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Dr. Kurt E. Koch (1913 – 1987)



AVIVAMENTO NA INDONESIA
por
Dr. Kurt Koch

© Copyright: Bibel- und Schriftenmission Dr Kurt E. Koch

Autorizado a publicar aqui por BIBEL- UND SCHRIFTENMISSION pela esposa do autor, Bärbel Koch





1ª PARTE

 Existem três países hoje sobre os quais se focalizam preferencialmente as atenções de todo mundo. O primeiro destes países é sem dúvida, Israel. Este País permanece sendo o centro das atenções e dos acontecimentos no mundo. Poderemos dizer com toda a certeza que, a menor nação na face da terra, tem a historia mais rica de todas. Nem será aqui que debateremos este assunto, pois já o fiz em meu livro “Aquele que vem”.

O país que divide igualmente as nossas atenções nesta fase do tempo é o Vietnam. Será neste poço de fogo que se decidirá o futuro de toda a Ásia. E as perspectivas ocidentais nem são as melhores quanto a isso.

O terceiro País que é bastante discutido nos círculos cristãos mais próximos é sem dúvida alguma a Indonésia. Qual a razão para este interesse súbito em torno deste País? Iremos deixar esta pergunta sem resposta por enquanto para podermos olhar mais de perto para a história religiosa da Indonésia.

*Nota do tradutor: temos de levar em conta a data quando este livro foi escrito, perto de 1970.





I. O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INDONÉSIA

 Todo aquele que queira entender bem o presente, necessita entender bem seu passado. Como uma ponte entre dois continentes, o mundo de ilhas da Indonésia tem uma história bastante relevante e que em nada se pode considerar insignificante. Fósseis descobertos lá relacionam este país com a época do homem de Pequim e esta ligação ancestral asiática influenciou definitivamente a história econômica e cultural deste país de muitas maneiras.

As inscrições rupestres nas pedras datando mais de três mil anos ainda não foram totalmente decifradas e aguardam investigação científica mais apropriada.

A situação religiosa na Indonésia também é muito interessante de ser seguida. O país foi penetrado por quatro correntes de pensamento distintas e estas acrescentaram as suas várias influências ao animismo que se desenvolveu simultaneamente na área.

No primeiro e no segundo século mercadores indianos trouxeram o Hinduísmo para o país e foram estes mercadores que trouxeram a famosa madeira aromática para o mundo ocidental. Assim, a Europa conseguiu ter estas madeiras aromáticas antes mesmo de ter conhecimento do país de sua origem. A religião e a cultura Hindu desenvolveram-se durante os Séculos VI a XIV, tornando-se um poderoso reino e as raízes da linguagem atual da Indonésia baseiam-se precisamente nestas raízes da cultura Hindu.

No Século no VI, VII e VIII o Hinduísmo foi ultrapassado pelo Budismo e uma vez mais foram os próprios negociantes Indianos que importaram esta nova religião para dentro do País. Ao construírem o seu tempo em Borobudur, os budistas construíram um santuário em Java, local onde existia o santuário Hindu mais sagrado, Prambana. E foi assim que estas duas grandes religiões indianas subsistiram lado a lado em Java numa perfeita coexistência.

Foi apenas nos Séculos XII e XIII que começou a época do Islã a qual estabeleceu o seu primeiro pilar em Atche no norte de Sumatra. O reino Islâmico que começou sua existência no ano 1205 sob liderança do sultão John Sjah durou até ao ano 1903. Estas religiões causaram grandes dificuldades aos senhores coloniais Holandeses, inclusive a alguns ainda em nosso próprio século.

Qualquer um que leia com atenção os profetas do Velho Testamento descobre com facilidade que eles frequentemente mencionam as ilhas ou as regiões para além do mar. Este olhar visionário destes homens de Deus chegou muito para além do seu próprio país (Is.66:19). Seriam estas ilhas negligenciadas então pelo aquele que disse “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura (Marc.16:15)”?

Os primeiros mensageiros de Cristo que ali chegaram devem ter sido os primeiros pais do Cristianismo. Nem é de ignorar o fato de que o Apóstolo Tomé, o qual trabalhou na Índia, atravessou para Indonésia juntamente com mercadores Indianos. Em qualquer caso, temos conhecimento que missionários da Igreja Mar-Tomé (Igreja relacionada com o nome do apóstolo), trabalharam na Indonésia.

A próxima prova real de uma obra missionária na área foi confirmada através de avaliações exaustivas e dolorosas de documentos históricos pelos quais se comprova que Cristãos vindos da Pérsia vieram para Indonésia nos anos 671 até 679. Mas, depois disso este continente permaneceu nas trevas por um longo período. Estes foram os séculos durante os quais a igreja cristã do mundo ocidental foi perdendo pouco a pouco a sua força original. Gradualmente a candeia de Roma também foi colocada de lado e o seu ímpeto espiritual ficou com cede no Centro e Norte da Europa. Precisamos, também, levar nosso pensamento de volta até aos esforços dos missionários germânicos, para a reforma Cluníaca e também para aqueles que anteciparam a reforma: Wycliffe, Hus e Savonarola, para obtermos evidência destes fatos durante este tempo quando praticamente nada era conhecido sobre a Indonésia.

Isto, contudo, foi substancialmente alterado quando mercantes navegaram para os portos da Índia e se aperceberam do mundo de ilhas a Leste. Seguindo a época de descobrimentos de Cristóvão Colombo, o mundo tornou-se louco pelos descobrimentos de novos mundos. Ao mesmo tempo, as nações dos descobrimentos marítimos buscavam aumentar e fundamentar seu comércio.

Em 1511 os Portugueses conquistaram as Ilhas Molucas, causando a retirada dos Muçulmanos dali e pressionando-os mais para o Sul. Os Católicos entre os portugueses ocupantes de então fundaram a primeira Igreja Católica nas Ilhas Molucas em 1522. Não muito tempo depois disto, o missionário Francis Xevarius chegou ali vindo da Índia. Mesmo que ele tenha trabalhado na obra de Deus apenas de 1546 até 1547, a sua influência foi tão vasta e tão grande que desde então ficou conhecido como o Apóstolo dos Indonésios.

O século 16 também viu o início do poder colonialista holandês. Os cristãos indonésios não ficaram propriamente alegres quando os holandeses baniram o trabalho missionário do norte e do sul de Sumatra e de Bali. A razão invocada para os holandeses fazerem tal coisa era o temor de que os nativos se rebelassem e com isso abandonassem o trabalho nas plantações. A questão da expulsão dos cristãos de Bali trataremos adiante mais detalhadamente.

A formação da igreja protestante nas ilhas Indies é considerada pelos cristãos hoje como uma incoerência, estando os sentimentos divididos sobre o assunto. Os pastores eram oficiais do Estado que recebiam seus salários diretamente do governo holandês. Era algo similar ao que ocorreu no tempo de Constantino “O Grande” – qualquer um que quisesse progredir em sua vida particular teria necessariamente de se tornar cristão para que tivesse como alcançar seus objetivos. Foi assim que a igreja cristã nasceu na Indonésia e isso contribuiu para que nem as tradições pagãs e nem as crenças hindus fossem extintas da vida da igreja.

Para além da Igreja que era o próprio Estado em si, também surgiram obras missionárias de vários tipos e de outras igrejas locais em Java, Bali, Celebes, Bornéu, Sanghir, Nias, Sumatra, Sumba e Nova Guiné – para mencionar apenas algumas das mais importantes. A leste de Java a formação duma Igreja Indonésia fica para sempre ligada ao nome de um relojoeiro Germânico, o irmão Endo. Um cristão vindo da Rússia, irmão Coolen, também deveria ser mencionado neste capítulo.

No século XX, quando a era da descolonização começou, o poder das forças coloniais holandesas foi sucumbindo gradualmente. Na Indonésia um movimento fundado em 1908, conhecido como “Ressurgimento da Ásia”, foi ganhando terreno. Esta tendência sublinhou as lutas do povo Indonésio em prol da sua independência.

Durante a Segunda Guerra Mundial o País foi ocupado pelos japoneses por três anos e meio. Depois de sua retirada a Indonésia declarou sua independência no dia 17 de Agosto de 1945 e criou uma Constituição, conhecida como Pantja Sila. Contudo a Constituição não pôde ser implementada devido à recusa holandesa de reconhecer sua independência. Isto resultou numa guerra de libertação que durou mais ou menos quatro anos. Sob pressão da ONU e muito especialmente dos americanos, os holandeses finalmente cederam e abandonaram o país em 1950.

Mesmo assim esta terra não foi capaz de achar seu descanso. O inimigo que se seguiu era interno e vindo do seu próprio povo. Primeiro o poder colonialista teve de ser quebrado. Seguiu-se uma batalha contra um maior inimigo para os Indonésios.




II. O tributo de sangue da indonésia

Através da tentativa de golpe de estado de 1 de Outubro de 1965, a Indonésia foi forçada a uma mudança radical da sua história. Atualmente existem revoluções de várias dimensões num ou noutro canto do mundo praticamente todos os dias do ano. Contudo devido ao curso dos acontecimentos do mundo hoje eles raramente são notados. E mesmo assim as circunstâncias da Indonésia são um tanto ou quanto excepcionais. Aqui os acontecimentos que tomaram posse do curso do país foram de importância crucial para o desenvolvimento político do leste de toda a Ásia.

Sempre se soube que o presidente anterior Sukarno alimentava simpatias comunistas quando a parte oeste da Nova Guiné foi forçada a estar sob administração Indonésia em 1 de Setembro de 1963. Logo ali os missionários previram grandes dificuldades em relação ao seu trabalho.

A premonição tinha razão de ser. A influência comunista cresceu no país. Qual seria o resultado final? O resultado foi completamente diferente daquilo que os comunistas esperaram.

O Massacre planeado

No dia 1 de Outubro de 1965 os comunistas tentaram obter o controle do país. Seu primeiro objetivo foi remover todos os generais e oficiais dos seus respectivos postos. Os comunistas tinham os seus próprios oficiais prontos e à espera para tomarem os lugares que iriam vagar.

Somente em Jacarta seis generais foram presos durante o primeiro massacre comunista. Eles foram tratados em conformidade com as práticas comunistas da época na Ásia. Os seus olhos eram parcialmente puxados para fora das órbitas e as vítimas mutiladas eram forçadas a correrem nus entre mulheres comunistas treinadas para o efeito, as quais espetavam os pobres generais com facas até que sucumbissem sob tortura. Contudo, escaparam dois da hierarquia em Jacarta. O primeiro desses foi Suharto. Seu filho estava gravemente doente no hospital na hora que se deu o início da revolta e ele foi obrigado a passar a noite ao lado da criança. Quando os comunistas o procuraram em sua casa não foram capazes de o achar.

Este pequeno imprevisto foi o suficiente para frustrar a revolução dos comunistas, a qual fora planejada minuciosamente. Suharto era a cabeça da estratégia da reserva. Ele alertou seus homens imediatamente e através de seu primeiro ato de retaliação apoderou-se da rádio de Jacarta.

Humanamente falando esta simples ação salvou as vidas dos cristãos e dos missionários do país. Os comunistas estavam à espera de um comunicado que seria difundido pelo pelas estações de rádio do país, para assim começarem o seu assalto final. Mas, estas ordens de ataque não chegaram e o ataque morreu antes de nascer.

A contra iniciativa de Suharto trouxe para a luz as listas daqueles que se encontravam na lista negra dos comunistas. Estes continham os nomes de cada oponente político dos comunistas.

A lista religiosa continha nomes de todos os sacerdotes e líderes muçulmanos, juntamente com todos os sacerdotes católicos e missionários protestantes. As comunidades cristãs da Indonésia teriam sido sumariamente eliminadas através deste golpe perfeito, caso Deus tivesse permitido o sucesso dessa revolução.

O segundo general a escapar das garras dos comunistas foi Natsution, que antes havia sido o ministro da defesa. A sua sobrevivência nas mentes dos Indonésios deve-se, tal como a de Suharto, a um pequeno milagre.

Quando os comunistas forçaram seu caminho para dentro de sua casa, Natsution quis entregar-se. Contudo, sua esposa não o permitiu. A primeira bala dirigida a ele falhou o alvo, mas infelizmente acabou por atingir a sua filha pequenina, a qual tinha acabado de sair de seu quarto correndo para o corredor. Morreu algum tempo depois.

Natsution escapou por uma porta das traseiras. Sua esposa correu com ele até o muro do jardim. Ele subiu nos ombros dela e foi assim que conseguiu alcançar os terrenos vizinhos, os quais pertenciam a uma embaixada estrangeira. Os dois cães de guarda existentes nesses terrenos também o deixaram escapar miraculosamente sem o importunarem. Entretanto, em sua casa um outro ato de amor cristão foi demonstrado. Um ajudante e oficial de Natsution era Cristão. Para poder encobrir a fuga do seu chefe, quando os comunistas perguntaram “você é Natsution?”, ele respondeu “sim, sou eu mesmo”. Ele foi abatido logo ali.

Os cristãos podem questionar se este homem deveria ter mentido ou não antes de morrer. Seja o que for que pensem, este ajudante fez o que fez apenas para salvar a vida do seu superior hierárquico e este ato de amor cristão prático será avaliado à luz da eternidade, acima de ser avaliado através das visões doutrinárias inflexíveis de muita gente.

A terrível retaliação

A maneira horrível como os generais haviam sido mutilados indignou os Indonésios e provocou-os a uma ira incontrolável. Juntamente com isto um outro incidente, o qual mais tarde foi vergonhosamente abafado, embalou a revolução em toda nação. As mulheres comunistas, para além de outras atrocidades que cometeram, virtualmente violaram os pobres generais enquanto estavam amarrados. E então, por último, o perigo mortal que estava ameaçando os sacerdotes muçulmanos provocou uma ira pública sem precedentes. Temos de ter em conta que 90% da população da Indonésia é muçulmana.

A subseqüente retaliação para a qual os muçulmanos foram provocados causou verdadeiramente mortes a mais pessoas do que aquelas que haviam morrido até então na guerra do Vietnam. Uma onda de anticomunismo varreu o país de ponta a ponta. À noite, pessoas movidas para a vingança, entravam pelas casas dos comunistas e outros que eram suspeitos, assassinando todos os homens que encontrassem. Esta onda de assassinatos custou à região algo como um milhão de vidas só nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro de 1965. O mundo ocidental foi mantido sem qualquer informação da extensão destas medidas retaliatórias infligidas pelo povo Indonésio. Pelo menos desta vez os comunistas receberam em troca tudo aquilo que fizeram aos outros.

As contas e as conclusões finais dessa série de assassinatos foram terríveis do ponto de vista de vidas humanas e atrocidades cometidas. Em muitas vilas a leste de Java nem um único homem sobreviveu. Enormes covas eram abertas onde os comunistas assassinados eram lançados em massa para serem enterrados.

Imaginemos a dor que caiu sobre as famílias Indonésias: crianças sem pai e esposas sem marido! Este foi seguramente o único lugar em todo mundo onde os comunistas sofreram aquilo que eles próprios infligiram sobre outros povos na Rússia, na China comunista, em Cuba e em tantos outros países por este mundo fora, durante décadas e décadas.

O sofrimento dos cristãos

Os muçulmanos contentavam-se principalmente com a liquidação dos seus inimigos políticos, mas em outras partes do mundo como no leste da Nigéria e no sul Sudão eles aproveitaram a onda para atacar igualmente os cristãos, seus “inimigos” espirituais.

Por exemplo, uma família cristã numa vila muçulmana tentou aliviar a dor das esposas dos homens assassinados. Isto foi precisamente o que os muçulmanos estavam esperando. “Nós temos provas”, diziam eles, “que os cristãos são parceiros dos comunistas”. Voltando a atenção para casa dessa família, eles entraram, mataram o esposo e forçaram a pobre senhora a cozinhar para eles cada dia e também a lavar as suas roupas manchadas de sangue.

Os comunistas perseguidos frequentemente procuravam ajuda entre os cristãos porque sabiam que essa ajuda não lhes seria negada. Isto, com toda certeza, provocou os muçulmanos, os quais repetidamente clamavam pelas ruas: “os cristãos e os comunistas estão coligados!” Por esta razão, em muitas áreas, a perseguição aos comunistas alargou-se também para o lado dos cristãos.

No entanto o Senhor cuidou dos seus filhos. Um missionário de Bornéu, o qual viveu a confusão na ilha, relatou-me o que aconteceu em seu próprio distrito. Ele disse: “Entre as perseguições sangrentas e as atrocidades assustadoras, tivemos oportunidade de ver o poder de Deus operando, porque nenhum dos trezentos cristãos da área foi morto. O Senhor não permitiu que nem um cabelo de suas cabeças fosse beliscado”.

Um outro missionário que trabalhava noutra ilha disse: “Quando os assassinatos começaram, um jovem professor comunista foi procurar refúgio dentro da comunidade cristã. Enquanto esteve com os cristãos foi-lhe mostrado o caminho para Cristo. Ele vinha diariamente ter com os cristãos os quais oravam com ele regularmente. Mesmo que houvesse sido originalmente levado até eles devido ao seu temor, ele testificou mais tarde que o Senhor era de fato seu Salvador”.

Tempos depois um informante denunciou o caso aos muçulmanos. Indo para a igreja onde o professor costumava passar a noite, eles ficaram de vigia para o apanharem e uma manhã puxaram-no para fora e degolaram-no em frente da igreja. Os muçulmanos, de seguida, voltaram-se contra os cristãos. ‘Isto é mais uma prova de que vocês são comunistas’. Depois de alguma discussão entre os líderes muçulmanos, foi decidido massacrarem a população cristã na sua totalidade e em todo o distrito; mas Deus interveio. Uma companhia de soldados chegou ao local vindo dum batalhão próximo dali, os quais decidiram proteger os cristãos durante meses, até que os problemas houvessem passado. (Eu tive a oportunidade de visitar esta comunidade pessoalmente).

A intervenção militar nesta instância foi deveras marcante. As tropas governamentais, por norma, nunca se preocupavam com a onda de assassinatos que iam ocorrendo. As únicas perguntas que eles faziam eram: “Por quem é que nós devemos lutar? Qual o lado que está certo? Caso os comunistas tivessem triunfado tudo seria diferente”.

Esta luxúria muçulmana para derramar sangue foi muitas vezes a origem de muita ansiedade entre os cristãos. Um cristão chinês na ilha de Java disse-me uma vez: “Nós somos um espinho na carne dos muçulmanos de três maneiras: em primeiro lugar, eles não gostam de nossa raça; em segundo, eles têm ciúmes de nós, porque os chineses trabalham mais do que eles e obtêm maior sucesso em seus negócios; e em terceiro lugar, eles simplesmente nos odeiam por sermos cristãos”.

Eu também testemunhei este tipo de relacionamento tenso em todos os países do oriente. Cidades e países com uma forte presença chinesa, tendencialmente expandem-se e prosperam mais rapidamente que as outras áreas circundantes. Esta é a principal razão porque a Malásia e Singapura experimentaram um tão grande desenvolvimento econômico. Em ambos estes países, pelo menos 50% da população é de origem chinesa.

Olhando para o futuro, os conflitos são propícios a ocorrerem e em alguns casos já aparecem no horizonte. Por exemplo, os cristãos queriam construir uma igreja no subúrbio de Jacarta. Contudo, a população da área consiste majoritariamente de muçulmanos e esses logo acharam maneiras e mecanismos de impedirem a construção dessa igreja.

Similarmente, um médico cristão relatou-me como ele comprou um grande pedaço de terra de um muçulmano para ali poder construir um hospital cristão. Quando os muçulmanos vieram a saber qual a finalidade do prédio em construção, ele cancelou a venda durante as últimas legalidades da venda. O médico perdeu muitos milhares de dólares americanos devido à ocorrência. Mesmo que ele estivesse legalmente correto, ele decidiu nunca levar o caso a um tribunal muçulmano devido ao temor sobre o que estava escrito em I Coríntios 6.

Chegará o dia em que os muçulmanos entrarão em conflito aberto contra os cristãos. Essa é uma parte da realidade colocada como cenário diante do mundo antes que ele acabe. Os seguidores de Cristo irão passar por maiores e maiores provações antes que o Senhor venha em sua glória e os liberte de todas as suas dores.



III. A ECONOMIA DO PAÍS

Este livro é fundamentado por várias visitas que fiz à Indonésia e mesmo que as condições de 1966 e 1967 não sejam necessariamente as mesmas atualmente, a ilustração do crescimento que a Indonésia experimenta hoje, é de grande valor.

Numa das minhas primeiras visitas ao país fui imediatamente confrontado com a pobreza da população em geral. Jacarta, a qual na altura seria uma cidade com cerca de três milhões de habitantes, para além de alguns edifícios construídos com propósitos claros de busca de prestígio e aprovação, provou não ser mais que um aglomerado de estradas ruins, cabanas a caírem, cores horríveis e de pessoas subnutridas.

Durante os períodos de seca, a fome e a devastação logo se tornaram evidentes em muitos locais. Anteriormente, eu não tinha nenhuma concepção sobre a situação real existente na Indonésia. Normalmente, quando alguém fala de fome, temos tendência em pensar logo na Índia.

Durante estas minhas primeiras visitas ao país testemunhei diariamente demonstrações públicas de estudantes e alunos escolares. Inicialmente achei alguma dificuldade em tolerá-los devido ao barulho incessante e infernal dos seus gritos e de suas palavras de ordem. Contudo, fui confrontado com duas coisas distintas sobre esses manifestantes, as quais os contrastam fortemente com os loucos e descontrolados manifestantes da Europa e da América. Primeiramente, as procissões movimentavam-se nas ruas numa ordem perfeita. Não havia violência de qualquer tipo. E qual a segunda razão? Bem, na altura eles realmente tinham uma razão sobre para se manifestarem, algo que não pode ser dito da maioria dos manifestantes ocidentais.

O que os motivava? A sua fome! Por quê? A razão era que nas semanas anteriores o preço do arroz havia subido para mais de cem rúpias o quilo. Isto era o equivalente ao que um motorista duma fábrica ganharia de salário com um dia de trabalho. E ainda por cima, um quilo de arroz não durava muito tempo quando se tinha uma família inteira morrendo de subnutrição.

Os estudantes universitários e do ensino básico que eu tive oportunidade de presenciar, tinham justificação mais que suficiente para atraírem as atenções sobre o seu dilema. Se isso iria resolvê-lo, era uma questão à parte. Um dos membros do governo disse uma vez num discurso: “Se gritar alto ajudasse a baixar os preços do arroz eu seria um dos que gritaria mais alto”.

Qual é basicamente a raiz deste problema? Será a Indonésia capaz de alimentar sua própria população? Bem, em teoria a resposta seria sim, porque a sua área de cultivo é capaz de suportar não somente a população atual de 110 milhões de habitantes, mas seria até capaz de suportá-la mesmo que fosse multiplicada por três ou quatro vezes.

O país é de fato extremamente grande e é constituído por três mil ilhas separadas, alcançando cerca de quatro mil milhas de extensão, ou seja, cerca de 7.000 km de ponta a ponta. A terra em si, também é muito fértil e necessita apenas de ser cultivada.

Isto, contudo era precisamente um dos muitos problemas que necessitavam ser resolvido. Não existe qualquer plano sistemático para limpar o terreno e torná-lo arável. Quão fácil seria transformar as escarpas montanhosas em abundantes plantações de arroz. Seria apenas uma questão de conseguir armazenar a água durante a época das chuvas. Mas, ao invés disso, a água escorre pelas montanhas e transforma-se em grandes enxurradas que acabam por destruir as vilas nos vales abaixo dessas montanhas. Durante minha permanência em Jacarta a água estava a uma altura a cerca de 30 cm.

Devido a uma exploração insuficiente da terra, é preciso importar o arroz. Em 1968 foi-me dito que faltavam 600 mil toneladas de arroz para suprir as necessidades do país. “E de onde importam vocês o arroz, então?” Perguntei eu. “Da índia e de outros países asiáticos?” “Não, eles também não têm o suficiente para o seu próprio consumo! O arroz vem da América e é realmente muito amável da parte deles, porque nós nem sequer temos moeda estrangeira para que possamos comprar”.

O resultado foi que o arroz que tinham estivesse a ser comercializado a preços exorbitantes. Por essa razão, enquanto a população rica armazenava o arroz que recebiam, os pobres nunca seriam capazes de suportar o preço da compra e eram deixados à deriva para que achassem outras maneiras de encherem seus estômagos. Um importador disse-me: “Nós já estamos a comprar comida que se dá aos porcos nos Estados Unidos e misturamos com o pão”.

Mesmo assim, a Indonésia não tem qualquer necessidade de passar fome. É um país muito rico. No tocante a minérios e recursos minerais este país é considerado como o terceiro mais rico de todo o mundo.

Mas para que servem seus recursos naturais, no entanto, se não são explorados? A industrialização é sempre anda sempre em paralelo com uma agricultura eficaz. Existia uma falta clara de especialistas e de pessoas formadas para o efeito e mesmo que existissem nunca seriam capazes de obter os postos de trabalho para os quais haviam sido formados. As rédeas do país sempre estiveram nas mãos de oficiais militares. A Indonésia sempre foi um Estado militar. Isto significa que todos os postos importantes, ao invés de serem ocupados por pessoas especializadas, eram mantidos por oficiais de alta patente do exército.

O que é que um general sabe sobre agricultura ou exploração de minas? Normalmente não sabe nada. Dar provas de si mesmo numa parada militar ou no uso de armas, não qualifica ninguém automaticamente para um plano de sustentação da economia dum país.

“O exército arruinou literalmente a economia do país”, foi-me dito uma e outra vez. A população sempre apontou para o fato de os oficiais seniores haverem tomado para si as diretorias das empresas anteriormente holandesas e bem estabilizadas. Os resultados sempre foram desastrosos. Somente em 1967 cerca de 2.000 empresas importadoras entraram em situação de falência ativa. A situação precisava ser resolvida urgentemente.

Passeando por um shopping de Jacarta, vi muitas prateleiras vazias nos estabelecimentos comerciais, pois os donos dessas lojas não tinham capacidade para comprar os produtos que lhes faltavam devido à falta de capital. Estavam, por isso, preenchidos com produtos de baixa qualidade.

Este era o cenário dos primeiros anos seguintes ao fim das greves gerais que então houve no país. A pergunta é agora, se o governo é ou não capaz de clarificar esses problemas. Na minha visita mais recente pude verificar que alguns dos problemas da Indonésia já estavam sendo domados de forma eficaz.

No fim do ano de 1968, o governo começou a recolocar os especialistas nas suas devidas funções de responsabilidade. Foi então que, no dia 1 de Abril de 1969, um plano de cinco anos para desenvolvimento do país foi introduzido. O preço do arroz baixou tão dramaticamente que chegou a atingir zero do que era em 1967. Também não mais necessitavam importar o arroz que era dado aos porcos nos Estados Unidos para ser misturado com pão. As lojas estavam novamente repletas de bens. O país conseguiu superar a crise de estagnação que se havia instalado na economia.

É muito errado dar ouvidos àquela propaganda que os comunistas fazem hoje em relação à Indonésia. Pensemos um pouco no que seria deste país caso os comunistas houvessem tomado conta das rédeas dele. Certamente que seria mais um caso de miséria em massa organizada, tal qual acontece em todos os países comunistas desse mundo.

Existem três fatores fundamentais que devemos reconhecer quando tentamos acessar as características políticas e econômicas da Indonésia. Eles são:

Em primeiro lugar, o exército preveniu que o país entrasse em colapso sob a ameaça dos comunistas. Por essa razão todo mundo asiático deveria mostrar-se agradecido.

Ao governo precisamos dar um tempo para reconstruir a economia destruída. Os cerca de 20 anos desde a saída dos holandeses do país são muito poucos para que uma comunidade lutadora e desenvolvida se possa firmar, particularmente porque antes eram sempre colocados em antagonismo com o desenvolvimento.

3. Para um povo que conseguiu sua independência apenas há duas décadas atrás, será necessário que aprendam a consolidar e a preservar os valores de liberdade que, entretanto, conquistaram. Ninguém consegue alcançar o impossível. Será que os Estados Unidos e a Suíça se fizeram tudo aquilo naquilo que são hoje apenas em poucos anos?

Contudo, durante este breve período de independência da Indonésia, muito já foi alcançado. Alcançou um nome próprio dentro do mundo da liberdade e encontra-se hoje a melhorar substancialmente e a consolidar cada vez mais a sua posição econômica no mundo desenvolvido.

4. Se quiser desesperar-se, vá por via aérea

O que significa este provérbio? É com muito humor em suas vozes que os Indonésios usam essas palavras para descreverem a falta de regularidade das suas próprias linhas aéreas, uma inconstância permanente à qual nós próprios fomos sujeitos. Éramos cerca de 80 pessoas em Jacarta esperando um vôo para o leste de Java para participarmos numa conferência que se realizaria lá. Durante dias e dias, a única coisa que pudemos fazer dentro do aeroporto foi sentarmo-nos ora num lugar ora noutro e esperar. Foi um grande teste para a paciência de todos e posso afirmar que para mim pessoalmente também foi uma grande bênção.

Enquanto esperávamos, consegui fazer vários contactos. Uma das primeiras pessoas com quem comecei a falar foi o Rev. Ward, o vice-presidente da ‘World Vision’. Ele havia-me ouvido falar uma vez na Califórnia. Na tentativa de apanhar um outro avião, ele entrou num táxi e fez uma viagem de quase 30 horas – podíamos ver facilmente a exaustão estampada no seu rosto. Mas, em vez de se queixar, as suas únicas palavras eram: “Bem, creio que nosso desapontamento é o apontamento de Deus”. A sua atitude era simplesmente maravilhosa. Apesar de todos os problemas a que foi sujeito devido à falta de eficiência do seu próximo, nem uma palavra de queixume saiu dos seus lábios. Este missionário estaria certamente uns degraus acima do que eu estava na escola de Deus.

A bíblia e a vida muitas vezes ensinaram-me aquela lição de que Deus pode transformar nossos tempos de desespero em bênçãos secretas. A este respeito, as histórias do Velho Testamento sempre foram para mim valiosamente proveitosas.

Considerem, por exemplo, a história de José desde Gen.37-50. José foi lançado primeiramente num posso sem água pelos próprios irmãos e vendido a alguns negociantes midianitas. Imaginemos a angústia e a saudade de casa que o entristeciam. Contudo, essa sua aflição, ou antes, esse crime cometido pelos irmãos de José, foi transformado após muitos anos, numa das maiores bênçãos vinda da parte de Deus para com a humanidade. Quando a fome atormentou os humanos José foi capaz de salvar tanto seu pai quanto seus irmãos e foi desta sua maneira peculiar que ele executou o plano que Deus tinha para salvar a humanidade, pois foi através de sua migração para o Egito que os filhos de Israel proporcionaram tornarem-se aquela nação da escolha de Deus.

O atraso insuportável que sofri da parte das Linhas Aéreas Indonésias, GERUDA, trouxeram consigo variadíssimas surpresas. A única razão porque as descrevo aqui é para ilustrar a grande bondade de Deus para conosco devido ao fato de ele sempre esconder uma bênção no interior de cada desapontamento que possamos encontrar, desde que em Seu serviço.

Quando meu acompanhante me apresentou pelo meu último nome a um australiano que esperava conosco, o homem rapidamente exclamou: “Dr. Kurt Koch? Eu o ouvi falar numa igreja Batista na Austrália!”

Meia hora depois eu conheci um outro australiano apresentando-me apenas pelo meu nome Koch, ele replicou: “Eu tenho alguns livros de um Dr. Koch da Alemanha. Eles ajudaram-me muito em minha obra. Por acaso o senhor o conhece também?”. Eu? Conhecê-lo? Claro que o conhecia muito bem. Não conseguirão imaginar a surpresa que vi estampada no rosto daquele homem. Ele logo ali me convidou para ir falar em sua igreja em Melbourne em vários discursos e a coisa mais encorajadora foi verificar que as datas a que ele apontou encaixavam com muita perfeição dentro do programa planejado para a minha visita à Austrália.

Mas a melhor experiência de todas foi a última. Durante anos estive tentando encontrar o rastro de Bakth Singh. Era o evangelista mais conhecido da Índia. Nada menos que trezentas igrejas novas foram fundadas através dos seus esforços missionários. Em muitas cidades grandes ele consumou vários cultos em massa envolvendo milhares de pessoas sem um único recurso aos meios de publicidade abusadora e exploradora que os americanos propagaram pelo mundo.

Sempre tentei encontrá-lo em alguma ocasião ou pelas digressões pela Índia, mas nunca obtive qualquer sucesso. E eis agora, aqui estávamos um olhando para o outro numa manhã cheia de irritações e desapontamentos. Sentámo-nos a conversar durante horas porque ele estava esperando o mesmo vôo que eu.

Foi deveras uma ocasião maravilhosa e enquanto eu o questionava sobre sua vida, ele teve a oportunidade de me contar sobre a maneira como se converteu. No final, ele disse-me: “Vamos procurar um lugar sossegado onde possamos orar juntos?” O meu novo amigo de Melbourne ainda se encontrava comigo e achamos um lugar mais reservado onde passamos meia hora em oração e na qual nos esquecemos dos problemas que nos rodeavam. Bakth Singh também havia sido afetado pelo atraso. Ele já deveria estar discursando na mesma conferência para onde nos dirigíamos a leste de Java e, mesmo já tendo sessenta e cinco anos de idade, também foi forçado a sujeitar-se a uma viagem de comboio de dezoito horas assim que descobrimos que não teríamos qualquer hipótese de continuar nossa viagem por via aérea.

A comunhão que eu pude usufruir com este irmão abençoado durante os 14 dias seguintes, foi uma inexplicável bênção para mim. Quando nós enfim, nos separamos, ele convidou-me para ir a Hyderabad para discursar lá durante algum tempo. Eu tinha intenção de aceitar aquele convite durante uma altura dos próximos meses.

O provérbio inglês, na verdade, cumpriu-se. Sem esta falha da companhia aérea em nos providenciar um vôo, nunca teria achado esta oportunidade de comunhão com tantos outros missionários que se acharam ali presos comigo dentro do aeroporto de Jacarta. Aquilo que o diabo arruína, Deus refaz e molda naquilo que quer.



IV. BALI, A ILHA DO DIABO

No tocante à beleza paisagística, Bali é sem dúvida uma das pérolas das ilhas Indonésias. Descrever a beleza desta ilha num único relato seria praticamente impossível. Uma das primeiras coisas que tive oportunidade de apreciar a partir do hotel pobre e extremamente primitivo onde me encontrava, foi a praia. As ondas brincavam com a areia a uns 40 metros de distância da varanda de onde as apreciava. Diariamente traziam para fora da água quantidades enormes de estrelas-do-mar, moluscos e outras criaturas, as quais os habitantes locais recolhiam assim que na maré baixava. Depois, agradeciam ao mar pela bênção que, diziam, o deus mar lhes deu.

Para além das ondas nos corais do recife, a uns 500 metros de distância, as águas fervilhavam noite e dia. Apenas um mal aconselhado nadador se atreveria a entrar naquelas águas. Um jovem médico alemão pagou essa audácia com sua vida, tendo sido levado pelo mar. O seu quarto ficava apenas a duas portas do meu.

Ao largo da baía, podemos identificar nada menos que três vulcões. O maior deles, o grande Agung de dose mil pés de altura, estava ativo enquanto permaneci em Bali.

Bali herdou muitos nomes através dos turistas que a visitam. Alguns turistas chamam-na “A Ilha do Paraíso” e outros “A pepita dos Trópicos”. Quando Nehru visitou Bali, em 1954, ele cristianizou seu nome, chamando-lhe “O Alvorecer do Mundo”.

Pulau Dewata – Ilha dos Deuses – é o que os indonésios chamam à sua ilha. Eles deverão saber melhor que ninguém. Mas, quem são estes deuses? Certamente nenhum deles saiu do Velho ou do Novo Testamento. Tendo sempre em conta o nome local desta ilha e conforme se iam familiarizando com as práticas de seus habitantes, os missionários renomearam-na para a “Ilha do Diabo”.

A vida religiosa de Bali

O nome “Ilha do Diabo” já soa a desafio para qualquer crente em Deus. Precisamos explicar o que isso realmente significa.

A religião tribal ancestral dos Balineses é uma forma politeísta de adoração da natureza. Crêem que cada cemitério, rocha, montanha e caverna têm um espírito próprio. A cerca de 40 milhas a noroeste de Denpasar, dois mil búfalos selvagens ainda vivem em seu enorme cemitério, sendo venerados como animais sagrados. Ninguém os pode matar. São considerados espíritos encarnados dos nativos que morreram e foram enterrados naquele extenso cemitério.

Após a introdução inicial do país ao Hinduísmo e mais tarde do Budismo, juntamente com o Animismo que já existia por lá, os templos Balineses logo começaram a demonstrar o seu sincretismo religioso. Para além dos vários deuses relacionados com a natureza, também encontramos aqui os deuses indianos Shiva, Brahma e Vishnu.

Os problemas emergentes dessa mistura religiosa foram cuidadosamente ultrapassados através duma certa dose de perícia da parte dos nativos. Enquanto Buda ensina a não matar, os ancestrais deuses da natureza Balineses exigem sacrifícios de sangue. Como iria ser resolvido esse dilema? Muito facilmente! Os animais eram deixados a matarem-se uns aos outros.

Esta é uma das razões para o surgimento das horríveis lutas de galos nestas ilhas. Ao lado do templo Taman Ajun existe uma arena gigantesca onde esta forma de entretenimento se realiza. Os galos são bem alimentados antes das lutas. Os seus donos dão massagens em seus pescoços durante semanas a fio para assim fortalecerem os seus músculos. Também compram amuletos aos mágicos para fazerem de tudo para que seus galos possam vencer. Milhares de pessoas juntam-se para assistir a estes espetáculos horrendos. As competições duram até uma das aves morrer. Então é trazido um próximo par para lutarem.

Através destas lutas de galos foi trazido consenso entre deuses Indianos e Balineses. Os habitantes da ilha não matam animais. Mas, os galos matam-se. E é assim que os deuses da natureza conseguem seus sacrifícios de sangue.

Estes campeonatos, contudo, revelam um outro lado grotesco. Um ilustre visitante perguntou a um governador do distrito: “Por que é que não proíbem estes espetáculos grotescos? É uma mancha enorme na vossa cultura!” O governador respondeu: “Existe uma terrível luta interior e falta de paz dentro de cada nativo de Bali. Nós necessitamos desse tipo de escape. As lutas de galos funcionam como meras válvulas de escape. Se não tivéssemos essas lutas, teríamos provavelmente problemas maiores. Por isso, este mal menor mantém outros males piores longe do horizonte”.

Ao Balineses também criaram outros compromissos devido às misturas da sua religião com os deuses da natureza e com as religiões vindas da Índia. Durante milhares de anos existem nos cardápios os famosos pratos de cachorro. O pior de tudo é que estes cachorros são verdadeiramente nojentos e alimentam-se quase exclusivamente de excrementos humanos. São cachorros vadios que são apanhados, os quais são a “unidade de saneamento sanitário” das aldeias e cidades. Mas, o Budismo proíbe matar e comer animais. Os Balineses acharam um jeito muito próprio de se redimirem diante de Buda antes de matarem um animal, oferecendo uma oração a um dos seus deuses pedindo perdão e prometendo uma pequena porção da carne como oferenda: “Nós damos-te um pouquinho de nossa carne de cachorro!” De seguida estão prontos para saborearem o seu cachorro, se saborear é a palavra correta!

Templos e Danças

O templo Taman-Ajun o qual já mencionei anteriormente, é uma curiosidade real. Os Balineses chamam a este templo “Hotel dos Deuses”. É uma excelente terminologia. Até eu ter chegado cá nunca me teria apercebido que os deuses também passavam férias. Uma pessoa tem logo tendência comentar aquilo que o Elias disse em I Reis 18:27, quando desafiava os profetas de Baal exclamando: “Gritem mais alto, talvez o vosso deus tenha saído para algum lugar”.

Mas isto é aparentemente aquilo que dizem acontecer com os deuses Balineses. Estes nativos acreditam que os deuses se encontram neste templo uma vez por ano para uma conferência. Alguns vêem de muito longe e outros de mais perto. Antes deles se reunirem no maior templo de Bali, Besaki, eles passam a noite no templo Taman-Ajun. Depois disto vão para sua conferência em Besake, o qual fica situado nas escarpas montanhosas do vulcão Agung. Durante a erupção do vulcão em 1963, parte deste templo foi destruída. Contudo, os deuses ainda não pediram ajuda ao mundo ocidental, pois o templo ainda espera reparação. Elias poderia dizer a mesma coisa hoje que disse naquele tempo.

Certas danças de rituais famosas são realizadas durante as festas dos templos.

A primeira dança é a do fogo. Os que dançam são colocados em transe por um sacerdote. Uma fogueira é acesa diante do templo. Cada dançarino é persuadido que ele é um cavalo perseguido por um tigre. Ele começa a tremer. Em seguida o sacerdote convence-se que, o seu único caminho para escapar, é através do fogo. É assim que o dançarino hipnotizado passa correndo sobre o fogo. A seqüência é repetida várias vezes perante uma audiência entusiasta. Quando o dançarino é tirado do transe pelo sacerdote, mesmo estando completamente coberto de suor, ainda revela sinais de terror estampados no seu rosto e os seus pés não manifestam qualquer sinal de queimadura.

Outra dança é ainda mais famosa: a dança da faca. Esta é a maior atração de Bali, a qual atrai milhares de turistas à ilha todos os anos.

O calendário Balinês tem 10 meses de 35 dias cada. O dia de ano novo e outros festivais tendem a oscilar nas suas datas. Dois destes festivais são chamados Galungan e Kunigan.

O maior e mais importante festival é, contudo, Melis. Como parte deste festival, sacrifícios são trazidos para as praias. Os sacrifícios são feitos antes de a maré subir. É bastante notável como depois destes sacrifícios uma grande onda vem colhê-los. Os Balineses mantêm por isso a crença que isso revela apenas que os deuses aceitaram suas oferendas. Mas, na verdade, é apenas um fenômeno natural, pois a maré costuma chegar ali bem mais suavemente. Somente na data deste festival é que existe essa subida brusca das marés.

Quando os sacrifícios terminam é quando os nativos começam a dançar. E conforme dançam tentam contar uma história ancestral mitológica. O alvo deles é matar uma feiticeira chamada Rangda. Ela, contudo, consegue sempre escapar a seus inimigos. Os homens viram suas espadas contra eles próprios e enquanto fazem isso um deus amigo vem ajudá-los e as pontas aguçadas das suas espadas são impedidas de penetrarem em sua própria carne. A implicação mitológica deste teste é que, mesmo que o dançarino tenha intenção de matar a feiticeira Rangda e ela consiga virar as suas espadas contra eles através de seus poderes mágicos, todo o vingador do mal será sempre protegido e ajudado. Por detrás dessas representações podemos colher o conceito de o bem triunfar sobre o mal. Basicamente, os dançarinos são todos induzidos para atuar em transe. Este fenômeno de transe é muito vulgar em toda Ásia. Eu pessoalmente tive muitas oportunidades de testemunhar eventos como este, pois, os seus procedimentos dão-se sempre no exterior. Mesmo que seja muito fácil entrar numa multidão que se reúne para assistir a um espetáculo desses, eu nunca assisti deliberadamente a nenhum deles pois eu creio que um cristão deve evitar qualquer ritual pagão, desde que lhe seja possível.

A Guerra de Magia

De tempos a tempos em vários outros livros meus, mencionei os duelos de poderes mágicos. Quando cheguei a Bali em 1968 e fui chamado a intervir numa conferência de pastores todos me disseram: “Você chegou na hora certa. Existe um duelo mágico neste preciso momento em Bali”.

Um desses pastores relatou-me o que se estaria passando. Existem guerras mágicas em Bali desde tempos remotos. Estes duelos são, no entanto, mantidos secretos. Os turistas nem chegam a saber da sua existência. Essas batalhas só se tornam de conhecimento público quando os nativos Balineses que estavam envolvidos nelas se convertem ao cristianismo e começam a confessar os seus pecados secretos publicamente. Descobrimos que todos os mágicos da ilha (e existem bastantes) estão intimados e destinados a envolverem-se nestes assuntos.

Em Bali, tal como no Tibete, existem professores de magia. Cada qual tem os seus seguidores e discípulos e quando os seus pupilos chegam a alcançar certo nível de treinamento, estas guerras começam com o intuito de testar e fortalecer os poderes mágicos dos indivíduos nelas envolvidos. Estas olimpíadas mágicas são uma forma “pacífica” de combate.

A situação pode ser repentinamente alterada quando um dos combatentes morre. O duelo conseqüente traz muitas vezes a morte de um dos mágicos. As lutas, contudo, não são feitas com armas convencionais, mas antes com poderes mentais. Eles escondem-se debaixo de árvores assombradas, mais ou menos a 2 km umas das outras. É assim que eles se combatem através de poderes mágicos.

Caso um desses duelos se alastre para os amigos dos envolvidos, será então quando começam as guerras.

A guerra de magia de 1968 aconteceu da seguinte forma. Um dos mágicos pediu uma xícara de café num restaurante Balinês pequeno. O dono do restaurante, também um mágico, colocou veneno no café. O outro apercebeu-se do que lhe estavam fazendo e declarou guerra desafiando o dono do restaurante para um duelo de morte. Chamando os seus amigos para os ajudarem, as duas facções rivais tomaram os seus postos separados mais ou menos a 2 km. O sinal para a batalha começar consistia em duas luzes que vinham ao mesmo tempo, uma do leste e outra do oeste. Quando os nativos as viram, reconheciam-nas como luzes mágicas.

As guerras de magia são quase sempre limitadas a um mês de duração. Os feiticeiros guerreiam-se durante a noite e dormem durante o dia. Têm por hábito enviar primeiro os participantes com menos poderes para iniciarem essas batalhas. Quando recebi este relatório de um pastor local, ele acrescentou: “seis ou sete pessoas já morreram só nesta batalha, desde que começou”. No final deste conflito, os dois combatentes principais enfrentam-se pessoalmente e a guerra termina assim que o oponente mais fraco sucumbe e morre.

Muitas vezes perguntaram-me se uma guerra mágica não é sinal claro de que o diabo se encontra dividido contra ele próprio. Não! Quando dois homens lutam numa arena de boxe, o mais forte vence. Mas, nenhum dos dois deixa de ser pugilista e ambos continuam pertencendo à mesma profissão.

Antes de sair de Bali, tentei a todo custo saber um pouco mais sobre estas guerras de magia e, para isso, inquiri um nativo Balinês. Ele mostrou uma enorme surpresa ao perceber que eu sabia do que estava passando e perguntou: “como é que você veio a saber coisas sobre esses nossos assuntos ancestrais? Eles são cuidadosamente mantidos em oculto de todos os turistas e nós nunca revelamos nossos segredos a estranhos”. Eu não consegui descobrir mais nada deste homem.

Possessão Demoníaca em Bali.

Seria muito interessante para os filósofos da religião, para os parapsicólogos e para ministros evangélicos saberem que existem várias formas de possessão em Bali. Em nenhum outro país na terra achei tantas diversidades cuidadosamente diferenciadas. Isto dá-nos mais luz sobre esta “Ilha do Diabo”.

Em primeiro lugar, existem certas expressões em Balinês que não tem qualquer significado ético sequer. Referem-se apenas a um estado de possessão. Nestes tais termos incluem-se Kepangloh, Krangsukan, Kerauhan. Essas três palavras são meramente usadas para descreverem um inexplicável estado dos possessos.

Uma outra expressão, Daratan, tem sua origem numa palavra em Balinês Darati, a qual significa terra e descreve um tipo de possessão causado por espíritos da terra.

Kerasucan é usado para descrever um tipo de possessão onde a pessoa é acometida de um poder exterior a si mesma. É como se uma ‘auréola invisível’ fosse colocada sobre a vítima.

O termo Kemidjilan vem da palavra Midjil, a qual significa aparição. Este tipo de possessão está ligado a uma experiência com alucinações.

A palavra Bebainan originou-se da expressão Bebei, a qual significa ‘alma sem redenção’ ou então ‘pequeno demônio’. As pessoas atormentadas por esta forma de possessão são completamente controladas por ela. Especialistas Balineses são até capazes de distinguir entre diferentes tipos de doenças originadas por estas formas de possessão. Isto está acima daquilo que muitos psiquiatras do mundo ocidental alguma vez conseguiram fazer. Eu fiquei enormemente surpreendido com os conhecimentos psiquiátricos destes indígenas, os quais conseguem distinguir entre possessão Bebainan e a dança do Santo Vitus. Nunca ouvi falar de um psiquiatra ocidental que fosse capaz de fazer o mesmo e esses cientistas ocidentais têm, por norma, um ar de superioridade que levaria alguém a pensar que eles têm o monopólio da sabedoria.

Entre os fenômenos mais interessantes de possessão existe um conhecido como Sanghgang Tutut. Isso refere-se a um pedaço de madeira que se crê ter o poder de proteger uma pessoa. Isto é na realidade uma forma de possessão animista. Devido ao fato desses nativos acreditarem que todos os materiais inanimados possuem uma alma, isso leva-os a crer que essas mesmas coisas possam estar possessas. Do ponto de vista da história religiosa, isto trata-se obviamente de uma questão de panteísmo, mas também floresce nos perímetros da cultura cristã. O psiquiatra Dr. Lechler afirmou que não apenas pessoas, mas também casas poderiam ficar possessas. E nada menos que o Prof. Jung de Zurique também tem a mesma opinião. Contudo, nenhum deles ousou tornar públicas as suas opiniões. A razão eram seus temores de serem tidos como associados na loucura. Isto foi o que ele me confessou numa conversa em privado em Männedorf. Ele, contudo, escreveu o prefácio do livro do Dr. F. Moser intitulado “Fantasmas”. Estes fenômenos que o mundo ocidental tenta escamotear a qualquer custo são, no entanto, muito familiares aos nativos de Bali.

Os tipos de possessão acima mencionados não são de maneira nenhuma as únicas conhecidas em Bali. Isto foi apenas para demonstrar que a possessão demoníaca e demônios fazem parte do dia a dia de toda a ilha.

Como é que os cristãos e missionários deveriam enfrentar um problema desta envergadura? Nós podemos dar um grande suspiro de alívio que em Cristo todas essas coisas são vencidas e facilmente ultrapassadas. O poder da sua redenção e a eficácia do Seu sangue que Ele mesmo derramou por nós, são o suficiente para exterminar qualquer cadeia demoníaca que possamos vir a encontrar em nosso caminho. Naturalmente que cada cristão e ministro têm razões mais que suficientes para se alegrarem se Deus providencialmente prevenir que sejam obrigados a confrontarem-se diretamente com problemas como estes. Mas, qualquer um que seja chamado para contribuir para a cura das almas daqueles que são oprimidos através dos poderes do ocultismo, precisa saber qualquer coisa sobre a batalha onde se vai envolver. Nós não podemos de maneira nenhuma considerar pessoas mentalmente doentes como possessas e nem os possessos como mentalmente doentes. Os erros continuados neste campo não são apenas achados entre os psiquiatras, mas muito mais entre os ministros do evangelho. E tais erros levam a avaliações incorretas e a tratamentos extremamente pobres e inapropriados.

Um outro fator que dará um raio de luz na globalidade da situação em Bali, são as estatísticas médicas nesta ilha, as quais confirmam que 85% de todos os doentes desta ilha são doentes neuróticos. Não será isso apenas o outro lado dos transes induzidos, fenômenos mágicos e demoníacos que ocorrem por toda ilha?

Cristianismo em Bali

Considerando as circunstâncias que acabamos de descrever, nem nos poderemos surpreender com o fato de que o cristianismo progrediu muito pouco em Bali. Dos seus 2.000.000 de habitantes, 6.000 são cristãos protestantes e 4.000 católicos.

Deve ser levado em conta que entretanto se propagou uma triste combinação entre o cristianismo e todas as religiões locais. Assim, não apenas temos o hinduísmo e a adoração da natureza combinados um com o outro, mas também temos o cristianismo associado à prática de magia na ilha. Isso chegou a atingir o ponto vergonhoso que até existirem feiticeiros “cristãos”.

Mas, vamos ouvir primeiro algo acerca do desenvolvimento da igreja cristã em Bali. Recebi minhas informações de vários ministros do evangelho na área.

Na história do colonialismo holandês, Bali foi a última ilha grande a ser ocupada por eles. Até ao virar do século, oito reis compartilharam o governo da ilha entre eles. O genro do presidente do senado real deles foi o meu intérprete. Ele é, na verdade, um cristão.

Como esses oito reis se opunham aos holandeses em conjunto, os holandeses não foram bem sucedidos durante muito tempo na tentativa de tomarem o controle total da ilha, mesmo havendo estado há mais de trezentos anos em território indonésio.

A segunda metade do século XIX, um missionário católico estabeleceu-se em Bali. Ele conseguiu ganhar um único Balinês para sua religião. Este primeiro cristão, contudo, mais tarde apostatou-se e acabou por matar o infeliz missionário católico. O rei da região onde vivia este assassino, desejando agradar aos holandeses, entregou-o para ser julgado conforme as suas leis. Os colonialistas, preocupando-se pouco com o julgamento, mandaram fuzilar o assassino. Os Balineses iraram-se devido a este tratamento aparentemente sumário e arbitrário. O rei mandou dizer aos holandeses: “Nós não condenamos ninguém sem uma audiência prévia”. Devido a esta injustiça, uma oposição enorme surgiu. Como resultado, cerca de 170 holandeses foram sumariamente assassinados pelos Balineses. A rainha da Holanda reagiu tão severamente contra essa insurreição que acabou por assinar um decreto-lei, o qual proibia qualquer missionário de entrar em Bali. Devido a este decreto, nenhuma igreja conseguiu ser fundada em Bali até 1929 quando uns quantos missionários vindos do leste de Java entraram secretamente em Bali e acabaram por passar a mensagem cristã de boca em boca.

Este método de evangelismo não era tão inapto como se pode pensar, pois a religião Hindu em Bali sempre se centrou em famílias individuais. Desta maneira, cada família tem o seu próprio local de orações, templos e altares sacrificiais privados.

O progresso para com a fundação de uma igreja cristã não pôde, no entanto, ser impedido apesar desse decreto impeditivo. Mesmo porque alguns dos oficiais colonos holandeses favoreciam o cristianismo em claro desafio ao decreto existente. E assim, em 1930 uma igreja cristã foi formada. A igreja em Bali é por isso muito jovem e por assim dizer na sua primeira geração. Hoje, existem cerca de 25 pastores Balineses em toda a ilha.

A igreja cristã concorre com enormes impedimentos vindos dos costumes dominantemente pagãos de Bali. Em 1963, contudo, uma enorme oportunidade foi presenteada aos cristãos. Foi neste ano que o vulcão Agung entrou em erupção e devastou 12 vilas. Morreram 1500 pessoas. Os Balineses ficaram muito aturdidos, também devido ao fato de que o seu templo nacional, o grande Besakih, ficou parcialmente destruído. A sua fé nos seus deuses ficou muito trêmula e eles tornaram-se muito receptivos à mensagem cristã, especialmente porque a ajuda do mundo cristão em forma de dádivas começou a fluir para as áreas devastadas.

Contudo, a igreja não soube usar esta oportunidade extraordinária. Chegaram tantas dádivas que a organização do corpo de cristãos, ainda pequeno, não conseguiu administrar. Um ano inteiro foi necessário para distribuir toda a ajuda que ali chegou. Durante este tempo, as portas abertas tornaram a fechar-se. A igreja cristã em Bali perdeu a sua grande oportunidade. A obra social envolvente não deixou vaga para pregação do evangelho.

A igreja Balinês não é única neste aspecto. Temos muitos paralelos iguais a estes nas igrejas européias e americanas. Quão frequentemente nossas igrejas colocam o trabalho social como prioridade, negligenciando todo esforço evangelístico. As preocupações para com o corpo e o físico empurram para ao lado todos os cuidados que também deveríamos ter para com as almas dos que perecem sem serem ajudados a salvarem-se.

A Força da Magia e da Feitiçaria Dentro da Igreja

A igreja de Bali tem o caráter similar a muitas igrejas noutros campos missionários. Os cristãos que saíram dum ambiente pagão, ou cujos pais ou avós ainda estejam envolvidos a crenças pagãs, são facilmente apanhados pela magia e pela feitiçaria. Isto é o que acontece também em Bali.

Eu tive oportunidade de falar em cinco igrejas diferentes. Quando adverti contra a bruxaria, uma série de perguntas agitadas surgiram. Um dos presbíteros da igreja disse-me: “O que devemos fazer quando um de nós for mordido por uma serpente? Não existem médicos sequer nas redondezas. Estes curandeiros são os únicos que nos podem livrar de morrer. Por que razão nós, como cristãos, não podemos ir a um curandeiro Hindu num caso como este?” Respondendo a esse presbítero eu disse: “Nunca ouviu falar do que Jesus disse em Marc.16:17 que Ele também cura mordidas de serpentes? E nunca leu sobre Paulo que foi mordido por uma serpente na ilha de Malta e nada lhe aconteceu por intervenção direta do Senhor Jesus?” O presbítero ficou mudo e não me respondeu. Eu prossegui: “Como é que, nós cristãos, podemos visitar um feiticeiro pagão? Poderíamos fazer isso caso confiássemos mais no poder do diabo do que no poder de Deus. Mas, mesmo que Deus não me ajudasse depois de haver sido mordido por uma serpente venenosa, preferiria morrer a clamar ao diabo por sua ajuda”.

Então contei a toda congregação exemplos de alguns missionários que haviam sido mordidos por serpentes venenosas e os quais sobreviveram. Um desses exemplos foi um missionário no Brasil, o qual havia sido mordido por uma serpente bastante venenosa, sukkru. Os Índios ali presentes com o missionário afirmaram: “É o teu fim. Não existe cura para a mordida dessa serpente”. A visão do missionário já estava ficando degradada e pouco clara. Seu pé inchou tanto que ficou quase do tamanho duma pata de elefante. Os índios carregaram-no para dentro de uma de suas tendas. Eles vigiaram ali ao seu lado e ele acabou por ficar inconsciente. Após alguns minutos o desafortunado homem recuperou sua consciência e em desespero clamou: “Senhor Jesus, lembra as tuas promessas!” Ele ficou inconsciente novamente. Mas, foi ali que o poder do veneno quebrou. Em vez de morrer, o missionário, depois de ter ficado em coma durante algum tempo, recuperou totalmente. Não surgiram quaisquer seqüelas depois de sua cura milagrosa devido a esta mordida.

Contei essa história àquela igreja de Bali. Contudo, o dito presbítero mantinha as suas perguntas. Ele passou a explicar: “Nós temos um homem aqui que, mesmo não sendo um feiticeiro verdadeiro, tem uma pedra com a qual ele cura os doentes. Quando estive doente, pedi a este curandeiro a sua pedra branca, mas devido ao fato de eu ser cristão ele não me emprestou nem mesmo implorando-lhe. Por que razão isso seria errado de fazer caso houvesse conseguido usar essa pedra e caso ela possuísse os tais poderes milagrosos?” Ao que eu respondi: “Você pode dar-se por feliz por não ter conseguido usar essa pedra! Os efeitos póstumos são dramáticos e pertencem à esfera da bruxaria e do diabo, mesmo que apenas fossem meros poderes de sugestão”.

Mas eu não fui capaz de convencer este presbítero nativo. Contudo, no mínimo consegui que muitos outros presentes ali na igreja nunca mais recorressem ao poder dos curandeiros hindus.

É de lamentar que a maioria dos pastores nativos não consiga discernir o mal dessas coisas de bruxaria e, por essa razão, nunca chegam a esclarecer devidamente as suas congregações dando-lhes uma clara direção sobre questões do contacto com coisas ocultas.

Numa convenção de ministros em Bali, um dos pastores afirmou possuir poderes de médium e que estes lhe haviam sido dados por Deus. Seu avô havia sido um feiticeiro muito esperto e muito temido naquelas redondezas. Tanto ele quanto seu pai haviam herdado as habilidades de magia de seu avô. E esses poderes ocultos eram tidos como dádivas de Deus! Uma confusão completa de opiniões e uma absoluta mistura de espíritos! Contudo, esses são os homens que presidem às igrejas locais.

Um outro presbítero declarou abertamente perante a igreja lotada: “Eu ainda possuo todos os meus amuletos e instrumentos de encantamento em minha casa; mas eu creio que não têm qualquer poder sobre mim porque não acredito neles, não deposito fé neles”. Eu guiei o homem para At.19:19 onde os Efésios trouxeram todos os seus amuletos e livros de magia e fizeram uma enorme fogueira com eles. Adverti-o a fazer também o mesmo, queimando todos os seus objetos de ocultismo porque, com toda certeza, representariam um sério impedimento em sua vida e uma influência satânica sobre ele e também sobre sua família inteira até às 3ª e 4ª gerações. Mas, infelizmente, também não o consegui convencer ou demover de sua opinião já formada.

Será que nos podemos admirar de que a igreja em Bali ainda não tenha experimentado um avivamento real igual aos que se estão dando em outras ilhas Indonésias? A magia e a feitiçaria serão sempre barreiras enormes que operam contra o evangelho da vida. Nós podemos constatar essa verdade ainda mais claramente nos avivamentos que ocorreram na ilha de Timor e noutras também, onde o movimento do Espírito Santo sempre começou após as pessoas terem reconhecido pelo nome cada pecado e principalmente cada pecado de feitiçaria, trazendo seus amuletos e instrumentos de feitiçaria para fora e destruindo-os com fogo diante das igrejas.

Mas, mesmo assim, a situação nesta “Ilha do Diabo” não é tão negra quanto se possa pensar. Existem aqui algumas primícias do Espírito que revelam que o Senhor Jesus deseja claramente fazer progredir uma obra em Bali também.

Numa outra vila, depois de eu ter discursado durante algum tempo com um cristão, ele disse-me: “Até bem pouco tempo atrás eu era Hindu. Mas, desde que comecei a seguir o Senhor Jesus, fui severamente perseguido. Os habitantes da minha vila perseguem-me de maneiras inconcebíveis. A minha esposa não pode mais buscar água da fonte pública e eu fui ameaçado de que não seria enterrado no cemitério da vila porque, disseram eles, eu cortei todos os laços com a comunidade dessa vila”. Tentei encorajá-lo o melhor que pude como irmão. Qualquer pessoa que se torne cristão num ambiente pagão pode contar com perseguições ferozes. Mas, no entanto, o mesmo se poderá dizer das pessoas que se arranjam com Deus dentro das igrejas evangélicas do mundo ocidental. A diferença nem será grande.

No leste de Java encontrei um outro jovem cristão vindo de Bali. Ele relatou-me a sua história. Em 1962, um missionário chegou a Bali com uma comitiva de cristãos para ali trabalharem para Deus durante um tempo. Alguns jovens rapazes encontraram-se com o Senhor Jesus durante esse período de campanha evangelística. Três deles estão estudando hoje na Escola Teológica do leste de Java. (Nota do tradutor: Esta escola foi o centro, o epicentro e o início do avivamento na Indonésia). Um destes jovens era a pessoa com quem estava falando e o qual me relatou que não podia mais entrar na casa de seus pais devido a sua escolha de ter-se tornado seguidor de Cristo. Os seus pais ainda são pagãos e não estão minimamente dispostos a tolerarem a decisão irredutível que ele tomou. E foi assim que a Escola Teológica se tornou na sua nova casa e seu novo lar.

Mas agora e nesta fase, Bali já se poderá gloriar de mais e de melhores primícias do que as que acabamos de mencionar. Existe um número de cristãos espalhados pela ilha, os quais conseguiram escapar e libertar-se dos poderes opressores do ocultismo de seus antepassados. É verdade que existem muitos poucos crentes reais, mas um deles é o Pastor Joseph, o qual organizou toda a minha campanha e palestras pela ilha.

Estes cristãos, os quais encontram-se numa minoria tão evidente, tornaram-se realmente os combatentes pioneiros que levam Cristo sobre seus ombros dentro desta ilha. Eles não se desesperam e nem se nota qualquer sinal de angústia nos seus rostos. O Senhor Jesus sempre construiu o seu reino através de pequenas sementes de mostarda. Se esses indivíduos, que são a vanguarda de Cristo nesta ilha, permanecerem fiéis, o seu número nunca permanecerá pequeno. Será precisamente aqui nesta fortaleza das trevas – este paraíso de demônios – que esta ilha poderá vir a tornar-se a Ilha de Cristo e não mais a Ilha do Diabo.



V. JOHN SUNG

Ninguém deve ignorar a obra de dois evangelistas caso queiram escrever sobre o avivamento que decorre atualmente na Indonésia. Estes dois evangelistas fizeram nos últimos 30 anos variadíssimos cultos em grande escala dentro de Java. São dois apóstolos de Deus: John Sung e Andrew Gih. Eles eram particularmente amigos que de início começaram por trabalhar juntos, mas, a longo prazo, desenvolveram métodos evangelísticos individuais. Ambos eram oriundos da China e ambos estenderam as suas obras para dentro dos países que faziam fronteira com o seu. Entre os chineses dentro da Indonésia existem hoje muitos cristãos genuínos que podem afirmar que devem a qualidade da sua fé às campanhas destes dois homens. Em Jacarta o Dr. Toah disse-me que esses dois evangelistas chineses trouxeram mais chineses a Cristo do que todos os outros evangelistas estrangeiros em conjunto da história da China. Vamos, em primeira-mão, relatar a história de John Sung, o qual começou a sua obra em Java antes de Andrew Gih.

O Pequeno Pastor

Sem entrarmos em detalhes biográficos sem interesse, vamos no mínimo tentar dar uma imagem correta da vida e da obra de John Sung no seu tempo. A lâmpada deste homem excepcional brilhou durante cerca de 43 anos; desde 1901 até 1944. Deus deu-lhe uma plenitude de poder do Espírito Santo que eu nunca consegui detectar em nenhum outro evangelista do nosso século. Isto não é nenhum exagero sequer, mas é a minha firme convicção.

Havendo nascido e tendo sido criado em Hinghwa, John estava presente quando com nove anos de idade um avivamento começou na igreja de Hinghwa. Mesmo sendo ainda uma criança nessa época, ele foi literalmente quebrantado em lágrimas e experimentou uma definitiva e genuína conversão.

Logo desde o início da sua vida com Cristo, a oração tornou-se o ponto alto da sua vida espiritual. Quando, durante esses anos, seu pai ficou criticamente doente e foi dado como perdido por sua própria família, a desesperada mãe de John, a qual já não conseguia mais orar devido à sua angústia, disse-lhe: “Vai para o teu quarto orar por papai. Deus ouve orações”. John lançou-se sobre os seus joelhos e orou ardentemente pela vida do seu pai. Como resultado e apesar de todos os pontos de vista e expectativas dos médicos em sentido contrário, seu pai recuperou sua saúde milagrosamente. Esta foi a segunda resposta que ele obteve em toda sua vida como um jovem guerreiro do seu Senhor.

Durante o avivamento em Hinghwa, o pai de John tornou-se o líder dos pastores da cidade e logo se esgotou sob o jugo e o peso de toda a sua obra. Ele designou pregadores itinerantes, os quais usava para pregarem nas igrejas circundantes em sistema rotativo. John logo tomou o seu lugar entre estes mensageiros de Cristo, mesmo sendo de longe o mais jovem de todos eles. Ele já ministrava sermões conscientemente preparados e delineados na tenra idade de 14 anos. Quando seu pai se tornou incapaz de continuar o seu trabalho devido à pressão da obra sobre si, John passou a substituí-lo muito bem. As congregações amavam a sua forma simples de pregar devido ao seu estilo vívido e simples de entrega das mensagens. Já por essa altura, cristãos bem estabelecidos em Cristos ficavam a pensar: “O que vai ser este menino?” Luc.1:66.

Na vida de todos os homens verdadeiros de Deus, podemos quase sempre detectar a mão providencial e atuante de seu Criador. Isto é algo que também pode ser visto na vida de John Sung. Como rapaz na escola ele já chamava a atenção sobre si devido à facilidade que tinha para estudar e para a sua incansável sede de empreender e trabalhar. Assim, ninguém se deve surpreender que este jovem zeloso colocasse uma educação universitária como alvo diante dos seus olhos. Contudo, porque a China de então tinha uma grande instabilidade e guerrilhas desde 1919, ele começou a pensar entrar numa universidade Americana.

Mas vários obstáculos e impedimentos colocaram-se diante dos seus planos. Quem pagaria a sua viagem? Quem seriam os seus tutores durante a sua estadia nos Estados Unidos? E a parte mais difícil de todas, era que John tinha uma infecção nos olhos tipicamente chinesa, a qual lhe impediria sem dúvida a sua ida para a América! Um quarto tropeço era o seu próprio pai que se opunha às suas idéias de viajante. Eram quatro tropeços enormes demais para serem vencidos.

Mas pode alguma coisa ser impossível a Deus? John entregou-se à oração. Este era o curso que ele sempre tomava em alturas como esta. Deus deu-lhe a primeira resposta na forma de uma carta. Uma missionária americana, a qual nada sabia sobre seus planos, escreveu-lhe para encorajá-lo e aconselhá-lo a estudar nos Estados Unidos, dizendo que se ele assim desejasse ela seria sua tutora durante a sua estadia no país. Ele ficou enormemente alegre e mostrou a carta a seu pai e perguntou-lhe: “Não é isso, por acaso, a resposta de Deus?” Seguindo-se a esta primeira vitória conseguida, muitos donativos de dinheiro começaram a chegar de várias origens, que não apenas cobriam todas as suas despesas, mas também permitiriam que ele levasse consigo uma reserva financeira para cobrir as suas despesas iniciais na América. A ajuda para a infecção das suas pálpebras chegou inesperadamente de uma outra fonte. Enquanto cortava o cabelo, o barbeiro notou a infecção e ofereceu-se para limpa-lhe o interior das pálpebras com um osso revestido de prata e lavá-lo de seguida. John aceitou. Este processo penoso foi realizado nele várias vezes até que a infecção ficou totalmente curada. Finalmente, também seu pai lhe deu o seu consentimento para partir. Isto foi apenas o início da obra do “Grande Arquiteto” que, pela sua misericórdia, capacita sempre os seus apóstolos e filhos de tal maneira que consigam alcançar sempre os Seus objetivos.

A crise

Esta nova vida na América foi tudo menos fácil. Sua saúde era delicada, sua falta de dinheiro era contínua e uma cirurgia que ele não pode evitar contribuiu para que ele permanecesse firme em oração. A missionária americana também não cumpriu a promessa que lhe havia feito. Esta forma de atuar dos cristãos ocidentais sempre foi um grande vexame para muitos novos crentes, pois tudo que é promessa é tratado com muita banalidade. Mas, para John, isso significava simplesmente que ele teria a oportunidade de se agarrar e de se firmar nas melhores promessas que a Bíblia lhe fazia.

Apesar dessas dificuldades tremendas, John progrediu de tal maneira em seus estudos que qualquer um ficaria pasmado diante do seu sucesso. Em apenas três anos ele concluiu um programa curricular de cinco anos. Mais ainda, ele encontrava-se sempre no topo das melhores notas da universidade. Para além de ter conseguido receber os prêmios que se ganhavam no campo da física e da química, também lhe foi dada uma medalha de ouro devido ao seu aproveitamento nesse ano. Quando ele finalmente recebeu a sua graduação, todos os jornais fizeram reportagens que lisonjeavam este brilhante e talentoso jovem chinês. Três universidades tentaram assediá-lo para lecionar. A mundialmente famosa Universidade Harvard ofereceu-lhe mil dólares anuais se ele entendesse alistar-se entre os seus professores, uma soma que em valor monetário atual seria invulgar. Contudo, John ficou-se pela oferta mais modesta da Universidade Estadual de Ohio.

Por esta altura o estudante esfomeado por conhecimento aplicou-se em obter Doutoramento e Ph.D. em química. Mas, como nessa altura a química alemã era a mais avançada, John pensou aprender a língua para poder ter acesso aos livros científicos alemães. Durante as suas férias ele embrenhou-se no estudo desta língua estranha e em apenas dois meses conseguiu dominá-la de tal maneira que foi capaz de traduzir para o inglês um livro complicadíssimo de química. O professor que revisou a tradução pensou que ele tivesse estudado alemão durante anos. O que um homem normal poderia levar dois anos a conseguir, John conseguiu em apenas dois meses. Uma vez mais, este feito causou um grande reboliço nos meios americanos. Ele foi atormentado e assediado por prêmios e convites. Durante este tempo, até mesmo a Universidade de Pequim tomou conhecimento do sucesso desse seu compatriota e chegou a oferece-lhe o título de Ph.D. Contudo, o convite que maior atração exerceu sobre ele, chegou-lhe da Alemanha, local onde os serviços deste químico extraordinariamente talentoso eram muito desejados. Uma equipe de cientistas propôs um posto de pesquisa com condições financeiras invejáveis.

O Dr. Sung, como ele era conhecido agora, orava incessantemente sobre o passo seguinte. Como resposta o Senhor conduziu-o para as palavras em Mat.16.26: “Que proveito tem o homem em ganhar todo o mundo se perder a sua alma?” Os seus pensamentos foram imediatamente recolocados no seu plano e voto iniciais. Ele tinha apenas a intenção de estudar temporariamente na América e voltar para China como pregador do evangelho. Foi então que decidiu ir estudar teologia no Seminário Teológico durante certo tempo. Foi desta forma que ele chegou – certamente guiado por Deus – ao seminário da União Teológica de Nova Iorque, muito conhecida pela sua teologia liberal.

E foi assim, também, que ele começou a sua preparação final para a obra diante de si, através da qual proclamaria o reino de Deus. Mas, os ensinos desta escola iriam levá-lo a afundar-se sobre os seus joelhos de forma implacável.

A causa principal para esse colapso foi a teologia ensinada neste colégio. Cada problema ou obscuridade na Bíblia era discutida a luz da razão humana. Apenas aquilo que pudesse manter-se aos escrutínios da lógica era aceite como verdadeiro. A fé em Cristo como propiciação para os nossos pecados; a validade dos milagres; a ressurreição; a ascensão e a segunda vinda de Cristo eram banalizadas por carecerem de provas científicas. Tendo sido servido com esta dieta magra, o Dr. Sung perdeu toda a sua fé e foi empurrado para uma crise interior e para uma fase muito crítica da sua vida. Ele disse para si mesmo: “Tudo aquilo em que acreditei naturalmente até agora foi-me roubado. Não posso continuar a viver neste estado. Ou a minha vida termina, ou então Deus precisa dar-me outra maneira de vivê-la através do Seu Espírito”.

Deus ouviu o clamor do seu coração uma vez mais. Durante a noite de 10 de Fevereiro de 1926, o Senhor apareceu-lhe. Estando sob o peso infernal do jugo do seu pecado, o Dr. Sung clamou ao Senhor orando e chorando até muito tarde daquela noite. De repente, ele ouviu uma voz dizendo-lhe: “Meu filho os teus pecados te são perdoados”. Com isto a sua alma foi repentinamente preenchida de luz. Mesmo sendo noite escura, alcançou a sua Bíblia e começou a ler os evangelhos de uma maneira tal como nunca havia feito.

Na manhã seguinte todos os outros estudantes e professores notaram de imediato a transformação no seu semblante. O Dr. Sung também não tinha qualquer intenção de manter a sua nova experiência em segredo. Onde lhe fosse possível, ele dava testemunho do Senhor Jesus Cristo abertamente e o seu jeito abrupto de se exprimir causou logo reboliço dentro da escola. Mesmo porque desde criança ele havia sido uma pessoa de visão muito clara e de decisões muito radicais e bruscas que duravam para sempre.

Passou a descrever os seus livros de teologia como livros de demônios e, queimando-os, dedicou-se integralmente e exclusivamente ao estudo aprofundado da Bíblia e à oração. Os seus professores liberais ficaram extremamente chocados com esta sua maneira brusca e condenaram-no veementemente pela forma como catalogou a teologia deles. De imediato, imploram-lhe para se submeter a um exame psiquiátrico extensivo.

Isto é típico! Em primeiro lugar estes racionalistas destroem a fé dum homem e depois, quando ele se encontra completamente desfalcado e nu e acha o Senhor Jesus, é considerado como um doente mental e colocado no hospício. Eu tenho a sincera esperança de que, apesar de sua teologia, estes teólogos modernos possam vir a aperceber-se do seu grande erro e chegar tão perto do Senhor Jesus que ainda serem salvos. Eu gostaria de ver as suas expressões quando um dia se aperceberem de que a sua teologia é diabólica e serve apenas os interesses do diabo na terra.

Na história de José lemos o que ele afirma: “Vocês intentaram mal contra mim; mas Deus o tornou em bem”, Gen.50:20. Isto também foi o que aconteceu com o Dr. Sung. Aquilo que o seminário da União Teológica intentou contra ele, transformou-se subitamente no propósito de Deus para o Seu filho.

O Dr. Sung foi aconselhado a “descansar” durante seis semanas e ele concordou, embora com algum protesto. Contudo, depois desse prazo de seis semanas haver expirado, ele pediu permissão para voltar ao seminário. Mas, foi-lhe dito expressamente que não voltaria mais para lá. Foi então que o seu temperamento aguçado explodiu: “Eu fui enganado! Eu não estou mentalmente doente, mesmo levando em conta que meu coração foi completamente esmagado por esta vossa teologia miserável, a qual me foi servida no vosso seminário. Nem com ela eu fiquei louco!” Este desabafo energético levou o psiquiatra a transferi-lo para uma sala para pacientes violentos. Esta foi uma das piores experiências da vida de Sung, tendo sido obrigado a passar os seus dias e noites numa mesma sala com maníacos depressivos, violentos e que usavam continuamente palavrões indecentes para se expressarem!

Mas, uma vez mais ele inquiriu do Senhor o que isso significava. A resposta chegou de imediato: “Todas as coisas contribuem conjuntamente para o bem daqueles que amam a Deus”. Foi então que o Dr. Sung recebeu uma outra mensagem pessoal do seu Senhor e Rei. Foi-lhe dito: “precisas suportar o tratamento durante 193 dias. Será deste modo que aprenderás a suportar a cruz que te vou dar para poderes aprender a carreira de obediência até o Gólgota”.

Com esta resposta John Sung contentou-se e sossegou de imediato seu coração. Ficou sabendo que era a vontade de Deus para si e que tudo que poderia fazer era esperar com a certeza que acabaria saindo e que estava dentro da vontade de Deus. O psiquiatra autorizou-o a regressar para seu quarto privado inicial. Ali, o Dr. Sung teve bastante tempo para orar e explorar a sua Bíblia. Ele leu avidamente muitos capítulos por dia. Mais tarde ele comentou: “Essa foi minha verdadeira formação teológica!” Ele leu a Bíblia quarenta vezes durante este tempo de descanso forçado. Mas, não havia contado nada a ninguém sobre a promessa que Deus lhe fizera de tirá-lo dali em 193 dias. Mas, o fato é que 193 dias depois deram-lhe alta da clínica psiquiátrica. Isto apenas prova que a mensagem que ele recebeu tinha realmente vindo de Deus e não havia sido fruto da sua imaginação. Dr. Sung estava agora devidamente armado para as suas campanhas evangelísticas na China.

Nós cruzamos frequentemente com períodos de quietude como estes e verificamos que todos os instrumentos especiais de Deus passam sempre por eles. José ficou dois anos na prisão; Moisés passou 40 anos no deserto de Midiã; Elias ficou escondido no ribeiro de Querite; Jeremias achou-se sozinho na prisão muitas vezes e uma vez dentro do poço; João Batista esteve na montanha-fortaleza de Machaerus. Lutero em Wartburg até seu tempo haver chegado.

Estes tempos de solidão fazem parte do programa curricular da escola de Deus.

O Wesley da China

O seminário da União Teológica já há muito tempo que havia removido da sua lista de estudantes o nome de Dr. Sung. Não queriam mais nada com ele desde que queimou os seus livros. Mas, o coração de John estava apontado para a China e foi, em 4 de Outubro de 1927, que ele saiu de Seattle para Xangai.

Assim que o Dr. Sung chegou à sua pátria e tendo-se reunido à sua família que não via há 7 anos, descobriu que havia um pequeno pormenor ainda por esclarecer. O seu pai disse: “Filho, eu sempre fui um pregador pobre. Espero agora que tomes um lugar para ti na universidade para assim ajudares a pagar a educação dos teus irmãos”. John temia que isso viesse acontecer precisamente daquele jeito. Mas, a sua resposta a seu pai foi imediata: “Pai a minha vida foi dedicada a espalhar o evangelho da verdade. Eu estou morto para o mundo, para vocês e para mim mesmo também. Nunca terei a possibilidade de tomar outro caminho pelo qual possa seguir”. E foi assim que o curso de toda sua existência ficou permanentemente selado.

Foi então que em Maio de 1928 Dr. Sung se encontrou com Andrew Gih pela primeira vez. Ambos ficaram com a consciência de que a vida de um e do outro iriam tomar caminhos particularmente similares. Para ambos, era apenas uma questão absoluta de estarem completamente rendidos ao seu Senhor com o único propósito de espalharem o evangelho tal qual o Espírito Santo os levasse a fazer.

De início, esses dois homens trabalharam em conjunto. Andrew Gih muitas vezes servia de intérprete ao Dr. Sung nos distritos onde os seus dialetos não lhe eram familiares.

O primeiro encontro do Dr. Sung com o movimento das línguas estranhas provou ser significante e bastante esclarecedor. Isso ocorreu no porto de Tsingtau. Foi ali onde teve que se questionar sobre os dons do Espírito. O movimento “carismático” neste porto, com um tipo de população que se alterava constantemente, era bastante forte. Os seus seguidores afirmavam afincadamente que a plenitude do Espírito Santo se manifestaria através de sinais exteriores como línguas estranhas, canções espirituais, visões e sonhos. O Dr. Sung entrou numa argumentação bastante quente sobre este assunto sem se dar conta. Ele ficou confuso e foi então que decidiu não pregar mais e ficar somente a ouvir Andrew Gih. Orando incessantemente por clarividência não seria de admirar que o Senhor lhe concedesse uma vez mais a resposta.

Andrew Gih estava pregando sobre João 4 e falando sobre a água da vida que Jesus estava oferecendo à mulher samaritana. A resposta que ele queria do Senhor veio com uma revelação muito clara. Mais tarde John comentou-a resumidamente: “A bênção de Deus e a plenitude do Espírito Santo nunca consistem numa procura de línguas estranhas e nem de quaisquer manifestações exteriores, mas em tornamo-nos rios incondicionalmente puros para que essas águas da vida do Espírito Santo possam ter como fluir livremente a todas as almas sedentas à nossa volta”.

A partir desse momento Dr. Sung começou a pregar claramente através de uma nova força e poder. Não poucas vezes ele orava: “Senhor purifica-me e transforma-me de tal maneira que as águas vivas possam brotar de mim como as quedas e correntes do Niagara”.

Por onde que ele fosse havia um avivamento real e genuíno: homens reconhecendo publicamente seus pecados; inimigos reconciliando-se os com os outros; bens roubados sendo devolvidos aos seus respectivos donos com confissões; professores confessando os seus pecados aos próprios alunos e colegas. Mas, o melhor de tudo era que em cada campanha missionária que ele fazia formavam-se comitivas para levar o evangelho até às vilas e aldeias vizinhas. Não poucas vezes após uma única campanha entre sessenta a cem dessas comitivas eram formadas da noite para o dia.

O Dr. Sung tinha um “mestrado” em ilustrações e as usava as suas mensagens. Quando uma vez pregava como um pecado deveria ser arrancado sem dó pela própria raiz, ele dirigiu-se a uns vasos que continham plantas na plataforma, despedaçando uma a uma e arrancando-as pela raiz e proclamou de seguida de todo coração: “Agora não poderão mais crescer! É assim que o pecado deve ser arrancado de nós”.

Uma outra vez estava falando sobre Rom.6:23 onde se lê que “o salário do pecado é a morte”. Tinha um caixão pequeno perto do local onde pregava e um grande número de pedras foram-lhe trazidas para plataforma de onde discursava. Ele exclamava: “O caixão representa a morte. As pedras simbolizam o pecado”. E com isso Dr. Sung começou a chamar os pecados pelo nome e, por cada pecado que mencionava, atirava uma pedra para dentro do caixão. O evangelista passou a explicar o significado de tudo aquilo: “Cada homem carrega com ele um caixão e à medida que o caixão se vai enchendo de pedras, o interior torna-se cada vez mais pesado e insuportável. A pessoa em questão fica com seu interior sobrecarregado e em breve será esmagada sob o peso do fardo”.

Em outras ocasiões ele usava a seguinte ilustração quando se dirigia aos pastores de congregações. Ele tinha um ajudante que lhe trazia um fogão a carvão para cima da plataforma. Em seguida, ele pedia de forma audível uns pedaços de carvões pequenos os quais lançava para dentro do fogo juntamente com um pedaço de carvão enorme. Dez minutos depois, ele perguntava ao seu assistente sobre o progresso do fogo: “O que se passa dentro do fogão?” a resposta vinha: “Os carvões pequenos estão todos queimando e em chama viva. Mas, o pedaço grande está difícil!” Dr. Sung resumiria então a sua mensagem: “Os pedaços de carvões pequenos são os membros das congregações e o pedaço grande é como os pastores dessas mesmas congregações. Os pastores são sempre os últimos a pegarem fogo”. Só podemos imaginar como uma exemplificação dessas irritava os ministros das igrejas, os quais não morriam muito de amores por ele. Contudo, eram esses próprios ministros que no final dos seus esforços missionários vinham ter com ele reconhecendo que os membros das igrejas muitas vezes chegavam a triplicar.

No decorrer das suas pregações, o Dr. Sung muitas vezes usava dons proféticos. Uma vez apontou para um indivíduo no meio duma multidão com mais de 1000 pessoas e disse: “Você é um hipócrita! Arranje os seus caminhos com Deus”. A pessoa para quem ele apontou era um presbítero da igreja, o qual ficou achando que o seu próprio pastor se havia queixado sobre ele ao Dr. Sung. Mas, no outro dia o presbítero foi-se sentar num local completamente diferente na enorme sala. Foi no meio do seu sermão que o evangelista uma vez mais apontou em direcção ao presbítero, dizendo-lhe: “Você é um hipócrita”. Quando o Dr. Sung fez a mesma coisa uma terceira vez num outro culto, o presbítero ficou enfurecido e decidiu arranjar forma de matar o seu pastor, pois achava que havia sido ele a falar ao Dr. Sung. Convidou o seu pastor para uma refeição em sua casa. O pastor da respectiva congregação foi, contudo, avisado a não se arriscar. Mas, mesmo este fiel irmão resolveu ir visitar o presbítero. Conforme ia entrando em sua casa, aquele homem atirou-se a ele com um facão e na sua fúria levantou o seu braço para lhe dar o golpe fatal. Reagindo quase instintivamente, o pastor caiu sobre os seus joelhos sem ligar muito ao facão e clamou: “Senhor salva este homem!” O facão passou por cima da sua cabeça e entrou na parede. E o facão quebrou-se. Foi nesse preciso instante que o espírito de arrependimento caiu sobre o presbítero. Afundando-se nos seus joelhos ao lado do pastor, ele suplicou a Deus por perdão, entregando assim a sua vida a Cristo logo ali. Este é apenas um exemplo dos resultados práticos das palavras drásticas deste evangelista.

Num curto período de tempo, de 1931 a 1935, o Dr. Sung tornou-se numa das figuras mais conhecidas da China. Os cristãos deram-lhe o apelido de “O homem que quebra o gelo”. No jornal National Christian Council, o Dr. Sung foi colocado como sendo uma das seis personalidades mais conhecidas em toda China. Este país, com muitos milhões de habitantes, nunca possuiu um evangelista com este tipo poder. Por esta razão catalogaram-no como “John Wesley da China”.

Os Frutos da sua Obra

O cristianismo no mundo ocidental e, na verdade, em todo mundo, é marcante e destaca-se precisamente devido às suas muitas deficiências. O número de conversões genuínas é muito reduzido ou quase nulo e existem mesmo pastores que durante um ministério de 40 anos ou mais nunca obtiveram uma única conversão ou um caso de confissão de pecados. De facto, as conversões são basicamente uma obra pura do Espírito Santo. No entanto, Ele usa homens como seus instrumentos para tal efeito.

A falta dessas conversões significa, também, que existirão muito poucos jovens oferecendo-se ao Senhor como conseqüência, para servirem como Seus instrumentos tanto internamente quanto no estrangeiro. A outra deficiência é a falta de recursos que acabam sempre por se evidenciar na obra cristã. Consequentemente, a igreja permanece numa mendicidade de coletas de fundos, achando-se a pedir, quando tal coisa nem deveria fazer parte dum culto. A Bíblia também é pouco lida entre os homens e os que a lêem não a entendem tal qual Deus desejaria e nem entendem o Deus a quem pertencem todos os tesouros desta terra.

Como é que este tipo de situação afetava o Dr. Sung?

Vamos tomar como exemplo as suas três campanhas missionárias nas cidades de Taipeh, Taitschung e Taiwan, na Ilha Formosa. Só no final dessas três campanhas, das quais nenhuma foi dirigida da mesma maneira que as organizações americanas o fazem através da publicidade e da emotividade, cerca de 5.000 pessoas reconheciam publicamente haver-se encontrado de forma real com o Senhor Jesus Cristo. Quatrocentos e sessenta jovens ofereceram-se para a obra missionária e cerca de 4.000 dólares entraram como ofertas espontâneas juntamente com pedras preciosas e até anéis de ouro. O Dr. Sung não ficou com nenhum centavo daquilo que recebeu. Todas as ofertas foram bem usadas na manutenção de evangelistas fundadores de igrejas e não serviu nem sequer para comprar umas linhas para coserem os seus bolsos. Este homem era totalmente indiferente ao dinheiro e o incidente que se segue é bastante elucidativo sobre isso.

Um empresário rico visitou-o e ofereceu-lhe uma enorme soma de dinheiro. O Dr. Sung nunca tinha visto o homem. Olhando diretamente e sem pestanejar para os olhos do seu interlocutor, ele disse calmamente: “O Senhor Jesus não quer nem um tostão de todo seu dinheiro. Ele só quer a sua alma”. De seguida lançou o dinheiro aos pés do homem e nunca aceitou nada dele.

Sempre que o Espírito Santo mantém as rédeas da vida numa pessoa, apenas a salvação dos homens conta e não aquilo que se pode acumular. Jesus disse: “Buscai primeiro o reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.

Obra Pioneira na Indonésia

Isto foi apenas uma breve biografia sobre Dr. Sung. Ela foi aqui colocada por duas razões. Em primeiro lugar, os cristãos no mundo ocidental, para quem esse homem é completamente desconhecido, devem partilhar da glória que Deus lhe manifestou durante o seu curto período de vida. Em segundo lugar, podemos ter a certeza de que o avivamento presente na Indonésia não é o primeiro que tinha aquela autoridade duma verdadeira mensagem do evangelho dada por Cristo. As ondas de avivamento causaram grande reboliço dentro do Dr. Sung e elas tornaram-se tão poderosas nestas ilhas quanto são hoje. A única razão porque elas não se espalharam tanto quanto se estão espalhado hoje, será porque aquele servo de Deus não permanecia nestas ilhas mais que algumas poucas semanas. Também deve ser referido e lembrado que o alvo das suas campanhas missionárias dentro da Indonésia, eram as comunidades chinesas que ali vivam.

Em conjunto, o Dr. Sung visitou a Indonésia quatro vezes. Em 1935 ele evangelizou a igreja chinesa de Medan no norte de Sumatra. Esta comunidade foi inteiramente revitalizada através do seu ministério.

Em 1936 o evangelista chegou até Sarawak no norte de Bornéu. Tanto na parte britânica como na parte Indonésia desta ilha, existem grandes comunidades chinesas. A campanha deu-se em Sibu (Sarawaka). No decurso dos dez dias missionários, cerca de 1600 chineses acharam o seu caminho até Cristo e mais de 100 ofereceram-se para a obra voluntária de propagarem o reino de Deus. Acrescentando a isso, 116 comitivas foram formadas para pregarem nas vilas circundantes e levarem até lá o fogo do evangelho. Se levarmos em consideração que um evangelista europeu muitas vezes trabalha durante 40 anos alcançando resultados iguais ou inferiores a este alcançado em apenas 10 dias de campanha, logo tomaremos a consciência de que algo de muito errado se passa com estes desnutridos evangelistas ocidentais. A obra dessas comitivas que se formaram, as quais mantiveram as suas obras constantes e o seu testemunho bem vivo apesar da ocupação japonesa que se deu depois disso, é bastante significativo. A sua obra prosseguiu firme e clara mesmo no meio da confusão da guerra e das guerrilhas.

A terceira visita do Dr. Sung foi feita à ilha de Java em Janeiro de 1939. Em Setembro desse mesmo ano, ele visitou a ilha novamente, estendendo os seus esforços missionários para as ilhas Celebes e Moluccas. Já iremos falar sobre este assunto para termos uma perspectiva melhor sobre esta graça excepcional e sem igual para com este país feito de ilhas.

A Exigência Total do Evangelho

A reputação do Dr. Sung como um grande evangelista já havia alcançado Java mesmo antes da sua chegada. No entanto, todas as pessoas que se reuniram em Surabaja para a sua primeira palestra, ficaram completamente abismadas com este homenzinho pequeno, magro e vestido numa túnica chinesa pregando diante deles. Eles tinham uma imagem deste Wesley da China completamente diferente. Contudo, um sermão depois, eles mudaram de idéias, pois foi o suficiente para os levarem a reconsiderar as suas opiniões e impressões iniciais apressadas. Tudo sobre este homem simples e mal vestido era energia revitalizante e poder.

Logo na sua primeira noite foram-lhes colocadas as suas exigências que fez em nome de Deus. Discursando perante a platéia ele disse: “Eu tenho 22 mensagens para vos entregar nesta semana. Isto significa que eu tenho que fazer três cultos diários e também quer dizer que todos vós ireis ter que estar aqui presentes e assistir a todos. De outro modo nunca irão descobrir quais as mensagens que Deus teria para vos entregar para vos desafiar com elas”.

Uma murmuração generalizada ouviu-se percorrendo toda a igreja: “O que será de nós? Precisamo-nos afastar dos nossos trabalhos e virmos a igreja o dia todo?” Os pastores todos avisaram John para não ser assim tão exigente, mas o Dr. Sung persistiu como se nada fosse com ele. E ele estava certo. Os seus discursos foram tão poderosos e tão simples em seu gênero de poder que pouquíssimas horas depois não era mais necessário insistir com as pessoas para virem assistir à suas palestras. Os lojistas chineses fecharam as suas lojas todas só para virem ouvir este evangelista pregar. Eles penduravam nas portas das suas lojas avisos que diziam o seguinte: “Fechados por uma semana – estamos na campanha missionária”.

O avivamento espalhou-se mais longe ainda e com mais força. As crianças na escola deixaram de freqüentar as aulas. Eles também ficavam ali sentados o dia todo a ouvirem o Dr. Sung sem se cansarem. E os professores nem se queixaram porque também se encontravam lá todos.

Contudo, aos olhos do Dr. Sung isto não bastava. Mesmo que as ditas campanhas durassem cerca de oito horas diárias, o evangelista ainda assim instigava os jovens com as seguintes palavras: “Nem pensem que seguir o Senhor Jesus é sentir esta paz de coração somente e ficar com o coração ardendo. Existem milhões de perdidos à vossa volta que não conhecem o Senhor Jesus como vós. Ide e levem este evangelho para eles também”. Os jovens formavam comitivas organizadas em grupos de três pessoas. E saindo pelas ruas e pelos bares e locais de entretenimento que haviam freqüentado assiduamente na sua vida anterior, espalharam a mensagem gloriosa que lhes queimava o coração e transbordava para o exterior.

Durante os dias seguintes, muitos trouxeram frutos e relatos da bênção enorme com a qual Deus manifestou através das suas obras.

Esta forma de atuar em grupos e comitivas que espalhavam o evangelho na Indonésia pode ser vista já desde o tempo do Dr. Sung. O que se faz é o trabalho através de grupos.

Todos aqueles que assistiam aos seus discursos missionários em Surabaja, certamente ficavam sem tempo extra. Desde manhã até à noite ficavam absorvidos, escutando o evangelho, pregando e organizando os grupos que partiam em missões.

Mas qual era a vida diária deste evangelista que fazia exigências totais às pessoas?

O seu dia normal era levantar-se às cinco horas da manhã para orar e ler estudar as Escrituras várias horas. Então, conforme acontecia em Surabaja, às nove horas da manhã havia um culto que se destinava somente aos doentes e enfermos, o qual durava cerca de uma hora. Só depois disto chegavam as três mensagens diárias, durando um mínimo de duas horas cada. Também lhes chegavam muitas cartas as quais ele precisava responder. Porque ele passava o dia pregando, havia muito pouco tempo para fazer um trabalho pessoal de aconselhamento. Por essa razão ele encorajava os seus ouvintes a escreverem-lhe e relatarem desse modo as suas necessidades espirituais. Ele também pedia aos novos convertidos uma pequena fotografia através da qual tentaria recordá-los em oração. Quase sempre, sua hora para se deitar, era depois da meia-noite, depois de haver terminado de escrever os seus apontamentos também. Isto deixava-lhe poucas horas de sono até o seu novo dia de trabalho começar.

Mesmo após uma semana destas de evangelização haver terminado, ele não tinha pausa para descanso. Ele pregava literalmente durante quatro semanas por mês. Os seus únicos dias livres eram aqueles que passava viajando e deslocando-se de um lado para o outro.

As Pregações

O Dr. Sung não tinha como hábito basear os seus sermões num tema ou num texto apenas. Ele pregava passando os seus pensamentos pela Bíblia inteira, versículo a versículo. A sua aproximação para com cada passagem das Escrituras, contudo, era tão variada que muitos o comparariam a Spurgeon. As suas pregações eram o preciso espelho expressivo de tudo aquilo que ele experimentava nos seus estudos privados da Bíblia. Nós já mencionamos como ele queimou todos os seus livros teológicos na América catalogando-os de ‘Livros de Demônios’. Foi desde então que a Bíblia tomou o primeiro lugar na sua vida e foi também desde ai que ele ganhou o hábito de ler no mínimo de 10 ou 11 capítulos nos seus joelhos diariamente, escrevendo conscientemente em seu diário todos os pensamentos que Deus lhe trazia ao conhecimento.

No seu sermão de I Cor.13 tudo ficou claro e vívido, isto é, selado nas próprias mentes dos seus ouvintes em Surabaja. Ele ilustrou como em sua própria vida se havia tornado cada vez mais orgulhoso como resultado da sua ascensão e fama nos Estados Unidos e como agora o Senhor Jesus aproximou-se da sua alma com muito amor permanecendo para sempre a seu lado depois de se ter humilhado. Ilustrou, também, o abismo que existe entre o nosso orgulho e o Seu esperar por nós pacientemente; a nossa arrogância e a sua humildade; a nossa vaidade complicada e a sua simplicidade; a nossa ambição e a Sua negação prática; as nossas maneiras de suspeitar dos outros e a confiança que coloca no pecador; a nossa justiça própria e desleixe para com todos aqueles que estão caindo no inferno contrastando com o amor que Ele tem para com os que caem e até mesmo os que tropeçam levemente. Mesmo sendo nós a merecer a cruz, o filho de Deus em Seu perfeito amor e humildade submeteu-se a essa vergonha por causa de nós.

A mensagem do Dr. Sung chegou fundo aos corações e às consciências de seus ouvintes. Ainda hoje, trinta anos depois, os efeitos da sua primeira campanha missionária em Java são evidentes e permanecem. Muitos dos chineses ali permaneceram fiéis seguindo o Senhor desde então.

A Doutrina da Imposição das Mãos

Vamos entrar agora numa área de muitas controvérsias. Orar através da imposição de mãos é abusado de três maneiras diferentes.

Em primeiro lugar, a igreja abusa das diretivas do Novo Testamento nos doentes e enfermos (Tiago 5:14; Marc.16:17) caindo na descrença de nunca fazerem uso desta graça dada por Deus.

Em segundo lugar, o próximo uso abusivo desta doutrina pode ser achada nos grupos extremistas que impõem as mãos sobre todas as pessoas tanto apressadamente como indiscriminadamente. Em terceiro lugar, muitos espiritistas e feiticeiros copiaram esta prática para executarem vários rituais e tipos de magia através da imposição das suas mãos.

Tendo isto em conta, será que um cristão ainda pode ter a coragem de orar por uma pessoa impondo-lhe as mãos? Será que ainda existe um uso correto desta doutrina de uma forma adequada de se impor as mãos sobre alguém? Claro que sim: a maneira das Escrituras!

Mas qual é esta maneira das Escrituras na prática? O Dr. Sung dá-nos a reposta. Durante o seu primeiro culto do dia dedicado aos doentes, em Surabaja, ele lia Tiago 5:14 e passava a explicar: “Eu venho até vós como um presbítero da igreja. Venho em nome do Senhor Jesus e não em meu próprio nome. Não possuo poderes mágicos nas minhas mãos; por essa razão não esperem nada de mim, mas apenas d’Aquele que estará aqui conosco e servo de Quem eu sou”.

A coisa que mais frequentemente se esquece nos círculos evangélicos hoje era o que mais visível se tornava na mente e na prática do Dr. Sung. Ele explicava e aplicava que nunca colocaria as suas mãos sobre alguém que não se houvesse convertido realmente. Apenas sobre uma pessoa que houvesse confessado todos os seus pecados conhecidos pelo nome, ele impunha as mãos. E se não os houvessem confessado, dizia ele, que nunca esperassem resposta sob a imposição das mãos seja de quem for – mesmo que se orasse dessa forma.

O Dr. Sung também encorajava os doentes a buscarem o conhecimento profundo de que todas as curas iriam depender da vontade de Deus. Ele disse: “Eu não posso garantir que todos os doentes entre nós sejam curados. Nem o Senhor Jesus curou todos os doentes por quem passou. Nem sempre Ele estava autorizado pelo Pai a curar todos os doentes nos dias que passou pela terra. Quanto mais isto será verdade em relação aos seus servos!”

Após estes apontamentos introdutórios, os doentes eram trazidos para a plataforma um por um. Eles se ajoelhavam, ele ungia-os com óleo em nome do Senhor e orava com eles.

Nessa mesma tarde havia um culto de agradecimento no qual algumas das pessoas curadas davam os seus testemunhos sem os emocionalismos dos cultos de hoje. Muitos eram curados, de fato, de doenças gravíssimas. Um missionário escreveu mais tarde: “Muitos cegos receberam a sua visão, muitos paralíticos começaram a andar, os mudos falaram, os surdos saíram com os ouvidos abertos; mas, o melhor de tudo foi essas curas terem durado para sempre e nada de pior lhes ter voltado a acontecer”. Era comprovado que não se tratava daquele tipo de auto-sugestão ao qual viemos nos habituando através dos emocionalismos de hoje.

A parte mais marcante de todas nem era as curas dos doentes, mas antes que a maioria dessas pessoas experimentava um profundo e real preenchimento através do Espírito Santo de Deus durante estas imposições das mãos. Era a história dos atos dos apóstolos sendo repetida uma vez mais.

Aquilo que já foi dito aqui precisa ser sublinhado novamente. O Dr. Sung não pode de maneira nenhuma ficar incluído na lista dos enganadores de hoje, dos quais muitos são extremistas enganados. O seu ministério era muito sóbrio, fiel e comprovadamente baseado na Bíblia. Ele opunha-se veementemente a qualquer tipo de fanatismo e emocionalismo. Ele rejeitava línguas, sonhos e visões como prova dos movimentos do Espírito Santo, tal como qualquer exagero de emoção. No reino de Deus não necessitamos qualquer experiência paranormal, mas precisamos tão só de nos tornamos canais completamente purificados e purificantes através dos quais os verdadeiros rios de água viva possam fluir. Este era o ponto de vista do homem, o qual, ao contrário de muitos evangelistas atuais, permaneceu sempre numa envolvente, contínua e crescente abundância do Espírito Santo. De fato, aqueles sobre quem ele imponha as mãos acabavam por receber a mesma plenitude de vida que ele próprio tinha.

É precisamente por esta razão que não podemos catalogar a obra do Espírito Santo com terminologia fanática e exageros exploradores das emoções das pessoas, mas antes através de uma sobriedade bíblica muito séria e evidente. Por isso, a pessoa que rejeita o extremismo não está nem perto de estar rejeitando a plenitude do Espírito Santo. Não será através de rejeitar o extremismo que rejeitará o seu Deus. De fato, o contrário é que pode ser verdade, pois pode não existir um tropeço maior para uma verdadeira obra de Deus do que um pequeno sinal da existência de extremismo. É através disto que o Espírito Santo de Deus é impedido de operar mais que qualquer outro motivo.

O Vulcão entre os Vulcões

Depois de ter deixado Surabaja, Dr. Sung prometeu voltar lá pouco tempo depois. Os Indonésios haviam definitivamente conquistado o seu coração. Ele haveria de cumprir a sua promessa em Agosto e Setembro do mesmo ano. Começou sua segunda campanha missionária em Java com uma campanha em Jacarta. A comunidade chinesa inteira estava definitivamente mexida e atordoada com a verdade. Ninguém queria perder uma única mensagem deste pregador cuja reputação alcançou todos os povos que falavam chinês. Antes da semana terminar, cerca de 900 pessoas haviam se arrependido, abandonado seus pecados e entregando suas vidas a Cristo.

A etapa seguinte de sua campanha levou Dr. Sung a atravessar uma parte de Java entre os vulcões. Ele estava em seu elemento natural! Entretanto, em Surabaja, as preparações estavam bem adiantadas para receberem o tão desejado visitante.

Cerca de 2000 voluntários declararam sua prontidão para colaborarem na campanha e na sua preparação. A cooperação de todas as igrejas evangélicas também estavam visíveis na lista, incluindo aquelas que fizeram grande alarido crítico contra a sua primeira missão. Acima de tudo, toda juventude estava numa enorme expectativa de esperança real. O Dr. Sung havia-se tornado no homem mais querido, no seu homem modelo. Na maior praça da cidade uma enorme “sala” foi improvisada. Um gigantesco teto de folhas de palmeiras garantiam a proteção contra sol e a chuva, mas mesmo assim o espaço tornou-se pequeno demais.

No decorrer da semana cerca de 5000 pessoas assistiam diariamente aos discursos do evangelista. Milhares tomavam os seus lugares por volta das oito horas da manhã para poderem garantir um lugar onde permaneciam até as onze horas da noite, até quando a última das três ou quatro mensagens diárias terminassem. Eu nunca ouvi falar e nem assisti em toda minha experiência de vida uma campanha desta envergadura e nem mesmo Billy Graham conseguiu tal feito. As pessoas assistiam entre 10 e 15 horas diárias de pregações da palavra de Deus durante dez dias seguidos. Somente o Espírito Santo poderia ser responsável por tal evento. Os melhores meios de publicidade nunca poderiam tornar possível tal organização de eventos similares com resposta tão efusiva e tão entusiasta duma fome enorme pela palavra de Deus.

A sociedade bíblica local esgotou todas as Bíblias que possuía vendendo tudo, incluindo os Novos Testamentos, apesar de todos os cuidados terem sido tomados para terem o suficiente para a campanha. Os 5000 hinários que possuíam esgotaram-se rapidamente, o que obrigou uma nova tiragem no mais breve espaço de tempo possível.

O Dr. Sung pregou a partir do Evangelho de S. Marcos, o que serviu o propósito preparar as novas comitivas evangelisticas que iam sendo enviadas. Os resultados finais da campanha de dez dias, foi a fundação de cerca de 500 destes grupos de evangelização, os quais invadiram todo território de Java espalhando a mensagem do evangelho por todos os cantos.

Um dos intérpretes do Dr. Sung, um pastor de Malang, disse: “Não havia nada de extraordinário nas pregações e no estilo do Dr. Sung. O seu repertório de sermões não era muito vasto sequer. As suas apresentações das mensagens eram frequentemente tão simples que qualquer criança as entenderia, mas um grande poder de convicção brotava a partir deste homem. Eu, como seu intérprete, pude sentir os efeitos da verdade dentro de mim próprio duma maneira excepcional”.

Parece até poético dizer isto, mas esta comparação justifica-se plenamente: Dr. Sung pregava entre os vulcões de Java e era um homem feito do mesmo fogo e molde. Uma vez ele disse sobre ele mesmo: “Existem muitas pessoas melhores que eu. No tocante à exposição das Escrituras, eu nunca igualarei a Watchman Nee. Como pregador nunca serei como Wang Mingtao. Como escritor, nunca serei comparável a Marcus Cheng. Mas, num ponto apenas consigo ultrapassá-los todos em conjunto: eu sirvo meu Deus com todas as fibras do meu corpo e com cada pedaço de força e energia que possuo. Não sobra nada de mim que não pertença a Deus e que Deus não use”. O Apóstolo Paulo não disse o mesmo dele próprio? “Eu trabalhei mais abundantemente que todos eles juntos”, I Cor.15:10.

De que maneira poderíamos afirmar estas mesmas coisas sobre Dr. Sung? Depois de termos ouvido um pouco sobre a sua rotina diária, podemos agora apercebermo-nos de como o seu labor esgotava todas as forças que ainda possuía.

Durante um longo período de tempo os seus amigos mais chegados aperceberam-se que ele estava doente. Eles o aconselharam-no a buscar tratamento médico ao que ele respondeu: “Eu não tenho tempo para isso eu preciso muito pregar o evangelho! Não dá tempo!” Durante a última palestra da campanha em Surabaja as dores na sua coxa tornaram-se insuportáveis ao ponto dele não conseguir mais ficar em pé para pregar. Mandou buscar um banco para ele, sobre o qual se ajoelhou. Ele pregou sobre os seus joelhos. Disse mais tarde: “As dores só paravam quando eu orava ou pregava, assim que terminasse elas voltavam”.

Surabaja foi o ponto alto de toda obra do Dr. Sung na Indonésia. Como os cristãos e os malaios ficavam atentos e agarrados a cada palavra vinda dos seus lábios! Quando ele deixou a cidade, no dia 30 de Setembro de 1969, centenas de pessoas ficaram em pé cantando-lhe uma despedida emocionante. Alguns missionários católicos em cima dum barco olhavam aquela multidão em uníssono com muita admiração. Eles perguntavam-se entre si quem seria aquela pessoa tão importante assim. Mas, a única pessoa que eles viram saindo foi um pequeno e insignificante homem chinês curvado debaixo da