessas comitivas eram formadas da noite para o dia.
O Dr.
Sung tinha um “mestrado” em ilustrações e as usava as suas mensagens.
Quando uma vez pregava como um pecado deveria ser arrancado sem dó pela
própria raiz, ele dirigiu-se a uns vasos que continham plantas na
plataforma, despedaçando uma a uma e arrancando-as pela raiz e proclamou
de seguida de todo coração: “Agora não poderão mais crescer! É assim que
o pecado deve ser arrancado de nós”.
Uma
outra vez estava falando sobre Rom.6:23 onde se lê que “o salário do
pecado é a morte”. Tinha um caixão pequeno perto do local onde pregava e
um grande número de pedras foram-lhe trazidas para plataforma de onde
discursava. Ele exclamava: “O caixão representa a morte. As pedras
simbolizam o pecado”. E com isso Dr. Sung começou a chamar os pecados
pelo nome e, por cada pecado que mencionava, atirava uma pedra para
dentro do caixão. O evangelista passou a explicar o significado de tudo
aquilo: “Cada homem carrega com ele um caixão e à medida que o caixão se
vai enchendo de pedras, o interior torna-se cada vez mais pesado e
insuportável. A pessoa em questão fica com seu interior sobrecarregado e
em breve será esmagada sob o peso do fardo”.
Em
outras ocasiões ele usava a seguinte ilustração quando se dirigia aos
pastores de congregações. Ele tinha um ajudante que lhe trazia um fogão
a carvão para cima da plataforma. Em seguida, ele pedia de forma audível
uns pedaços de carvões pequenos os quais lançava para dentro do fogo
juntamente com um pedaço de carvão enorme. Dez minutos depois, ele
perguntava ao seu assistente sobre o progresso do fogo: “O que se passa
dentro do fogão?” a resposta vinha: “Os carvões pequenos estão todos
queimando e em chama viva. Mas, o pedaço grande está difícil!” Dr. Sung
resumiria então a sua mensagem: “Os pedaços de carvões pequenos são os
membros das congregações e o pedaço grande é como os pastores dessas
mesmas congregações. Os pastores são sempre os últimos a pegarem fogo”.
Só podemos imaginar como uma exemplificação dessas irritava os ministros
das igrejas, os quais não morriam muito de amores por ele. Contudo, eram
esses próprios ministros que no final dos seus esforços missionários
vinham ter com ele reconhecendo que os membros das igrejas muitas vezes
chegavam a triplicar.
No
decorrer das suas pregações, o Dr. Sung muitas vezes usava dons
proféticos. Uma vez apontou para um indivíduo no meio duma multidão com
mais de 1000 pessoas e disse: “Você é um hipócrita! Arranje os seus
caminhos com Deus”. A pessoa para quem ele apontou era um presbítero da
igreja, o qual ficou achando que o seu próprio pastor se havia queixado
sobre ele ao Dr. Sung. Mas, no outro dia o presbítero foi-se sentar num
local completamente diferente na enorme sala. Foi no meio do seu sermão
que o evangelista uma vez mais apontou em direcção ao presbítero,
dizendo-lhe: “Você é um hipócrita”. Quando o Dr. Sung fez a mesma coisa
uma terceira vez num outro culto, o presbítero ficou enfurecido e
decidiu arranjar forma de matar o seu pastor, pois achava que havia sido
ele a falar ao Dr. Sung. Convidou o seu pastor para uma refeição em sua
casa. O pastor da respectiva congregação foi, contudo, avisado a não se
arriscar. Mas, mesmo este fiel irmão resolveu ir visitar o presbítero.
Conforme ia entrando em sua casa, aquele homem atirou-se a ele com um
facão e na sua fúria levantou o seu braço para lhe dar o golpe fatal.
Reagindo quase instintivamente, o pastor caiu sobre os seus joelhos sem
ligar muito ao facão e clamou: “Senhor salva este homem!” O facão passou
por cima da sua cabeça e entrou na parede. E o facão quebrou-se. Foi
nesse preciso instante que o espírito de arrependimento caiu sobre o
presbítero. Afundando-se nos seus joelhos ao lado do pastor, ele
suplicou a Deus por perdão, entregando assim a sua vida a Cristo logo
ali. Este é apenas um exemplo dos resultados práticos das palavras
drásticas deste evangelista.
Num
curto período de tempo, de 1931 a 1935, o Dr. Sung tornou-se numa das
figuras mais conhecidas da China. Os cristãos deram-lhe o apelido de “O
homem que quebra o gelo”. No jornal National Christian Council, o Dr.
Sung foi colocado como sendo uma das seis personalidades mais conhecidas
em toda China. Este país, com muitos milhões de habitantes, nunca
possuiu um evangelista com este tipo poder. Por esta razão
catalogaram-no como “John Wesley da China”.
Os Frutos da sua Obra
O
cristianismo no mundo ocidental e, na verdade, em todo mundo, é marcante
e destaca-se precisamente devido às suas muitas deficiências. O número
de conversões genuínas é muito reduzido ou quase nulo e existem mesmo
pastores que durante um ministério de 40 anos ou mais nunca obtiveram
uma única conversão ou um caso de confissão de pecados. De facto, as
conversões são basicamente uma obra pura do Espírito Santo. No entanto,
Ele usa homens como seus instrumentos para tal efeito.
A falta
dessas conversões significa, também, que existirão muito poucos jovens
oferecendo-se ao Senhor como conseqüência, para servirem como Seus
instrumentos tanto internamente quanto no estrangeiro. A outra
deficiência é a falta de recursos que acabam sempre por se evidenciar na
obra cristã. Consequentemente, a igreja permanece numa mendicidade de
coletas de fundos, achando-se a pedir, quando tal coisa nem deveria
fazer parte dum culto. A Bíblia também é pouco lida entre os homens e os
que a lêem não a entendem tal qual Deus desejaria e nem entendem o Deus
a quem pertencem todos os tesouros desta terra.
Como é
que este tipo de situação afetava o Dr. Sung?
Vamos
tomar como exemplo as suas três campanhas missionárias nas cidades de
Taipeh, Taitschung e Taiwan, na Ilha Formosa. Só no final dessas três
campanhas, das quais nenhuma foi dirigida da mesma maneira que as
organizações americanas o fazem através da publicidade e da emotividade,
cerca de 5.000 pessoas reconheciam publicamente haver-se encontrado de
forma real com o Senhor Jesus Cristo. Quatrocentos e sessenta jovens
ofereceram-se para a obra missionária e cerca de 4.000 dólares entraram
como ofertas espontâneas juntamente com pedras preciosas e até anéis de
ouro. O Dr. Sung não ficou com nenhum centavo daquilo que recebeu. Todas
as ofertas foram bem usadas na manutenção de evangelistas fundadores de
igrejas e não serviu nem sequer para comprar umas linhas para coserem os
seus bolsos. Este homem era totalmente indiferente ao dinheiro e o
incidente que se segue é bastante elucidativo sobre isso.
Um
empresário rico visitou-o e ofereceu-lhe uma enorme soma de dinheiro. O
Dr. Sung nunca tinha visto o homem. Olhando diretamente e sem pestanejar
para os olhos do seu interlocutor, ele disse calmamente: “O Senhor Jesus
não quer nem um tostão de todo seu dinheiro. Ele só quer a sua alma”. De
seguida lançou o dinheiro aos pés do homem e nunca aceitou nada dele.
Sempre
que o Espírito Santo mantém as rédeas da vida numa pessoa, apenas a
salvação dos homens conta e não aquilo que se pode acumular. Jesus
disse: “Buscai primeiro o reino de Deus e todas essas coisas vos serão
acrescentadas”.
Obra Pioneira na Indonésia
Isto foi apenas uma breve biografia sobre Dr. Sung. Ela foi aqui colocada por
duas razões. Em primeiro lugar, os cristãos no mundo ocidental, para
quem esse homem é completamente desconhecido, devem partilhar da glória
que Deus lhe manifestou durante o seu curto período de vida. Em segundo
lugar, podemos ter a certeza de que o avivamento presente na Indonésia
não é o primeiro que tinha aquela autoridade duma verdadeira mensagem do
evangelho dada por Cristo. As ondas de avivamento causaram grande
reboliço dentro do Dr. Sung e elas tornaram-se tão poderosas nestas
ilhas quanto são hoje. A única razão porque elas não se espalharam tanto
quanto se estão espalhado hoje, será porque aquele servo de Deus não
permanecia nestas ilhas mais que algumas poucas semanas. Também deve ser
referido e lembrado que o alvo das suas campanhas missionárias dentro da
Indonésia, eram as comunidades chinesas que ali vivam.
Em
conjunto, o Dr. Sung visitou a Indonésia quatro vezes. Em 1935 ele
evangelizou a igreja chinesa de Medan no norte de Sumatra. Esta
comunidade foi inteiramente revitalizada através do seu ministério.
Em 1936
o evangelista chegou até Sarawak no norte de Bornéu. Tanto na parte
britânica como na parte Indonésia desta ilha, existem grandes
comunidades chinesas. A campanha deu-se em Sibu (Sarawaka). No decurso
dos dez dias missionários, cerca de 1600 chineses acharam o seu caminho
até Cristo e mais de 100 ofereceram-se para a obra voluntária de
propagarem o reino de Deus. Acrescentando a isso, 116 comitivas foram
formadas para pregarem nas vilas circundantes e levarem até lá o fogo do
evangelho. Se levarmos em consideração que um evangelista europeu muitas
vezes trabalha durante 40 anos alcançando resultados iguais ou
inferiores a este alcançado em apenas 10 dias de campanha, logo
tomaremos a consciência de que algo de muito errado se passa com estes
desnutridos evangelistas ocidentais. A obra dessas comitivas que se
formaram, as quais mantiveram as suas obras constantes e o seu
testemunho bem vivo apesar da ocupação japonesa que se deu depois disso,
é bastante significativo. A sua obra prosseguiu firme e clara mesmo no
meio da confusão da guerra e das guerrilhas.
A
terceira visita do Dr. Sung foi feita à ilha de Java em Janeiro de 1939.
Em Setembro desse mesmo ano, ele visitou a ilha novamente, estendendo os
seus esforços missionários para as ilhas Celebes e Moluccas. Já iremos
falar sobre este assunto para termos uma perspectiva melhor sobre esta
graça excepcional e sem igual para com este país feito de ilhas.
A Exigência Total do Evangelho
A reputação do Dr. Sung como um grande evangelista já havia alcançado Java
mesmo antes da sua chegada. No entanto, todas as pessoas que se reuniram
em Surabaja para a sua primeira palestra, ficaram completamente
abismadas com este homenzinho pequeno, magro e vestido numa túnica
chinesa pregando diante deles. Eles tinham uma imagem deste Wesley da
China completamente diferente. Contudo, um sermão depois, eles mudaram
de idéias, pois foi o suficiente para os levarem a reconsiderar as suas
opiniões e impressões iniciais apressadas. Tudo sobre este homem simples
e mal vestido era energia revitalizante e poder.
Logo na
sua primeira noite foram-lhes colocadas as suas exigências que fez em
nome de Deus. Discursando perante a platéia ele disse: “Eu tenho 22
mensagens para vos entregar nesta semana. Isto significa que eu tenho
que fazer três cultos diários e também quer dizer que todos vós ireis
ter que estar aqui presentes e assistir a todos. De outro modo nunca
irão descobrir quais as mensagens que Deus teria para vos entregar para
vos desafiar com elas”.
Uma
murmuração generalizada ouviu-se percorrendo toda a igreja: “O que será
de nós? Precisamo-nos afastar dos nossos trabalhos e virmos a igreja o
dia todo?” Os pastores todos avisaram John para não ser assim tão
exigente, mas o Dr. Sung persistiu como se nada fosse com ele. E ele
estava certo. Os seus discursos foram tão poderosos e tão simples em seu
gênero de poder que pouquíssimas horas depois não era mais necessário
insistir com as pessoas para virem assistir à suas palestras. Os
lojistas chineses fecharam as suas lojas todas só para virem ouvir este
evangelista pregar. Eles penduravam nas portas das suas lojas avisos que
diziam o seguinte: “Fechados por uma semana – estamos na campanha
missionária”.
O
avivamento espalhou-se mais longe ainda e com mais força. As crianças na
escola deixaram de freqüentar as aulas. Eles também ficavam ali sentados
o dia todo a ouvirem o Dr. Sung sem se cansarem. E os professores nem se
queixaram porque também se encontravam lá todos.
Contudo,
aos olhos do Dr. Sung isto não bastava. Mesmo que as ditas campanhas
durassem cerca de oito horas diárias, o evangelista ainda assim
instigava os jovens com as seguintes palavras: “Nem pensem que seguir o
Senhor Jesus é sentir esta paz de coração somente e ficar com o coração
ardendo. Existem milhões de perdidos à vossa volta que não conhecem o
Senhor Jesus como vós. Ide e levem este evangelho para eles também”. Os
jovens formavam comitivas organizadas em grupos de três pessoas. E
saindo pelas ruas e pelos bares e locais de entretenimento que haviam
freqüentado assiduamente na sua vida anterior, espalharam a mensagem
gloriosa que lhes queimava o coração e transbordava para o exterior.
Durante
os dias seguintes, muitos trouxeram frutos e relatos da bênção enorme
com a qual Deus manifestou através das suas obras.
Esta
forma de atuar em grupos e comitivas que espalhavam o evangelho na
Indonésia pode ser vista já desde o tempo do Dr. Sung. O que se faz é o
trabalho através de grupos.
Todos
aqueles que assistiam aos seus discursos missionários em Surabaja,
certamente ficavam sem tempo extra. Desde manhã até à noite ficavam
absorvidos, escutando o evangelho, pregando e organizando os grupos que
partiam em missões.
Mas qual
era a vida diária deste evangelista que fazia exigências totais às
pessoas?
O seu
dia normal era levantar-se às cinco horas da manhã para orar e ler
estudar as Escrituras várias horas. Então, conforme acontecia em
Surabaja, às nove horas da manhã havia um culto que se destinava somente
aos doentes e enfermos, o qual durava cerca de uma hora. Só depois disto
chegavam as três mensagens diárias, durando um mínimo de duas horas
cada. Também lhes chegavam muitas cartas as quais ele precisava
responder. Porque ele passava o dia pregando, havia muito pouco tempo
para fazer um trabalho pessoal de aconselhamento. Por essa razão ele
encorajava os seus ouvintes a escreverem-lhe e relatarem desse modo as
suas necessidades espirituais. Ele também pedia aos novos convertidos
uma pequena fotografia através da qual tentaria recordá-los em oração.
Quase sempre, sua hora para se deitar, era depois da meia-noite, depois
de haver terminado de escrever os seus apontamentos também. Isto
deixava-lhe poucas horas de sono até o seu novo dia de trabalho começar.
Mesmo
após uma semana destas de evangelização haver terminado, ele não tinha
pausa para descanso. Ele pregava literalmente durante quatro semanas por
mês. Os seus únicos dias livres eram aqueles que passava viajando e
deslocando-se de um lado para o outro.
As Pregações
O Dr. Sung não tinha como hábito basear os seus sermões num tema ou num texto
apenas. Ele pregava passando os seus pensamentos pela Bíblia inteira,
versículo a versículo. A sua aproximação para com cada passagem das
Escrituras, contudo, era tão variada que muitos o comparariam a
Spurgeon. As suas pregações eram o preciso espelho expressivo de tudo
aquilo que ele experimentava nos seus estudos privados da Bíblia. Nós já
mencionamos como ele queimou todos os seus livros teológicos na América
catalogando-os de ‘Livros de Demônios’. Foi desde então que a Bíblia
tomou o primeiro lugar na sua vida e foi também desde ai que ele ganhou
o hábito de ler no mínimo de 10 ou 11 capítulos nos seus joelhos
diariamente, escrevendo conscientemente em seu diário todos os
pensamentos que Deus lhe trazia ao conhecimento.
No seu
sermão de I Cor.13 tudo ficou claro e vívido, isto é, selado nas
próprias mentes dos seus ouvintes em Surabaja. Ele ilustrou como em sua
própria vida se havia tornado cada vez mais orgulhoso como resultado da
sua ascensão e fama nos Estados Unidos e como agora o Senhor Jesus
aproximou-se da sua alma com muito amor permanecendo para sempre a seu
lado depois de se ter humilhado. Ilustrou, também, o abismo que existe
entre o nosso orgulho e o Seu esperar por nós pacientemente; a nossa
arrogância e a sua humildade; a nossa vaidade complicada e a sua
simplicidade; a nossa ambição e a Sua negação prática; as nossas
maneiras de suspeitar dos outros e a confiança que coloca no pecador; a
nossa justiça própria e desleixe para com todos aqueles que estão caindo
no inferno contrastando com o amor que Ele tem para com os que caem e
até mesmo os que tropeçam levemente. Mesmo sendo nós a merecer a cruz, o
filho de Deus em Seu perfeito amor e humildade submeteu-se a essa
vergonha por causa de nós.
A
mensagem do Dr. Sung chegou fundo aos corações e às consciências de seus
ouvintes. Ainda hoje, trinta anos depois, os efeitos da sua primeira
campanha missionária em Java são evidentes e permanecem. Muitos dos
chineses ali permaneceram fiéis seguindo o Senhor desde então.
A Doutrina da Imposição das Mãos
Vamos
entrar agora numa área de muitas controvérsias. Orar através da
imposição de mãos é abusado de três maneiras diferentes.
Em
primeiro lugar, a igreja abusa das diretivas do Novo Testamento nos
doentes e enfermos (Tiago 5:14; Marc.16:17) caindo na descrença de nunca
fazerem uso desta graça dada por Deus.
Em
segundo lugar, o próximo uso abusivo desta doutrina pode ser achada nos
grupos extremistas que impõem as mãos sobre todas as pessoas tanto
apressadamente como indiscriminadamente. Em terceiro lugar, muitos
espiritistas e feiticeiros copiaram esta prática para executarem vários
rituais e tipos de magia através da imposição das suas mãos.
Tendo
isto em conta, será que um cristão ainda pode ter a coragem de orar por
uma pessoa impondo-lhe as mãos? Será que ainda existe um uso correto
desta doutrina de uma forma adequada de se impor as mãos sobre alguém?
Claro que sim: a maneira das Escrituras!
Mas qual
é esta maneira das Escrituras na prática? O Dr. Sung dá-nos a reposta.
Durante o seu primeiro culto do dia dedicado aos doentes, em Surabaja,
ele lia Tiago 5:14 e passava a explicar: “Eu venho até vós como um
presbítero da igreja. Venho em nome do Senhor Jesus e não em meu próprio
nome. Não possuo poderes mágicos nas minhas mãos; por essa razão não
esperem nada de mim, mas apenas d’Aquele que estará aqui conosco e servo
de Quem eu sou”.
A coisa
que mais frequentemente se esquece nos círculos evangélicos hoje era o
que mais visível se tornava na mente e na prática do Dr. Sung. Ele
explicava e aplicava que nunca colocaria as suas mãos sobre alguém que
não se houvesse convertido realmente. Apenas sobre uma pessoa que
houvesse confessado todos os seus pecados conhecidos pelo nome, ele
impunha as mãos. E se não os houvessem confessado, dizia ele, que nunca
esperassem resposta sob a imposição das mãos seja de quem for – mesmo
que se orasse dessa forma.
O Dr.
Sung também encorajava os doentes a buscarem o conhecimento profundo de
que todas as curas iriam depender da vontade de Deus. Ele disse: “Eu não
posso garantir que todos os doentes entre nós sejam curados. Nem o
Senhor Jesus curou todos os doentes por quem passou. Nem sempre Ele
estava autorizado pelo Pai a curar todos os doentes nos dias que passou
pela terra. Quanto mais isto será verdade em relação aos seus servos!”
Após
estes apontamentos introdutórios, os doentes eram trazidos para a
plataforma um por um. Eles se ajoelhavam, ele ungia-os com óleo em nome
do Senhor e orava com eles.
Nessa
mesma tarde havia um culto de agradecimento no qual algumas das pessoas
curadas davam os seus testemunhos sem os emocionalismos dos cultos de
hoje. Muitos eram curados, de fato, de doenças gravíssimas. Um
missionário escreveu mais tarde: “Muitos cegos receberam a sua visão,
muitos paralíticos começaram a andar, os mudos falaram, os surdos saíram
com os ouvidos abertos; mas, o melhor de tudo foi essas curas terem
durado para sempre e nada de pior lhes ter voltado a acontecer”. Era
comprovado que não se tratava daquele tipo de auto-sugestão ao qual
viemos nos habituando através dos emocionalismos de hoje.
A parte
mais marcante de todas nem era as curas dos doentes, mas antes que a
maioria dessas pessoas experimentava um profundo e real preenchimento
através do Espírito Santo de Deus durante estas imposições das mãos. Era
a história dos atos dos apóstolos sendo repetida uma vez mais.
Aquilo
que já foi dito aqui precisa ser sublinhado novamente. O Dr. Sung não
pode de maneira nenhuma ficar incluído na lista dos enganadores de hoje,
dos quais muitos são extremistas enganados. O seu ministério era muito
sóbrio, fiel e comprovadamente baseado na Bíblia. Ele opunha-se
veementemente a qualquer tipo de fanatismo e emocionalismo. Ele
rejeitava línguas, sonhos e visões como prova dos movimentos do Espírito
Santo, tal como qualquer exagero de emoção. No reino de Deus não
necessitamos qualquer experiência paranormal, mas precisamos tão só de
nos tornamos canais completamente purificados e purificantes através dos
quais os verdadeiros rios de água viva possam fluir. Este era o ponto de
vista do homem, o qual, ao contrário de muitos evangelistas atuais,
permaneceu sempre numa envolvente, contínua e crescente abundância do
Espírito Santo. De fato, aqueles sobre quem ele imponha as mãos acabavam
por receber a mesma plenitude de vida que ele próprio tinha.
É
precisamente por esta razão que não podemos catalogar a obra do Espírito
Santo com terminologia fanática e exageros exploradores das emoções das
pessoas, mas antes através de uma sobriedade bíblica muito séria e
evidente. Por isso, a pessoa que rejeita o extremismo não está nem perto
de estar rejeitando a plenitude do Espírito Santo. Não será através de
rejeitar o extremismo que rejeitará o seu Deus. De fato, o contrário é
que pode ser verdade, pois pode não existir um tropeço maior para uma
verdadeira obra de Deus do que um pequeno sinal da existência de
extremismo. É através disto que o Espírito Santo de Deus é impedido de
operar mais que qualquer outro motivo.
O Vulcão entre os Vulcões
Depois
de ter deixado Surabaja, Dr. Sung prometeu voltar lá pouco tempo depois.
Os Indonésios haviam definitivamente conquistado o seu coração. Ele
haveria de cumprir a sua promessa em Agosto e Setembro do mesmo ano.
Começou sua segunda campanha missionária em Java com uma campanha em
Jacarta. A comunidade chinesa inteira estava definitivamente mexida e
atordoada com a verdade. Ninguém queria perder uma única mensagem deste
pregador cuja reputação alcançou todos os povos que falavam chinês.
Antes da semana terminar, cerca de 900 pessoas haviam se arrependido,
abandonado seus pecados e entregando suas vidas a Cristo.
A etapa
seguinte de sua campanha levou Dr. Sung a atravessar uma parte de Java
entre os vulcões. Ele estava em seu elemento natural! Entretanto, em
Surabaja, as preparações estavam bem adiantadas para receberem o tão
desejado visitante.
Cerca de
2000 voluntários declararam sua prontidão para colaborarem na campanha e
na sua preparação. A cooperação de todas as igrejas evangélicas também
estavam visíveis na lista, incluindo aquelas que fizeram grande alarido
crítico contra a sua primeira missão. Acima de tudo, toda juventude
estava numa enorme expectativa de esperança real. O Dr. Sung havia-se
tornado no homem mais querido, no seu homem modelo. Na maior praça da
cidade uma enorme “sala” foi improvisada. Um gigantesco teto de folhas
de palmeiras garantiam a proteção contra sol e a chuva, mas mesmo assim
o espaço tornou-se pequeno demais.
No
decorrer da semana cerca de 5000 pessoas assistiam diariamente aos
discursos do evangelista. Milhares tomavam os seus lugares por volta das
oito horas da manhã para poderem garantir um lugar onde permaneciam até
as onze horas da noite, até quando a última das três ou quatro mensagens
diárias terminassem. Eu nunca ouvi falar e nem assisti em toda minha
experiência de vida uma campanha desta envergadura e nem mesmo Billy
Graham conseguiu tal feito. As pessoas assistiam entre 10 e 15 horas
diárias de pregações da palavra de Deus durante dez dias seguidos.
Somente o Espírito Santo poderia ser responsável por tal evento. Os
melhores meios de publicidade nunca poderiam tornar possível tal
organização de eventos similares com resposta tão efusiva e tão
entusiasta duma fome enorme pela palavra de Deus.
A
sociedade bíblica local esgotou todas as Bíblias que possuía vendendo
tudo, incluindo os Novos Testamentos, apesar de todos os cuidados terem
sido tomados para terem o suficiente para a campanha. Os 5000 hinários
que possuíam esgotaram-se rapidamente, o que obrigou uma nova tiragem no
mais breve espaço de tempo possível.
O Dr.
Sung pregou a partir do Evangelho de S. Marcos, o que serviu o propósito
preparar as novas comitivas evangelisticas que iam sendo enviadas. Os
resultados finais da campanha de dez dias, foi a fundação de cerca de
500 destes grupos de evangelização, os quais invadiram todo território
de Java espalhando a mensagem do evangelho por todos os cantos.
Um dos
intérpretes do Dr. Sung, um pastor de Malang, disse: “Não havia nada de
extraordinário nas pregações e no estilo do Dr. Sung. O seu repertório
de sermões não era muito vasto sequer. As suas apresentações das
mensagens eram frequentemente tão simples que qualquer criança as
entenderia, mas um grande poder de convicção brotava a partir deste
homem. Eu, como seu intérprete, pude sentir os efeitos da verdade dentro
de mim próprio duma maneira excepcional”.
Parece
até poético dizer isto, mas esta comparação justifica-se plenamente: Dr.
Sung pregava entre os vulcões de Java e era um homem feito do mesmo fogo
e molde. Uma vez ele disse sobre ele mesmo: “Existem muitas pessoas
melhores que eu. No tocante à exposição das Escrituras, eu nunca
igualarei a Watchman Nee. Como pregador nunca serei como Wang Mingtao.
Como escritor, nunca serei comparável a Marcus Cheng. Mas, num ponto
apenas consigo ultrapassá-los todos em conjunto: eu sirvo meu Deus com
todas as fibras do meu corpo e com cada pedaço de força e energia que
possuo. Não sobra nada de mim que não pertença a Deus e que Deus não
use”. O Apóstolo Paulo não disse o mesmo dele próprio? “Eu trabalhei
mais abundantemente que todos eles juntos”, I Cor.15:10.
De que
maneira poderíamos afirmar estas mesmas coisas sobre Dr. Sung? Depois de
termos ouvido um pouco sobre a sua rotina diária, podemos agora
apercebermo-nos de como o seu labor esgotava todas as forças que ainda
possuía.
Durante
um longo período de tempo os seus amigos mais chegados aperceberam-se
que ele estava doente. Eles o aconselharam-no a buscar tratamento médico
ao que ele respondeu: “Eu não tenho tempo para isso eu preciso muito
pregar o evangelho! Não dá tempo!” Durante a última palestra da campanha
em Surabaja as dores na sua coxa tornaram-se insuportáveis ao ponto dele
não conseguir mais ficar em pé para pregar. Mandou buscar um banco para
ele, sobre o qual se ajoelhou. Ele pregou sobre os seus joelhos. Disse
mais tarde: “As dores só paravam quando eu orava ou pregava, assim que
terminasse elas voltavam”.
Surabaja
foi o ponto alto de toda obra do Dr. Sung na Indonésia. Como os cristãos
e os malaios ficavam atentos e agarrados a cada palavra vinda dos seus
lábios! Quando ele deixou a cidade, no dia 30 de Setembro de 1969,
centenas de pessoas ficaram em pé cantando-lhe uma despedida
emocionante. Alguns missionários católicos em cima dum barco olhavam
aquela multidão em uníssono com muita admiração. Eles perguntavam-se
entre si quem seria aquela pessoa tão importante assim. Mas, a única
pessoa que eles viram saindo foi um pequeno e insignificante homem
chinês curvado debaixo da